Vinícius Piassi | Universidade Federal de Uberlândia (original) (raw)
Tese de Doutorado by Vinícius Piassi
Esta tese apresenta uma pesquisa sobre as cartografias afetivas construídas com imagens de arquiv... more Esta tese apresenta uma pesquisa sobre as cartografias afetivas construídas com imagens de arquivo nos ensaios documentais de João Moreira Salles, Santiago (2007) e No Intenso Agora (2017). De sua extensa produção como documentarista, roteirista e produtor do cinema brasileiro, destacamos esses dois títulos para compor o corpus principal desta pesquisa por seu cariz autobiográfico e pelos modos como, em cada produção, mobiliza- se um olhar introspectivo para as memórias pessoais do cineasta e para seus dramas familiares, utilizando-se de imagens de arquivo à maneira do filme-ensaio. Tais filmes constroem uma perspectiva histórica sobre o passado a partir de uma abordagem que realça a memória e a história, transitando entre as dimensões do privado e do coletivo. Metodologicamente, partindo da análise fílmica, a argumentação remete a apreciação crítica dessas obras a um corpus fílmico expandido que abrange a filmografia do diretor e produções culturais com as quais ela dialoga, bem como a materiais extra fílmicos, como informações adicionais contidas nos DVDs, cartazes de divulgação, entrevistas, ensaios jornalísticos, críticas de cinema, resenhas e artigos impressos e disponíveis na internet. Desse modo, identificamos como o diretor desenvolve em seus últimos filmes a elaboração de memórias autobiográficas, familiares e coletivas por meio do cinema criando narrativas em forma de itinerários, roteiros ou percursos, nos quais a figuração dos espaços como imagem é fundamental para a construção do sentido histórico das experiências narradas.
Dissertação de Mestrado by Vinícius Piassi
Cronotopias da memória, da imaginação e do esquecimento: cenas dissensuais em dois filmes de Tata Amaral, 2019
Esta pesquisa parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura militar brasi... more Esta pesquisa parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura militar brasileira por ex-presos e perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, para esboçar uma compreensão da elaboração da memória autoritária pela arte da memória do cinema. A discussão sobre o tema é encaminhada a partir de sua abordagem em duas produções do cinema nacional contemporâneo, os filmes Hoje (2011) e Trago Comigo (2016), da cineasta paulistana Tata Amaral. Nessas obras, a distância entre o passado ditatorial e o presente democrático é suprimida pelo prolongamento dos traumas provocados pela tortura e do sofrimento causado pelo desaparecimento e morte de pessoas no cotidiano dos que sobreviveram a essas experiências. Em cada filme, os modos de ressurgência de imagens das vítimas na memória e na imaginação dos sobreviventes e familiares de mortos e desaparecidos apontam para a atualização de seu lugar na narrativa histórica, provocando rasuras no consenso ficcional sobre a ditadura no Brasil e sobre as formas de esquecimento público do passado incitado na cultura política brasileira.
Books by Vinícius Piassi
EDUPE, 2024
A obra dialoga, a partir da análise da cultura visual e das visualidades, com a construção histór... more A obra dialoga, a partir da análise da cultura visual e das visualidades, com a construção histórica da colonialidade do olhar e com a crítica decolonial, buscando identificar as derivas do ver, os escapes e as resistências - no plano da cultura - que tensionam e atuam contra os poderes estabelecidos nos domínios da economia e da política. Os artigos contidos nesta obra, em um primeiro momento, investigam a construção histórica da mitologia de nascimento dos EUA com a ode ao progresso como destino, seja na expansão territorial seja na industrialização capitalista. Em um segundo momento, debruçando-se sobre o cone sul, investiga-se a frustração nostálgica de elites da Argentina e do Brasil que buscam consolidar, por meio de projetos arquitetônicos, a síntese de uma perspectiva apartada de sociedade na qual viam o povo como sendo inadequado para a grandeza dos sonhos idealizado de seus pretensos líderes. A obra também agrega a entrevista com o historiador Francisco Santiago, especialista em História e cultura visual.
Idealizado durante o XII Encontro Estadual de História – ANPUH Pará “Passado e Presente: Os desaf... more Idealizado durante o XII Encontro Estadual de
História – ANPUH Pará “Passado e Presente: Os desafios
da história social e do ensino”, evento online ocorrido
entre os dias 02 e 04 de dezembro de 2020, este livro
reúne artigos derivados das pesquisas apresentadas
no Simpósio Temático “História e linguagens cinematográficas”.
Entrevista by Vinícius Piassi
Dossiê História e Cinema Revista Cantareira UFF ed. 23 jul-dez, 2015.
Artigos by Vinícius Piassi
Interseções Revista de Estudos Interdisciplinares, 2024
Partindo da análise fílmica de No Intenso Agora, documentário ensaístico lançado em 2017 por João... more Partindo da análise fílmica de No Intenso Agora, documentário ensaístico lançado em 2017 por João Moreira Salles, este artigo apresenta uma reflexão sobre a figuração do espaço urbano de cidades ao redor do mundo, em que ocorreram levantes no final da década de 1960 nas imagens de arquivo incorporadas ao filme. Com foco no enquadramento em imagens das localidades mobilizadas como chaves interpretativas para a construção de sua narrativa, identifica-se como o documentário (re)produz os espaços urbanos, considerando que as imagens cinematográficas engendram noções de espaço. Assim, categorias como paisagem, atmosfera afetiva e janela são problematizadas como conceitos históricos, atando um feixe de temporalidades que abrange passados e presentes históricos, pessoais, familiares e coletivos, associados a experiências de revoltas urbanas.
