Marta Ferreira D'Oxum | Universidade Estadual de Campinas (original) (raw)
Papers by Marta Ferreira D'Oxum
Religião, política, poder e cultura na América Latina, 2012
Revisão e normalização: Cada autor e autora dos textos inscritos neste livro é responsável pela r... more Revisão e normalização: Cada autor e autora dos textos inscritos neste livro é responsável pela revisão, pela normalização (adequação às normas técnicas de trabalhos científicos) e pela honestidade intelectual e retém ou preserva os direitos de imagens que eventualmente possa vir a utilizar em seu texto. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha elaborada pela Biblioteca da EST R382 Religião, política, poder e cultura
Joãosinho da Goméa, 2021
Capítulo 3-"Na mata tem morador": da presença e saber Caboclo no Brasil encantado de Joãozinho da... more Capítulo 3-"Na mata tem morador": da presença e saber Caboclo no Brasil encantado de Joãozinho da Goméia .
O presente artigo situa-se no debate do currículo de História nos anos iniciais do Ensino Fundame... more O presente artigo situa-se no debate do currículo de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como premissa uma educação democrática, plural e com significados para os alunos das classes trabalhadoras que vivem em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense, RJ. Para isso, buscou-se explorar a experiência do Museu Vivo do São Bento e suas diferentes perspectivas no processo de usos do contexto do território para elaborar significados, identidades e pertencimento. No texto se propõe uma articulação entre currículo, temporalidades e territórios para o ensino da História, considerando as singularidades de contextos locais e as engenhosidades cotidianas como conteúdo para o trabalho em sala de aula.
RESUMO Pensar a produção de saberes através das narrativas circulantes no espaço do terreiro e co... more RESUMO Pensar a produção de saberes através das narrativas circulantes no espaço do terreiro e como esses saberes/narrativas contribuem para a formação de identidades são alguns dos diálogos e reflexões propostos neste ensaio. A partir das falas de uma adolescente candomblecista e sua trajetória dentrofora do terreiro, vou buscando caminhos possíveis, a partir das práticas cotidianas desse espaçotempo de tradições afrodiaspóricas, para pensar sobre narrativas outras e suscitar perguntas sobre escritas outras. Também considerar como esses saberes podem contribuir para a formação de identidades para além das formatações ocidentais postas.
Neste texto pretendemos abordar a construção de narrativas em uma perspectiva decolonial a partir... more Neste texto pretendemos abordar a construção de narrativas em uma perspectiva decolonial a partir de Tata Londirá, pai de santo conhecido como Joãozinho da Goméia, que tem um papel singular na visibilidade do candomblé do século XX. A noção de narrativa e suas relações com o encantamento em práticas afrodiásporicas pretende ser discutida pelo deslocamento da dicotomia colonial posta entre sociedades orais e sociedades letradas, entre oral-escrito que colocou uma centralidade da noção de escrita apenas atrelada ao verbal. Tal divisão relegou tais práticas apenas ao âmbito da oralidade como forma de oposição e ausência de escrita. Pretendemos, a partir das zuelas (cantos) e axós (vestimentas do candomblé) de Tata Londirá, discutir os modos de produção das narrativas no candomblé de Joãozinho da Goméia e as relações que podem ser estabelecidas entre encantamento e a produção de outros modos de escrita. Além disso, discutimos a força de narrador de Tata Londirá ao transpor para fora dos muros dos terreiros tais narrativas em toda sua estética, visualidade e encantamento.
