Wagner Felix | Universidade Estadual de Maringa (original) (raw)
Papers by Wagner Felix
Acta Scientiarum: Human and Social Sciences, 2024
Schelling postulates the origin of mythology as relative monotheism, preceding the polytheistic s... more Schelling postulates the origin of mythology as relative monotheism, preceding the polytheistic system of gods presumably present in all mythologies. A monotheism relative to the polytheism that succeeds it is understood as an inaugural moment in the formation of the consciousness of divinity, and the passage to polytheism is seen as a necessary development to overcome a relative monotheism towards absolute monotheism in the history of peoples. We would like to argue, however, that the original intuition about the communality of all mythologies is dependent on a specific interpretation and selection of the material sources of the mythologies as Schelling understood them, which, the author claims, should be taken as an already finalised work. This material delimitation is linked to Schelling's position not only on what authentically constitutes a 'system of the gods', but also on which humans constitute a people, to which a mythology belongs. However, while broadening the concept of mythology seems to be a peaceful solution to the problem of the limitations of its sources, the same cannot be said of the original intuition at the basis of the project. If this intuition is the affirmation of the consciousness of divinity as the unformed memory of a previous harmonious state, before differentiation into a polytheistic system, we ask whether this relative monotheism can be understood as a universal principle, or whether different mythological traditions would be irreducible to each other. We point to the shamanistic accounts of Amazonian cosmologies as a counterpoint to examine the role of the consciousness of divinity in the unfolding of mythology and the historical consciousness of peoples. We propose that the anthropological concept of perspectivism, by which many of these cosmologies are described, will allow us to ask the question about the possibility of a different understanding of the formation of consciousness.
Vida e Liberdade: entre a ética e a política, 2016
Revista PHILIA | Filosofia, Literatura & Arte, 2020
O propósito deste artigo é a exposição de momentos chave da crítica schellingiana à filosofia ide... more O propósito deste artigo é a exposição de momentos chave da crítica schellingiana à filosofia idealista como forma de compreender o estatuto da filosofia positiva buscada por Schelling em sua obra madura. A crítica de Schelling, dirigida aos resultados negativos da filosofia formal de seus contemporâneos, é contraposta à busca pela positividade na natureza, na mitologia, na história, na religião, em vista da “natureza extralógica da existência”, que se rebela contra a conformação da totalidade do que pode ser conhecido a uma ordem necessária. Embora o projeto da filosofia positiva seja elaborado a partir da década de 1820, já em suas primeiras obras encontramos elementos de sua crítica à pretensão de subsumir em um sistema filosófico a totalidade da realidade.Palavras-chave: Schelling. Idealismo alemão. Filosofia positiva. Sistema da filosofia.
Page 1. 1 OTEMPO DO SENTIDO Sobre o caráter provisório da tarefa de Ser e Tempo UNIVERSIDADE FEDE... more Page 1. 1 OTEMPO DO SENTIDO Sobre o caráter provisório da tarefa de Ser e Tempo UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ...
Aoristo - International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics
Propomos neste texto examinar o papel das disposições (Stimmungen), e, particularmente, das chama... more Propomos neste texto examinar o papel das disposições (Stimmungen), e, particularmente, das chamadas “disposições fundamentais” na construção da pergunta heideggeriana pela historicidade da história. Nós partimos da pergunta pela historicidade da história da filosofia para a análise do papel hermenêutico cumprido pela angústia na analítica da cotidianidade em Ser e Tempo, procurando esclarecer a conexão dessa disposição com o conceito de historicidade tal como tratado nessa obra. Em seguida, tratamos da maneira como são pensadas as disposições em Conceitos fundamentais da metafísica, obra na qual Heidegger explicitamente pensa a disposição do tédio como característica de uma época. Uma vez que mostramos como podemos entender as disposições em geral em sentido historial, retomamos a análise da angústia, e, a partir da discussão de sua estrutura tal como apresentada em Ser e Tempo, perguntamos pela relação específica da angústia com a questão da historicidade, no que ela significa par...
Resumo : Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito heideggerian... more Resumo : Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito heideggeriano de “ser para a morte” e decisivo para a tarefa da ontologia fundamental delineada por Heidegger em Ser e tempo . Partindo da assuncao de que o tempo e o horizonte da compreensao do ser em geral, o modo originario de doacao do ser devera ser compreendido temporalmente. A medida que a temporalidade do ser-ai e primeiro desentranhada por meio da analise do ser para a morte como sua possibilidade mais propria, nao sera suficiente o esclarecimento das estruturas da existencia na forma de uma estrutura conceitual do tempo; porem, o modo da doacao de ser devera efetivar-se na morte. A tarefa da ontologia fundamental, ou seja, a pergunta por como podemos em geral saber nao podera mais ser resolvida nem na relacao do ente finito com o infinito transcendente, nem como manifestacao infinita da vontade, mas devera resolver-se a partir da finitude mais radical. Palavras-chave : Heidegger; temporali...
