Jéssica S Carneiro | Universidade Federal do Ceará (original) (raw)
Papers by Jéssica S Carneiro
A produção de conteúdo no ciberespaço tem se apropriado de pautas dos movimentos sociais, como o ... more A produção de conteúdo no ciberespaço tem se apropriado de pautas dos movimentos sociais, como o feminismo, transformando-se num amplo espaço de debate cultural e político. O feminismo tem tomado grande espaço no conteúdo veiculado em sites de redes sociais produzidos principalmente por mulheres. Com temáticas feministas para o YouTube, a vlogueira Jout Jout ganha visibilidade passando a ser considerada, por seu público, representante do feminismo na Internet. O objetivo deste trabalho é entender, a partir de uma análise de conteúdo e de repercussão do vídeo “Não Tira o Batom Vermelho” do canal de Jout Jout, de que forma as pautas feministas têm sido veiculadas como produção de conteúdo no Youtube, bem como compreender como a linguagem e o formato destas plataformas moldam, popularizam e modificam a agenda feminista.
Os sites de redes sociais têm servido como importante plataforma onde pessoas e coletividades cad... more Os sites de redes sociais têm servido como importante plataforma onde pessoas e coletividades cada vez mais reivindicam direitos, mobilizam-se e conscientizam-se politicamente. A politização nas plataformas digitais de comunicação refere-se a mecanismos de resistência aos dispositivos de poder, principalmente no que concerne àqueles de reiteração do racismo e da opressão de gênero. Percebe-se nesses espaços a crescente emergência de grupos e de indivíduos que defendem pautas ativistas e de lutas sociais, no sentido de manifestarem-se contra enunciados e práticas de opressão e exclusão a grupos específicos. Assim, este trabalho discute as diferentes faces do movimento feminista negro nos sites de redes sociais, tomando como ponto central a problematização da categoria conceitual "empoderamento" presente nos discursos desses grupos. Pretende-se compreender os novos contornos das opressões ligadas à etnia, ao gênero e à geração na internet, analisando as formas como os movimentos de ciberativismo disparados pelos SRS, sobretudo o Facebook, produzem narrativas de identidade que impulsionam as lutas e disputas discursivas de resistência e empoderamento negro. Levanta-se a hipótese de que o afastamento do feminismo negro de uma luta militante, ou seja, da militância voltada para a crítica aos regimes de poder e à estrutura sistêmica da sociedade que marcou as primeiras ondas feministas, alinha-se ao projeto neoliberal contemporâneo no sentido de fortalecer políticas de identidade (FRASER, 2006; 2009), em vez de possibilitar identidades políticas, além de constituir-se como mais um dispositivo reiterativo das relações de poder vigentes e das opressões relacionadas à etnia e ao gênero. A partir disso, suspeita-se que as relações de consumo que atravessam certas pautas feministas negras, as quais à primeira vista podem parecer fortalecer e empoderar essas mulheres, agem na direção da despolitização e da descoletivização do combate às relações de exclusão e opressão de mulheres negras, com efeitos especialmente importantes sobre as jovens negras. Neste trabalho, discutimos as postagens de dois grupos do Facebook- “No e Low Poo Iniciantes” e “No/Low Poo: cabelos crespos” – que reúnem pessoas em processo de transição da química de alisamento aos fios naturais crespos. Trata-se de grupos que não apenas discutem sobre a qualidade capilar e técnicas de manuseio do cabelo, mas também travam debates étnicos sobre afro-descendência. A análise qualitativa apoiou-se na netnografia e na análise do discurso no âmbito de teoria feminista crítica. Entre alguns resultados, observa-se que os sites analisados configuram-se espaços de visibilização de discursos de resistência no que tange às disputas identitárias e aos movimentos de empoderamento negro, contudo, também sinalizam as tensões do ativismo produzidas pelo foco no consumo de “produtos étnicos”, que podem limitar o alcance dos novos engendramentos éticos, estéticos e políticos no campo do feminismo negro. Essas tensões nos levam a refletir sobre os desafios do feminismo na internet sobre o empoderamento de jovens e adultas negras.
Quando o(s) feminismo(s) entram em discussão a tendência é trazer a categoria “mulher” ao centro ... more Quando o(s) feminismo(s) entram em discussão a tendência é trazer a categoria “mulher” ao centro do debate, de forma a tentar criar e subverter formas de relação e sociabilidade no que tange às questões de gênero. De fato, o debate é urgente e precisa ganhar novos territórios que se estendam para além dos muros da universidade. Todavia, pensar no(s) feminismo(s) implica em compreendê-los enquanto outra epistemologia possível, enquanto novo projeto de sociedade, fato que repercute, não apenas na situação das mulheres, mas, sobretudo em um deslocamento pessoal e coletivo diante dos ideários “democracia”, “autonomia” e “igualdade”, tão caros a nós e, por vezes, não questionados. Esse tripé tem sido base fundante de muitos grupos e coletivos (ditos) minoritários para reivindicar pertencimento e equanimização das desigualdades. A partir da suposição de uma sociedade democrática, da autonomização do sujeito e de uma pretensa igualdade pela supressão das hierarquias seja de classe, raça ou gênero, mira-se em reivindicações políticas que vão ao encontro da democracia, autonomia e igualdade. Grande parte das vezes, os movimentos sociais e os ativismos reclamam a extinção da misoginia, do racismo e do classismo ao reivindicar um território democrático onde exista um estado de suspensão destes tipos de opressão/exclusão, em que se possa pensar uma emancipação do sujeito pela via política e, em última instância, que as assimetrias sociais deem lugar à igualdade. Todavia, neste pleito no campo político, de um lugar em que se privilegiem a democracia, a autonomia e a igualdade, pouco se põe em questão o que é tomado por “democracia”, “autonomia” e “igualdade”. Em outras palavras, parte-se de categorias filosóficas que são passíveis de questionamentos no que diz respeito à sua pretensa totalidade e alcançabilidade e que, por muitas vezes, escondem enunciados de verdade e racionalidades univalentes, androcêntricas e colonizadoras. O que pretendemos com este trabalho é pôr em questão as categorias “democracia”, “autonomia” e “igualdade”, pensando-as a partir de uma análise do(s) movimento(s) feminista(s), no intuito de tensioná-las para pensar quais podem ser, de fato, suas contribuições ao campo político e em que medida podem contribuir para reiterar sistemas de não-reconhecimento, exclusão e extermínio. Para isso, tomamos como referencial teórico as ativistas e pensadoras Angela Davis (2009/2016) e Judith Butler (2003/2016), as quais, a partir de reflexões sociológicas e filosóficas, trazem ao cenário do(s) feminismo(s) questões imprescindíveis a uma crítica social contundente alinhada às propostas de transformação do cenário político mundial. Neste sentido, feminismo(s), desigualdades e crítica às noções contemporâneas de democracia e autonomia são os caminhos traçados pelas autoras em suas diversas obras. Ambas manejam a noção de “interseccionalidade” para pensar ações feministas que considerem os vários marcadores e os diversos contextos que atravessam a vida das pessoas. Desta forma, pensar interseccionalmente é perceber como mulheres, negros, pessoas LGBT, índios, imigrantes, refugiados e outros grupos sociais hostilizados e oprimidos historicamente são atravessados por diferentes e simultâneas formas de opressão/exclusão, e como a própria composição dos sistemas político, econômico e social não apenas contribuíram, mas criaram condições para que estes grupos fossem submetidos à condição de inferiores e subalternizados. Ao questionar a composição desses sistemas, trazemos ao centro do debate o tripé que introduzirmos para pensar: i) de que maneira o racismo e as subalternizações étnicas foram/são possíveis e constituintes de modelos societários democráticos; ii) como é possível conceber um estado de autonomização e de igualdade – e aqui, pensamos o feminismo não só como um projeto para “mulheres”, mas para uma nova sociedade – que não levem em conta os diferentes contingenciamentos e situações a que estes sujeitos estão resignados, levando-nos a questionar a própria validade destes termos; iii) de que forma é possível conceber a “igualdade” em um modelo de sociedade eminentemente excludente, falocêntrica, branca e colonizadora. A partir disso, pensamos em discutir um “projeto feminista de sociedade” não para deslocar os homens da centralidade, colocando as mulheres em seu lugar; antes, um projeto que pretende repensar e subverter as concepções de gênero e suas relações, as quais produzem modelo de masculinidades e feminilidades pautadas na hierarquia, violência e subjugação. Tais modelos de sociabilidade não só permitem, mas subsidiam a democracia para poucos, paradoxal em concepção e execução. Faz-se oportuno, então, afirmar que o ideal de democracia, tomado por absoluto em si, reitera práticas excludentes, forja uma suposta autonomia que não leve em conta as contingências, e em nome de uma igualdade, suprime e aniquila as diferenças. Para promover, portanto, lutas condizentes com práticas revolucionárias - consideramos práticas revolucionárias como práticas de superação do sistema atual- é preciso revolucionar os conceitos, mas não só estes, a práxis do mesmo modo. Trata-se, portanto, de construir uma nova democracia, sob novos ideais e parâmetros.