Dossiê Infâncias e crianças indígenas, quilombolas e de outros povos tradicionais: (re)existênciase agenciamentos, 2020
RESUMO: Para compreender qual é o lugar da infância e como as crianças crescem e se desenvolvem e... more RESUMO: Para compreender qual é o lugar da infância e como as crianças crescem e se desenvolvem em sua comunidade de origem é preciso olhar atento, ouvido à espreita e muito tempo sentada ou pulando com elas. Este artigo é fruto de 10 anos de pesquisa; dormindo e acordando com as crianças de candomblé fomos percebendo que elas crescem entre adultos, correndo, pulando, brincando e protagonizando o seu cotidiano e nas redes sociais digitais dão visibilidade as suas vivencias a partir das suas narrativas digitais: fotografias, vídeos e comentários. Neste texto apresentamos os desafios dessas crianças e suas mães na luta contra o racismo religioso no contexto da cibercultura. O toque epistemológico e metodológico foi possível a partir do nosso encontro com a epistemologia ancestral e a concepção de criança e infância. Palavras-chave: Redes Educativas. Crianças. Epistemologia Ancestral. Cibercultura. ABSTRACT: In order to understand the place of childhood and how children grow and develop in their community of origin, it is necessary to look attentively, listen to the lurking and long sitting or jumping with them. This article is the result of 10 years of research; sleeping and waking up with the children of candomblé, we have noticed that they grow up among adults, running, jumping, playing and protagonizing their daily life and in the digital social networks give visibility their
Revista Interdisciplinar SULEAR, 2019
Resumo Este ensaio tem por objetivo refletir sobre as escritas outras bem como suas narrativas ex... more Resumo Este ensaio tem por objetivo refletir sobre as escritas outras bem como suas narrativas existentes e invisibilizadas pela ordem ocidental. Pensar as riquezas das narrativas que encontramos e experienciamos nos espaçostempos de religiosidades afrodiaspóricas dos terreiros de candomblés, que comporta sempre um aspecto performativo (SCHIFFLER, 2017), oral e escrito outro, o que faz SULear nossos diálogos com/nesses espaçostempos. São epistemes sul-sul, carregadas de significados, significantes, ressignificações contidas nesse mundo predominantemente ocidental. Sobreviventes dos epistemicídios que nos assolaram e assolam das mais variadas formas; epistemicídio que desperdiça muita experiência social e reduz a diversidade epistemológica, cultural e política do mundo (SANTOS e MENESES, 2010). Pensar que, por outro lado, também é subversão de uma ordem estabelecida, um exemplo de desobediência epistêmica. Fazendo um exercício, uma tentativa de perceber como essas práticas não eurocentradas podem ser lidas como rasuras provocadas pelas tensões das relações dos espaçostempos variados, em que valores normativos ocidentais vigentes e "letrados" contidos e constitutivos da escola vão de encontro aos saberes construídos e ressignificados nos espaçostempos afrodiaspóricos dos terreiros de candomblés e como o epistemicídio, que tem por objetivo nosso apagamento enquanto povo afrodiaspórico, fortalece a que propagação de uma só narrativa válida, invisibilizando e silenciando tantas outras narrativas. Abstract This essay aims to reflect on other writings as well as their existing narratives and invisible by the Western order. To think of the riches of the narratives that we find and experience in the aphrodiasporic religiosity spaces of candomblés terreiros, which always has a performative aspect (SCHIFFLER, 2017), oral and written another, which makes SULear our dialogues with / in these spaces. They are south-south epistemes, loaded with meanings, significant, resignifications contained in this predominantly western world. Survivors of the epistemicides that have plagued and devastated us in many different ways; epistemicide that wastes a lot of social experience and reduces the epistemological, cultural and political diversity of the world (SANTOS e MENESES, 2010). To think that, on the other hand, is also subversion of an established order, an example of epistemic disobedience. In an exercise, an attempt to understand how these non-Eurocentric practices can be read as erasures caused by the tensions of relationships of varying spacetimes, in which current and "literate" contained and constitutive Western normative values of the school meet the constructed and resignified knowledge. in the aphrodiasporic spacetimes of candomblés terreiros and how epistemicide, which aims at our erasure as aphrodiasporic people, strengthens the spread of a single valid narrative, making invisible and silencing so many other narratives.
Este artigo é parte inicial da pesquisa de doutorado, que se propõe a analisar 244 páginas manusc... more Este artigo é parte inicial da pesquisa de doutorado, que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas com histórias de òriṣá, chamadas de ìtàn. Esses escritos foram construídos nos cotidianos de terreiros de candomblé, das mais variadas denominações, por uma mãe de santo que deixou-os de herança para um dos seus filhos de santo, hoje um pai de santo, que explica detalhadamente as práticas ritualísticas para que as mesmas façam sentido aos seus filhos de santo (crianças, jovens e adultos). Pensando a partir da minha própria experiência enquanto candomblecista e o exercício de uma filosofia que se pretende afrodiaspórica, vou narrando o caminho trilhado para pensar a pesquisa e suas possíveis hipóteses. O repasse e a produção de conhecimentos nos espaçostempos em que esses ìtàn circulam, a partir de uma filosofia afrodiaspórica, também serão analisados ainda de forma inicial, considerando os dialogismos e enunciados percebidos até então. Esses escritos de așé, e as influências dessa herança, servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que têm como base fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros do terreiro. Construções orais e escritas realizadas em um terreiro de candomblé, no município de Duque de Caxias -RJ, que dialogam cotidianamente nesses espaçostempos.