Revista PHILIA | Filosofia, Literatura & Arte, 2020
Abstract The purpose of this article is to discuss key moments of Schelling's criticism to ideal... more Abstract
The purpose of this article is to discuss key moments of Schelling's criticism to idealist philosophy and as a way of understanding the status of the positive philosophy he sought in his mature work. Schelling's criticizes the negative results of the formal philosophy of his contemporaries. against which he counters with the search for positivity in nature, mythology, history, and religion, with respect to the "extralogical nature of existence", which rebels against the project of conforming the totality of what can be known to a necessary order. Although Schelling's project of a positive philosophy began in the 1820s, his earlier works show clear elements of his position against the pretension of subsuming the totality of reality into a philosophical system.
Resumo
O propósito deste artigo é a exposição de momentos chave da crítica schellingiana à filosofia idealista como forma de compreender o estatuto da filosofia positiva buscada por Schelling em sua obra madura. A crítica de Schelling, dirigida aos resultados negativos da filosofia formal de seus contemporâneos, é contraposta à busca pela positividade na natureza, na mitologia, na história, na religião, em vista da "natureza extralógica da existência", que se rebela contra a conformação da totalidade do que pode ser conhecido a uma ordem necessária. Embora o projeto da filosofia positiva seja elaborado a partir da década de 1820, já em suas primeiras obras encontramos elementos de sua crítica à pretensão de subsumir em um sistema filosófico a totalidade da realidade. Palavras-chave: Schelling. Idealismo alemão. Filosofia positiva. Sistema da filosofia.
Aoristo - International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics, 2019
We propose in this text to examine the role of the attunements (Stimmungen), and particularly of ... more We propose in this text to examine the role of the attunements (Stimmungen), and particularly of the so-called "fundamental attunements" in the construction of the Heideggerian question of the historicity of history. We start from the question on the historicity of the history of Philosophy to the analysis of the hermeneutic role fulfilled by anxiety in the analytic of the quotidianity in Being and Time, seeking to clarify the connection of this attunement with the concept of historicity as treated in this work. Next, we deal with the way in which the attunements in Fundamental Concepts of
Metaphysics are conceived, a work in which Heidegger explicitly proposes to think the disposition of boredom as a characteristic of an epoch. Once we can assume the meaning in which attunement in general are to be thought historically, we return to the analysis of anxiety, and, from the discussion of its structure as presented in Being and Time, we examine the specific relation of anxiety with the question of historicity and its meaning for the project of Being and Time and Heidegger’s later work.
RESUMO Propomos neste texto examinar o papel das disposições (Stimmungen), e, particularmente, das chamadas "disposições fundamentais" na construção da pergunta heideggeriana pela historicidade da história. Nós partimos da pergunta pela historicidade da história da filosofia para a análise do papel hermenêutico cumprido pela angústia na analítica da cotidianidade em Ser e Tempo, procurando esclarecer a conexão dessa disposição com o conceito de historicidade tal como tratado nessa obra. Em seguida, tratamos da maneira como são pensadas as disposições em Conceitos fundamentais da metafísica, obra na qual Heidegger explicitamente pensa a disposição do tédio como característica de uma época. Uma vez que mostramos como podemos entender as disposições em geral em sentido historial, retomamos a análise da angústia, e, a partir da discussão de sua estrutura tal como apresentada em Ser e Tempo, perguntamos pela relação específica da angústia com a questão da historicidade, no que ela significa para o projeto de Ser e Tempo e para a obra posterior de Heidegger.
Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise, 2017
Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito heideggeriano de “ser... more Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito
heideggeriano de “ser para a morte” é decisivo para a tarefa da ontologia fundamental delineada por Heidegger em Ser e tempo. Partindo da assunção de que o tempo é o horizonte da compreensão do ser em geral, o modo originário de doação do ser deverá ser compreendido temporalmente. À medida que a temporalidade do ser-aí é primeiro desentranhada por meio da análise do ser para a morte como sua possibilidade mais própria, não será suficiente o esclarecimento das estruturas da existência na forma de uma estrutura conceitual do tempo; porém, o modo da doação de ser deverá efetivar-se na morte. A tarefa da ontologia fundamental, ou seja, a pergunta por como podemos em geral saber não poderá mais ser resolvida nem na relação do ente finito com o infinito transcendente, nem como manifestação infinita da vontade, mas deverá resolver-se a partir da finitude mais radical.
