Tarcisio Gontijo Cunha | UFMG - The Federal University of Minas Gerais (original) (raw)

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Apresentação do artigo homônimo no VI ENANPARQ, no dia 04/03/2001.

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Papers by Tarcisio Gontijo Cunha

Research paper thumbnail of É Possível Fissurar O Espaço Público

VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Aug 15, 2020

Research paper thumbnail of Fissurar o Espaço Público

Tese de Doutorado, 2023

Esta pesquisa investiga as ações e as reações dos agentes no espaço público, visando entender seu... more Esta pesquisa investiga as ações e as reações dos agentes no espaço público, visando entender seu potencial de mudança na negação de situações alienantes pré-configuradas e na consequente busca por fazeres que não sejam subjugados a práticas coercitivas da liberdade de expressão. O objetivo principal da pesquisa é entender em que medida o desvelamento de agentes, suas ações e reações no espaço público pode contribuir para a retomada da rua como um local de convívio com o conflito - de fato, cada vez mais o combate ao diferente tem se potencializado no ambiente virtual e afetado o papel do espaço público como o promotor do encontro, por excelência, da vida urbana. As proposições teórica e empírica da pesquisa foram construídas a partir das experiências pessoais e profissionais do autor e serviram de base para a estruturação de uma metodologia de análise que, partindo do método da Análise de Conteúdo (Laurence Bardin), estruturou uma pesquisa de narrativas de ações ocorridas em espaços públicos da área central de Belo Horizonte, a partir de 2008. Nessas narrativas foram identificados os agentes, a forma como outros (re)agiram às suas ações e as resultantes dessas interações, visando encontrar nessa estrutura discursiva as características listadas como componentes de uma fissura no espaço público: negação-criação, resiliência e conectividade. A constatação final é a de que, em Belo Horizonte, há uma fissura aberta na ocupação de seus espaços públicos desde então, cujo destaque é o entendimento que os agentes têm sobre as regras do “jogo que é jogado”: legislação, brechas legais e canais a serem acionados. Contrapondo-se aos desafios de pensar o espaço público em um contexto de pós (?) pandemia da COVID-19 - que potencializou um maior estranhamento do “outro” e um fortalecimento das relações virtuais -, a pesquisa se encerra com sugestões de contribuições que poderão vir da área acadêmica, em um trabalho incessante de busca pela conectividade de novas ideias.

Research paper thumbnail of É possível fissurar o espaço público?

Anais do VI ENANPARQ, 2021

O presente artigo relata a experiência de uma disciplina desenvolvida e ministrada no curso de gr... more O presente artigo relata a experiência de uma disciplina desenvolvida e ministrada no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como parte das atividades de doutorado de um dos autores, e está estruturado em três partes.
Na primeira parte são trazidos os conceitos principais que estão sendo trabalhados na pesquisa de doutorado, a qual parte do pressuposto de Bauman (2012) de que estamos em um período de interregno. Por um lado, nota-se o avanço do processo de neoliberalização (DARDOT; LAVAL, 2016) da vida política, econômica e social, no qual as ações de choque e cooptação são formas de garantir a coesão social do sistema. Por outro lado, ações de ruptura com a lógica neoliberal têm proliferado por meio de iniciativas e práticas que, se capazes de se configurarem em um novo-fazer, podem se converter em fissuras (HOLLOWAY, 2013) ao sistema. A pesquisa também mostra que a dicotomia entre o processo de neoliberalização e as fissuras pode ser encontrada no espaço público, pela proliferação de dispositivos de segurança e proteção e pelo discurso de aversão ao “estranho”, mas também pelos indícios dados pelos usuários desse espaço ao realizarem adaptações para garantir seu direito de uso ou, simplesmente, ao reivindicarem a sua existência. Essa dicotomia foi a discussão principal trabalhada pela disciplina.
Na segunda parte é relatada a estruturação da disciplina de graduação, sustentada por conceitos complementares, como: regras e desvios (BECKER, 1980), pautando a relação sociológica do comportamento; simbolismo espacial (CHING, 2008), trazendo a relação formal com esse mesmo comportamento e; a lógica do processo diagramático de projeto (BOAVENTURA, 2017), onde essas relações, junto a outras categorias de análise, entram como atributos de pesquisa na estruturação das decisões projetuais.
Por fim, na última parte é trazida a articulação entre a pesquisa e a disciplina, por meio da exposição dos seguintes pontos: (i) aplicação dos conceitos de regras e desvios e simbolismo espacial no espaço público; (ii) compreensão da relação dos atributos socioespaciais na viabilização (ou inibição) das ações de permanência no espaço público; e, (iii) possibilidades e limitações para a realização de ações que possam se configurar como possíveis fissuras.