Locus: Revista de História, 2023
Este artigo apresenta uma análise do gesto do lançamento de pedras, bombas ou coquetéis molotov, ... more Este artigo apresenta uma análise do gesto do lançamento de pedras, bombas ou coquetéis molotov, recorrente em manifestações públicas de protesto contra o status quo ao longo da história, voltada para a sua figuração em imagens, buscando apreender os sentidos históricos, estéticos e políticos de seus usos. Traçando uma genealogia da representação artística desse gesto apoiada na teoria do anacronismo da imagem de Georges Didi-Huberman, o identificamos como uma imagem sobrevivente, cujas matrizes remontam à prática esportiva ateniense da Antiguidade clássica, atravessando a história da arte ocidental por meio de reproduções de sua fórmula de páthos em diferentes suportes, como a escultura, a fotografia, a serigrafia, o grafite e o cinema. Desse modo, percebemos como as imagens dos lançadores de pedras são investidas historicamente de sentidos políticos revolucionários, constituindo parte fundamental das narrativas visuais de levantes na contemporaneidade.
Temporalidades – Revista de História, 2023
Este artigo discute a articulação de um discurso saudoso dos chamados “anos dourados”, a mítica d... more Este artigo discute a articulação de um discurso saudoso dos chamados “anos dourados”,
a mítica década de 1950, com um diagnóstico de decadência contemporânea do Brasil no
documentário Santiago (2007), do cineasta e produtor carioca João Moreira Salles. A partir de uma
análise fílmica voltada para o percurso espacial traçado na rememoração das lembranças de infância e
juventude do diretor nessa produção, abordada pela crítica cinematográfica sobretudo do ponto de
vista de seus méritos estéticos e por sua autorreflexividade, esta reflexão focaliza a construção
imagética no filme da antiga residência da família Moreira Salles no Rio de Janeiro, destacando a
atribuição de um sentido alegórico totalizante para o seu cenário e a elaboração de um discurso
ancorado na saudade de um passado áureo, tanto familiar quanto nacional.
albuquerque: revista de história, , 2022
Este artigo apresenta uma reflexão sobre as relações estabelecidas de modo ensaístico... more Este artigo apresenta uma reflexão sobre as relações estabelecidas de modo ensaístico entre memórias, histórias e imagens de imagens de arquivo no documentário Santiago, lançado no Brasil em 2007 pelo cineasta carioca João Moreira Salles. Ao trazer para o primeiro plano da análise fílmica a construção cinematográfica da personagem que dá nome ao filme, o recurso às formas do antecampo na montagem e o caráter cinéfilo da obra, este texto lança um olhar sobre aspectos pouco discutidos do documentário.
Em Tempo de Histórias, 2020
Resumo: esta análise parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura milita... more Resumo: esta análise parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura militar brasileira por ex-presos e perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, para esboçar uma compreensão da elaboração da memória autoritária pela arte da memória do cinema. A discussão sobre o tema é encaminhada a partir de sua abordagem em duas produções do cinema nacional contemporâneo, os filmes Hoje (2011) e Trago Comigo (2016), da cineasta paulistana Tata Amaral. Nessas obras, a distância entre o passado ditatorial e o presente democrático é suprimida pelo prolongamento dos traumas provocados pela tortura e do sofrimento causado pelo desaparecimento e morte de pessoas no cotidiano dos que sobreviveram a essas experiências.
O enredo do filme “Hoje”, da cineasta paulistana Tata Amaral, narra o drama de uma mulher diante ... more O enredo do filme “Hoje”, da cineasta paulistana Tata Amaral, narra o drama de uma mulher diante da perda de seu companheiro, morto pelo aparato repressivo da ditadura militar brasileira de 1964 a 1985 e considerado oficialmente como desaparecido político. Apesar de sua ausência, a memória da protagonista torna-o presente na narrativa e a obriga a ressignificar a dor de sua perda e atualizar sua condição de ser-no-mundo. A partir da encenação das personagens, discutimos aspectos referentes aos gêneros em jogo na relação entre ambas, bem como a temporalidade do luto e da memória construída no filme, conjecturando sobre o quanto a memória pode ser sexuada e analisando a dimensão de gênero que constitui a subjetividade.
Vozes, Pretérito & Devir Ano II, Vol. III, Num.I (2014) Dossiê Temático: Intelectuais, historiografia e literatura
Resumo: O presente artigo intenta estabelecer um diálogo entre as concepções de Bachelard, fenome... more Resumo: O presente artigo intenta estabelecer um diálogo entre as concepções de Bachelard, fenomenólogo interessado nos devaneios da arte poética, e as considerações acerca da literatura de Jacques Rancière, filósofo que entrevê formas de emancipação política na arte. As considerações a seguir são desenvolvidas a partir de uma discussão dos conceitos de ritmanálise e poético-análise, conforme apresentados na obra de Bachelard, acrescentando as contribuições de Rancière ao debate, a partir do conceito de " regime estético da arte ".
INTERESPE. INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO, 2017
Resumo: inspirados por uma interrogação da primeira expoente da Psicologia Analítica no Brasil, N... more Resumo: inspirados por uma interrogação da primeira expoente da Psicologia Analítica no Brasil, Nise da Silveira, propomos neste ensaio uma reflexão sobre a pertinência do pensamento de Carl Gustav Jung para a atualidade a partir de aspectos de sua autobiografia. Em seus escritos compilados nessa obra, o autor descreve experiências subjetivas e mobiliza conhecimentos orientais que colocam em questão o paradigma racionalista ocidental. Nossa discussão perpassa desse modo o âmbito de sua experiência pessoal e se encaminha para a relevância de sua doutrina para o conhecimento humano.