[This paper aims to discuss some of the ways in which the heideggerian concept of “being towards death” is decisive for the task of the fundamental ontology as proposed by Heidegger in Being and Time. From the assumption that time is the horizon of the understanding of Being in general, the original mode of donation of being must be temporally understood. Insofar as the temporality of Dasein is first revealed through the analysis of being towards death as its ownmost possibility, it should not be enough to clarify the structures of existence in the form of a conceptual structure of time; the mode of donation of Being should be brought about in death. The task of the fundamental ontology, i. e., the question of how we can in general know, cannot be resolved anymore in the relationship between the finite being and the infinite transcendent, nor as infinite manifestation of will, though it should be resolved from the most radical finitude.]
From his earliest philosophical writings, as attested by the Philosophical letters on dogmatism a... more From his earliest philosophical writings, as attested by the Philosophical letters on dogmatism and criticism (1795), Schelling dedicated a great measure of his efforts to the problem of the apparent contradiction between Nature and Spirit, Necessity and Freedom. From the beginning, Schelling would have found in art the path towards the resolution of this problem, proposing a truly universal system conceived in the form of a “system of art” as a confluence of speculative physics and ethics. The resolution or absolution of the contradiction and separation between nature and history through a "system of art" is itself recognized as a necessity. It may not be regarded as an aesthetic solution, emerging from creative genius, able to join what was separated through a mere act of will, nor could it come from the exegesis of the works of art, revealing the subjective affirmation of freedom of the modern spirit, or exposing the fruits of the kind of universal individual who was, above all, Homer. In fact, for Schelling, this contradiction is not a problem in the sense of an obstruction or impediment, an imperfect stage that must be overcome by any means. Nature and history are themselves already mythological, and not transformed by art into a higher meaning. Certainly, the productive nature of art, according to the Philosophy of Art, is to conform the images of divinity, but divinity itself is not an invention of art, not the gift of subjective meaning to an unsuspecting nature. Art honors divinity through its symbolic character, giving voice to the concealed activity of nature.
CARVALHO, Marcelo; FIGUEIREDO, Vinicius. Filosofia Alemã de Kant a Hegel. São Paulo: ANPOF, 2013, pp. 731-742. ISSN: 978-85-88072-14-5, Dec 2013
Since the beginning of his philosophical activity, as expressed in the early work of 1795 Philoso... more Since the beginning of his philosophical activity, as expressed in the early work of 1795 Philosophical Letters on Dogmatism and Criticism, Schelling battled the problem of the opposition between nature and spirit, necessity and freedom. Also from the beginning the thinker saw in Art perhaps the only way to resolve this dichotomy. Rubens Rodrigues Torres Filho, in his paper The Symbolic in Schelling says: "The “first truly universal system”, one that, arising from the simplest element of nature to the complexity of the art, will be able to join “the two opposite ends of the knowledge” (SW, IV, 89), must divide itself in a physical (corresponding to the philosophy of nature, also called “speculative physics”) and ethics (corresponding to transcendental idealism); but it will only find its end and its closure at the confluence of the two, unifying them into a system of poetics or art (SW, V, 92). Only then can the system aspire to a complete organic whole.” (Torres Filho, Illustrated Essays of Philosophy, p. 121).
The resolution or absolution of contradiction and separation between nature and history through a “system of Art” is the acknowledgment of the necessary or natural development of such contradiction. Schelling is not in any way proposing that composing poetry, that composing a work from the individual inventive capacity can solve this contradiction, presenting itself as an aesthetic solution for the separation of the philosophical disciplines of physics and ethics. Similarly , the exegesis and hermeneutics of art, be it modern art, the result of individual genius, or of ancient mythology (the fruit of genius kind of universal individual who was , above all and before all, Homer) are not, for their part, the way for Poetry and Art to be justified as the solution or the ultimate end of this contradiction. In fact, for Schelling, this contradiction is not a problem in the sense of an obstruction or impediment that must be overcome by any means or by any dialectic method. In and of themselves, nature and history are now comprehended as mythological. The poetic or productive character of poetry is therefore the conformation in the real unity of the ideal free activity of reason itself. The stuff of art is mythology, and mythology is in a sense produced by art, which does not mean “invented” by poetry, but means that poetry exposes the unique spiritual life of a people as a privileged witness. Poetry and religion are, in the ancient world, the same; so speak the ancient ones about their poets, with clarity, especially Homer and Hesiod, as those are the ones who taught the Greeks about their gods.
Contemplação - Revista Acadêmica de Filosofia e Teologia da Faculdade João Paulo II, Sep 2013
The objective of the present paper is to clarify the provisory character of the task of Being and... more The objective of the present paper is to clarify the provisory character of the task of Being and Time, in which Heidegger conceives the existential analytics of being as a necessary path towards posing the question of the meaning of Being itself. At first, we intend to expose how the structure of the question of Being reflects the manner of being of the entity that itself poses the question, justifying the investigation of this entity as the way to assure access to Being itself. Such inquiry, however, was ultimately not elaborated by Heidegger, and Being and Time remains an unfinished work. Nevertheless, the provisional existential analytics end up by revealing not only an introductory feature, but, by virtue of consequence, leads us to the theoretical limits of the task. The clarification of being of the entity that is itself “comprehension of being” takes us to the question, on the second section of Being and Time, about the possibility of an original experience of existence, i.e., the “event” of comprehension, which remains inaccessible to the investigation. The preparation to pose the question on the meaning of Being itself, in light of the limitations reached in Being and Time, shifts away from the existential analytics to the inquiry on the history of Being itself in Heidegger‟s later works.
