Sofia Afonso Lopes | Universidade de Lisboa (original) (raw)

Papers by Sofia Afonso Lopes

Research paper thumbnail of «Aqui não é o céu do Bié»: a representação alegórica da luta de libertação e da guerra civil angolanas no filme Na Cidade Vazia de Maria João Ganga

Cinema & Território, 2024

Estreado em 2004, Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga, narra a estória de N’dala, uma criança qu... more Estreado em 2004, Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga, narra a estória de N’dala, uma criança que, em 1991, aterra em Luanda fugindo da guerra civil que vitimara, no Bié, a sua família. Na capital, N’dala trava amizade com Zé, jovem que protagoniza, numa peça escolar, Ngunga, herói da célebre obra do escritor Pepetela. Deambulando por Luanda, N’dala personifica a dor da perda e da deslocação forçada causadas pelo conflito intestino, evocando, concomitantemente e pelas suas semelhanças com Ngunga, os efeitos dilatados do colonialismo e da luta pela independência. Os supracitados eventos históricos, plasmados alegoricamente na tela daquela que foi a primeira longa-metragem ficcional assinada por uma mulher angolana, são convocados enquanto objeto de análise para pensar, simultaneamente, a utopia revolucionária que deflagrou o combate pela emancipação do território e a distopia pós-independência que assiste ao ruir parcial do ideário das suas diversas vanguardas. Assim, no primeiro andamento, contextualizam-se a luta de libertação e a guerra civil angolanas, eventos centrais na narrativa do filme. De seguida, e no segundo andamento, é situada a ação da longa-metragem. No terceiro andamento, explicitam-se os dispositivos alegóricos empregues pela realizadora no tratamento das realidades que convoca. Finalmente, no quarto andamento, demonstra-se como o filme pode ser lido enquanto alegoria da própria nação angolana.

Premiered in 2004, Hollow City, by Maria João Ganga, recounts the story of N’dala, a child who, in 1991, lands in Luanda fleeing the civil war that victimized his family in Bié. In the capital, N’dala befriends Zé – a boy who stars in a school play as Ngunga, hero of Peptela’s celebrated literary work. Wandering through Luanda, N’dala embodies the pain of loss and of forced displacement caused by the internal conflict, evoking, concomitantly and through his similarities with Ngunga, the long-lasting effects of colonialism and of the struggle for the independence. These historical events, allegorically depicted in what was the first feature film directed by an Angolan woman, become objects of analysis to simultaneously reflect on the revolutionary utopia that sparked the struggle for emancipation and the post-independence dystopia that witnesses the collapse of its various vanguards. In the first section, the Angolan liberation struggle and civil war, central events in the film’s narrative, are contextualized. In the second section, the film’s action is situated. In the third section, the allegorical devices employed by the director in addressing the realities invoked are made explicit. Finally, in the fourth section, it is demonstrated how the film can be read as an allegory of the Angolan nation itself.

Research paper thumbnail of O exercício de colocação. Sinais misteriosos... Já se vê

Ruy Guerra e Ruy Duarte de Carvalho — entre escritas e imaginários, 2024

O percurso teórico e criativo de Ruy Duarte de Carvalho encontra-se permeado por complexas dinâmi... more O percurso teórico e criativo de Ruy Duarte de Carvalho encontra-se permeado por complexas dinâmicas de interrogação, subversão e superação de divisas cartográficas ou cronológicas, genealógicas ou disciplinares. O exercício de colocação — gesto necessário e assíduo de quem fez do autoquestionamento e da autorreflexão um ofício de todos os dias — levou-o a descobrir-se enquanto sujeito desdobrado numa série de situações limítrofes e periféricas, circunstâncias que terão concorrido para que a sua própria experiência do mundo se tenha visto atravessada por um conjunto de processos de identificação e diferenciação, aproximação e distanciamento. Sem sucumbir aos logros da análise crítica escorada em dados biográficos, procuramos averiguar de que modo o seu trajeto pessoal e cívico se inscreve na sua produção autoral, em particular no que concerne a uma noção de fronteira, tangencial às várias artes e linguagens que cultiva.

Ruy Duarte de Carvalho´s theoretical and creative trajectory is crossed by complex dynamics of interrogation and subversion, surpassing both cartographic and chronological frontiers as well as genealogical and disciplinary boundaries. The exercise of placement — a much needed gesture of an author who made self-questioning and self-reflection a ubiquitous practice — led him to discover himself as a subject unfolded in a series of borderline and peripheral situations, a circumstance that permeated his own relation to the world as seen through the lens of a series of processes of identification and differentiation, proximity and distance. Without succumbing to the perils of critical analysis solely supported by biographical data, we seek out to understand how Carvalho´s personal and civic background inscribe itself in his body of work, particularly with regards to a notion of frontier tangential to the various arts and languages he cultivates.

Research paper thumbnail of «Nós aqui ficamos, somos do Lubango»: meio século de imagens em movimento num planalto

Research paper thumbnail of «A prática, porém, encarregar-se-ia de desbloquear a situação»: cinema e antropologia a partir da obra visual de Ruy Duarte de Carvalho

Aniki: revista portuguesa da imagem em movimento, 2022

Reconhecido maioritariamente pelo seu talento literário, Ruy Duarte de Carvalho produziu, nas déc... more Reconhecido maioritariamente pelo seu talento literário, Ruy Duarte de Carvalho produziu, nas décadas de 70 e 80, uma vasta e fecunda obra cinematográfica cuja originalidade e complexidade permanecem largamente por investigar. A partir da revisitação da sua filmografia, em particular da série documental Presente Angolano, Tempo Mumuíla (1979) e da ficção Nelisita (1982), bem como através da análise das reflexões encetadas pelo autor no ensaio O Camarada e a Câmara (1984), o presente artigo procura contribuir para a discussão teórica em torno das possibilidades de um encontro entre cinema e antropologia para além do filme etnográfico.