Research paper thumbnail of O espaço urbano, da aporofobia às fissuras

Anais do ARQUISUR 2019, 2019

Presenciamos um momento de indefinição mundial diante do avanço de governos conservadores pari pa... more Presenciamos um momento de indefinição mundial diante do avanço de governos conservadores pari passu ao declínio de governos progressistas, traduzindo a contraofensiva do capital sobre as conquistas sociais dos últimos anos. Para Bauman (2016, online) essa indefinição se configura como um período de interregno - o espaço “entre o que não é mais e aquilo que não é ainda”. Ou seja, há um hiato.
Pelo menos no Brasil, isso se reflete diretamente no espaço urbano através do progressivo esvaziamento da rua, enquanto espaço do convívio e do confronto, em favor de um deslocamento cada vez maior para o enfrentamento virtual, submetido ao jugo manipulador das ferramentas de controle de massa. O ponto mais nitidamente trabalhado nesse processo é a desarticulação das lutas, pelo fortalecimento do partidarismo e dos rótulos sociais e, consequentemente, pela colocação em lados opostos de setores que possuem os mesmos anseios e críticas. Isso faz parte da estratégia neoliberal de manutenção da coesão social através de ações de choque e de cooptação.
Uma ação de choque com grande eficiência sobre a sociedade é o discurso do medo e da violência. Como observa Bauman (2007, p. 93), “a segurança pessoal tornou-se um dos principais pontos de venda, talvez o principal, em toda espécie de estratégias de marketing”, a exemplo de dispositivos como: circuitos de câmeras de vigilância, veículos blindados, cursos de defesa pessoal, entre outros. Nas grandes cidades, outros dispositivos têm sutilmente alterado a paisagem de forma a trazer uma sensação de segurança e proteção: concertinas e cercas elétricas (delimitando fronteiras entre público e privado), fincos, pedras, divisórias e, mesmo, holofotes e aspersores de água (dificultando a permanência em áreas propícias para tal).
Esses dispositivos exemplificam claramente a presença da aporofobia, a aversão à pobreza, no seio social. Segundo Orts (2017), é um comportamento que guarda raízes no cérebro humano desde os primeiros grupamentos, como forma de proteção e sobrevivência coletiva. O pobre, prossegue a autora, “é aquele que fica de fora da possibilidade de devolver algo em um mundo baseado no jogo do dar e receber” (ORTS, 2017, p. 66); logo, aquele que não contribuiria com o grupo social ao qual pertence.
No entanto, a sociedade tem dado indícios no sentido de buscar uma ruptura com esta lógica neoliberal e seus efeitos. Alguns autores têm registrado iniciativas que refletem uma inadequação ao mundo tal como se encontra colocado. Carlsson (2014) nomeia nowtópicos aos indivíduos e grupos que trabalham nesses fluxos abertos do capitalismo tardio através da proposição de novas práticas - chamadas de fissuras por Holloway (2013) quando, a partir da recusa, da negação em se criar o capitalismo, resultam em um outro-fazer.
Dessa forma, o presente artigo se propõe a discutir a questão da proliferação dos dispositivos de exclusão nas cidades (sua normalização e naturalização pela sociedade), associando-a à discussão sobre a aporofobia e sugerindo um contraponto através do debate em torno das fissuras, a fim de, ao se buscar ressonâncias entre elas, tornar visíveis linhas de continuidade entre as ações com potencial de ruptura.