Catálogo by Vinícius Piassi
Catálogo da Mostra de Cinema Mulheres em Cena. CCBB, São Paulo e Rio de Janeiro., 2016
Apresentação de dossiê by Vinícius Piassi
Prof. Drª. Mônica Brincalepe Campo (UFU) Organizadores Prof. Drª. Ana Paula Spini (UFU) Prof. Drª... more Prof. Drª. Mônica Brincalepe Campo (UFU) Organizadores Prof. Drª. Ana Paula Spini (UFU) Prof. Drª. Mônica Brincalepe Campo (UFU) Vinícius Alexandre Rocha Piassi (UFU) Renata Silveira Dutra (UFU) 23ª EDIÇÃO, JUL-DEZ, 2015 REVISTA CANTAREIRA EDITORES PARECERISTAS Apresentação Vinícius Alexandre Rocha Piassi 1 Um escrito do câmera polonês Boleslas Matuszewski, de 1898, é identificado por Mônica Kornis, em um balanço histórico a respeito dos estudos históricos sobre cinema como o primeiro trabalho relativo ao valor do filme como documento histórico. Neste escrito de Mastuszewski, o autor defendia o valor da imagem cinematográfica como testemunho ocular verídico e infalível, sendo que estas observações se referiam ao filme documentário, produção predominante na época, e baseavam-se em um princípio de autenticidade do registro. Somente décadas mais tarde ela seria questionada em um debate acerca do cinema mudo entre os cineastas russos Dziga Vertov e Serguei Eisenstein. No debate, uma nova definição surgiria, e afirmaria que a natureza da imagem cinematográfica é também ela um constructo 2 . O historiador francês Marc Ferro, considerado o principal responsável pela incorporação do cinema na pesquisa histórica, viria a se referir a essa discussão em sua confrontação da ideia de que o documentário seria mais objetivo que a ficção, argumentando que ambos devem ser objetos de uma análise cultural e social. Alinham-se a essa perceptiva sobre as relações entre o cinema e a história, as considerações do escritor alemão Siegfried Kracauer, que contribuiu significativamente para os estudos nesse domínio ao estabelecer ligações entre um filme e seu meio de produção em suas análises, atribuindo aos filmes de ficção a capacidade de refletir a mentalidade de uma nação, revelando uma
Trabalhos completos publicados em Anais by Vinícius Piassi
Simpósio de História, Literatura e Resistência: Narrativas de Conflito, historiografia e escrita em momentos de luta, 2024
No espaço dedicado à memória das vítimas dos levantes da década de 1960 no documentário No Intens... more No espaço dedicado à memória das vítimas dos levantes da
década de 1960 no documentário No Intenso Agora (2017), de João
Moreira Salles, analisamos a montagem com imagens de arquivo dos
seus funerais públicos, com foco na construção narrativa do páthos
do luto, considerando as respostas coletivas ao sofrimento lutuoso
como “experiências páticas significativas” constituintes de uma história
das emoções, como aponta Didi-Huberman (2021, p. 65). Para o historiador
francês, eventos históricos como esses, ao abrirem as emoções
para a dimensão coletiva, favorecem a construção de uma política
das emoções, liberando-as da armadilha subjetivista. O deslocamento
do problema da emoção da dimensão subjetiva para a intersubjetiva
e de seu conteúdo psicológico para a esfera social dará destaque à
realidade humana, à singularidade, ao valor real e à potência efetiva
desses eventos, colocando no horizonte de nossa análise a questão da
“dignidade dos povos em lágrimas” defendida pelo autor. Além de uma
miríade de arquivos de origens e temporalidades diversas, o filme de Salles apresenta uma breve seção de cenas brasileiras com imagens
do funeral de Edson Luís de Lima Souto, estudante secundarista do
Instituto Cooperativo de Ensino assassinado aos dezoito anos pela
Polícia Militar do Estado da Guanabara, atual Rio de Janeiro, durante a
ditadura militar, produzidas por Eduardo Escorel e José Carlos Avellar.
As imagens do cortejo fúnebre de seis quilômetros pelo qual o corpo
do jovem pobre de Belém do Pará foi carregado por estudantes até a
escadaria da Santa Casa da Misericórdia e de seu velório, para o qual
compareceram centenas de pessoas, emergem nessa análise como cerne
da construção visual do páthos do luto em No Intenso Agora em tensão
com a narração em voz over, propiciando um rico debate sobre o luto
compartilhado em prol das vítimas da década de 1960.
Seminário Internacional Fazendo Gênero 13 (Anais Eletrônicos), 2024
Este trabalho apresenta os resultados iniciais de uma pesquisa transdisciplinar que integra os ca... more Este trabalho apresenta os resultados iniciais de uma pesquisa transdisciplinar que integra os campos da história, da cultura visual e dos estudos queer para investigar como são abordados identidades, subjetividades e desejos masculinos contemporâneos por meio da figuração de corpos de homens nus e seminus na obra de Francisco Hurtz produzida na última década. Entre a diversificada produção desse artista visual paulistano, composta de desenhos, pinturas, esculturas, fotografias, ilustrações, gravuras e colagens, selecionamos aquelas que tematizam o corpo masculino e expressam um olhar crítico em relação à construção da masculinidade branca, cisgênera e heterossexual como norma identitária. Por meio da seriação e análise das obras de Hurtz, identificamos o conjunto de suas produções que focaliza o masculino como objeto de desconstrução e releitura de uma perspectiva queer, prosseguindo com o exame de seus traços icônicos e sígnicos, com atenção para a materialidade de seus diferentes suportes e linguagens, bem como para suas condições de emergência na segunda década do século XXI no Brasil. Considerando o fenômeno transnacional de apropriação dos desenhos do artista por meio de tatuagens, estendemos nossa análise aos significados estéticos, éticos e políticos da inscrição nos corpos de homens gays ao redor do mundo dos traços de Hurtz.