Books by Wagner Felix
FÉLIX, Wagner. "A metafísica do mal e SANTOS, Robinson dos (org). Compêndio Schelling. São Paulo, SP : LiberArs, 2023, PP. 49-61. , 2023
Tradicionalmente, a pergunta pela origem do mal vem da perplexidade, no seio do cristianismo, de ... more Tradicionalmente, a pergunta pela origem do mal vem da perplexidade, no seio do cristianismo, de como é possível que haja o mal em um mundo criado por um Deus essencialmente bom; e, tradicionalmente, a resposta é alguma variação da ideia de que a existência do mal (ou da existência do erro, na versão epistemológica dessa mesma questão), é consequência da liberdade da vontade; pois, como afirma Agostinho no livro XIX de A Cidade de Deus, “De uma natureza humana, que é boa em si mesma, pode emergir uma vontade boa ou uma vontade má”. Schelling concordará, em seus termos, que a liberdade é uma capacidade para o bem e para o mal, ainda que o mal não tenha sua origem pensada apenas como a privação do bem, ou seja, como inteiramente negação da capacidade para o bem, que reside na razão, de forma que não haveria propriamente nenhuma liberdade para o Mal, “na medida em que aqui dominam as inclinações sensíveis”, ou seja, a submissão passiva da razão ao seu negativo. A origem do Mal, para Schelling, será discutida, no interior de uma teoria da personalidade ou da ipseidade, pelo que se entende a inteireza ou- integridade da pessoa como reflexo de uma unidade primordial, entendendo, também, que a privação não é simples negatividade, mas possui a positividade que caracteriza o ser finito enquanto “a força pela qual procura afirmar-se na sua autonomia”. Para Schelling, “a possibilidade universal do mal reside no fato de o homem, em vez de utilizar sua ipseidade como base ou instrumento, a elevar à posição dominante e a vontade geral, e transformar em meio o espiritual que existe em si mesmo.” (SW VII, 389).
Este texto oferece uma reflexão sobre a concepção da questão da técnica ou da maquinação na décad... more Este texto oferece uma reflexão sobre a concepção da questão da técnica ou da maquinação na década de 1930 por Heidegger as mudanças por quais a colocação desta questão passou no período da Segunda Guerra Mundial. Argumentamos que a questão da técnica, inicialmente, ainda não significa a espécie de mobilização do espírito, da destinação historial de um povo, como nós, retroativamente, interpretamos a questão, o que revelaria que sua dignidade estaria muito além da mera crítica aos objetos da tecnologia. Ainda que a maquinação esteja desde o início vinculada aos mecanismos da subjetividade moderna e à necessidade de sua superação, Heidegger, nessa época, antecipa a possibilidade de um outro começo para o pensamento que não apenas exige, mas que também se julga capaz de produzir uma nova possibilidade para o homem. Os "Cadernos Negros" dão o testemunho de uma tensão no pensamento de Heidegger que se estende por longos anos, e não podemos pretender encontrar um ponto de inflexão cronologicamente determinado para as mudanças que encontramos na expressão de suas questões. Acreditamos, porém, que a questão da técnica só emerge de fato na maneira como a conhecemos – e que pudesse efetivamente permitir a apreensão crítica do nacional-socialismo – mais tarde, ao menos não antes dos últimos anos da guerra, e sua formulação dependerá não somente da mera revisão da abrangência da técnica moderna, que passaria a incluir a experiência do nacional-socialismo, o qual antes Heidegger acreditava apontar a direção do passo para além do esquecimento da verdade do Ser. Essa transformação dependerá de um autêntico abandono da crença na possibilidade mesma de que um projeto filosófico possa vir a decidir sobre seu próprio legado e preparar, antecipar ou pressentir um novo começo. As correntes subterrâneas mais ou menos explícitas que movem essas transformações, e vem a tornar a questão da técnica a mais proeminente para Heidegger após a guerra, são eminentemente complexas, e exigem a proposição de uma interpretação rigorosa do estado do projeto de Ser e Tempo. Momentaneamente propomos, para sustentar nossa tese, observar a reflexão melancólica que Heidegger compõe nos "Feldweg-Gespräche", particularmente o último deles, intitulado "Conversa noturna em um campo de prisioneiros de guerra na Rússia entre um mais jovem e um mais velho".