Ìtàn - oralidades e escritas: um estudo de caso sobre cadernos de hunkó e outras escritas no Ìlè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá, 2015
Dissertação Mestrado/Educação UERJ
Este artigo é fragmento da pesquisa realizada em um terreiro de candomblé localizado na Baixada F... more Este artigo é fragmento da pesquisa realizada em um terreiro de candomblé localizado na Baixada Fluminense. Partindo do processo de construção do que chamo cadernos/diários de crianças e adolescentes praticantes da religião, analiso esses processos com base nos registros escritos e seu repasse dentro do terreiro de candomblé, onde fazem parte do cotidiano, sendo desdobramento de uma prática pouco comum nos espaços de religiosidade afrodescendente. Neste artigo, especificamente, procuro refletir sobre a trajetória da liderança religiosa desse espaço, a pessoa que incentiva a escrita desses cadernos/diários e auxilia na sua construção ritualística, repassando, ressignificando saberes construídos durante o seu fazer cotidiano na religião e nos demais espaços que o constituem. Palavras-chave: Educação; redes educativas; candomblé.
Este artigo é parte inicial de uma de pesquisa, que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas ... more Este artigo é parte inicial de uma de pesquisa, que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas com histórias de òriṣá, ìtàn, coletadas nos cotidianos de terreiros de candomblé, por uma mãe de santo 2 , e a produção de conhecimentos nos espaçostempos 3 em que esses ìtàn circulam. Esses escritos de așé, recebidos como herança por seu filho de santo -hoje, pai de santo -, e as influências dessa herança, servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que têm como base fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros do terreiro.
Este artigo é fragmento da dissertação "Ìtàn -oralidades e escritas: um estudo de caso de caderno... more Este artigo é fragmento da dissertação "Ìtàn -oralidades e escritas: um estudo de caso de cadernos de hunkó e outras escritas no Ilè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá", na qual analiso as redes educativas construídas no terreiro de candomblé Ilè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá partindo dos ìtàn (histórias de òrìṣà) como narrativa histórica que dá sentido à religião, bem como dos cadernos/diários de crianças e adolescentes candomblecistas, que registram por escrito aquilo que é aprendido nos cotidianos desse terreiro. A língua yorubá surge como ponto comum nesses cadernos/diários, através dos ìtàn, das aduras (rezas), e dos glossários. As análises desses registros escritos e as configurações dos textos nos cadernos/ diários serão apresentadas neste texto, que busca refletir sobre o aprender no terreiro e o aprender na escola. Palavras-chave: narrativas históricas; educação; Candomblé.
Thesis Chapters by Marta Ferreira D'Oxum
Tese Faculdade de Educação UNICAMP, 2024
Este trabalho de pesquisa se propõe anunciar a educação nosdos Terreiros, apresentando conceitos,... more Este trabalho de pesquisa se propõe anunciar a educação nosdos Terreiros, apresentando conceitos, categorias e metodologia a partir dos saberes ancestrais que constituem os terreiros de candomblé; no caso desta pesquisa, partindo do Ile Asé Omi Lare Ìyá Sagbá, localizado em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Utilizamos, como fonte principal, manuscritos elaborados nos cotidianos dos terreiros por Maria Helena D’Iánsan, minha avó de santo, dialogando com as histórias ancestrais, ìtáns, buscando seus usos enquanto SULeadores das redes educativas trançadas nos terreiros. Buscamos entender e apresentar essas histórias ancestrais como propagadoras e elaboradoras de conhecimentos específicos que dão forma a uma epistemologia ancestral/de terreiro e todo arcabouço conceitual que emana dela. Elementos do terreiro como corolário de teorizações afrorreferenciadas, elaboradas no chão do terreiro, mas extrapolando seus muros a partir de suas elaborações filosóficas, sociológicas, históricas, educativas. Trata-se de uma resistência aquilombada ao epistemicídio (Carneiro, 2023) infligido à população afrodiaspórica. Nos propomos compreender e publicizar academicamente teorias ancestrais nosdos terreiros como possibilidade de caminho para fortalecer e instrumentalizar nossas lutas cotidianas contra os racismos estrutural, ambiental e, principalmente, o religioso e, também, propomos uma educação que não só atenda ao discurso da branquitude, mas oportunize que nossos conhecimentos sejam levados em consideração e garantam a implementação de políticas públicas educacionais que deem conta das lacunas existentes, provocadas e garantidas por uma cosmovisão embranquecida
Religião, política, poder e cultura na América Latina, 2012
Revisão e normalização: Cada autor e autora dos textos inscritos neste livro é responsável pela r... more Revisão e normalização: Cada autor e autora dos textos inscritos neste livro é responsável pela revisão, pela normalização (adequação às normas técnicas de trabalhos científicos) e pela honestidade intelectual e retém ou preserva os direitos de imagens que eventualmente possa vir a utilizar em seu texto. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha elaborada pela Biblioteca da EST R382 Religião, política, poder e cultura
Joãosinho da Goméa, 2021
Capítulo 3-"Na mata tem morador": da presença e saber Caboclo no Brasil encantado de Joãozinho da... more Capítulo 3-"Na mata tem morador": da presença e saber Caboclo no Brasil encantado de Joãozinho da Goméia .