XIV Encontro Estadual de História da Anpuh-PE, 2022
Em entrevista concedida à Revista Bravo!, em 2008, Salles faz um elogio ao acaso, ao elemento sur... more Em entrevista concedida à Revista Bravo!, em 2008, Salles faz um elogio ao acaso, ao elemento surpresa e acidental como parte fundamental de um documentário, e critica a pretensão a um controle total da produção nesse domínio. O cineasta utiliza a metáfora do mapa como um guia limitador da experiência do realizador no campo do cinema documental: Há documentaristas que saem para a rua com um mapa, sabendo o que procuram. E há aqueles que saem sem mapa nenhum e sem saber direito o que querem. Estes me interessam mais hoje em dia. Eu, antigamente, carregava um mapa. E o mapa só indicava uma autoban, uma rodovia plana; não considerava atalhos ou estradas vicinais (SALLES, 2008). Nessa ocasião, o documentarista afirma que "carregava um mapa" no início de sua carreira, como se observa em seus primeiros trabalhos até a elaboração do projeto de Santiago, marcado pela tentativa insistente de controle das cenas pelo diretor, mas declara sua preferência atual por uma postura profissional mais transigente em relação aos mundos que se abrem diante de uma câmera. Em outra entrevista concedida no mesmo ano aos pesquisadores Edgardo Dieleke e Gabriela Nouzeilles, Salles elaborou a seguinte reflexão sobre sua trajetória profissional: Treze anos atrás, eu era um documentarista de um tipo muito diferente. Acho que a diferença básica, em uma palavra, é o controle. Eu acreditava naquela época que filmar significava controlar o ambiente. Você controla tudo, a luz, o enquadramento e, principalmente, você controla seus personagens. Com o tempo, fiquei mais interessado naqueles documentários que não sabem exatamente como controlar o ambiente, documentários que incorporam o acaso. Documentaristas que incorporam o acaso saem pelo mundo sem saber de antemão o que farão;
Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia, 2021
Santiago Badariotti Merlo é o protagonista do célebre documentário de João Moreira Salles, de 200... more Santiago Badariotti Merlo é o protagonista do célebre documentário de João
Moreira Salles, de 2007, que leva o seu nome. O antigo mordomo argentino da casa da
família do cineasta na Gávea o recebeu em seu apartamento no Leblon, em 1992, para
gravar as cenas de entrevista que integram o filme. A partir de sua análise, identificamos
na encenação do personagem a adoção de elementos de uma estética visual e performática
camp, como forma de expressão subjetiva e de identificação entre semelhantes, uma vez
impedido de se declarar abertamente no filme como homem gay. No documentário, o
camp adquire uma dimensão genuinamente política a partir do desejo de Santiago de
expressar-se e de narrar-se.
Anais do XVII Encontro Regional de História (Anpuh-PR), 2020
Este trabalho apresenta apontamentos iniciais de uma análise iconográfica do arquivo imagético do... more Este trabalho apresenta apontamentos iniciais de uma análise iconográfica do arquivo imagético dos eventos que marcaram o ano de 1968 em Paris. Os objetivos da análise se voltam para a problematização da produção de ícones visuais, discutindo a hipótese de que haveria uma forma de comunicação poética apropriada à narração da experiência revolucionária de "Maio de 68".
Esta tese apresenta uma pesquisa sobre as cartografias afetivas construídas com imagens de arquiv... more Esta tese apresenta uma pesquisa sobre as cartografias afetivas construídas com imagens de arquivo nos ensaios documentais de João Moreira Salles, Santiago (2007) e No Intenso Agora (2017). De sua extensa produção como documentarista, roteirista e produtor do cinema brasileiro, destacamos esses dois títulos para compor o corpus principal desta pesquisa por seu cariz autobiográfico e pelos modos como, em cada produção, mobiliza- se um olhar introspectivo para as memórias pessoais do cineasta e para seus dramas familiares, utilizando-se de imagens de arquivo à maneira do filme-ensaio. Tais filmes constroem uma perspectiva histórica sobre o passado a partir de uma abordagem que realça a memória e a história, transitando entre as dimensões do privado e do coletivo. Metodologicamente, partindo da análise fílmica, a argumentação remete a apreciação crítica dessas obras a um corpus fílmico expandido que abrange a filmografia do diretor e produções culturais com as quais ela dialoga, bem como a materiais extra fílmicos, como informações adicionais contidas nos DVDs, cartazes de divulgação, entrevistas, ensaios jornalísticos, críticas de cinema, resenhas e artigos impressos e disponíveis na internet. Desse modo, identificamos como o diretor desenvolve em seus últimos filmes a elaboração de memórias autobiográficas, familiares e coletivas por meio do cinema criando narrativas em forma de itinerários, roteiros ou percursos, nos quais a figuração dos espaços como imagem é fundamental para a construção do sentido histórico das experiências narradas.