Referências:
BAUMAN, Zigmunt. Bauman lança livro e diz: o desafio do presente é construir o novo. O Globo. Rio de Janeiro, 5 ago. 2016. Entrevista concedida a Leonardo Cazes. Disponível em: <https://goo.gl/zaVdqL> Acesso em jun. 2019.
BAUMAN, Zygmunt. Procurando refúgio na Caixa de Pandora. In: Vida líquida. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2007. p. 91-105.
CARLSSON, Chris. Nowtopia – iniciativas que estão construindo o futuro hoje. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2014. 320p.
HOLLOWAY, John. FIssurar o Capitalismo. São Paulo: Publisher Brasil, 2013. 272p.
ORTS, Adela Cortina. Aporofobia, el rechazo al pobre: Un desafío para la democracia. Barcelona: Paidós, 2017. 168p. (e-book)

Research paper thumbnail of Os códigos de obras - tradições e potencialidades

Dissertação de Mestrado, 2011

A presente dissertação discute o instrumento de política urbana conhecido como Código de Obras, e... more A presente dissertação discute o instrumento de política urbana conhecido como Código de Obras, elemento base em um processo de aprovação de projeto arquitetônico e presente em cerca de 60% dos municípios brasileiros. Remontando sua atual configuração às discussões de caráter higienista do século XIX – as quais influenciaram na publicação do Código Sanitário do Estado de São Paulo, em 1894 – o Código de Obras passou, durante muitos anos, por um processo de replicabilidade nos municípios sem, contudo, enfrentar uma avaliação crítica, de abrangência nacional, acerca da eficácia de seus principais parâmetros normativos para a geração de espaços de qualidade. Em uma análise atual, percebe-se que muitas cidades têm suas construções reguladas por códigos de obras desatualizados dos debates contemporâneos; além disso, neles predominam tanto a dificuldade de entendimento dos trâmites de aprovação de projetos, por parte do cidadão, bem como a fragmentação nas análises desses projetos, afetada, inclusive, por sucessivas normalizações estaduais e federais. Em paralelo a esses conflitos, setores da construção civil têm demandado a elaboração de um Código de Obras Nacional, visando, entre outros fatores, à otimização de sua cadeia produtiva, através da redução das barreiras regionais à construção, agravadas pela diversidade de códigos de obras encontrados no país. Não obstante o mérito da ação, entende-se, no entanto, que uma demanda desta proporção deve extrapolar a busca pela melhoria das condições de trabalho de um setor e promover, de forma estrutural, o entendimento dos atuais marcos regulatórios, suas origens, seus reais impactos e, por fim, seu papel na dinâmica urbana. Investigando-se os códigos de obras das capitais brasileiras e os de países com regulamentos de construção unificados, propõe-se fazer um reconhecimento de cada uma das duas situações – contextos, pontos positivos e negativos – em busca de contribuições aos conflitos aqui levantados, assim como ao lançamento de novas questões.

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Research paper thumbnail of Estruturando um método para a identificação de fissuras no espaço público

Práticas sociais no espaço urbano: percursos e desdobramentos do grupo PRAXIS-EA/UFMG [2009-2022], 2022

O documento relata parte da tese em desenvolvimento pelo autor, a qual identifica duas forças atu... more O documento relata parte da tese em desenvolvimento pelo autor, a qual identifica duas forças atuantes no atual período, entendido como um interregno: o avanço do processo de neoliberalização político-econômico-social pari passu à constante mostra de recusas e outros-fazeres a esse processo. Partindo desse argumento, discute-se um método de visualização desse “jogo” de ações e reações dos agentes no espaço público, em busca da construção de estratégias para a constituição de fissuras na utilização desse espaço.