Acta Scientiarum: Human and Social Sciences, 2024
Schelling postulates the origin of mythology as relative monotheism, preceding the polytheistic s... more Schelling postulates the origin of mythology as relative monotheism, preceding the polytheistic system of gods presumably present in all mythologies. A monotheism relative to the polytheism that succeeds it is understood as an inaugural moment in the formation of the consciousness of divinity, and the passage to polytheism is seen as a necessary development to overcome a relative monotheism towards absolute monotheism in the history of peoples. We would like to argue, however, that the original intuition about the communality of all mythologies is dependent on a specific interpretation and selection of the material sources of the mythologies as Schelling understood them, which, the author claims, should be taken as an already finalised work. This material delimitation is linked to Schelling's position not only on what authentically constitutes a 'system of the gods', but also on which humans constitute a people, to which a mythology belongs. However, while broadening the concept of mythology seems to be a peaceful solution to the problem of the limitations of its sources, the same cannot be said of the original intuition at the basis of the project. If this intuition is the affirmation of the consciousness of divinity as the unformed memory of a previous harmonious state, before differentiation into a polytheistic system, we ask whether this relative monotheism can be understood as a universal principle, or whether different mythological traditions would be irreducible to each other. We point to the shamanistic accounts of Amazonian cosmologies as a counterpoint to examine the role of the consciousness of divinity in the unfolding of mythology and the historical consciousness of peoples. We propose that the anthropological concept of perspectivism, by which many of these cosmologies are described, will allow us to ask the question about the possibility of a different understanding of the formation of consciousness.
Vida e Liberdade: entre a ética e a política, 2016
Revista PHILIA | Filosofia, Literatura & Arte, 2020
O propósito deste artigo é a exposição de momentos chave da crítica schellingiana à filosofia ide... more O propósito deste artigo é a exposição de momentos chave da crítica schellingiana à filosofia idealista como forma de compreender o estatuto da filosofia positiva buscada por Schelling em sua obra madura. A crítica de Schelling, dirigida aos resultados negativos da filosofia formal de seus contemporâneos, é contraposta à busca pela positividade na natureza, na mitologia, na história, na religião, em vista da “natureza extralógica da existência”, que se rebela contra a conformação da totalidade do que pode ser conhecido a uma ordem necessária. Embora o projeto da filosofia positiva seja elaborado a partir da década de 1820, já em suas primeiras obras encontramos elementos de sua crítica à pretensão de subsumir em um sistema filosófico a totalidade da realidade.Palavras-chave: Schelling. Idealismo alemão. Filosofia positiva. Sistema da filosofia.
Page 1. 1 OTEMPO DO SENTIDO Sobre o caráter provisório da tarefa de Ser e Tempo UNIVERSIDADE FEDE... more Page 1. 1 OTEMPO DO SENTIDO Sobre o caráter provisório da tarefa de Ser e Tempo UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ...
Aoristo - International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics
Propomos neste texto examinar o papel das disposições (Stimmungen), e, particularmente, das chama... more Propomos neste texto examinar o papel das disposições (Stimmungen), e, particularmente, das chamadas “disposições fundamentais” na construção da pergunta heideggeriana pela historicidade da história. Nós partimos da pergunta pela historicidade da história da filosofia para a análise do papel hermenêutico cumprido pela angústia na analítica da cotidianidade em Ser e Tempo, procurando esclarecer a conexão dessa disposição com o conceito de historicidade tal como tratado nessa obra. Em seguida, tratamos da maneira como são pensadas as disposições em Conceitos fundamentais da metafísica, obra na qual Heidegger explicitamente pensa a disposição do tédio como característica de uma época. Uma vez que mostramos como podemos entender as disposições em geral em sentido historial, retomamos a análise da angústia, e, a partir da discussão de sua estrutura tal como apresentada em Ser e Tempo, perguntamos pela relação específica da angústia com a questão da historicidade, no que ela significa par...
Resumo : Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito heideggerian... more Resumo : Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito heideggeriano de “ser para a morte” e decisivo para a tarefa da ontologia fundamental delineada por Heidegger em Ser e tempo . Partindo da assuncao de que o tempo e o horizonte da compreensao do ser em geral, o modo originario de doacao do ser devera ser compreendido temporalmente. A medida que a temporalidade do ser-ai e primeiro desentranhada por meio da analise do ser para a morte como sua possibilidade mais propria, nao sera suficiente o esclarecimento das estruturas da existencia na forma de uma estrutura conceitual do tempo; porem, o modo da doacao de ser devera efetivar-se na morte. A tarefa da ontologia fundamental, ou seja, a pergunta por como podemos em geral saber nao podera mais ser resolvida nem na relacao do ente finito com o infinito transcendente, nem como manifestacao infinita da vontade, mas devera resolver-se a partir da finitude mais radical. Palavras-chave : Heidegger; temporali...