Cronotopias da memória, da imaginação e do esquecimento: cenas dissensuais em dois filmes de Tata Amaral, 2019
Esta pesquisa parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura militar brasi... more Esta pesquisa parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura militar brasileira por ex-presos e perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, para esboçar uma compreensão da elaboração da memória autoritária pela arte da memória do cinema. A discussão sobre o tema é encaminhada a partir de sua abordagem em duas produções do cinema nacional contemporâneo, os filmes Hoje (2011) e Trago Comigo (2016), da cineasta paulistana Tata Amaral. Nessas obras, a distância entre o passado ditatorial e o presente democrático é suprimida pelo prolongamento dos traumas provocados pela tortura e do sofrimento causado pelo desaparecimento e morte de pessoas no cotidiano dos que sobreviveram a essas experiências. Em cada filme, os modos de ressurgência de imagens das vítimas na memória e na imaginação dos sobreviventes e familiares de mortos e desaparecidos apontam para a atualização de seu lugar na narrativa histórica, provocando rasuras no consenso ficcional sobre a ditadura no Brasil e sobre as formas de esquecimento público do passado incitado na cultura política brasileira.
EDUPE, 2024
A obra dialoga, a partir da análise da cultura visual e das visualidades, com a construção histór... more A obra dialoga, a partir da análise da cultura visual e das visualidades, com a construção histórica da colonialidade do olhar e com a crítica decolonial, buscando identificar as derivas do ver, os escapes e as resistências - no plano da cultura - que tensionam e atuam contra os poderes estabelecidos nos domínios da economia e da política. Os artigos contidos nesta obra, em um primeiro momento, investigam a construção histórica da mitologia de nascimento dos EUA com a ode ao progresso como destino, seja na expansão territorial seja na industrialização capitalista. Em um segundo momento, debruçando-se sobre o cone sul, investiga-se a frustração nostálgica de elites da Argentina e do Brasil que buscam consolidar, por meio de projetos arquitetônicos, a síntese de uma perspectiva apartada de sociedade na qual viam o povo como sendo inadequado para a grandeza dos sonhos idealizado de seus pretensos líderes. A obra também agrega a entrevista com o historiador Francisco Santiago, especialista em História e cultura visual.
Idealizado durante o XII Encontro Estadual de História – ANPUH Pará “Passado e Presente: Os desaf... more Idealizado durante o XII Encontro Estadual de
História – ANPUH Pará “Passado e Presente: Os desafios
da história social e do ensino”, evento online ocorrido
entre os dias 02 e 04 de dezembro de 2020, este livro
reúne artigos derivados das pesquisas apresentadas
no Simpósio Temático “História e linguagens cinematográficas”.
Interseções Revista de Estudos Interdisciplinares, 2024
Partindo da análise fílmica de No Intenso Agora, documentário ensaístico lançado em 2017 por João... more Partindo da análise fílmica de No Intenso Agora, documentário ensaístico lançado em 2017 por João Moreira Salles, este artigo apresenta uma reflexão sobre a figuração do espaço urbano de cidades ao redor do mundo, em que ocorreram levantes no final da década de 1960 nas imagens de arquivo incorporadas ao filme. Com foco no enquadramento em imagens das localidades mobilizadas como chaves interpretativas para a construção de sua narrativa, identifica-se como o documentário (re)produz os espaços urbanos, considerando que as imagens cinematográficas engendram noções de espaço. Assim, categorias como paisagem, atmosfera afetiva e janela são problematizadas como conceitos históricos, atando um feixe de temporalidades que abrange passados e presentes históricos, pessoais, familiares e coletivos, associados a experiências de revoltas urbanas.
Locus: Revista de História, 2023
Este artigo apresenta uma análise do gesto do lançamento de pedras, bombas ou coquetéis molotov, ... more Este artigo apresenta uma análise do gesto do lançamento de pedras, bombas ou coquetéis molotov, recorrente em manifestações públicas de protesto contra o status quo ao longo da história, voltada para a sua figuração em imagens, buscando apreender os sentidos históricos, estéticos e políticos de seus usos. Traçando uma genealogia da representação artística desse gesto apoiada na teoria do anacronismo da imagem de Georges Didi-Huberman, o identificamos como uma imagem sobrevivente, cujas matrizes remontam à prática esportiva ateniense da Antiguidade clássica, atravessando a história da arte ocidental por meio de reproduções de sua fórmula de páthos em diferentes suportes, como a escultura, a fotografia, a serigrafia, o grafite e o cinema. Desse modo, percebemos como as imagens dos lançadores de pedras são investidas historicamente de sentidos políticos revolucionários, constituindo parte fundamental das narrativas visuais de levantes na contemporaneidade.
Temporalidades – Revista de História, 2023
Este artigo discute a articulação de um discurso saudoso dos chamados “anos dourados”, a mítica d... more Este artigo discute a articulação de um discurso saudoso dos chamados “anos dourados”,
a mítica década de 1950, com um diagnóstico de decadência contemporânea do Brasil no
documentário Santiago (2007), do cineasta e produtor carioca João Moreira Salles. A partir de uma
análise fílmica voltada para o percurso espacial traçado na rememoração das lembranças de infância e
juventude do diretor nessa produção, abordada pela crítica cinematográfica sobretudo do ponto de
vista de seus méritos estéticos e por sua autorreflexividade, esta reflexão focaliza a construção
imagética no filme da antiga residência da família Moreira Salles no Rio de Janeiro, destacando a
atribuição de um sentido alegórico totalizante para o seu cenário e a elaboração de um discurso
ancorado na saudade de um passado áureo, tanto familiar quanto nacional.
albuquerque: revista de história, , 2022
Este artigo apresenta uma reflexão sobre as relações estabelecidas de modo ensaístico... more Este artigo apresenta uma reflexão sobre as relações estabelecidas de modo ensaístico entre memórias, histórias e imagens de imagens de arquivo no documentário Santiago, lançado no Brasil em 2007 pelo cineasta carioca João Moreira Salles. Ao trazer para o primeiro plano da análise fílmica a construção cinematográfica da personagem que dá nome ao filme, o recurso às formas do antecampo na montagem e o caráter cinéfilo da obra, este texto lança um olhar sobre aspectos pouco discutidos do documentário.