Apresentação do artigo homônimo no VI ENANPARQ, no dia 04/03/2001.

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VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Aug 15, 2020

Research paper thumbnail of Fissurar o Espaço Público

Tese de Doutorado, 2023

Esta pesquisa investiga as ações e as reações dos agentes no espaço público, visando entender seu... more Esta pesquisa investiga as ações e as reações dos agentes no espaço público, visando entender seu potencial de mudança na negação de situações alienantes pré-configuradas e na consequente busca por fazeres que não sejam subjugados a práticas coercitivas da liberdade de expressão. O objetivo principal da pesquisa é entender em que medida o desvelamento de agentes, suas ações e reações no espaço público pode contribuir para a retomada da rua como um local de convívio com o conflito - de fato, cada vez mais o combate ao diferente tem se potencializado no ambiente virtual e afetado o papel do espaço público como o promotor do encontro, por excelência, da vida urbana. As proposições teórica e empírica da pesquisa foram construídas a partir das experiências pessoais e profissionais do autor e serviram de base para a estruturação de uma metodologia de análise que, partindo do método da Análise de Conteúdo (Laurence Bardin), estruturou uma pesquisa de narrativas de ações ocorridas em espaços públicos da área central de Belo Horizonte, a partir de 2008. Nessas narrativas foram identificados os agentes, a forma como outros (re)agiram às suas ações e as resultantes dessas interações, visando encontrar nessa estrutura discursiva as características listadas como componentes de uma fissura no espaço público: negação-criação, resiliência e conectividade. A constatação final é a de que, em Belo Horizonte, há uma fissura aberta na ocupação de seus espaços públicos desde então, cujo destaque é o entendimento que os agentes têm sobre as regras do “jogo que é jogado”: legislação, brechas legais e canais a serem acionados. Contrapondo-se aos desafios de pensar o espaço público em um contexto de pós (?) pandemia da COVID-19 - que potencializou um maior estranhamento do “outro” e um fortalecimento das relações virtuais -, a pesquisa se encerra com sugestões de contribuições que poderão vir da área acadêmica, em um trabalho incessante de busca pela conectividade de novas ideias.

Research paper thumbnail of É possível fissurar o espaço público?

Anais do VI ENANPARQ, 2021

O presente artigo relata a experiência de uma disciplina desenvolvida e ministrada no curso de gr... more O presente artigo relata a experiência de uma disciplina desenvolvida e ministrada no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como parte das atividades de doutorado de um dos autores, e está estruturado em três partes.
Na primeira parte são trazidos os conceitos principais que estão sendo trabalhados na pesquisa de doutorado, a qual parte do pressuposto de Bauman (2012) de que estamos em um período de interregno. Por um lado, nota-se o avanço do processo de neoliberalização (DARDOT; LAVAL, 2016) da vida política, econômica e social, no qual as ações de choque e cooptação são formas de garantir a coesão social do sistema. Por outro lado, ações de ruptura com a lógica neoliberal têm proliferado por meio de iniciativas e práticas que, se capazes de se configurarem em um novo-fazer, podem se converter em fissuras (HOLLOWAY, 2013) ao sistema. A pesquisa também mostra que a dicotomia entre o processo de neoliberalização e as fissuras pode ser encontrada no espaço público, pela proliferação de dispositivos de segurança e proteção e pelo discurso de aversão ao “estranho”, mas também pelos indícios dados pelos usuários desse espaço ao realizarem adaptações para garantir seu direito de uso ou, simplesmente, ao reivindicarem a sua existência. Essa dicotomia foi a discussão principal trabalhada pela disciplina.
Na segunda parte é relatada a estruturação da disciplina de graduação, sustentada por conceitos complementares, como: regras e desvios (BECKER, 1980), pautando a relação sociológica do comportamento; simbolismo espacial (CHING, 2008), trazendo a relação formal com esse mesmo comportamento e; a lógica do processo diagramático de projeto (BOAVENTURA, 2017), onde essas relações, junto a outras categorias de análise, entram como atributos de pesquisa na estruturação das decisões projetuais.
Por fim, na última parte é trazida a articulação entre a pesquisa e a disciplina, por meio da exposição dos seguintes pontos: (i) aplicação dos conceitos de regras e desvios e simbolismo espacial no espaço público; (ii) compreensão da relação dos atributos socioespaciais na viabilização (ou inibição) das ações de permanência no espaço público; e, (iii) possibilidades e limitações para a realização de ações que possam se configurar como possíveis fissuras.