O presente artigo situa-se no debate do currículo de História nos anos iniciais do Ensino Fundame... more O presente artigo situa-se no debate do currículo de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como premissa uma educação democrática, plural e com significados para os alunos das classes trabalhadoras que vivem em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense, RJ. Para isso, buscou-se explorar a experiência do Museu Vivo do São Bento e suas diferentes perspectivas no processo de usos do contexto do território para elaborar significados, identidades e pertencimento. No texto se propõe uma articulação entre currículo, temporalidades e territórios para o ensino da História, considerando as singularidades de contextos locais e as engenhosidades cotidianas como conteúdo para o trabalho em sala de aula.
RESUMO Pensar a produção de saberes através das narrativas circulantes no espaço do terreiro e co... more RESUMO Pensar a produção de saberes através das narrativas circulantes no espaço do terreiro e como esses saberes/narrativas contribuem para a formação de identidades são alguns dos diálogos e reflexões propostos neste ensaio. A partir das falas de uma adolescente candomblecista e sua trajetória dentrofora do terreiro, vou buscando caminhos possíveis, a partir das práticas cotidianas desse espaçotempo de tradições afrodiaspóricas, para pensar sobre narrativas outras e suscitar perguntas sobre escritas outras. Também considerar como esses saberes podem contribuir para a formação de identidades para além das formatações ocidentais postas.
Neste texto pretendemos abordar a construção de narrativas em uma perspectiva decolonial a partir... more Neste texto pretendemos abordar a construção de narrativas em uma perspectiva decolonial a partir de Tata Londirá, pai de santo conhecido como Joãozinho da Goméia, que tem um papel singular na visibilidade do candomblé do século XX. A noção de narrativa e suas relações com o encantamento em práticas afrodiásporicas pretende ser discutida pelo deslocamento da dicotomia colonial posta entre sociedades orais e sociedades letradas, entre oral-escrito que colocou uma centralidade da noção de escrita apenas atrelada ao verbal. Tal divisão relegou tais práticas apenas ao âmbito da oralidade como forma de oposição e ausência de escrita. Pretendemos, a partir das zuelas (cantos) e axós (vestimentas do candomblé) de Tata Londirá, discutir os modos de produção das narrativas no candomblé de Joãozinho da Goméia e as relações que podem ser estabelecidas entre encantamento e a produção de outros modos de escrita. Além disso, discutimos a força de narrador de Tata Londirá ao transpor para fora dos muros dos terreiros tais narrativas em toda sua estética, visualidade e encantamento.