Em Tempo de Histórias, 2020
Resumo: esta análise parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura milita... more Resumo: esta análise parte do vazio aberto pela perda de entes queridos durante a ditadura militar brasileira por ex-presos e perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, para esboçar uma compreensão da elaboração da memória autoritária pela arte da memória do cinema. A discussão sobre o tema é encaminhada a partir de sua abordagem em duas produções do cinema nacional contemporâneo, os filmes Hoje (2011) e Trago Comigo (2016), da cineasta paulistana Tata Amaral. Nessas obras, a distância entre o passado ditatorial e o presente democrático é suprimida pelo prolongamento dos traumas provocados pela tortura e do sofrimento causado pelo desaparecimento e morte de pessoas no cotidiano dos que sobreviveram a essas experiências.
O enredo do filme “Hoje”, da cineasta paulistana Tata Amaral, narra o drama de uma mulher diante ... more O enredo do filme “Hoje”, da cineasta paulistana Tata Amaral, narra o drama de uma mulher diante da perda de seu companheiro, morto pelo aparato repressivo da ditadura militar brasileira de 1964 a 1985 e considerado oficialmente como desaparecido político. Apesar de sua ausência, a memória da protagonista torna-o presente na narrativa e a obriga a ressignificar a dor de sua perda e atualizar sua condição de ser-no-mundo. A partir da encenação das personagens, discutimos aspectos referentes aos gêneros em jogo na relação entre ambas, bem como a temporalidade do luto e da memória construída no filme, conjecturando sobre o quanto a memória pode ser sexuada e analisando a dimensão de gênero que constitui a subjetividade.
Vozes, Pretérito & Devir Ano II, Vol. III, Num.I (2014) Dossiê Temático: Intelectuais, historiografia e literatura
Resumo: O presente artigo intenta estabelecer um diálogo entre as concepções de Bachelard, fenome... more Resumo: O presente artigo intenta estabelecer um diálogo entre as concepções de Bachelard, fenomenólogo interessado nos devaneios da arte poética, e as considerações acerca da literatura de Jacques Rancière, filósofo que entrevê formas de emancipação política na arte. As considerações a seguir são desenvolvidas a partir de uma discussão dos conceitos de ritmanálise e poético-análise, conforme apresentados na obra de Bachelard, acrescentando as contribuições de Rancière ao debate, a partir do conceito de " regime estético da arte ".
INTERESPE. INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO, 2017
Resumo: inspirados por uma interrogação da primeira expoente da Psicologia Analítica no Brasil, N... more Resumo: inspirados por uma interrogação da primeira expoente da Psicologia Analítica no Brasil, Nise da Silveira, propomos neste ensaio uma reflexão sobre a pertinência do pensamento de Carl Gustav Jung para a atualidade a partir de aspectos de sua autobiografia. Em seus escritos compilados nessa obra, o autor descreve experiências subjetivas e mobiliza conhecimentos orientais que colocam em questão o paradigma racionalista ocidental. Nossa discussão perpassa desse modo o âmbito de sua experiência pessoal e se encaminha para a relevância de sua doutrina para o conhecimento humano.
Prof. Drª. Mônica Brincalepe Campo (UFU) Organizadores Prof. Drª. Ana Paula Spini (UFU) Prof. Drª... more Prof. Drª. Mônica Brincalepe Campo (UFU) Organizadores Prof. Drª. Ana Paula Spini (UFU) Prof. Drª. Mônica Brincalepe Campo (UFU) Vinícius Alexandre Rocha Piassi (UFU) Renata Silveira Dutra (UFU) 23ª EDIÇÃO, JUL-DEZ, 2015 REVISTA CANTAREIRA EDITORES PARECERISTAS Apresentação Vinícius Alexandre Rocha Piassi 1 Um escrito do câmera polonês Boleslas Matuszewski, de 1898, é identificado por Mônica Kornis, em um balanço histórico a respeito dos estudos históricos sobre cinema como o primeiro trabalho relativo ao valor do filme como documento histórico. Neste escrito de Mastuszewski, o autor defendia o valor da imagem cinematográfica como testemunho ocular verídico e infalível, sendo que estas observações se referiam ao filme documentário, produção predominante na época, e baseavam-se em um princípio de autenticidade do registro. Somente décadas mais tarde ela seria questionada em um debate acerca do cinema mudo entre os cineastas russos Dziga Vertov e Serguei Eisenstein. No debate, uma nova definição surgiria, e afirmaria que a natureza da imagem cinematográfica é também ela um constructo 2 . O historiador francês Marc Ferro, considerado o principal responsável pela incorporação do cinema na pesquisa histórica, viria a se referir a essa discussão em sua confrontação da ideia de que o documentário seria mais objetivo que a ficção, argumentando que ambos devem ser objetos de uma análise cultural e social. Alinham-se a essa perceptiva sobre as relações entre o cinema e a história, as considerações do escritor alemão Siegfried Kracauer, que contribuiu significativamente para os estudos nesse domínio ao estabelecer ligações entre um filme e seu meio de produção em suas análises, atribuindo aos filmes de ficção a capacidade de refletir a mentalidade de uma nação, revelando uma
Simpósio de História, Literatura e Resistência: Narrativas de Conflito, historiografia e escrita em momentos de luta, 2024
No espaço dedicado à memória das vítimas dos levantes da década de 1960 no documentário No Intens... more No espaço dedicado à memória das vítimas dos levantes da
década de 1960 no documentário No Intenso Agora (2017), de João
Moreira Salles, analisamos a montagem com imagens de arquivo dos
seus funerais públicos, com foco na construção narrativa do páthos
do luto, considerando as respostas coletivas ao sofrimento lutuoso
como “experiências páticas significativas” constituintes de uma história
das emoções, como aponta Didi-Huberman (2021, p. 65). Para o historiador
francês, eventos históricos como esses, ao abrirem as emoções
para a dimensão coletiva, favorecem a construção de uma política
das emoções, liberando-as da armadilha subjetivista. O deslocamento
do problema da emoção da dimensão subjetiva para a intersubjetiva
e de seu conteúdo psicológico para a esfera social dará destaque à
realidade humana, à singularidade, ao valor real e à potência efetiva
desses eventos, colocando no horizonte de nossa análise a questão da
“dignidade dos povos em lágrimas” defendida pelo autor. Além de uma
miríade de arquivos de origens e temporalidades diversas, o filme de Salles apresenta uma breve seção de cenas brasileiras com imagens
do funeral de Edson Luís de Lima Souto, estudante secundarista do
Instituto Cooperativo de Ensino assassinado aos dezoito anos pela
Polícia Militar do Estado da Guanabara, atual Rio de Janeiro, durante a
ditadura militar, produzidas por Eduardo Escorel e José Carlos Avellar.