Research paper thumbnail of O espaço urbano, da aporofobia às fissuras

Anais do ARQUISUR 2019, 2019

Presenciamos um momento de indefinição mundial diante do avanço de governos conservadores pari pa... more Presenciamos um momento de indefinição mundial diante do avanço de governos conservadores pari passu ao declínio de governos progressistas, traduzindo a contraofensiva do capital sobre as conquistas sociais dos últimos anos. Para Bauman (2016, online) essa indefinição se configura como um período de interregno - o espaço “entre o que não é mais e aquilo que não é ainda”. Ou seja, há um hiato.
Pelo menos no Brasil, isso se reflete diretamente no espaço urbano através do progressivo esvaziamento da rua, enquanto espaço do convívio e do confronto, em favor de um deslocamento cada vez maior para o enfrentamento virtual, submetido ao jugo manipulador das ferramentas de controle de massa. O ponto mais nitidamente trabalhado nesse processo é a desarticulação das lutas, pelo fortalecimento do partidarismo e dos rótulos sociais e, consequentemente, pela colocação em lados opostos de setores que possuem os mesmos anseios e críticas. Isso faz parte da estratégia neoliberal de manutenção da coesão social através de ações de choque e de cooptação.
Uma ação de choque com grande eficiência sobre a sociedade é o discurso do medo e da violência. Como observa Bauman (2007, p. 93), “a segurança pessoal tornou-se um dos principais pontos de venda, talvez o principal, em toda espécie de estratégias de marketing”, a exemplo de dispositivos como: circuitos de câmeras de vigilância, veículos blindados, cursos de defesa pessoal, entre outros. Nas grandes cidades, outros dispositivos têm sutilmente alterado a paisagem de forma a trazer uma sensação de segurança e proteção: concertinas e cercas elétricas (delimitando fronteiras entre público e privado), fincos, pedras, divisórias e, mesmo, holofotes e aspersores de água (dificultando a permanência em áreas propícias para tal).
Esses dispositivos exemplificam claramente a presença da aporofobia, a aversão à pobreza, no seio social. Segundo Orts (2017), é um comportamento que guarda raízes no cérebro humano desde os primeiros grupamentos, como forma de proteção e sobrevivência coletiva. O pobre, prossegue a autora, “é aquele que fica de fora da possibilidade de devolver algo em um mundo baseado no jogo do dar e receber” (ORTS, 2017, p. 66); logo, aquele que não contribuiria com o grupo social ao qual pertence.
No entanto, a sociedade tem dado indícios no sentido de buscar uma ruptura com esta lógica neoliberal e seus efeitos. Alguns autores têm registrado iniciativas que refletem uma inadequação ao mundo tal como se encontra colocado. Carlsson (2014) nomeia nowtópicos aos indivíduos e grupos que trabalham nesses fluxos abertos do capitalismo tardio através da proposição de novas práticas - chamadas de fissuras por Holloway (2013) quando, a partir da recusa, da negação em se criar o capitalismo, resultam em um outro-fazer.
Dessa forma, o presente artigo se propõe a discutir a questão da proliferação dos dispositivos de exclusão nas cidades (sua normalização e naturalização pela sociedade), associando-a à discussão sobre a aporofobia e sugerindo um contraponto através do debate em torno das fissuras, a fim de, ao se buscar ressonâncias entre elas, tornar visíveis linhas de continuidade entre as ações com potencial de ruptura.