Os embates em torno da desigualdade de gênero e, principalmente, da agenda feminista vêm se ampli... more Os embates em torno da desigualdade de gênero e, principalmente, da agenda feminista vêm se ampliando cada vez mais na internet, sobretudo nos sites de redes sociais, mobilizando centenas de jovens a discutirem temas articulados ao feminismo e os impactos da violência de gênero no Brasil. Em alusão às festividades natalinas, em que repetidamente são realizados amigos secretos, a famosa hashtag #MeuAmigoSecreto, criada em 2015 e veiculada primeiramente no Twitter e posteriormente no Facebook, nasceu do sorteio de um amigo secreto indesejado, abrindo portas para pensar um “amigo oculto agressor”. Inspirada no formato de microrrelato, a hashtag pretendeu expor experiências pessoais de desigualdade de gênero vividas ou presenciadas pelxs usuárixs destas redes e acabou por visibilizar vidas atravessadas por essas desigualdades e as violências delas decorrentes. Citamos alguns exemplos de publicações feitas nesta hashtag que elucidam um pouco sobre o que foi discutido em 2015: “#MeuAmigoSecreto diz que aborto é assassinato, mas pediu pra namorada abortar quando ela engravidou”; “#MeuAmigoSecreto diz que mulher feia deveria ficar agradecida por ter sido estuprada e que seu estuprador não merecia cadeia, mas um abraço”; “#MeuamigoSecreto diz que feministas são iguais a miojo: ficam prontas em três minutos e são comida de universitário” (DE LARA et al, 2016). Boa parte das publicações faz referência a constrangimentos a que xs usuárixs foram submetidxs em relação a questões de gênero, e, através da hashtag, tinham a possibilidade de externar seus sentimentos, de denunciar situações e de não sofrerem retaliação por não identificarem xs agressorxs. O movimento, o qual à primeira instância não tinha grandes pretensões, ganhou grande notoriedade colocando o debate de gênero e do feminismo a nível nacional, sobretudo na internet. Neste sentido, a visibilidade não apenas dessa hashtag, mas de várias outras discussões emersas nas plataformas digitais, confirmam o protagonismo do movimento feminista no ciberespaço. Isto posto, considerando a importância e a permanecia da agenda feminista na rede, torna-se cada vez mais difícil demarcar as fronteiras entre os movimentos feministas que se sucedem nos ambientes virtuais e fora deles, no sentido de borrar seus limites. Assim, à luz das discussões de Donna Haraway (HARAWAY; KUNZRU; TADEU, 2009) sobre feminismo e tecnologia, o intuito deste trabalho é entender de que forma o ciberfeminismo traz consequências para se pensar o próprio feminismo e as novas formas de resistência (DELEUZE, 1992) que se dão por meio dos ambientes virtuais. Dito de outra forma, pretendemos nos centrar nos efeitos de uma delimitação cada vez mais porosa entre o “feminismo real” e o “feminismo virtual”, pensada a partir da impossibilidade de conceber, atualmente, o feminismo sem a tecnologia. A pesquisa, ainda em fase exploratória, tem como objeto de análise as publicações feitas na hashtag #MeuAmigoSecreto, a partir de uma análise de conteúdo, de forma a subsidiar a interlocução sobre feminismo e tecnologia (HARAWAY; KUNZRU; TADEU, 2009), na qual a juventude se apresenta como protagonista.
Frente ao cenário político internacional de aviltamento dos direitos humanos, o(s) feminismo(s) ... more Frente ao cenário político internacional de aviltamento dos direitos humanos, o(s) feminismo(s)
requis(eram) uma análise mais atenta e crítica das formas de dominação-opressão
contemporâneas. A ausência de espaço para a reflexão de alternativas ao modelo eurocêntrico de
“sujeito do feminismo” impulsionou o surgimento de outros feminismos e de pautas mais
contextualizadas. Nestas discussões, faz-se necessário descentralizar a categoria “mulher” no
feminismo e lançar um olhar para outras contingências que atravessam as dinâmicas de
dominação-opressão. Neste sentido, considerando a importância das contribuições de Angela
Davis e de sua obra “Mulheres, classe e raça” (2016) ao(s) feminismo(s) negro(s), este trabalho se
propõe a discutir o(s) feminismo(s) e seus atravessamentos econômicos, políticos e culturais por
meio de uma análise crítica interseccional. Considerando o movimento de reconstrução histórica
realizado por Davis sobre as mulheres negras norte-americanas, pontuamos que suas
contribuições não se detêm às discussões sobre o(s) feminismo(s) negro(s), apresentando aportes
fundamentais para uma crítica à sociedade, para além das discussões de gênero.
O feminismo tem traçado uma trajetória cada vez mais próxima aos movimentos contraculturais, estr... more O feminismo tem traçado uma trajetória cada vez mais próxima aos movimentos contraculturais, estreitando sua relação com a publicidade e transformando sua agenda política em estilos de vida desejáveis por mulheres, a fim de tornar-se mais palatável, permitindo uma apropriação das pautas do movimento para transformá-las em demandas de mercado. Nessa perspectiva, nota-se de forma crescente a presença do discurso de empoderamento nas campanhas publicitárias voltadas ao público feminino, culminando no aqui chamamos de empowertising, e cooptando mais adeptos à causa feminista por meio de sua visibilidade midiática. A partir disto, interessa discutir neste trabalho como tem sido articulado e quais são os efeitos da apropriação do discurso de empoderamento feminino na publicidade, tendo como recorte a campanha " O que te define " da Avon BR. Introdução A publicidade, enquanto não apenas área de atuação, mas campo interdisciplinar, está sempre atenta às mais diversas transformações sociais, apropriando-se e recontextualizando as múltiplas realidades que se apresentam. Não é de hoje que a publicidade se utiliza de bandeiras e pautas de movimentos sociais para construir uma narrativa publicitária e segmentar mercados. As décadas de 60 e 70 foram um momento de explosão dos movimentos de contracultura no ocidente, dentre os quais o feminismo despontou como agenda política, que perduraria até os dias atuais. A publicidade, desde então, atenta às reivindicações do movimento de liberação feminina, traduzia suas pautas em demandas mercadológicas, iniciando uma estreita relação com o feminismo. Os anos 90 foram marcados pela forte presença de reivindicações femininas que se transformaram em slogans e taglines publicitários, o que consolidou o chamado commodity feminism – um feminismo reificado.
Os sites de redes sociais (SRS) têm se mostrado como campo de produção de múltiplas narrativas qu... more Os sites de redes sociais (SRS) têm se mostrado como campo de produção de múltiplas narrativas que se materializam imagética e verbalmente e que produzem tensionamentos de discursos e disputas identitárias. No intuito de entender as reatualizações do racismo e as opressões ligadas à cor e etnia na internet, este trabalho se propõe a compreender de que forma os movimentos de ciberativismo disparados pelos SRS, sobretudo o Facebook, produzem narrativas de identidade que impulsionam as lutas e disputas discursivas ligadas diretamente à resistência e ao empoderamento negro. Para fins de análise, o recorte empírico desta pesquisa – ainda em etapa inicial – tem o grupo de Facebook intitulado “No e Low Poo Iniciantes” como corpus, com corte temporal a análise das postagens realizadas entre os meses de janeiro e junho de 2016. O grupo consiste na reunião de novos adeptos à técnica “No e Low Poo” e, principalmente, pessoas que estão em processo de transição da química alisante aos fios naturais e/ou crespos. A técnica do “No e Low Poo” consiste no abandono de produtos que contenham substâncias nocivas à saúde capilar, como parafina, petrolatos e silicones insolúveis, e é praticada majoritariamente por pessoas com cabelos encrespados. Por tratar-se de um grupo que não reduz as discussões sobre a qualidade capilar e técnicas de manuseio do cabelo, mas por ampliar-se aos debates étnicos inerentes aos traços afrodescentes, ele se configura como produtor de identidade e, por estes motivos, é estratégico para os fins desta pesquisa. Ainda sobre as características do grupo, trata-se de uma modalidade de grupo fechado, com 215.786 membros, e 12 administradores, em que o ingresso está condicionado ao convite de alguém já participante. O material qualitativo é composto de retratos de tela das postagens veiculadas entre o período de análise, em que constam conteúdos não apenas voltados à técnica, mas relatos sobre o árduo “período de transição”, que consiste no abandono de processos de alisamento químico. Dentre os achados da pesquisa, percebeu-se no grupo uma rede de suporte de pessoas passam por situação de preconceito ao assumir os fios crespos naturais, e encontram nesta “transição” uma ferramenta de autoaceitação, autoempoderamento, e principalmente um instrumento para debates políticos sobre disputas étnicas e raciais. Deste modo, no tangente às disputas identitárias e movimentos de empoderamento, principalmente nas identidades étnicas que se apresentam como o cerne central deste trabalho, os SRS têm proporcionado o emergir dos discursos de resistências e, sobretudo, novos engendramentos éticos, estéticos e políticos, e que dimensionam a análise dessa Rede como espaço importante de (re)produção social.