As imagens do cortejo fúnebre de seis quilômetros pelo qual o corpo
do jovem pobre de Belém do Pará foi carregado por estudantes até a
escadaria da Santa Casa da Misericórdia e de seu velório, para o qual
compareceram centenas de pessoas, emergem nessa análise como cerne
da construção visual do páthos do luto em No Intenso Agora em tensão
com a narração em voz over, propiciando um rico debate sobre o luto
compartilhado em prol das vítimas da década de 1960.
Seminário Internacional Fazendo Gênero 13 (Anais Eletrônicos), 2024
Este trabalho apresenta os resultados iniciais de uma pesquisa transdisciplinar que integra os ca... more Este trabalho apresenta os resultados iniciais de uma pesquisa transdisciplinar que integra os campos da história, da cultura visual e dos estudos queer para investigar como são abordados identidades, subjetividades e desejos masculinos contemporâneos por meio da figuração de corpos de homens nus e seminus na obra de Francisco Hurtz produzida na última década. Entre a diversificada produção desse artista visual paulistano, composta de desenhos, pinturas, esculturas, fotografias, ilustrações, gravuras e colagens, selecionamos aquelas que tematizam o corpo masculino e expressam um olhar crítico em relação à construção da masculinidade branca, cisgênera e heterossexual como norma identitária. Por meio da seriação e análise das obras de Hurtz, identificamos o conjunto de suas produções que focaliza o masculino como objeto de desconstrução e releitura de uma perspectiva queer, prosseguindo com o exame de seus traços icônicos e sígnicos, com atenção para a materialidade de seus diferentes suportes e linguagens, bem como para suas condições de emergência na segunda década do século XXI no Brasil. Considerando o fenômeno transnacional de apropriação dos desenhos do artista por meio de tatuagens, estendemos nossa análise aos significados estéticos, éticos e políticos da inscrição nos corpos de homens gays ao redor do mundo dos traços de Hurtz.
XIV Encontro Estadual de História da Anpuh-PE, 2022
Em entrevista concedida à Revista Bravo!, em 2008, Salles faz um elogio ao acaso, ao elemento sur... more Em entrevista concedida à Revista Bravo!, em 2008, Salles faz um elogio ao acaso, ao elemento surpresa e acidental como parte fundamental de um documentário, e critica a pretensão a um controle total da produção nesse domínio. O cineasta utiliza a metáfora do mapa como um guia limitador da experiência do realizador no campo do cinema documental: Há documentaristas que saem para a rua com um mapa, sabendo o que procuram. E há aqueles que saem sem mapa nenhum e sem saber direito o que querem. Estes me interessam mais hoje em dia. Eu, antigamente, carregava um mapa. E o mapa só indicava uma autoban, uma rodovia plana; não considerava atalhos ou estradas vicinais (SALLES, 2008). Nessa ocasião, o documentarista afirma que "carregava um mapa" no início de sua carreira, como se observa em seus primeiros trabalhos até a elaboração do projeto de Santiago, marcado pela tentativa insistente de controle das cenas pelo diretor, mas declara sua preferência atual por uma postura profissional mais transigente em relação aos mundos que se abrem diante de uma câmera. Em outra entrevista concedida no mesmo ano aos pesquisadores Edgardo Dieleke e Gabriela Nouzeilles, Salles elaborou a seguinte reflexão sobre sua trajetória profissional: Treze anos atrás, eu era um documentarista de um tipo muito diferente. Acho que a diferença básica, em uma palavra, é o controle. Eu acreditava naquela época que filmar significava controlar o ambiente. Você controla tudo, a luz, o enquadramento e, principalmente, você controla seus personagens. Com o tempo, fiquei mais interessado naqueles documentários que não sabem exatamente como controlar o ambiente, documentários que incorporam o acaso. Documentaristas que incorporam o acaso saem pelo mundo sem saber de antemão o que farão;
Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia, 2021
Santiago Badariotti Merlo é o protagonista do célebre documentário de João Moreira Salles, de 200... more Santiago Badariotti Merlo é o protagonista do célebre documentário de João
Moreira Salles, de 2007, que leva o seu nome. O antigo mordomo argentino da casa da
família do cineasta na Gávea o recebeu em seu apartamento no Leblon, em 1992, para
gravar as cenas de entrevista que integram o filme. A partir de sua análise, identificamos
na encenação do personagem a adoção de elementos de uma estética visual e performática
camp, como forma de expressão subjetiva e de identificação entre semelhantes, uma vez
impedido de se declarar abertamente no filme como homem gay. No documentário, o
camp adquire uma dimensão genuinamente política a partir do desejo de Santiago de
expressar-se e de narrar-se.
