Renata de Morais Machado | Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (original) (raw)
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Papers by Renata de Morais Machado
O ofício antropológico é feito de reflexividade. Andamos sempre na corda bamba, entre fazer uma e... more O ofício antropológico é feito de reflexividade. Andamos sempre na corda bamba, entre fazer uma etnografia da bruxaria do ponto de vista da bruxa ou do ponto de vista de um geômetra, seguindo a famosa comparação de Clifford Geertz. Quando entramos no campo da saúde, o trabalho fica mais desafiador. Lidamos com emoções, com corporalidades, com doença, com dor, com morte. Lidamos, além disso, com uma instituição extremamente potente, do ponto de vista não apenas de sua penetração social, de sua capacidade de acolhimento de tudo isso, mas, sobretudo, de sua eficácia simbólica, fortemente enraizada nos corações e nas mentes de todos nós. Refiro-me à medicina e às demais especialidades que gravitam ao seu redor. Ofícios compostos por pessoas que tratam outras pessoas; que mexem nos seus corpos, nos seus espíritos; que criam parâmetros para aferi-los; que oferecem conselhos, drogas; que propõem tarefas. A pesquisa antropológica surge como contraponto necessário para trazer à cena o emaran...
Fractal : Revista de Psicologia, 2008
Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer
RIBEIRO, Renata Rezende. A morte midiatizada: como as redes sociais atualizam a experiência do fi... more RIBEIRO, Renata Rezende. A morte midiatizada: como as redes sociais atualizam a experiência do fim da vida. Rio de Janeiro: Eduff, 2015. 223 p.
A gestao social do processo de morrer tem se transformado a partir da segunda metade do seculo XX... more A gestao social do processo de morrer tem se transformado a partir da segunda metade do seculo XX e inicio do seculo XXI. O envelhecimento da populacao e o decorrente aumento de enfermidades cronicas degenerativas impulsionam polemicas sobre o direito a morrer ‘com dignidade’. Disputas pela escolha (ou nao) em torno da propria morte sao travadas entre distintos atores e setores sociais. Desde o inicio do seculo XXI, ha um aumento da difusao do tema da morte assistida na midia. Livros, filmes e materias jornalisticas abordam o tema. A partir de levantamento de materias na midia impressa e online, este artigo apresenta e analisa as imagens e valores presentes na exposicao da gestao do morrer na sociedade ocidental contemporânea. A visibilizacao da morte assistida (eutanasia ou suicidio assistido) afirma a militância pela legalizacao da pratica. As consideracoes em torno do que e ou nao sofrimento insuportavel, do direito por optar pelo suicidio assistido e os rituais associados ao ter...
Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer
Este texto narra o evento do funeral de minha avó em abril de 2020, no início da pandemia do covi... more Este texto narra o evento do funeral de minha avó em abril de 2020, no início da pandemia do covid-19 no Brasil. Trata-se de um relato pessoal, exposto sob uma mirada antropológica. Resgato cenas e emoções experienciadas na intenção de remontá-las como dados etnográficos. Este relato é como uma fotografia em que, a partir de um cenário, conta uma história sobre a morte e os funerais durante a pandemia do coronavírus no Rio de Janeiro.
REVISTA CIÊNCIAS DA SOCIEDADE, Aug 24, 2018
Resumo: A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia trans... more Resumo: A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia transformações social e culturais, ocorridas em determinado momento histórico. Com o processo de secularização ocorreu uma perda de sentido do sofrimento associado à transcendência, nas sociedades ocidentais. A ênfase no presente, a busca contínua de prazer e o exercício do livre-arbítrio tornam-se referências centrais. Neste contexto, movimentos sociais pelos direitos dos doentes, e grupos da classe médica afirmam o direito a não sofrer. Se não evitado, o sofrimento deve ter a menor duração e intensidade possíveis. É neste sentido que as propostas de atenção em torno do luto estão inseridas. Pelo fato de o luto constituir um processo em que o sofrimento é inerente, ele deve ser compreendido, cuidado e, na medida do possível, elaborado, amenizado ou, até, evitado. Manuais destinados a profissionais de saúde abordam o tema, sugerindo uma superação do luto, independente da perspectiva teórica adotada. É delimitada uma duração, referente ao que seria uma vivência normal ou patológica do luto, assim como são elaboradas prescrições, sejam elas preventivas ou curativas. Manuais e livros-texto, nacionais e internacionais, com caráter prescritivo, destinados a profissionais de saúde, configuram-se como objeto de análise desta pesquisa, uma vez que tais formulações refletem o contexto sociocultural. Na gestão contemporânea do processo de morrer, profissionais de saúde buscam promover ampla aceitação social da morte e uma preparação para o luto, para todos os atores sociais envolvidos nos cuidados ao final da vida. A proliferação de pesquisas e de propostas terapêuticas sobre o luto é evidenciada pela publicação de manuais específicos sobre o tema, a partir do século XXI. Afinal, o que o luto representa na cultura ocidental contemporânea, de modo a se encontrar cercado de atenção dos profissionais de saúde que objetivam sua superação? Frente ao risco de o processo de luto se tornar patológico, os saberes 'psi' não estariam promovendo um controle e/ou autorregulação das emoções, no sentido de uma normatização deste evento? Palavras-chave: luto, gestão emocional, morte.
Fractal : Revista de Psicologia, 2008
Ao contrário do que alguns imaginam, a noção de indivíduo não existe desde sempre, isto é, não se... more Ao contrário do que alguns imaginam, a noção de indivíduo não existe desde sempre, isto é, não se trata de algo universal e dado desde que o homem se reconhece como tal. A noção de indivíduo como um valor social, como uma categoria existencial é algo historicamente ...