A inserção de novas mídias, como as mídias digitais, em nossa sociedade contemporânea traz conseq... more A inserção de novas mídias, como as mídias digitais, em nossa sociedade contemporânea traz consequências não apenas do caráter de uso, mas sobre a forma como a sociedade as compreende e como se comporta frente a elas. O advento da internet e a pluralização das relações virtuais transformaram nossa forma de consumir tais mídias, bem como a forma como nos relacionamos consigo e com o outro. À medida que as inovações tecnológicas se incorporam também no cotidiano dos indivíduos, é complexo definir como se dão os novos processos de comunicação e, sobretudo, como se dá esta nova forma de socializar e de construir uma autoimagem. Entende-se, a partir da literatura utilizada neste trabalho, que o usuário dos sites de redes sociais constrói imagens representativas de si. Em outras palavras, com base no que é compartilhado na rede, os usuários constróem uma percepção limitada – e intencional – de si. A partir disto, esta pesquisa tenta compreender como acontece a representação social dos usuários das redes sociais virtuais através das fotografias compartilhadas online, ou em outras palavras, a construção de uma “fachada social” virtual construída pela imagem.
O presente texto tem por objetivo apresentar e analisar, a luz do pensamento do filósofo Michael ... more O presente texto tem por objetivo apresentar e analisar, a luz do pensamento do filósofo Michael Foucault, as transformações nos modos de narrar a si diante do advento das novas formas de socialização através da tecnologia da informação e das mídias digitais, em especifico os sites de redes sociais. Para tanto, dividimos este texto em três partes: 1) uma breve introdução de como a tecnologia da informação e uso de redes sociais tornou-se elemento básico do cotidiano do homem contemporâneo; 2) como as práticas de autonarração e confissão, entes hegemonicamente feitas através das cartas e da espiritualidade, respectivamente, deram lugar aos diários virtuais e aos aforismos tais como “o que você esta pensando agora?”; 3) por fim, como a imagem, a fotografia, assumiu, também, a dimensão da narrativa de si sendo, hoje, elemento chave para o estudo e a compreensão das novas formas de apresentação social do “eu”. Vale ressaltar aqui a pertinência dos estudos de Foucault sobre as praticas de narração e confissão, pois entendemos que suas analises sobres esses processos históricos pode indicar valiosas pistas de como proceder teórico-metodologicamente diante das novas formas de apresentação do “eu”. Por fim atenção especial será concedida a plataforma digital Facebook, uma vez que esta agrega maior numero de usuários no Brasil e no mundo, bem como personifica nosso objeto de estudo ao ter como base de sua interface as narrativas e confissões contadas a partir de textos e compartilhamento de informações, mas primordialmente através da exposição de imagens e fotografias.
O estudo da memória e da narrativa no campo das imagens se mostra como um caminho desafiador, sob... more O estudo da memória e da narrativa no campo das imagens se mostra como um caminho desafiador, sobretudo na contemporaneidade, quando tentamos compreender estas duas instâncias circunscritas nos ambientes digitais. A fotografia, em alguma instância, opera nos processos de significação, isto é, nos significados que os sujeitos conferem a um dado acontecimento, como também produz um tipo de memória peculiar. Essa fotografia não apenas produzida, mas pensada com a finalidade última de ser compartilhada online, é o que muito interessa. Propomo-nos a estudar como as fotografias compartilhadas no Facebook atuam sobre a produção de memórias autobiográficas e coletivas, com efeitos sobre atuais formas de narração de si. Em outras palavras, procuramos entender como as novas formas de fazer imagem digital (principalmente aquelas que são produzidas para serem compartilhadas) operam na forma como os usuários guardam memórias e usam a fotografia para construí-las, forjando concepções de passado-presente-futuro a partir da imagem que foi midiatizada. Além disso, investigamos como essas novas maneiras de guardar memória atuam sobre a fabricação das atuais narrativas de si. Para realizar a pesquisa, apoiamo-nos nos conceitos de memória, narrativa e novas mídia de Van Dicjk, Brockmeier e Sibilia, e em Dubois e Samain para construir os pilares do que compreendemos como fotografia. O estudo qualitativo analisou fotografias compartilhadas em algum álbum do Facebook, selecionadas de forma aleatória. O convite à participação foi realizado pelo próprio Facebook. Através de um questionário semi-estruturado digital, os respondentes dissertaram sobre a relação entre a produção de fotografias digitais e a elaboração de memória e narrativa autobiográficas. Dentre os resultados, percebeu-se que os indicativos materiais de apreciação à imagem compartilhada (número de curtições e comentários) predominam como preocupação primordial ao compartilhar uma fotografia, moldando assim as memórias autobiográficas dos sujeitos. Ademais, constatou-se também certos padrões de enquadramento e conteúdo da imagem que parecem revelar um ethos negociado na rede que nivelam os tipos de fotografias “publicizadas”, e por consequência a produção de uma narrativa e uma memória autobiográficas inspiradas em uma narrativa mestra.
No momento contemporâneo, mudanças sociais, culturais e políticas têm gerado novas formas de subj... more No momento contemporâneo, mudanças sociais, culturais e políticas têm gerado novas formas de subjetivação, sobretudo por intermédio da mediação tecnológica. Novos hábitos de vida e consumo têm emergido juntamente à evolução da Publicidade e do crescente emprego de tecnologias no cotidiano dos indivíduos. Inseridas nestas confluências contemporâneas, estão os sites de redes sociais, plataformas cuja maneira de operacionalizar as relações sociais possuem regras, códigos e tendências que lhes são próprias. O objetivo deste estudo busca refletir sobre o "selfie" enquanto não apenas um gênero fotográfico, mas um fenômeno produtor de subjetividades, a partir de um referencial teórico crítico. Temos como marco a temática do consumo, da performance, da imagem, do corpo e da indústria cultural. Favoreceu-se um estudo ensaístico, buscando vestígios deixados pela materialidade das relações interpessoais nas plataformas digitais – mediadas pelas imagens.
Este trabalho tem como proposta fazer uma análise da reafirmação da identidade nordestina e sua r... more Este trabalho tem como proposta fazer
uma análise da reafirmação da identidade
nordestina e sua relação com memória, a
partir das práticas de comunicação
mediadas pelas novas tecnologias, mais
especificamente da página Suricate
Seboso, no Facebook. Por meio de
entrevista com o autor da página,
relacionam-se linguagem, identidade e
memória como elementos constituintes
dos conteúdos da página do Suricate
Seboso. Percebeu-se ainda que o aspecto
humorístico opera como elemento de
construção de sentido, proporcionando
identificação dos usuários com a página e
reafirmando uma identidade nordestina.
This paper aims to analyze the
reaffirmation of Northeastern Brazilian
identity and its relation to memory, based
on communication practices mediated by
new technologies, specifically focusing
here on the Suricate Seboso page on
Facebook. Based on interviews with the
author of the page, we established the
relationship between language, identity
and memory as constituent elements of
the Suricate Seboso page content. It was
also observed that humor is an element
that helps to build meaningful
identification of users with the page,
therefore contributing to their
reaffirmation of Northeastern Brazilian
identity.
Os sites de redes sociais têm se apresentado, cada vez mais, como palco para a construção de conh... more Os sites de redes sociais têm se apresentado, cada vez mais, como palco para a construção de conhecimento em torno de fenômenos sociais emergentes, exclusivos destes ambientes virtuais. Este trabalho pretende traçar uma análise do processo de construção de identidade regional, nordestina, e sua relação com memória, a partir das práticas de comunicação mediadas pelas novas tecnologias. Como objeto de pesquisa, foi escolhida a página do Suricate Seboso, no Facebook, com vistas a melhor compreender as questões que permeiam este processo de resgate de uma identidade nordestina. Será feita uma análise qualitativa, por meio de entrevista, com o autor da página em questão a fim de estabelecer pontes entre sua memória e sua forma de representar a sua identidade, aqui rotulada "regional". Percebeu-se que o conteúdo humorístico regional opera como forma de proporcionar uma identificação por parte dos usuários, resgatar e reconstruir uma identidade nordestina.