Anais do XVII Encontro Regional de História (Anpuh-PR), 2020
Este trabalho apresenta apontamentos iniciais de uma análise iconográfica do arquivo imagético do... more Este trabalho apresenta apontamentos iniciais de uma análise iconográfica do arquivo imagético dos eventos que marcaram o ano de 1968 em Paris. Os objetivos da análise se voltam para a problematização da produção de ícones visuais, discutindo a hipótese de que haveria uma forma de comunicação poética apropriada à narração da experiência revolucionária de "Maio de 68".
Anais do Colóquio do Grupo de Pesquisa o Corpo e a Imagem no Discurso, 2017
Este artigo sintetiza apontamentos iniciais de uma análise do drama da protagonista do filme “Hoj... more Este artigo sintetiza apontamentos iniciais de uma análise do drama da protagonista do filme “Hoje” (2011), de Tata Amaral, a partir de suas relações com a memória de seu companheiro, já morto. O enredo dessa produção tematiza os conflitos íntimos de Vera, personagem de Denise Fraga, diante da falta de Luiz, morto pelo aparato repressivo da ditadura militar brasileira de 1964 a 1985, quando ambos militavam em um grupo de resistência armada, e considerado oficialmente como desaparecido político do regime. A partir da mudança de Vera para um apartamento antigo na região central de São Paulo, comprado com o dinheiro de uma indenização recebida do Estado pelo desaparecimento de Luiz, sua memória se impõe em meio a situações prosaicas do dia, desencadeando em Vera conflitos psicológicos e sentimentos contraditórios que a obrigam a ressignificar a dor de sua perda e a atualizar sua forma própria de ser-no-mundo. Os recursos cinematográficos para a presentificação do personagem no filme enfatizam a temporalidade kairológica da memória e relativizam as categorias tradicionais da representação em relação às articulações possíveis entre o passado e o presente, na medida em que não opera um corte entre ambos, mas explora a ressurgência de um no outro.
Anais do II Seminário de História e Cultura: imagens na escrita da História, 2014.
Resumo: Este trabalho analisa as considerações do filósofo Jacques Rancière acerca do estatutodas... more Resumo: Este trabalho analisa as considerações do filósofo Jacques Rancière acerca do estatutodas imagens no regime de produção artística constituído no século XIX que ele denomina de regime estético da arte. O debate que se segue pretende estender suas contribuições a uma abordagem cultural da história, vislumbrando uma ampliação da noção de imagem enquanto objeto de estudo histórico a partir da problematização do seu uso como representação. Discute-se a noção de representação na perspectiva adotada por Roger Chartier como uma das noções centrais para a História Cultural, para relativizá-la à luz das proposições de Rancière. Em uma análise comparativa, percebe-se como as reflexões desse autor sobre imagens artísticas se opõem à noção de representação utilizada por Chartier, que figura como um dos conceitos mais recorrentes no âmbito das abordagens culturais.
Anais do III Seminário de História e Cultura: Gênero e Historiografia Universidade Federal de Uberlândia, 2015.
Resumo: O filme Que Bom Te Ver Viva, lançado em 1989, foi o primeiro longa-metragem produzido por... more Resumo: O filme Que Bom Te Ver Viva, lançado em 1989, foi o primeiro longa-metragem produzido por Lúcia Murat. Dedicado a discutir a condição de mulheres sobreviventes das sevícias da ditadura militar brasileira, o docudrama explora as memórias de suas experiências por meio de depoimentos intercalados a um monólogo interpretado por uma atriz profissional. Como essas memórias se manifestam e as possibilidades de elaboração do trauma que representam são algumas das questões que se pretende analisar neste trabalho, bem como a carga moral vinculada às experiências narradas e a imbricação entre as memórias pessoais e as memórias compartilhadas reconstruídas. Desse modo, espera-se entrever o engajamento subjetivo da cineasta na tematização de uma questão sensível como a tortura e ponderar sobre a exclusividade de personagens femininas no filme, considerando as práticas sócio-cultuais presentes na operação que constitui a memória.
Anais do Seminário América Latina: Cultura, História e Política, 2015.
Este trabalho discute, entre os múltiplos papeis assumidos por Ernesto Guevara de La Serna em sua... more Este trabalho discute, entre os múltiplos papeis assumidos por Ernesto Guevara de La Serna em sua trajetória pela América Latina, um título adquirido postumamente: o de santo. San Ernesto de La Higuera é a figura central do documentário Santo Che, que delineia a construção da imagem de Guevara como santo popular depois de sua morte em 1967 e a presença de um mito envolvendo sua figura no imaginário daquela comunidade. São apresentadas pela produção duas faces de Ernesto Che Guevara: a do guerrilheiro argentino, e a do santo que se torna após sua morte. No entanto, visando discutir o caráter multifacetado do personagem histórico de Che Guevara, que extrapola a dubiedade de santo popular e símbolo revolucionário construída pelo documentário, este trabalho o situa em relação a outras produções do gênero que também abordam esse personagem, explorando outras perspectivas a seu respeito e apresentando diferentes percepções acerca de sua imagem.