Revista PHILIA | Filosofia, Literatura & Arte, 2020
Abstract The purpose of this article is to discuss key moments of Schelling's criticism to ideal... more Abstract
The purpose of this article is to discuss key moments of Schelling's criticism to idealist philosophy and as a way of understanding the status of the positive philosophy he sought in his mature work. Schelling's criticizes the negative results of the formal philosophy of his contemporaries. against which he counters with the search for positivity in nature, mythology, history, and religion, with respect to the "extralogical nature of existence", which rebels against the project of conforming the totality of what can be known to a necessary order. Although Schelling's project of a positive philosophy began in the 1820s, his earlier works show clear elements of his position against the pretension of subsuming the totality of reality into a philosophical system.
Resumo
O propósito deste artigo é a exposição de momentos chave da crítica schellingiana à filosofia idealista como forma de compreender o estatuto da filosofia positiva buscada por Schelling em sua obra madura. A crítica de Schelling, dirigida aos resultados negativos da filosofia formal de seus contemporâneos, é contraposta à busca pela positividade na natureza, na mitologia, na história, na religião, em vista da "natureza extralógica da existência", que se rebela contra a conformação da totalidade do que pode ser conhecido a uma ordem necessária. Embora o projeto da filosofia positiva seja elaborado a partir da década de 1820, já em suas primeiras obras encontramos elementos de sua crítica à pretensão de subsumir em um sistema filosófico a totalidade da realidade. Palavras-chave: Schelling. Idealismo alemão. Filosofia positiva. Sistema da filosofia.
Aoristo - International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics, 2019
We propose in this text to examine the role of the attunements (Stimmungen), and particularly of ... more We propose in this text to examine the role of the attunements (Stimmungen), and particularly of the so-called "fundamental attunements" in the construction of the Heideggerian question of the historicity of history. We start from the question on the historicity of the history of Philosophy to the analysis of the hermeneutic role fulfilled by anxiety in the analytic of the quotidianity in Being and Time, seeking to clarify the connection of this attunement with the concept of historicity as treated in this work. Next, we deal with the way in which the attunements in Fundamental Concepts of
Metaphysics are conceived, a work in which Heidegger explicitly proposes to think the disposition of boredom as a characteristic of an epoch. Once we can assume the meaning in which attunement in general are to be thought historically, we return to the analysis of anxiety, and, from the discussion of its structure as presented in Being and Time, we examine the specific relation of anxiety with the question of historicity and its meaning for the project of Being and Time and Heidegger’s later work.
RESUMO Propomos neste texto examinar o papel das disposições (Stimmungen), e, particularmente, das chamadas "disposições fundamentais" na construção da pergunta heideggeriana pela historicidade da história. Nós partimos da pergunta pela historicidade da história da filosofia para a análise do papel hermenêutico cumprido pela angústia na analítica da cotidianidade em Ser e Tempo, procurando esclarecer a conexão dessa disposição com o conceito de historicidade tal como tratado nessa obra. Em seguida, tratamos da maneira como são pensadas as disposições em Conceitos fundamentais da metafísica, obra na qual Heidegger explicitamente pensa a disposição do tédio como característica de uma época. Uma vez que mostramos como podemos entender as disposições em geral em sentido historial, retomamos a análise da angústia, e, a partir da discussão de sua estrutura tal como apresentada em Ser e Tempo, perguntamos pela relação específica da angústia com a questão da historicidade, no que ela significa para o projeto de Ser e Tempo e para a obra posterior de Heidegger.
Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise, 2017
Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito heideggeriano de “ser... more Este artigo tem como objetivo discutir algumas das maneiras como o conceito
heideggeriano de “ser para a morte” é decisivo para a tarefa da ontologia fundamental delineada por Heidegger em Ser e tempo. Partindo da assunção de que o tempo é o horizonte da compreensão do ser em geral, o modo originário de doação do ser deverá ser compreendido temporalmente. À medida que a temporalidade do ser-aí é primeiro desentranhada por meio da análise do ser para a morte como sua possibilidade mais própria, não será suficiente o esclarecimento das estruturas da existência na forma de uma estrutura conceitual do tempo; porém, o modo da doação de ser deverá efetivar-se na morte. A tarefa da ontologia fundamental, ou seja, a pergunta por como podemos em geral saber não poderá mais ser resolvida nem na relação do ente finito com o infinito transcendente, nem como manifestação infinita da vontade, mas deverá resolver-se a partir da finitude mais radical.