A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea t... more A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea traz consequências não apenas do caráter de uso, mas sobre a forma como a sociedade as compreende e como se comporta frente a elas (LÉVY, 1999). O advento da internet e a pluralização das relações virtuais transformaram não apenas nossa forma de consumir tais mídias, mas a forma como nos relacionamos com o outro e como as pessoas passam a se enxergar (RECUERO, 2009). O objetivo deste trabalho é analisar a apropriação da fotografia por sites de redes sociais a partir do uso realizado pelos usuários do Instagram, mídia social voltada para a fotografia, e sua integração com o site de rede social Facebook, no intuito de estabelecer seu uso com a autoconstrução da imagem nestas redes e a representação do "eu" (GOFFMAN, 1975). Neste trabalho é analisada não apenas a apropriação técnica das redes sociais virtuais, mas o comportamento estimulado em seus usuários através da representação social que buscam nas imagens fotográficas compartilhadas (SIBILIA, 2008). Para tanto, será feita uma pesquisa quali-quantitativa, dividida em duas fases: a primeira de cunho mais exploratório, com o auxílio de questionários, e na fase segunda fase, uso de grupo focal (DUARTE; BARROS, 2005). Para tornar tangível essa investigação, serão trabalhos conceitos de Redes Sociais Virtuais e Comunidades Virtuais, de Recuero (2009) e Kozinets (2002), além das ideias sobre a construção do eu e a representação, de Sibilia (2008) e Goffman (1975), respectivamente; por fim, será usado também neste trabalho o conceito de fotografia e virtualidade, de Oliveira (2005) e Fabris (2004).
Este trabalho pretende traçar uma análise do processo de resgate da "nordestinidade" partir das p... more Este trabalho pretende traçar uma análise do processo de resgate da "nordestinidade" partir das práticas de comunicação mediadas pelas novas tecnologias. Como recorte, foi escolhido o universo das redes digitais de comunicação e as formas de apropriação destas por parte dos usuários dos sites de redes sociais. Para melhor compreender as questões que permeiam este processo de resgate de uma cultura, será feito um estudo de caso acerca da página do Facebook “Suricate Seboso” e o conteúdo humorístico regional como forma de proporcionar uma identificação por parte dos usuários, resgatar e reconstruir a história do Nordeste e de fortalecer costumes e tradições do povo nordestino através dos sites de redes sociais.
A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea t... more A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea traz consequências não apenas do caráter de uso, mas sobre a forma como a sociedade as compreende e como se comporta frente a elas. O advento da internet e a pluralização das relações virtuais transformaram não apenas nossa forma de consumir tais mídias, mas a forma como nos relacionamos com o outro e como as pessoas passam a se enxergar. O objetivo deste trabalho é analisar a apropriação da fotografia por sites de redes sociais a partir do uso realizado pelos usuários do Instagram, mídia social voltada para a fotografia, e sua integração com o site de rede social Facebook. Neste trabalho é analisada não apenas a apropriação técnica das redes sociais digitais, mas o comportamento estimulado em seus usuários através da representação social que buscam nas imagens fotográficas compartilhadas.
Drafts by Jéssica S Carneiro
Os aplicativos móveis e redes sociais virtuais que primam a fotografia como linguagem principal t... more Os aplicativos móveis e redes sociais virtuais que primam a fotografia como linguagem principal têm ganhado espaços irrefutáveis na web, possibilitando o sucesso de redes sociais voltadas somente para a prática fotográfica. Este artigo visa a discutir como estas ambiências digitais tratam a relação da fotografia com a produção de memória, e para esta discussão abordaremos o Snapchat, aplicativo móvel cujo objetivo é o compartilhamento imediato de fotos e, posteriormente, seu apagamento. A questão que emerge perante a este novo fenômeno dos dispositivos tecnológicos é entender o novo papel da memória nessa apropriação da fotografia digital do “esquecimento”. Favoreceuse um estudo ensaístico, buscando vestígios deixados pela materialidade das relações interpessoais nas plataformas digitais – mediadas pelas imagens. Percebeu-se uma sobreposição do papel comunicativo da fotografia sobre o armazenamento de memória, dentre outros achados.
O estudo da memória e das narrativas autobiográficas, e sua relação com a produção e o consumo de... more O estudo da memória e das narrativas autobiográficas, e sua relação com a produção e o consumo de imagens mostra-se desafiador, sobretudo na contemporaneidade, ao investigarmos esses processos nos ambientes digitais. Esta pesquisa focaliza a relação entre fotografia digital e a memória autobiográfica em sites de redes sociais. O objetivo foi investigar como as fotografias pessoais e suas legendas compartilhadas no Facebook contribuem para a produção da memória autobiográfica. Procuramos entender como as novas formas de produzir imagens, sobretudo aquelas endereçadas ao compartilhamento online, operam na forma como se constroem lembranças do vivido. A metodologia consistiu na aplicação do questionário semiestruturado a 31 usuários do Facebook, entre 18 e 24 anos, de ambos os sexos, com temas sobre fotografia e memória; e codificação e análise das fotografias e legendas selecionadas pelos participantes, convidados no próprio Facebook (perfil público). Uma fotografia e respectiva legenda bem como uma colagem de fotografias
são analisados no artigo em mais detalhe. Entre os achados, identificamos a felicidade como imperativo, na direção de homogeneizar e perpetuar modos de ver e ser culturalmente dominantes nos sites de redes sociais, moldando os tipos de
artefatos de memória a serem mantidos e o conteúdo digno de ser lembrado.
Thesis Chapters by Jéssica S Carneiro
O estudo da memória e da narrativa e de sua relação com a produção e o consumo de imagens mostra-... more O estudo da memória e da narrativa e de sua relação com a produção e o consumo de imagens mostra-se um caminho desafiador, sobretudo na contemporaneidade, quando tentamos compreender esses processos nos ambientes digitais. A fotografia opera nos processos de significação, isto é, nos significados que os sujeitos conferem a um dado acontecimento, no modo como eventos e pessoas são lembrados, contados e compreendidos. Em especial, a fotografia digital produzida para ser compartilhada online introduz um campo de problemas interessantes para investigação dos processos de memória e narração autobiográficas. Este estudo propõe analisar como as fotografias compartilhadas no Facebook atuam sobre a produção de memórias autobiográficas, com efeitos, portanto, sobre atuais formas de narração de si. Em outras palavras, procuramos entender como as novas formas digitais de produzir imagens (principalmente aquelas produzidas para serem compartilhadas) operam na forma como os usuários constroem suas lembranças do vivido, articulando as relações entre passado, presente e futuro a partir das imagens midiatizadas. Além disso, investigamos como essas novas maneiras de “guardar” a memória atuam sobre a criação das atuais narrativas autobiográficas, isto é, as histórias que as pessoas contam sobre si mesmas. Esta pesquisa apoia-se nos estudos de memória, narrativa e novas mídias de Van Dijck , Brockmeier e Sibilia, e em Dubois e Samain no que se refere à natureza, ao funcionamento e à análise da fotografia. O estudo qualitativo consistiu em duas etapas: 1) aplicação do questionário semi-estruturado com temas sobre fotografia e memória; 2) codificação e análise das fotografias disponibilizadas para a pesquisa, selecionadas pelos respondentes. O convite à participação se deu no próprio Facebook. Identificamos os fatores que contribuem para o processo de escolha da imagem compartilhada e os processos individuais e sociais que circunscrevem as práticas de produção e compartilhamento da fotografia digital, procurando estabelecer uma relação entre a produção de memória e as autonarrativas.
Books by Jéssica S Carneiro
Juventudes em movimento: experiências, redes e afetos, 2019
Este capítulo resulta da troca de ideias e do debate durante a mesa-redonda “Gênero, tecnologias ... more Este capítulo resulta da troca de ideias e do debate durante a
mesa-redonda “Gênero, tecnologias digitais e ativismo: quando jovens
mulheres abrem a boca na rede”, no VII JUBRA, em Fortaleza. Na
ocasião, trouxemos estudos, questionamentos e pontos de vista sobre
o vínculo entre tecnologias digitais, movimentos de mulheres, ativismo
feminista e suas implicações para a população jovem no país. Em especial, buscamos discutir como a internet vem se constituindo como uma ferramenta indispensável para mulheres de todas as idades contestarem as formas cotidianas de inequidade de gênero. De fato, os ativismos contemporâneos de gênero reconhecem que a internet é um espaço privilegiado - imprescindível até - para a visibilidade das identidades e de suas demandas, para a produção, circulação e consumo de conteúdos que defendem direitos e para o combate coletivo às representações e práticas sexistas.