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Cinema & Território, 2024

Estreado em 2004, Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga, narra a estória de N’dala, uma criança qu... more Estreado em 2004, Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga, narra a estória de N’dala, uma criança que, em 1991, aterra em Luanda fugindo da guerra civil que vitimara, no Bié, a sua família. Na capital, N’dala trava amizade com Zé, jovem que protagoniza, numa peça escolar, Ngunga, herói da célebre obra do escritor Pepetela. Deambulando por Luanda, N’dala personifica a dor da perda e da deslocação forçada causadas pelo conflito intestino, evocando, concomitantemente e pelas suas semelhanças com Ngunga, os efeitos dilatados do colonialismo e da luta pela independência. Os supracitados eventos históricos, plasmados alegoricamente na tela daquela que foi a primeira longa-metragem ficcional assinada por uma mulher angolana, são convocados enquanto objeto de análise para pensar, simultaneamente, a utopia revolucionária que deflagrou o combate pela emancipação do território e a distopia pós-independência que assiste ao ruir parcial do ideário das suas diversas vanguardas. Assim, no primeiro andamento, contextualizam-se a luta de libertação e a guerra civil angolanas, eventos centrais na narrativa do filme. De seguida, e no segundo andamento, é situada a ação da longa-metragem. No terceiro andamento, explicitam-se os dispositivos alegóricos empregues pela realizadora no tratamento das realidades que convoca. Finalmente, no quarto andamento, demonstra-se como o filme pode ser lido enquanto alegoria da própria nação angolana.

Premiered in 2004, Hollow City, by Maria João Ganga, recounts the story of N’dala, a child who, in 1991, lands in Luanda fleeing the civil war that victimized his family in Bié. In the capital, N’dala befriends Zé – a boy who stars in a school play as Ngunga, hero of Peptela’s celebrated literary work. Wandering through Luanda, N’dala embodies the pain of loss and of forced displacement caused by the internal conflict, evoking, concomitantly and through his similarities with Ngunga, the long-lasting effects of colonialism and of the struggle for the independence. These historical events, allegorically depicted in what was the first feature film directed by an Angolan woman, become objects of analysis to simultaneously reflect on the revolutionary utopia that sparked the struggle for emancipation and the post-independence dystopia that witnesses the collapse of its various vanguards. In the first section, the Angolan liberation struggle and civil war, central events in the film’s narrative, are contextualized. In the second section, the film’s action is situated. In the third section, the allegorical devices employed by the director in addressing the realities invoked are made explicit. Finally, in the fourth section, it is demonstrated how the film can be read as an allegory of the Angolan nation itself.

Research paper thumbnail of O exercício de colocação. Sinais misteriosos... Já se vê

Ruy Guerra e Ruy Duarte de Carvalho — entre escritas e imaginários, 2024

O percurso teórico e criativo de Ruy Duarte de Carvalho encontra-se permeado por complexas dinâmi... more O percurso teórico e criativo de Ruy Duarte de Carvalho encontra-se permeado por complexas dinâmicas de interrogação, subversão e superação de divisas cartográficas ou cronológicas, genealógicas ou disciplinares. O exercício de colocação — gesto necessário e assíduo de quem fez do autoquestionamento e da autorreflexão um ofício de todos os dias — levou-o a descobrir-se enquanto sujeito desdobrado numa série de situações limítrofes e periféricas, circunstâncias que terão concorrido para que a sua própria experiência do mundo se tenha visto atravessada por um conjunto de processos de identificação e diferenciação, aproximação e distanciamento. Sem sucumbir aos logros da análise crítica escorada em dados biográficos, procuramos averiguar de que modo o seu trajeto pessoal e cívico se inscreve na sua produção autoral, em particular no que concerne a uma noção de fronteira, tangencial às várias artes e linguagens que cultiva.

Ruy Duarte de Carvalho´s theoretical and creative trajectory is crossed by complex dynamics of interrogation and subversion, surpassing both cartographic and chronological frontiers as well as genealogical and disciplinary boundaries. The exercise of placement — a much needed gesture of an author who made self-questioning and self-reflection a ubiquitous practice — led him to discover himself as a subject unfolded in a series of borderline and peripheral situations, a circumstance that permeated his own relation to the world as seen through the lens of a series of processes of identification and differentiation, proximity and distance. Without succumbing to the perils of critical analysis solely supported by biographical data, we seek out to understand how Carvalho´s personal and civic background inscribe itself in his body of work, particularly with regards to a notion of frontier tangential to the various arts and languages he cultivates.

Research paper thumbnail of «Nós aqui ficamos, somos do Lubango»: meio século de imagens em movimento num planalto

Research paper thumbnail of «A prática, porém, encarregar-se-ia de desbloquear a situação»: cinema e antropologia a partir da obra visual de Ruy Duarte de Carvalho

Aniki: revista portuguesa da imagem em movimento, 2022

Reconhecido maioritariamente pelo seu talento literário, Ruy Duarte de Carvalho produziu, nas déc... more Reconhecido maioritariamente pelo seu talento literário, Ruy Duarte de Carvalho produziu, nas décadas de 70 e 80, uma vasta e fecunda obra cinematográfica cuja originalidade e complexidade permanecem largamente por investigar. A partir da revisitação da sua filmografia, em particular da série documental Presente Angolano, Tempo Mumuíla (1979) e da ficção Nelisita (1982), bem como através da análise das reflexões encetadas pelo autor no ensaio O Camarada e a Câmara (1984), o presente artigo procura contribuir para a discussão teórica em torno das possibilidades de um encontro entre cinema e antropologia para além do filme etnográfico.