Dossiê Infâncias e crianças indígenas, quilombolas e de outros povos tradicionais: (re)existênciase agenciamentos, 2020
RESUMO: Para compreender qual é o lugar da infância e como as crianças crescem e se desenvolvem e... more RESUMO: Para compreender qual é o lugar da infância e como as crianças crescem e se desenvolvem em sua comunidade de origem é preciso olhar atento, ouvido à espreita e muito tempo sentada ou pulando com elas. Este artigo é fruto de 10 anos de pesquisa; dormindo e acordando com as crianças de candomblé fomos percebendo que elas crescem entre adultos, correndo, pulando, brincando e protagonizando o seu cotidiano e nas redes sociais digitais dão visibilidade as suas vivencias a partir das suas narrativas digitais: fotografias, vídeos e comentários. Neste texto apresentamos os desafios dessas crianças e suas mães na luta contra o racismo religioso no contexto da cibercultura. O toque epistemológico e metodológico foi possível a partir do nosso encontro com a epistemologia ancestral e a concepção de criança e infância. Palavras-chave: Redes Educativas. Crianças. Epistemologia Ancestral. Cibercultura. ABSTRACT: In order to understand the place of childhood and how children grow and develop in their community of origin, it is necessary to look attentively, listen to the lurking and long sitting or jumping with them. This article is the result of 10 years of research; sleeping and waking up with the children of candomblé, we have noticed that they grow up among adults, running, jumping, playing and protagonizing their daily life and in the digital social networks give visibility their
Revista Interdisciplinar SULEAR, 2019
Resumo Este ensaio tem por objetivo refletir sobre as escritas outras bem como suas narrativas ex... more Resumo Este ensaio tem por objetivo refletir sobre as escritas outras bem como suas narrativas existentes e invisibilizadas pela ordem ocidental. Pensar as riquezas das narrativas que encontramos e experienciamos nos espaçostempos de religiosidades afrodiaspóricas dos terreiros de candomblés, que comporta sempre um aspecto performativo (SCHIFFLER, 2017), oral e escrito outro, o que faz SULear nossos diálogos com/nesses espaçostempos. São epistemes sul-sul, carregadas de significados, significantes, ressignificações contidas nesse mundo predominantemente ocidental. Sobreviventes dos epistemicídios que nos assolaram e assolam das mais variadas formas; epistemicídio que desperdiça muita experiência social e reduz a diversidade epistemológica, cultural e política do mundo (SANTOS e MENESES, 2010). Pensar que, por outro lado, também é subversão de uma ordem estabelecida, um exemplo de desobediência epistêmica. Fazendo um exercício, uma tentativa de perceber como essas práticas não eurocentradas podem ser lidas como rasuras provocadas pelas tensões das relações dos espaçostempos variados, em que valores normativos ocidentais vigentes e "letrados" contidos e constitutivos da escola vão de encontro aos saberes construídos e ressignificados nos espaçostempos afrodiaspóricos dos terreiros de candomblés e como o epistemicídio, que tem por objetivo nosso apagamento enquanto povo afrodiaspórico, fortalece a que propagação de uma só narrativa válida, invisibilizando e silenciando tantas outras narrativas. Abstract This essay aims to reflect on other writings as well as their existing narratives and invisible by the Western order. To think of the riches of the narratives that we find and experience in the aphrodiasporic religiosity spaces of candomblés terreiros, which always has a performative aspect (SCHIFFLER, 2017), oral and written another, which makes SULear our dialogues with / in these spaces. They are south-south epistemes, loaded with meanings, significant, resignifications contained in this predominantly western world. Survivors of the epistemicides that have plagued and devastated us in many different ways; epistemicide that wastes a lot of social experience and reduces the epistemological, cultural and political diversity of the world (SANTOS e MENESES, 2010). To think that, on the other hand, is also subversion of an established order, an example of epistemic disobedience. In an exercise, an attempt to understand how these non-Eurocentric practices can be read as erasures caused by the tensions of relationships of varying spacetimes, in which current and "literate" contained and constitutive Western normative values of the school meet the constructed and resignified knowledge. in the aphrodiasporic spacetimes of candomblés terreiros and how epistemicide, which aims at our erasure as aphrodiasporic people, strengthens the spread of a single valid narrative, making invisible and silencing so many other narratives.
Este artigo é parte inicial da pesquisa de doutorado, que se propõe a analisar 244 páginas manusc... more Este artigo é parte inicial da pesquisa de doutorado, que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas com histórias de òriṣá, chamadas de ìtàn. Esses escritos foram construídos nos cotidianos de terreiros de candomblé, das mais variadas denominações, por uma mãe de santo que deixou-os de herança para um dos seus filhos de santo, hoje um pai de santo, que explica detalhadamente as práticas ritualísticas para que as mesmas façam sentido aos seus filhos de santo (crianças, jovens e adultos). Pensando a partir da minha própria experiência enquanto candomblecista e o exercício de uma filosofia que se pretende afrodiaspórica, vou narrando o caminho trilhado para pensar a pesquisa e suas possíveis hipóteses. O repasse e a produção de conhecimentos nos espaçostempos em que esses ìtàn circulam, a partir de uma filosofia afrodiaspórica, também serão analisados ainda de forma inicial, considerando os dialogismos e enunciados percebidos até então. Esses escritos de așé, e as influências dessa herança, servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que têm como base fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros do terreiro. Construções orais e escritas realizadas em um terreiro de candomblé, no município de Duque de Caxias -RJ, que dialogam cotidianamente nesses espaçostempos.