A produção de conteúdo no ciberespaço tem se apropriado de pautas dos movimentos sociais, como o ... more A produção de conteúdo no ciberespaço tem se apropriado de pautas dos movimentos sociais, como o feminismo, transformando-se num amplo espaço de debate cultural e político. O feminismo tem tomado grande espaço no conteúdo veiculado em sites de redes sociais produzidos principalmente por mulheres. Com temáticas feministas para o YouTube, a vlogueira Jout Jout ganha visibilidade passando a ser considerada, por seu público, representante do feminismo na Internet. O objetivo deste trabalho é entender, a partir de uma análise de conteúdo e de repercussão do vídeo “Não Tira o Batom Vermelho” do canal de Jout Jout, de que forma as pautas feministas têm sido veiculadas como produção de conteúdo no Youtube, bem como compreender como a linguagem e o formato destas plataformas moldam, popularizam e modificam a agenda feminista.
Os sites de redes sociais têm servido como importante plataforma onde pessoas e coletividades cad... more Os sites de redes sociais têm servido como importante plataforma onde pessoas e coletividades cada vez mais reivindicam direitos, mobilizam-se e conscientizam-se politicamente. A politização nas plataformas digitais de comunicação refere-se a mecanismos de resistência aos dispositivos de poder, principalmente no que concerne àqueles de reiteração do racismo e da opressão de gênero. Percebe-se nesses espaços a crescente emergência de grupos e de indivíduos que defendem pautas ativistas e de lutas sociais, no sentido de manifestarem-se contra enunciados e práticas de opressão e exclusão a grupos específicos. Assim, este trabalho discute as diferentes faces do movimento feminista negro nos sites de redes sociais, tomando como ponto central a problematização da categoria conceitual "empoderamento" presente nos discursos desses grupos. Pretende-se compreender os novos contornos das opressões ligadas à etnia, ao gênero e à geração na internet, analisando as formas como os movimentos de ciberativismo disparados pelos SRS, sobretudo o Facebook, produzem narrativas de identidade que impulsionam as lutas e disputas discursivas de resistência e empoderamento negro. Levanta-se a hipótese de que o afastamento do feminismo negro de uma luta militante, ou seja, da militância voltada para a crítica aos regimes de poder e à estrutura sistêmica da sociedade que marcou as primeiras ondas feministas, alinha-se ao projeto neoliberal contemporâneo no sentido de fortalecer políticas de identidade (FRASER, 2006; 2009), em vez de possibilitar identidades políticas, além de constituir-se como mais um dispositivo reiterativo das relações de poder vigentes e das opressões relacionadas à etnia e ao gênero. A partir disso, suspeita-se que as relações de consumo que atravessam certas pautas feministas negras, as quais à primeira vista podem parecer fortalecer e empoderar essas mulheres, agem na direção da despolitização e da descoletivização do combate às relações de exclusão e opressão de mulheres negras, com efeitos especialmente importantes sobre as jovens negras. Neste trabalho, discutimos as postagens de dois grupos do Facebook- “No e Low Poo Iniciantes” e “No/Low Poo: cabelos crespos” – que reúnem pessoas em processo de transição da química de alisamento aos fios naturais crespos. Trata-se de grupos que não apenas discutem sobre a qualidade capilar e técnicas de manuseio do cabelo, mas também travam debates étnicos sobre afro-descendência. A análise qualitativa apoiou-se na netnografia e na análise do discurso no âmbito de teoria feminista crítica. Entre alguns resultados, observa-se que os sites analisados configuram-se espaços de visibilização de discursos de resistência no que tange às disputas identitárias e aos movimentos de empoderamento negro, contudo, também sinalizam as tensões do ativismo produzidas pelo foco no consumo de “produtos étnicos”, que podem limitar o alcance dos novos engendramentos éticos, estéticos e políticos no campo do feminismo negro. Essas tensões nos levam a refletir sobre os desafios do feminismo na internet sobre o empoderamento de jovens e adultas negras.
Quando o(s) feminismo(s) entram em discussão a tendência é trazer a categoria “mulher” ao centro ... more Quando o(s) feminismo(s) entram em discussão a tendência é trazer a categoria “mulher” ao centro do debate, de forma a tentar criar e subverter formas de relação e sociabilidade no que tange às questões de gênero. De fato, o debate é urgente e precisa ganhar novos territórios que se estendam para além dos muros da universidade. Todavia, pensar no(s) feminismo(s) implica em compreendê-los enquanto outra epistemologia possível, enquanto novo projeto de sociedade, fato que repercute, não apenas na situação das mulheres, mas, sobretudo em um deslocamento pessoal e coletivo diante dos ideários “democracia”, “autonomia” e “igualdade”, tão caros a nós e, por vezes, não questionados. Esse tripé tem sido base fundante de muitos grupos e coletivos (ditos) minoritários para reivindicar pertencimento e equanimização das desigualdades. A partir da suposição de uma sociedade democrática, da autonomização do sujeito e de uma pretensa igualdade pela supressão das hierarquias seja de classe, raça ou gênero, mira-se em reivindicações políticas que vão ao encontro da democracia, autonomia e igualdade. Grande parte das vezes, os movimentos sociais e os ativismos reclamam a extinção da misoginia, do racismo e do classismo ao reivindicar um território democrático onde exista um estado de suspensão destes tipos de opressão/exclusão, em que se possa pensar uma emancipação do sujeito pela via política e, em última instância, que as assimetrias sociais deem lugar à igualdade. Todavia, neste pleito no campo político, de um lugar em que se privilegiem a democracia, a autonomia e a igualdade, pouco se põe em questão o que é tomado por “democracia”, “autonomia” e “igualdade”. Em outras palavras, parte-se de categorias filosóficas que são passíveis de questionamentos no que diz respeito à sua pretensa totalidade e alcançabilidade e que, por muitas vezes, escondem enunciados de verdade e racionalidades univalentes, androcêntricas e colonizadoras. O que pretendemos com este trabalho é pôr em questão as categorias “democracia”, “autonomia” e “igualdade”, pensando-as a partir de uma análise do(s) movimento(s) feminista(s), no intuito de tensioná-las para pensar quais podem ser, de fato, suas contribuições ao campo político e em que medida podem contribuir para reiterar sistemas de não-reconhecimento, exclusão e extermínio. Para isso, tomamos como referencial teórico as ativistas e pensadoras Angela Davis (2009/2016) e Judith Butler (2003/2016), as quais, a partir de reflexões sociológicas e filosóficas, trazem ao cenário do(s) feminismo(s) questões imprescindíveis a uma crítica social contundente alinhada às propostas de transformação do cenário político mundial. Neste sentido, feminismo(s), desigualdades e crítica às noções contemporâneas de democracia e autonomia são os caminhos traçados pelas autoras em suas diversas obras. Ambas manejam a noção de “interseccionalidade” para pensar ações feministas que considerem os vários marcadores e os diversos contextos que atravessam a vida das pessoas. Desta forma, pensar interseccionalmente é perceber como mulheres, negros, pessoas LGBT, índios, imigrantes, refugiados e outros grupos sociais hostilizados e oprimidos historicamente são atravessados por diferentes e simultâneas formas de opressão/exclusão, e como a própria composição dos sistemas político, econômico e social não apenas contribuíram, mas criaram condições para que estes grupos fossem submetidos à condição de inferiores e subalternizados. Ao questionar a composição desses sistemas, trazemos ao centro do debate o tripé que introduzirmos para pensar: i) de que maneira o racismo e as subalternizações étnicas foram/são possíveis e constituintes de modelos societários democráticos; ii) como é possível conceber um estado de autonomização e de igualdade – e aqui, pensamos o feminismo não só como um projeto para “mulheres”, mas para uma nova sociedade – que não levem em conta os diferentes contingenciamentos e situações a que estes sujeitos estão resignados, levando-nos a questionar a própria validade destes termos; iii) de que forma é possível conceber a “igualdade” em um modelo de sociedade eminentemente excludente, falocêntrica, branca e colonizadora. A partir disso, pensamos em discutir um “projeto feminista de sociedade” não para deslocar os homens da centralidade, colocando as mulheres em seu lugar; antes, um projeto que pretende repensar e subverter as concepções de gênero e suas relações, as quais produzem modelo de masculinidades e feminilidades pautadas na hierarquia, violência e subjugação. Tais modelos de sociabilidade não só permitem, mas subsidiam a democracia para poucos, paradoxal em concepção e execução. Faz-se oportuno, então, afirmar que o ideal de democracia, tomado por absoluto em si, reitera práticas excludentes, forja uma suposta autonomia que não leve em conta as contingências, e em nome de uma igualdade, suprime e aniquila as diferenças. Para promover, portanto, lutas condizentes com práticas revolucionárias - consideramos práticas revolucionárias como práticas de superação do sistema atual- é preciso revolucionar os conceitos, mas não só estes, a práxis do mesmo modo. Trata-se, portanto, de construir uma nova democracia, sob novos ideais e parâmetros.
