Wellington Monteiro | UFSM - Universidade Federal de Santa Maria (original) (raw)

Uploads

Papers by Wellington Monteiro

Research paper thumbnail of Uma Materialidade Anônima: O Outro Lado Do Infinito Na Ontologia De Levinas

XXIII Semana Acadêmica do PPG em Filosofia da PUCRS Vol. 3: Epistemologia, Filosofia da Religião, Metafísica e Ontologia, Dec 12, 2023

O seguinte trabalho procura investigar a tese ontológica levinasiana do il y a (há), como uma pos... more O seguinte trabalho procura investigar a tese ontológica levinasiana do il y a (há), como uma possível tese materialista. Tanto em sua obra Totalidade e Infinito como em um de seus primeiros trabalhos chamado Da existência ao existente, Levinas faz uma análise da experiência existencial do sujeito em engajamento com o mundo a partir de uma noção de interioridade. Essa interiorização é descrita como econômica (oikos), na medida que o sujeito toma posse do mundo dando-lhe forma e sentido. Todo esse processo de tomada de posse é dado na luminosidade do seu ser, por sua consciência e por suas intenções que se ligam aos objetos determinados do mundo. Essa relação não-intencional (sem horizontes, contingente e gratuita) para com as coisas do mundo é marcada por uma satisfação fundamental, por uma habitação e regularidade. Porém, o il y a descrito por Levinas em Da existência ao existente configura justamente o avesso dessa luminosidade do habitar: ele é a verbalidade do verbo ser sem sujeito, remissão absoluta que destrói a cisão entre existência em geral e existente singular, eclipsando completamente a relação de interiorização dada na gratuidade da habitação. Tal dimensão anônima é implícita na própria concretude dos objetos do mundo, na medida em que eles são compostos de seus resíduos, cujos quais estão impregnados do facto puro de sua materialidade: que é a de poder ser reduzido a pó, ou escombros, ou seja, sua própria identidade formal enquanto determinado objeto é relativa. No momento da constatação aterradora do limite contingente dos objetos do mundo, ocorre um evento de estranhamento, que é fundamentalmente uma insatisfação, um incômodo, no seio da gratuidade do habitar, trazendo a lume uma estranheza fundamental. Esse evento de estranhamento é descrito por Levinas como exótico, e de alguma maneira ele nos traz em desvelamento o fato puro da materialidade: que é seu anonimato prenhe. Na ambiguidade da minha relação com os elementos que compõem a nossa habitação e alimentação se perfaz o anonimato material de uma existência sem mundo, uma existência inumana e sem-face, existência essa que corporalmente partilhamos por uma espécie de ubiquidade, expressando então a vulnerabilidade de nossos corpos e a fragilidade de nossos mundos. Assim, a partir disso, seria possível dizer que a tese de Levinas acerca do anonimato verbal do ser implica uma espécie de materialismo, um materialismo deflacionário, pois ele é fundamentalmente determinado por sua informidade.

Research paper thumbnail of Subjetividade em exposição: Anonimato e alteridade em Amor de Clarice Lispector

Revista Inquietude, 2022

O presente artigo se propõe fazer uma leitura levinasiana do conto Amor de Clarice Lispector. Nel... more O presente artigo se propõe fazer uma leitura levinasiana do conto Amor de Clarice Lispector. Nele, pretendemos entender a epifania da personagem Ana como um evento de deposição ocasionado por uma perturbação em seu movimento interessado, ou seja, uma retirada de sua posição acomodada e de recolhimento no assento, expondo-a à fragilidade perante o arranque do bonde. Nesse evento, o rosto do cego a perturba tanto por sua fragilidade, quanto por sua não-reciprocidade por ser cego. Essa crise do compreensivo, dada pela escuridão da cegueira, revela a Ana um anonimato e desamparo próprios frente à neutralidade do verbo ser, que é puro haver, verbo sem substantivo, assim lhe causando náusea e o desespero de uma fuga. Ao mesmo tempo, essa visão do cego abre a ela uma dimensão de responsabilização infinita com a fragilidade do Outro, colocando-a assim em contato com uma alteridade que ultrapassa o circuito de sua mesmidade. Ao perceber a nudez do rosto do cego, Ana se vê também exposta e eleita, estabelecendo-se aí uma relação de assimetria.