Referências:
BAUMAN, Zigmunt. Bauman lança livro e diz: o desafio do presente é construir o novo. O Globo. Rio de Janeiro, 5 ago. 2016. Entrevista concedida a Leonardo Cazes. Disponível em: <https://goo.gl/zaVdqL> Acesso em jun. 2019.
BAUMAN, Zygmunt. Procurando refúgio na Caixa de Pandora. In: Vida líquida. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2007. p. 91-105.
CARLSSON, Chris. Nowtopia – iniciativas que estão construindo o futuro hoje. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2014. 320p.
HOLLOWAY, John. FIssurar o Capitalismo. São Paulo: Publisher Brasil, 2013. 272p.
ORTS, Adela Cortina. Aporofobia, el rechazo al pobre: Un desafío para la democracia. Barcelona: Paidós, 2017. 168p. (e-book)

Research paper thumbnail of Os códigos de obras - tradições e potencialidades

Dissertação de Mestrado, 2011

A presente dissertação discute o instrumento de política urbana conhecido como Código de Obras, e... more A presente dissertação discute o instrumento de política urbana conhecido como Código de Obras, elemento base em um processo de aprovação de projeto arquitetônico e presente em cerca de 60% dos municípios brasileiros. Remontando sua atual configuração às discussões de caráter higienista do século XIX – as quais influenciaram na publicação do Código Sanitário do Estado de São Paulo, em 1894 – o Código de Obras passou, durante muitos anos, por um processo de replicabilidade nos municípios sem, contudo, enfrentar uma avaliação crítica, de abrangência nacional, acerca da eficácia de seus principais parâmetros normativos para a geração de espaços de qualidade. Em uma análise atual, percebe-se que muitas cidades têm suas construções reguladas por códigos de obras desatualizados dos debates contemporâneos; além disso, neles predominam tanto a dificuldade de entendimento dos trâmites de aprovação de projetos, por parte do cidadão, bem como a fragmentação nas análises desses projetos, afetada, inclusive, por sucessivas normalizações estaduais e federais. Em paralelo a esses conflitos, setores da construção civil têm demandado a elaboração de um Código de Obras Nacional, visando, entre outros fatores, à otimização de sua cadeia produtiva, através da redução das barreiras regionais à construção, agravadas pela diversidade de códigos de obras encontrados no país. Não obstante o mérito da ação, entende-se, no entanto, que uma demanda desta proporção deve extrapolar a busca pela melhoria das condições de trabalho de um setor e promover, de forma estrutural, o entendimento dos atuais marcos regulatórios, suas origens, seus reais impactos e, por fim, seu papel na dinâmica urbana. Investigando-se os códigos de obras das capitais brasileiras e os de países com regulamentos de construção unificados, propõe-se fazer um reconhecimento de cada uma das duas situações – contextos, pontos positivos e negativos – em busca de contribuições aos conflitos aqui levantados, assim como ao lançamento de novas questões.

Research paper thumbnail of Estruturando um método para a identificação de fissuras no espaço público

Práticas sociais no espaço urbano: percursos e desdobramentos do grupo PRAXIS-EA/UFMG [2009-2022], 2022

O documento relata parte da tese em desenvolvimento pelo autor, a qual identifica duas forças atu... more O documento relata parte da tese em desenvolvimento pelo autor, a qual identifica duas forças atuantes no atual período, entendido como um interregno: o avanço do processo de neoliberalização político-econômico-social pari passu à constante mostra de recusas e outros-fazeres a esse processo. Partindo desse argumento, discute-se um método de visualização desse “jogo” de ações e reações dos agentes no espaço público, em busca da construção de estratégias para a constituição de fissuras na utilização desse espaço.