Os embates em torno da desigualdade de gênero e, principalmente, da agenda feminista vêm se ampli... more Os embates em torno da desigualdade de gênero e, principalmente, da agenda feminista vêm se ampliando cada vez mais na internet, sobretudo nos sites de redes sociais, mobilizando centenas de jovens a discutirem temas articulados ao feminismo e os impactos da violência de gênero no Brasil. Em alusão às festividades natalinas, em que repetidamente são realizados amigos secretos, a famosa hashtag #MeuAmigoSecreto, criada em 2015 e veiculada primeiramente no Twitter e posteriormente no Facebook, nasceu do sorteio de um amigo secreto indesejado, abrindo portas para pensar um “amigo oculto agressor”. Inspirada no formato de microrrelato, a hashtag pretendeu expor experiências pessoais de desigualdade de gênero vividas ou presenciadas pelxs usuárixs destas redes e acabou por visibilizar vidas atravessadas por essas desigualdades e as violências delas decorrentes. Citamos alguns exemplos de publicações feitas nesta hashtag que elucidam um pouco sobre o que foi discutido em 2015: “#MeuAmigoSecreto diz que aborto é assassinato, mas pediu pra namorada abortar quando ela engravidou”; “#MeuAmigoSecreto diz que mulher feia deveria ficar agradecida por ter sido estuprada e que seu estuprador não merecia cadeia, mas um abraço”; “#MeuamigoSecreto diz que feministas são iguais a miojo: ficam prontas em três minutos e são comida de universitário” (DE LARA et al, 2016). Boa parte das publicações faz referência a constrangimentos a que xs usuárixs foram submetidxs em relação a questões de gênero, e, através da hashtag, tinham a possibilidade de externar seus sentimentos, de denunciar situações e de não sofrerem retaliação por não identificarem xs agressorxs. O movimento, o qual à primeira instância não tinha grandes pretensões, ganhou grande notoriedade colocando o debate de gênero e do feminismo a nível nacional, sobretudo na internet. Neste sentido, a visibilidade não apenas dessa hashtag, mas de várias outras discussões emersas nas plataformas digitais, confirmam o protagonismo do movimento feminista no ciberespaço. Isto posto, considerando a importância e a permanecia da agenda feminista na rede, torna-se cada vez mais difícil demarcar as fronteiras entre os movimentos feministas que se sucedem nos ambientes virtuais e fora deles, no sentido de borrar seus limites. Assim, à luz das discussões de Donna Haraway (HARAWAY; KUNZRU; TADEU, 2009) sobre feminismo e tecnologia, o intuito deste trabalho é entender de que forma o ciberfeminismo traz consequências para se pensar o próprio feminismo e as novas formas de resistência (DELEUZE, 1992) que se dão por meio dos ambientes virtuais. Dito de outra forma, pretendemos nos centrar nos efeitos de uma delimitação cada vez mais porosa entre o “feminismo real” e o “feminismo virtual”, pensada a partir da impossibilidade de conceber, atualmente, o feminismo sem a tecnologia. A pesquisa, ainda em fase exploratória, tem como objeto de análise as publicações feitas na hashtag #MeuAmigoSecreto, a partir de uma análise de conteúdo, de forma a subsidiar a interlocução sobre feminismo e tecnologia (HARAWAY; KUNZRU; TADEU, 2009), na qual a juventude se apresenta como protagonista.
Frente ao cenário político internacional de aviltamento dos direitos humanos, o(s) feminismo(s) ... more Frente ao cenário político internacional de aviltamento dos direitos humanos, o(s) feminismo(s)
requis(eram) uma análise mais atenta e crítica das formas de dominação-opressão
contemporâneas. A ausência de espaço para a reflexão de alternativas ao modelo eurocêntrico de
“sujeito do feminismo” impulsionou o surgimento de outros feminismos e de pautas mais
contextualizadas. Nestas discussões, faz-se necessário descentralizar a categoria “mulher” no
feminismo e lançar um olhar para outras contingências que atravessam as dinâmicas de
dominação-opressão. Neste sentido, considerando a importância das contribuições de Angela
Davis e de sua obra “Mulheres, classe e raça” (2016) ao(s) feminismo(s) negro(s), este trabalho se
propõe a discutir o(s) feminismo(s) e seus atravessamentos econômicos, políticos e culturais por
meio de uma análise crítica interseccional. Considerando o movimento de reconstrução histórica
realizado por Davis sobre as mulheres negras norte-americanas, pontuamos que suas
contribuições não se detêm às discussões sobre o(s) feminismo(s) negro(s), apresentando aportes
fundamentais para uma crítica à sociedade, para além das discussões de gênero.
O feminismo tem traçado uma trajetória cada vez mais próxima aos movimentos contraculturais, estr... more O feminismo tem traçado uma trajetória cada vez mais próxima aos movimentos contraculturais, estreitando sua relação com a publicidade e transformando sua agenda política em estilos de vida desejáveis por mulheres, a fim de tornar-se mais palatável, permitindo uma apropriação das pautas do movimento para transformá-las em demandas de mercado. Nessa perspectiva, nota-se de forma crescente a presença do discurso de empoderamento nas campanhas publicitárias voltadas ao público feminino, culminando no aqui chamamos de empowertising, e cooptando mais adeptos à causa feminista por meio de sua visibilidade midiática. A partir disto, interessa discutir neste trabalho como tem sido articulado e quais são os efeitos da apropriação do discurso de empoderamento feminino na publicidade, tendo como recorte a campanha " O que te define " da Avon BR. Introdução A publicidade, enquanto não apenas área de atuação, mas campo interdisciplinar, está sempre atenta às mais diversas transformações sociais, apropriando-se e recontextualizando as múltiplas realidades que se apresentam. Não é de hoje que a publicidade se utiliza de bandeiras e pautas de movimentos sociais para construir uma narrativa publicitária e segmentar mercados. As décadas de 60 e 70 foram um momento de explosão dos movimentos de contracultura no ocidente, dentre os quais o feminismo despontou como agenda política, que perduraria até os dias atuais. A publicidade, desde então, atenta às reivindicações do movimento de liberação feminina, traduzia suas pautas em demandas mercadológicas, iniciando uma estreita relação com o feminismo. Os anos 90 foram marcados pela forte presença de reivindicações femininas que se transformaram em slogans e taglines publicitários, o que consolidou o chamado commodity feminism – um feminismo reificado.
Os sites de redes sociais (SRS) têm se mostrado como campo de produção de múltiplas narrativas qu... more Os sites de redes sociais (SRS) têm se mostrado como campo de produção de múltiplas narrativas que se materializam imagética e verbalmente e que produzem tensionamentos de discursos e disputas identitárias. No intuito de entender as reatualizações do racismo e as opressões ligadas à cor e etnia na internet, este trabalho se propõe a compreender de que forma os movimentos de ciberativismo disparados pelos SRS, sobretudo o Facebook, produzem narrativas de identidade que impulsionam as lutas e disputas discursivas ligadas diretamente à resistência e ao empoderamento negro. Para fins de análise, o recorte empírico desta pesquisa – ainda em etapa inicial – tem o grupo de Facebook intitulado “No e Low Poo Iniciantes” como corpus, com corte temporal a análise das postagens realizadas entre os meses de janeiro e junho de 2016. O grupo consiste na reunião de novos adeptos à técnica “No e Low Poo” e, principalmente, pessoas que estão em processo de transição da química alisante aos fios naturais e/ou crespos. A técnica do “No e Low Poo” consiste no abandono de produtos que contenham substâncias nocivas à saúde capilar, como parafina, petrolatos e silicones insolúveis, e é praticada majoritariamente por pessoas com cabelos encrespados. Por tratar-se de um grupo que não reduz as discussões sobre a qualidade capilar e técnicas de manuseio do cabelo, mas por ampliar-se aos debates étnicos inerentes aos traços afrodescentes, ele se configura como produtor de identidade e, por estes motivos, é estratégico para os fins desta pesquisa. Ainda sobre as características do grupo, trata-se de uma modalidade de grupo fechado, com 215.786 membros, e 12 administradores, em que o ingresso está condicionado ao convite de alguém já participante. O material qualitativo é composto de retratos de tela das postagens veiculadas entre o período de análise, em que constam conteúdos não apenas voltados à técnica, mas relatos sobre o árduo “período de transição”, que consiste no abandono de processos de alisamento químico. Dentre os achados da pesquisa, percebeu-se no grupo uma rede de suporte de pessoas passam por situação de preconceito ao assumir os fios crespos naturais, e encontram nesta “transição” uma ferramenta de autoaceitação, autoempoderamento, e principalmente um instrumento para debates políticos sobre disputas étnicas e raciais. Deste modo, no tangente às disputas identitárias e movimentos de empoderamento, principalmente nas identidades étnicas que se apresentam como o cerne central deste trabalho, os SRS têm proporcionado o emergir dos discursos de resistências e, sobretudo, novos engendramentos éticos, estéticos e políticos, e que dimensionam a análise dessa Rede como espaço importante de (re)produção social.