Research paper thumbnail of Uma Materialidade Anônima: O Outro Lado Do Infinito Na Ontologia De Levinas

XXIII Semana Acadêmica do PPG em Filosofia da PUCRS Vol. 3: Epistemologia, Filosofia da Religião, Metafísica e Ontologia, Dec 12, 2023

O seguinte trabalho procura investigar a tese ontológica levinasiana do il y a (há), como uma pos... more O seguinte trabalho procura investigar a tese ontológica levinasiana do il y a (há), como uma possível tese materialista. Tanto em sua obra Totalidade e Infinito como em um de seus primeiros trabalhos chamado Da existência ao existente, Levinas faz uma análise da experiência existencial do sujeito em engajamento com o mundo a partir de uma noção de interioridade. Essa interiorização é descrita como econômica (oikos), na medida que o sujeito toma posse do mundo dando-lhe forma e sentido. Todo esse processo de tomada de posse é dado na luminosidade do seu ser, por sua consciência e por suas intenções que se ligam aos objetos determinados do mundo. Essa relação não-intencional (sem horizontes, contingente e gratuita) para com as coisas do mundo é marcada por uma satisfação fundamental, por uma habitação e regularidade. Porém, o il y a descrito por Levinas em Da existência ao existente configura justamente o avesso dessa luminosidade do habitar: ele é a verbalidade do verbo ser sem sujeito, remissão absoluta que destrói a cisão entre existência em geral e existente singular, eclipsando completamente a relação de interiorização dada na gratuidade da habitação. Tal dimensão anônima é implícita na própria concretude dos objetos do mundo, na medida em que eles são compostos de seus resíduos, cujos quais estão impregnados do facto puro de sua materialidade: que é a de poder ser reduzido a pó, ou escombros, ou seja, sua própria identidade formal enquanto determinado objeto é relativa. No momento da constatação aterradora do limite contingente dos objetos do mundo, ocorre um evento de estranhamento, que é fundamentalmente uma insatisfação, um incômodo, no seio da gratuidade do habitar, trazendo a lume uma estranheza fundamental. Esse evento de estranhamento é descrito por Levinas como exótico, e de alguma maneira ele nos traz em desvelamento o fato puro da materialidade: que é seu anonimato prenhe. Na ambiguidade da minha relação com os elementos que compõem a nossa habitação e alimentação se perfaz o anonimato material de uma existência sem mundo, uma existência inumana e sem-face, existência essa que corporalmente partilhamos por uma espécie de ubiquidade, expressando então a vulnerabilidade de nossos corpos e a fragilidade de nossos mundos. Assim, a partir disso, seria possível dizer que a tese de Levinas acerca do anonimato verbal do ser implica uma espécie de materialismo, um materialismo deflacionário, pois ele é fundamentalmente determinado por sua informidade.

Research paper thumbnail of Subjetividade em exposição: Anonimato e alteridade em Amor de Clarice Lispector

Revista Inquietude, 2022

O presente artigo se propõe fazer uma leitura levinasiana do conto Amor de Clarice Lispector. Nel... more O presente artigo se propõe fazer uma leitura levinasiana do conto Amor de Clarice Lispector. Nele, pretendemos entender a epifania da personagem Ana como um evento de deposição ocasionado por uma perturbação em seu movimento interessado, ou seja, uma retirada de sua posição acomodada e de recolhimento no assento, expondo-a à fragilidade perante o arranque do bonde. Nesse evento, o rosto do cego a perturba tanto por sua fragilidade, quanto por sua não-reciprocidade por ser cego. Essa crise do compreensivo, dada pela escuridão da cegueira, revela a Ana um anonimato e desamparo próprios frente à neutralidade do verbo ser, que é puro haver, verbo sem substantivo, assim lhe causando náusea e o desespero de uma fuga. Ao mesmo tempo, essa visão do cego abre a ela uma dimensão de responsabilização infinita com a fragilidade do Outro, colocando-a assim em contato com uma alteridade que ultrapassa o circuito de sua mesmidade. Ao perceber a nudez do rosto do cego, Ana se vê também exposta e eleita, estabelecendo-se aí uma relação de assimetria.