Ìtàn - oralidades e escritas: um estudo de caso sobre cadernos de hunkó e outras escritas no Ìlè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá, 2015
Dissertação Mestrado/Educação UERJ
Este artigo é fragmento da pesquisa realizada em um terreiro de candomblé localizado na Baixada F... more Este artigo é fragmento da pesquisa realizada em um terreiro de candomblé localizado na Baixada Fluminense. Partindo do processo de construção do que chamo cadernos/diários de crianças e adolescentes praticantes da religião, analiso esses processos com base nos registros escritos e seu repasse dentro do terreiro de candomblé, onde fazem parte do cotidiano, sendo desdobramento de uma prática pouco comum nos espaços de religiosidade afrodescendente. Neste artigo, especificamente, procuro refletir sobre a trajetória da liderança religiosa desse espaço, a pessoa que incentiva a escrita desses cadernos/diários e auxilia na sua construção ritualística, repassando, ressignificando saberes construídos durante o seu fazer cotidiano na religião e nos demais espaços que o constituem. Palavras-chave: Educação; redes educativas; candomblé.
Este artigo é parte inicial de uma de pesquisa, que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas ... more Este artigo é parte inicial de uma de pesquisa, que se propõe a analisar 244 páginas manuscritas com histórias de òriṣá, ìtàn, coletadas nos cotidianos de terreiros de candomblé, por uma mãe de santo 2 , e a produção de conhecimentos nos espaçostempos 3 em que esses ìtàn circulam. Esses escritos de așé, recebidos como herança por seu filho de santo -hoje, pai de santo -, e as influências dessa herança, servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que têm como base fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros do terreiro.
Este artigo é fragmento da dissertação "Ìtàn -oralidades e escritas: um estudo de caso de caderno... more Este artigo é fragmento da dissertação "Ìtàn -oralidades e escritas: um estudo de caso de cadernos de hunkó e outras escritas no Ilè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá", na qual analiso as redes educativas construídas no terreiro de candomblé Ilè Aṣé Omi Larè Ìyá Sagbá partindo dos ìtàn (histórias de òrìṣà) como narrativa histórica que dá sentido à religião, bem como dos cadernos/diários de crianças e adolescentes candomblecistas, que registram por escrito aquilo que é aprendido nos cotidianos desse terreiro. A língua yorubá surge como ponto comum nesses cadernos/diários, através dos ìtàn, das aduras (rezas), e dos glossários. As análises desses registros escritos e as configurações dos textos nos cadernos/ diários serão apresentadas neste texto, que busca refletir sobre o aprender no terreiro e o aprender na escola. Palavras-chave: narrativas históricas; educação; Candomblé.
Tese Faculdade de Educação UNICAMP, 2024
Este trabalho de pesquisa se propõe anunciar a educação nosdos Terreiros, apresentando conceitos,... more Este trabalho de pesquisa se propõe anunciar a educação nosdos Terreiros, apresentando conceitos, categorias e metodologia a partir dos saberes ancestrais que constituem os terreiros de candomblé; no caso desta pesquisa, partindo do Ile Asé Omi Lare Ìyá Sagbá, localizado em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Utilizamos, como fonte principal, manuscritos elaborados nos cotidianos dos terreiros por Maria Helena D’Iánsan, minha avó de santo, dialogando com as histórias ancestrais, ìtáns, buscando seus usos enquanto SULeadores das redes educativas trançadas nos terreiros. Buscamos entender e apresentar essas histórias ancestrais como propagadoras e elaboradoras de conhecimentos específicos que dão forma a uma epistemologia ancestral/de terreiro e todo arcabouço conceitual que emana dela. Elementos do terreiro como corolário de teorizações afrorreferenciadas, elaboradas no chão do terreiro, mas extrapolando seus muros a partir de suas elaborações filosóficas, sociológicas, históricas, educativas. Trata-se de uma resistência aquilombada ao epistemicídio (Carneiro, 2023) infligido à população afrodiaspórica. Nos propomos compreender e publicizar academicamente teorias ancestrais nosdos terreiros como possibilidade de caminho para fortalecer e instrumentalizar nossas lutas cotidianas contra os racismos estrutural, ambiental e, principalmente, o religioso e, também, propomos uma educação que não só atenda ao discurso da branquitude, mas oportunize que nossos conhecimentos sejam levados em consideração e garantam a implementação de políticas públicas educacionais que deem conta das lacunas existentes, provocadas e garantidas por uma cosmovisão embranquecida