A inserção de novas mídias, como as mídias digitais, em nossa sociedade contemporânea traz conseq... more A inserção de novas mídias, como as mídias digitais, em nossa sociedade contemporânea traz consequências não apenas do caráter de uso, mas sobre a forma como a sociedade as compreende e como se comporta frente a elas. O advento da internet e a pluralização das relações virtuais transformaram nossa forma de consumir tais mídias, bem como a forma como nos relacionamos consigo e com o outro. À medida que as inovações tecnológicas se incorporam também no cotidiano dos indivíduos, é complexo definir como se dão os novos processos de comunicação e, sobretudo, como se dá esta nova forma de socializar e de construir uma autoimagem. Entende-se, a partir da literatura utilizada neste trabalho, que o usuário dos sites de redes sociais constrói imagens representativas de si. Em outras palavras, com base no que é compartilhado na rede, os usuários constróem uma percepção limitada – e intencional – de si. A partir disto, esta pesquisa tenta compreender como acontece a representação social dos usuários das redes sociais virtuais através das fotografias compartilhadas online, ou em outras palavras, a construção de uma “fachada social” virtual construída pela imagem.
O presente texto tem por objetivo apresentar e analisar, a luz do pensamento do filósofo Michael ... more O presente texto tem por objetivo apresentar e analisar, a luz do pensamento do filósofo Michael Foucault, as transformações nos modos de narrar a si diante do advento das novas formas de socialização através da tecnologia da informação e das mídias digitais, em especifico os sites de redes sociais. Para tanto, dividimos este texto em três partes: 1) uma breve introdução de como a tecnologia da informação e uso de redes sociais tornou-se elemento básico do cotidiano do homem contemporâneo; 2) como as práticas de autonarração e confissão, entes hegemonicamente feitas através das cartas e da espiritualidade, respectivamente, deram lugar aos diários virtuais e aos aforismos tais como “o que você esta pensando agora?”; 3) por fim, como a imagem, a fotografia, assumiu, também, a dimensão da narrativa de si sendo, hoje, elemento chave para o estudo e a compreensão das novas formas de apresentação social do “eu”. Vale ressaltar aqui a pertinência dos estudos de Foucault sobre as praticas de narração e confissão, pois entendemos que suas analises sobres esses processos históricos pode indicar valiosas pistas de como proceder teórico-metodologicamente diante das novas formas de apresentação do “eu”. Por fim atenção especial será concedida a plataforma digital Facebook, uma vez que esta agrega maior numero de usuários no Brasil e no mundo, bem como personifica nosso objeto de estudo ao ter como base de sua interface as narrativas e confissões contadas a partir de textos e compartilhamento de informações, mas primordialmente através da exposição de imagens e fotografias.
O estudo da memória e da narrativa no campo das imagens se mostra como um caminho desafiador, sob... more O estudo da memória e da narrativa no campo das imagens se mostra como um caminho desafiador, sobretudo na contemporaneidade, quando tentamos compreender estas duas instâncias circunscritas nos ambientes digitais. A fotografia, em alguma instância, opera nos processos de significação, isto é, nos significados que os sujeitos conferem a um dado acontecimento, como também produz um tipo de memória peculiar. Essa fotografia não apenas produzida, mas pensada com a finalidade última de ser compartilhada online, é o que muito interessa. Propomo-nos a estudar como as fotografias compartilhadas no Facebook atuam sobre a produção de memórias autobiográficas e coletivas, com efeitos sobre atuais formas de narração de si. Em outras palavras, procuramos entender como as novas formas de fazer imagem digital (principalmente aquelas que são produzidas para serem compartilhadas) operam na forma como os usuários guardam memórias e usam a fotografia para construí-las, forjando concepções de passado-presente-futuro a partir da imagem que foi midiatizada. Além disso, investigamos como essas novas maneiras de guardar memória atuam sobre a fabricação das atuais narrativas de si. Para realizar a pesquisa, apoiamo-nos nos conceitos de memória, narrativa e novas mídia de Van Dicjk, Brockmeier e Sibilia, e em Dubois e Samain para construir os pilares do que compreendemos como fotografia. O estudo qualitativo analisou fotografias compartilhadas em algum álbum do Facebook, selecionadas de forma aleatória. O convite à participação foi realizado pelo próprio Facebook. Através de um questionário semi-estruturado digital, os respondentes dissertaram sobre a relação entre a produção de fotografias digitais e a elaboração de memória e narrativa autobiográficas. Dentre os resultados, percebeu-se que os indicativos materiais de apreciação à imagem compartilhada (número de curtições e comentários) predominam como preocupação primordial ao compartilhar uma fotografia, moldando assim as memórias autobiográficas dos sujeitos. Ademais, constatou-se também certos padrões de enquadramento e conteúdo da imagem que parecem revelar um ethos negociado na rede que nivelam os tipos de fotografias “publicizadas”, e por consequência a produção de uma narrativa e uma memória autobiográficas inspiradas em uma narrativa mestra.
No momento contemporâneo, mudanças sociais, culturais e políticas têm gerado novas formas de subj... more No momento contemporâneo, mudanças sociais, culturais e políticas têm gerado novas formas de subjetivação, sobretudo por intermédio da mediação tecnológica. Novos hábitos de vida e consumo têm emergido juntamente à evolução da Publicidade e do crescente emprego de tecnologias no cotidiano dos indivíduos. Inseridas nestas confluências contemporâneas, estão os sites de redes sociais, plataformas cuja maneira de operacionalizar as relações sociais possuem regras, códigos e tendências que lhes são próprias. O objetivo deste estudo busca refletir sobre o "selfie" enquanto não apenas um gênero fotográfico, mas um fenômeno produtor de subjetividades, a partir de um referencial teórico crítico. Temos como marco a temática do consumo, da performance, da imagem, do corpo e da indústria cultural. Favoreceu-se um estudo ensaístico, buscando vestígios deixados pela materialidade das relações interpessoais nas plataformas digitais – mediadas pelas imagens.
Este trabalho tem como proposta fazer uma análise da reafirmação da identidade nordestina e sua r... more Este trabalho tem como proposta fazer
uma análise da reafirmação da identidade
nordestina e sua relação com memória, a
partir das práticas de comunicação
mediadas pelas novas tecnologias, mais
especificamente da página Suricate
Seboso, no Facebook. Por meio de
entrevista com o autor da página,
relacionam-se linguagem, identidade e
memória como elementos constituintes
dos conteúdos da página do Suricate
Seboso. Percebeu-se ainda que o aspecto
humorístico opera como elemento de
construção de sentido, proporcionando
identificação dos usuários com a página e
reafirmando uma identidade nordestina.
This paper aims to analyze the
reaffirmation of Northeastern Brazilian
identity and its relation to memory, based
on communication practices mediated by
new technologies, specifically focusing
here on the Suricate Seboso page on
Facebook. Based on interviews with the
author of the page, we established the
relationship between language, identity
and memory as constituent elements of
the Suricate Seboso page content. It was
also observed that humor is an element
that helps to build meaningful
identification of users with the page,
therefore contributing to their
reaffirmation of Northeastern Brazilian
identity.
Os sites de redes sociais têm se apresentado, cada vez mais, como palco para a construção de conh... more Os sites de redes sociais têm se apresentado, cada vez mais, como palco para a construção de conhecimento em torno de fenômenos sociais emergentes, exclusivos destes ambientes virtuais. Este trabalho pretende traçar uma análise do processo de construção de identidade regional, nordestina, e sua relação com memória, a partir das práticas de comunicação mediadas pelas novas tecnologias. Como objeto de pesquisa, foi escolhida a página do Suricate Seboso, no Facebook, com vistas a melhor compreender as questões que permeiam este processo de resgate de uma identidade nordestina. Será feita uma análise qualitativa, por meio de entrevista, com o autor da página em questão a fim de estabelecer pontes entre sua memória e sua forma de representar a sua identidade, aqui rotulada "regional". Percebeu-se que o conteúdo humorístico regional opera como forma de proporcionar uma identificação por parte dos usuários, resgatar e reconstruir uma identidade nordestina.