O ofício antropológico é feito de reflexividade. Andamos sempre na corda bamba, entre fazer uma e... more O ofício antropológico é feito de reflexividade. Andamos sempre na corda bamba, entre fazer uma etnografia da bruxaria do ponto de vista da bruxa ou do ponto de vista de um geômetra, seguindo a famosa comparação de Clifford Geertz. Quando entramos no campo da saúde, o trabalho fica mais desafiador. Lidamos com emoções, com corporalidades, com doença, com dor, com morte. Lidamos, além disso, com uma instituição extremamente potente, do ponto de vista não apenas de sua penetração social, de sua capacidade de acolhimento de tudo isso, mas, sobretudo, de sua eficácia simbólica, fortemente enraizada nos corações e nas mentes de todos nós. Refiro-me à medicina e às demais especialidades que gravitam ao seu redor. Ofícios compostos por pessoas que tratam outras pessoas; que mexem nos seus corpos, nos seus espíritos; que criam parâmetros para aferi-los; que oferecem conselhos, drogas; que propõem tarefas. A pesquisa antropológica surge como contraponto necessário para trazer à cena o emaran...
Fractal : Revista de Psicologia, 2008
Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer
RIBEIRO, Renata Rezende. A morte midiatizada: como as redes sociais atualizam a experiência do fi... more RIBEIRO, Renata Rezende. A morte midiatizada: como as redes sociais atualizam a experiência do fim da vida. Rio de Janeiro: Eduff, 2015. 223 p.
A gestao social do processo de morrer tem se transformado a partir da segunda metade do seculo XX... more A gestao social do processo de morrer tem se transformado a partir da segunda metade do seculo XX e inicio do seculo XXI. O envelhecimento da populacao e o decorrente aumento de enfermidades cronicas degenerativas impulsionam polemicas sobre o direito a morrer ‘com dignidade’. Disputas pela escolha (ou nao) em torno da propria morte sao travadas entre distintos atores e setores sociais. Desde o inicio do seculo XXI, ha um aumento da difusao do tema da morte assistida na midia. Livros, filmes e materias jornalisticas abordam o tema. A partir de levantamento de materias na midia impressa e online, este artigo apresenta e analisa as imagens e valores presentes na exposicao da gestao do morrer na sociedade ocidental contemporânea. A visibilizacao da morte assistida (eutanasia ou suicidio assistido) afirma a militância pela legalizacao da pratica. As consideracoes em torno do que e ou nao sofrimento insuportavel, do direito por optar pelo suicidio assistido e os rituais associados ao ter...
Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer
Este texto narra o evento do funeral de minha avó em abril de 2020, no início da pandemia do covi... more Este texto narra o evento do funeral de minha avó em abril de 2020, no início da pandemia do covid-19 no Brasil. Trata-se de um relato pessoal, exposto sob uma mirada antropológica. Resgato cenas e emoções experienciadas na intenção de remontá-las como dados etnográficos. Este relato é como uma fotografia em que, a partir de um cenário, conta uma história sobre a morte e os funerais durante a pandemia do coronavírus no Rio de Janeiro.
REVISTA CIÊNCIAS DA SOCIEDADE, Aug 24, 2018
Resumo: A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia trans... more Resumo: A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia transformações social e culturais, ocorridas em determinado momento histórico. Com o processo de secularização ocorreu uma perda de sentido do sofrimento associado à transcendência, nas sociedades ocidentais. A ênfase no presente, a busca contínua de prazer e o exercício do livre-arbítrio tornam-se referências centrais. Neste contexto, movimentos sociais pelos direitos dos doentes, e grupos da classe médica afirmam o direito a não sofrer. Se não evitado, o sofrimento deve ter a menor duração e intensidade possíveis. É neste sentido que as propostas de atenção em torno do luto estão inseridas. Pelo fato de o luto constituir um processo em que o sofrimento é inerente, ele deve ser compreendido, cuidado e, na medida do possível, elaborado, amenizado ou, até, evitado. Manuais destinados a profissionais de saúde abordam o tema, sugerindo uma superação do luto, independente da perspectiva teórica adotada. É delimitada uma duração, referente ao que seria uma vivência normal ou patológica do luto, assim como são elaboradas prescrições, sejam elas preventivas ou curativas. Manuais e livros-texto, nacionais e internacionais, com caráter prescritivo, destinados a profissionais de saúde, configuram-se como objeto de análise desta pesquisa, uma vez que tais formulações refletem o contexto sociocultural. Na gestão contemporânea do processo de morrer, profissionais de saúde buscam promover ampla aceitação social da morte e uma preparação para o luto, para todos os atores sociais envolvidos nos cuidados ao final da vida. A proliferação de pesquisas e de propostas terapêuticas sobre o luto é evidenciada pela publicação de manuais específicos sobre o tema, a partir do século XXI. Afinal, o que o luto representa na cultura ocidental contemporânea, de modo a se encontrar cercado de atenção dos profissionais de saúde que objetivam sua superação? Frente ao risco de o processo de luto se tornar patológico, os saberes 'psi' não estariam promovendo um controle e/ou autorregulação das emoções, no sentido de uma normatização deste evento? Palavras-chave: luto, gestão emocional, morte.
Fractal : Revista de Psicologia, 2008
Ao contrário do que alguns imaginam, a noção de indivíduo não existe desde sempre, isto é, não se... more Ao contrário do que alguns imaginam, a noção de indivíduo não existe desde sempre, isto é, não se trata de algo universal e dado desde que o homem se reconhece como tal. A noção de indivíduo como um valor social, como uma categoria existencial é algo historicamente ...