[This paper aims to discuss some of the ways in which the heideggerian concept of “being towards death” is decisive for the task of the fundamental ontology as proposed by Heidegger in Being and Time. From the assumption that time is the horizon of the understanding of Being in general, the original mode of donation of being must be temporally understood. Insofar as the temporality of Dasein is first revealed through the analysis of being towards death as its ownmost possibility, it should not be enough to clarify the structures of existence in the form of a conceptual structure of time; the mode of donation of Being should be brought about in death. The task of the fundamental ontology, i. e., the question of how we can in general know, cannot be resolved anymore in the relationship between the finite being and the infinite transcendent, nor as infinite manifestation of will, though it should be resolved from the most radical finitude.]
From his earliest philosophical writings, as attested by the Philosophical letters on dogmatism a... more From his earliest philosophical writings, as attested by the Philosophical letters on dogmatism and criticism (1795), Schelling dedicated a great measure of his efforts to the problem of the apparent contradiction between Nature and Spirit, Necessity and Freedom. From the beginning, Schelling would have found in art the path towards the resolution of this problem, proposing a truly universal system conceived in the form of a “system of art” as a confluence of speculative physics and ethics. The resolution or absolution of the contradiction and separation between nature and history through a "system of art" is itself recognized as a necessity. It may not be regarded as an aesthetic solution, emerging from creative genius, able to join what was separated through a mere act of will, nor could it come from the exegesis of the works of art, revealing the subjective affirmation of freedom of the modern spirit, or exposing the fruits of the kind of universal individual who was, above all, Homer. In fact, for Schelling, this contradiction is not a problem in the sense of an obstruction or impediment, an imperfect stage that must be overcome by any means. Nature and history are themselves already mythological, and not transformed by art into a higher meaning. Certainly, the productive nature of art, according to the Philosophy of Art, is to conform the images of divinity, but divinity itself is not an invention of art, not the gift of subjective meaning to an unsuspecting nature. Art honors divinity through its symbolic character, giving voice to the concealed activity of nature.
CARVALHO, Marcelo; FIGUEIREDO, Vinicius. Filosofia Alemã de Kant a Hegel. São Paulo: ANPOF, 2013, pp. 731-742. ISSN: 978-85-88072-14-5, Dec 2013
Since the beginning of his philosophical activity, as expressed in the early work of 1795 Philoso... more Since the beginning of his philosophical activity, as expressed in the early work of 1795 Philosophical Letters on Dogmatism and Criticism, Schelling battled the problem of the opposition between nature and spirit, necessity and freedom. Also from the beginning the thinker saw in Art perhaps the only way to resolve this dichotomy. Rubens Rodrigues Torres Filho, in his paper The Symbolic in Schelling says: "The “first truly universal system”, one that, arising from the simplest element of nature to the complexity of the art, will be able to join “the two opposite ends of the knowledge” (SW, IV, 89), must divide itself in a physical (corresponding to the philosophy of nature, also called “speculative physics”) and ethics (corresponding to transcendental idealism); but it will only find its end and its closure at the confluence of the two, unifying them into a system of poetics or art (SW, V, 92). Only then can the system aspire to a complete organic whole.” (Torres Filho, Illustrated Essays of Philosophy, p. 121).
The resolution or absolution of contradiction and separation between nature and history through a “system of Art” is the acknowledgment of the necessary or natural development of such contradiction. Schelling is not in any way proposing that composing poetry, that composing a work from the individual inventive capacity can solve this contradiction, presenting itself as an aesthetic solution for the separation of the philosophical disciplines of physics and ethics. Similarly , the exegesis and hermeneutics of art, be it modern art, the result of individual genius, or of ancient mythology (the fruit of genius kind of universal individual who was , above all and before all, Homer) are not, for their part, the way for Poetry and Art to be justified as the solution or the ultimate end of this contradiction. In fact, for Schelling, this contradiction is not a problem in the sense of an obstruction or impediment that must be overcome by any means or by any dialectic method. In and of themselves, nature and history are now comprehended as mythological. The poetic or productive character of poetry is therefore the conformation in the real unity of the ideal free activity of reason itself. The stuff of art is mythology, and mythology is in a sense produced by art, which does not mean “invented” by poetry, but means that poetry exposes the unique spiritual life of a people as a privileged witness. Poetry and religion are, in the ancient world, the same; so speak the ancient ones about their poets, with clarity, especially Homer and Hesiod, as those are the ones who taught the Greeks about their gods.
Contemplação - Revista Acadêmica de Filosofia e Teologia da Faculdade João Paulo II, Sep 2013
The objective of the present paper is to clarify the provisory character of the task of Being and... more The objective of the present paper is to clarify the provisory character of the task of Being and Time, in which Heidegger conceives the existential analytics of being as a necessary path towards posing the question of the meaning of Being itself. At first, we intend to expose how the structure of the question of Being reflects the manner of being of the entity that itself poses the question, justifying the investigation of this entity as the way to assure access to Being itself. Such inquiry, however, was ultimately not elaborated by Heidegger, and Being and Time remains an unfinished work. Nevertheless, the provisional existential analytics end up by revealing not only an introductory feature, but, by virtue of consequence, leads us to the theoretical limits of the task. The clarification of being of the entity that is itself “comprehension of being” takes us to the question, on the second section of Being and Time, about the possibility of an original experience of existence, i.e., the “event” of comprehension, which remains inaccessible to the investigation. The preparation to pose the question on the meaning of Being itself, in light of the limitations reached in Being and Time, shifts away from the existential analytics to the inquiry on the history of Being itself in Heidegger‟s later works.