A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea t... more A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea traz consequências não apenas do caráter de uso, mas sobre a forma como a sociedade as compreende e como se comporta frente a elas (LÉVY, 1999). O advento da internet e a pluralização das relações virtuais transformaram não apenas nossa forma de consumir tais mídias, mas a forma como nos relacionamos com o outro e como as pessoas passam a se enxergar (RECUERO, 2009). O objetivo deste trabalho é analisar a apropriação da fotografia por sites de redes sociais a partir do uso realizado pelos usuários do Instagram, mídia social voltada para a fotografia, e sua integração com o site de rede social Facebook, no intuito de estabelecer seu uso com a autoconstrução da imagem nestas redes e a representação do "eu" (GOFFMAN, 1975). Neste trabalho é analisada não apenas a apropriação técnica das redes sociais virtuais, mas o comportamento estimulado em seus usuários através da representação social que buscam nas imagens fotográficas compartilhadas (SIBILIA, 2008). Para tanto, será feita uma pesquisa quali-quantitativa, dividida em duas fases: a primeira de cunho mais exploratório, com o auxílio de questionários, e na fase segunda fase, uso de grupo focal (DUARTE; BARROS, 2005). Para tornar tangível essa investigação, serão trabalhos conceitos de Redes Sociais Virtuais e Comunidades Virtuais, de Recuero (2009) e Kozinets (2002), além das ideias sobre a construção do eu e a representação, de Sibilia (2008) e Goffman (1975), respectivamente; por fim, será usado também neste trabalho o conceito de fotografia e virtualidade, de Oliveira (2005) e Fabris (2004).
Este trabalho pretende traçar uma análise do processo de resgate da "nordestinidade" partir das p... more Este trabalho pretende traçar uma análise do processo de resgate da "nordestinidade" partir das práticas de comunicação mediadas pelas novas tecnologias. Como recorte, foi escolhido o universo das redes digitais de comunicação e as formas de apropriação destas por parte dos usuários dos sites de redes sociais. Para melhor compreender as questões que permeiam este processo de resgate de uma cultura, será feito um estudo de caso acerca da página do Facebook “Suricate Seboso” e o conteúdo humorístico regional como forma de proporcionar uma identificação por parte dos usuários, resgatar e reconstruir a história do Nordeste e de fortalecer costumes e tradições do povo nordestino através dos sites de redes sociais.
A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea t... more A inserção de novas mídias, como as mídias digitais e sociais, em nossa sociedade contemporânea traz consequências não apenas do caráter de uso, mas sobre a forma como a sociedade as compreende e como se comporta frente a elas. O advento da internet e a pluralização das relações virtuais transformaram não apenas nossa forma de consumir tais mídias, mas a forma como nos relacionamos com o outro e como as pessoas passam a se enxergar. O objetivo deste trabalho é analisar a apropriação da fotografia por sites de redes sociais a partir do uso realizado pelos usuários do Instagram, mídia social voltada para a fotografia, e sua integração com o site de rede social Facebook. Neste trabalho é analisada não apenas a apropriação técnica das redes sociais digitais, mas o comportamento estimulado em seus usuários através da representação social que buscam nas imagens fotográficas compartilhadas.
Os aplicativos móveis e redes sociais virtuais que primam a fotografia como linguagem principal t... more Os aplicativos móveis e redes sociais virtuais que primam a fotografia como linguagem principal têm ganhado espaços irrefutáveis na web, possibilitando o sucesso de redes sociais voltadas somente para a prática fotográfica. Este artigo visa a discutir como estas ambiências digitais tratam a relação da fotografia com a produção de memória, e para esta discussão abordaremos o Snapchat, aplicativo móvel cujo objetivo é o compartilhamento imediato de fotos e, posteriormente, seu apagamento. A questão que emerge perante a este novo fenômeno dos dispositivos tecnológicos é entender o novo papel da memória nessa apropriação da fotografia digital do “esquecimento”. Favoreceuse um estudo ensaístico, buscando vestígios deixados pela materialidade das relações interpessoais nas plataformas digitais – mediadas pelas imagens. Percebeu-se uma sobreposição do papel comunicativo da fotografia sobre o armazenamento de memória, dentre outros achados.
O estudo da memória e das narrativas autobiográficas, e sua relação com a produção e o consumo de... more O estudo da memória e das narrativas autobiográficas, e sua relação com a produção e o consumo de imagens mostra-se desafiador, sobretudo na contemporaneidade, ao investigarmos esses processos nos ambientes digitais. Esta pesquisa focaliza a relação entre fotografia digital e a memória autobiográfica em sites de redes sociais. O objetivo foi investigar como as fotografias pessoais e suas legendas compartilhadas no Facebook contribuem para a produção da memória autobiográfica. Procuramos entender como as novas formas de produzir imagens, sobretudo aquelas endereçadas ao compartilhamento online, operam na forma como se constroem lembranças do vivido. A metodologia consistiu na aplicação do questionário semiestruturado a 31 usuários do Facebook, entre 18 e 24 anos, de ambos os sexos, com temas sobre fotografia e memória; e codificação e análise das fotografias e legendas selecionadas pelos participantes, convidados no próprio Facebook (perfil público). Uma fotografia e respectiva legenda bem como uma colagem de fotografias
são analisados no artigo em mais detalhe. Entre os achados, identificamos a felicidade como imperativo, na direção de homogeneizar e perpetuar modos de ver e ser culturalmente dominantes nos sites de redes sociais, moldando os tipos de
artefatos de memória a serem mantidos e o conteúdo digno de ser lembrado.
O estudo da memória e da narrativa e de sua relação com a produção e o consumo de imagens mostra-... more O estudo da memória e da narrativa e de sua relação com a produção e o consumo de imagens mostra-se um caminho desafiador, sobretudo na contemporaneidade, quando tentamos compreender esses processos nos ambientes digitais. A fotografia opera nos processos de significação, isto é, nos significados que os sujeitos conferem a um dado acontecimento, no modo como eventos e pessoas são lembrados, contados e compreendidos. Em especial, a fotografia digital produzida para ser compartilhada online introduz um campo de problemas interessantes para investigação dos processos de memória e narração autobiográficas. Este estudo propõe analisar como as fotografias compartilhadas no Facebook atuam sobre a produção de memórias autobiográficas, com efeitos, portanto, sobre atuais formas de narração de si. Em outras palavras, procuramos entender como as novas formas digitais de produzir imagens (principalmente aquelas produzidas para serem compartilhadas) operam na forma como os usuários constroem suas lembranças do vivido, articulando as relações entre passado, presente e futuro a partir das imagens midiatizadas. Além disso, investigamos como essas novas maneiras de “guardar” a memória atuam sobre a criação das atuais narrativas autobiográficas, isto é, as histórias que as pessoas contam sobre si mesmas. Esta pesquisa apoia-se nos estudos de memória, narrativa e novas mídias de Van Dijck , Brockmeier e Sibilia, e em Dubois e Samain no que se refere à natureza, ao funcionamento e à análise da fotografia. O estudo qualitativo consistiu em duas etapas: 1) aplicação do questionário semi-estruturado com temas sobre fotografia e memória; 2) codificação e análise das fotografias disponibilizadas para a pesquisa, selecionadas pelos respondentes. O convite à participação se deu no próprio Facebook. Identificamos os fatores que contribuem para o processo de escolha da imagem compartilhada e os processos individuais e sociais que circunscrevem as práticas de produção e compartilhamento da fotografia digital, procurando estabelecer uma relação entre a produção de memória e as autonarrativas.
Juventudes em movimento: experiências, redes e afetos, 2019
Este capítulo resulta da troca de ideias e do debate durante a mesa-redonda “Gênero, tecnologias ... more Este capítulo resulta da troca de ideias e do debate durante a
mesa-redonda “Gênero, tecnologias digitais e ativismo: quando jovens
mulheres abrem a boca na rede”, no VII JUBRA, em Fortaleza. Na
ocasião, trouxemos estudos, questionamentos e pontos de vista sobre
o vínculo entre tecnologias digitais, movimentos de mulheres, ativismo
feminista e suas implicações para a população jovem no país. Em especial, buscamos discutir como a internet vem se constituindo como uma ferramenta indispensável para mulheres de todas as idades contestarem as formas cotidianas de inequidade de gênero. De fato, os ativismos contemporâneos de gênero reconhecem que a internet é um espaço privilegiado - imprescindível até - para a visibilidade das identidades e de suas demandas, para a produção, circulação e consumo de conteúdos que defendem direitos e para o combate coletivo às representações e práticas sexistas.
Mídia e Diversidade, 2018
Procurando distanciar-se de uma visão apologética ou apocalíptica, interessa aqui discutir como t... more Procurando distanciar-se de uma visão apologética ou apocalíptica, interessa aqui discutir como tem sido articulado e quais são os efeitos do(s) uso(s) do discurso de empoderamento, principalmente das mulheres negras, na produção publicitária brasileira sob uma perspectiva crítica feminista. Em outras palavras, interessa: i) tensionar os usos e as apropriações do “empoderamento” na publicidade voltada para o segmento de mulheres negras; ii) discutir os modos de ser e de entender-se como “mulher negra” na relação com o consumo, a partir de uma análise dos regimes de poder e dos discursos de opressão ao gênero e à etnia/raça. Para isso, lança-se mão de uma perspectiva feminista crítica, ou seja, operam-se as categorias de análise discutidas sob luz de uma bibliografia feminista crítica a fim de não apenas diagnosticar o fenômeno aqui analisado, mas também de historicizá-lo e refletir sobre seus efeitos na sociedade.