FÉLIX, Wagner. "A metafísica do mal e SANTOS, Robinson dos (org). Compêndio Schelling. São Paulo, SP : LiberArs, 2023, PP. 49-61. , 2023
Tradicionalmente, a pergunta pela origem do mal vem da perplexidade, no seio do cristianismo, de ... more Tradicionalmente, a pergunta pela origem do mal vem da perplexidade, no seio do cristianismo, de como é possível que haja o mal em um mundo criado por um Deus essencialmente bom; e, tradicionalmente, a resposta é alguma variação da ideia de que a existência do mal (ou da existência do erro, na versão epistemológica dessa mesma questão), é consequência da liberdade da vontade; pois, como afirma Agostinho no livro XIX de A Cidade de Deus, “De uma natureza humana, que é boa em si mesma, pode emergir uma vontade boa ou uma vontade má”. Schelling concordará, em seus termos, que a liberdade é uma capacidade para o bem e para o mal, ainda que o mal não tenha sua origem pensada apenas como a privação do bem, ou seja, como inteiramente negação da capacidade para o bem, que reside na razão, de forma que não haveria propriamente nenhuma liberdade para o Mal, “na medida em que aqui dominam as inclinações sensíveis”, ou seja, a submissão passiva da razão ao seu negativo. A origem do Mal, para Schelling, será discutida, no interior de uma teoria da personalidade ou da ipseidade, pelo que se entende a inteireza ou- integridade da pessoa como reflexo de uma unidade primordial, entendendo, também, que a privação não é simples negatividade, mas possui a positividade que caracteriza o ser finito enquanto “a força pela qual procura afirmar-se na sua autonomia”. Para Schelling, “a possibilidade universal do mal reside no fato de o homem, em vez de utilizar sua ipseidade como base ou instrumento, a elevar à posição dominante e a vontade geral, e transformar em meio o espiritual que existe em si mesmo.” (SW VII, 389).
Este texto oferece uma reflexão sobre a concepção da questão da técnica ou da maquinação na décad... more Este texto oferece uma reflexão sobre a concepção da questão da técnica ou da maquinação na década de 1930 por Heidegger as mudanças por quais a colocação desta questão passou no período da Segunda Guerra Mundial. Argumentamos que a questão da técnica, inicialmente, ainda não significa a espécie de mobilização do espírito, da destinação historial de um povo, como nós, retroativamente, interpretamos a questão, o que revelaria que sua dignidade estaria muito além da mera crítica aos objetos da tecnologia. Ainda que a maquinação esteja desde o início vinculada aos mecanismos da subjetividade moderna e à necessidade de sua superação, Heidegger, nessa época, antecipa a possibilidade de um outro começo para o pensamento que não apenas exige, mas que também se julga capaz de produzir uma nova possibilidade para o homem. Os "Cadernos Negros" dão o testemunho de uma tensão no pensamento de Heidegger que se estende por longos anos, e não podemos pretender encontrar um ponto de inflexão cronologicamente determinado para as mudanças que encontramos na expressão de suas questões. Acreditamos, porém, que a questão da técnica só emerge de fato na maneira como a conhecemos – e que pudesse efetivamente permitir a apreensão crítica do nacional-socialismo – mais tarde, ao menos não antes dos últimos anos da guerra, e sua formulação dependerá não somente da mera revisão da abrangência da técnica moderna, que passaria a incluir a experiência do nacional-socialismo, o qual antes Heidegger acreditava apontar a direção do passo para além do esquecimento da verdade do Ser. Essa transformação dependerá de um autêntico abandono da crença na possibilidade mesma de que um projeto filosófico possa vir a decidir sobre seu próprio legado e preparar, antecipar ou pressentir um novo começo. As correntes subterrâneas mais ou menos explícitas que movem essas transformações, e vem a tornar a questão da técnica a mais proeminente para Heidegger após a guerra, são eminentemente complexas, e exigem a proposição de uma interpretação rigorosa do estado do projeto de Ser e Tempo. Momentaneamente propomos, para sustentar nossa tese, observar a reflexão melancólica que Heidegger compõe nos "Feldweg-Gespräche", particularmente o último deles, intitulado "Conversa noturna em um campo de prisioneiros de guerra na Rússia entre um mais jovem e um mais velho".