Felipe Tito | UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (original) (raw)
Papers by Felipe Tito
Anais: 31º Simpósio Nacional de História - ANPUH, 2021
O ponto de partida para a pesquisa que se encontra em andamento foi a constatação comum à histori... more O ponto de partida para a pesquisa que se encontra em andamento foi a constatação comum à historiografia da morte, tanto internacional como brasileira, de que as atitudes católicas diante da morte, do período medieval até meados do século XIX, foram marcadas pela proximidade entre vivos e mortos, pela familiaridade com o tema da morte e pela adoção de uma série de práticas funerárias com vistas a alcançar a salvação da alma após a morte. Considerando o Cristianismo como religião de salvação, a base das doutrinas elaboradas no âmbito da hierarquia eclesiástica católica terá como foco o destino da alma do fiel após a morte, por ocasião do Juízo Final: se ao Paraíso ou ao Inferno (VOVELLE, 1978, 1983; ARIÈS, 2014, 2017; ARAÚJO, 1997; REIS, 1991; RODRIGUES, 2005; dentre outros).
A base dessa concepção era a busca da chamada “Boa Morte”, considerada pelo clero católico como aquela preparada antecipadamente, ao longo da vida, por meio de atitudes segundo os ensinamentos eclesiásticos e que, na iminência do passamento, seria antecedida pela realização de práticas e rituais com vistas a obter o perdão por eventuais pecados cotidianos e a garantir a intercessão pela alma visando a salvação no pós-morte e, por fim, a ida ao Paraíso. Dentre as práticas e rituais recomendados para esse momento, as mais comumente adotadas eram: a redação do testamento de “últimas vontades”, a recepção dos “últimos sacramentos” (penitência, eucaristia e extrema-unção), o amortalhamento em roupas de santo, o velório, a encomendação da alma, o sepultamento no espaço sagrado dos templos e a realização de sufrágios post-mortem. Por meio dessas e de outras atitudes, o objetivo era garantir o máximo de perdão pelos eventuais erros cometidos em vida e intercessão da corte celestial (Cristo, Virgem Maria, santos e anjos) pela alma dos fiéis que morressem amparados pela intermediação do clero católico e pela companhia das irmandades religiosas, de familiares, parentes e demais membros da comunidade paroquial.
Não só os trabalhos indicados nas referências bibliográficas citadas no primeiro parágrafo, mas outros inúmeros estudos que se voltaram para esse que é um dos temas mais pesquisados no âmbito da historiografia da morte, abordaram questões em torno das concepções ou das práticas rituais sobre a Boa Morte. A nossa pesquisa segue no sentido oposto, ao propor o estudo do que poderíamos chamar de Má Morte ou Mal Morrer. Trata-se de uma temática que ainda não mereceu investigação específica no Brasil.
Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em História da UFRRJ, 2019
Esta pesquisa tem como premissa analisar os testamentos dos alforriados, moradores do Termo de Ma... more Esta pesquisa tem como premissa analisar os testamentos dos alforriados, moradores do Termo de Mariana, Capitania de Minas Gerais, dentre, aproximadamente, os anos de 1727 e 1783. Com esse objeto de estudo buscamos compreender as estratégias de ação utilizadas pelos homens e mulheres alforriados por meio de suas atitudes diante da morte, através do testamento, visando apontar o entendimento desses egressos do cativeiro, no que tange ao que seria uma “boa morte”. Dessa forma, estudando os ritos fúnebres e os legados materiais dos alforriados, conseguimos alcançar a subjetividade de cada documento de últimas vontades, mediante os seus recursos e orientações valorativas, no que compete a atuação desses testadores forros, visando uma ascensão espiritual e social no momento da morte.
Anais: 31º Simpósio Nacional de História - ANPUH, 2021
O ponto de partida para a pesquisa que se encontra em andamento foi a constatação comum à histori... more O ponto de partida para a pesquisa que se encontra em andamento foi a constatação comum à historiografia da morte, tanto internacional como brasileira, de que as atitudes católicas diante da morte, do período medieval até meados do século XIX, foram marcadas pela proximidade entre vivos e mortos, pela familiaridade com o tema da morte e pela adoção de uma série de práticas funerárias com vistas a alcançar a salvação da alma após a morte. Considerando o Cristianismo como religião de salvação, a base das doutrinas elaboradas no âmbito da hierarquia eclesiástica católica terá como foco o destino da alma do fiel após a morte, por ocasião do Juízo Final: se ao Paraíso ou ao Inferno (VOVELLE, 1978, 1983; ARIÈS, 2014, 2017; ARAÚJO, 1997; REIS, 1991; RODRIGUES, 2005; dentre outros).
A base dessa concepção era a busca da chamada “Boa Morte”, considerada pelo clero católico como aquela preparada antecipadamente, ao longo da vida, por meio de atitudes segundo os ensinamentos eclesiásticos e que, na iminência do passamento, seria antecedida pela realização de práticas e rituais com vistas a obter o perdão por eventuais pecados cotidianos e a garantir a intercessão pela alma visando a salvação no pós-morte e, por fim, a ida ao Paraíso. Dentre as práticas e rituais recomendados para esse momento, as mais comumente adotadas eram: a redação do testamento de “últimas vontades”, a recepção dos “últimos sacramentos” (penitência, eucaristia e extrema-unção), o amortalhamento em roupas de santo, o velório, a encomendação da alma, o sepultamento no espaço sagrado dos templos e a realização de sufrágios post-mortem. Por meio dessas e de outras atitudes, o objetivo era garantir o máximo de perdão pelos eventuais erros cometidos em vida e intercessão da corte celestial (Cristo, Virgem Maria, santos e anjos) pela alma dos fiéis que morressem amparados pela intermediação do clero católico e pela companhia das irmandades religiosas, de familiares, parentes e demais membros da comunidade paroquial.
Não só os trabalhos indicados nas referências bibliográficas citadas no primeiro parágrafo, mas outros inúmeros estudos que se voltaram para esse que é um dos temas mais pesquisados no âmbito da historiografia da morte, abordaram questões em torno das concepções ou das práticas rituais sobre a Boa Morte. A nossa pesquisa segue no sentido oposto, ao propor o estudo do que poderíamos chamar de Má Morte ou Mal Morrer. Trata-se de uma temática que ainda não mereceu investigação específica no Brasil.
Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em História da UFRRJ, 2019
Esta pesquisa tem como premissa analisar os testamentos dos alforriados, moradores do Termo de Ma... more Esta pesquisa tem como premissa analisar os testamentos dos alforriados, moradores do Termo de Mariana, Capitania de Minas Gerais, dentre, aproximadamente, os anos de 1727 e 1783. Com esse objeto de estudo buscamos compreender as estratégias de ação utilizadas pelos homens e mulheres alforriados por meio de suas atitudes diante da morte, através do testamento, visando apontar o entendimento desses egressos do cativeiro, no que tange ao que seria uma “boa morte”. Dessa forma, estudando os ritos fúnebres e os legados materiais dos alforriados, conseguimos alcançar a subjetividade de cada documento de últimas vontades, mediante os seus recursos e orientações valorativas, no que compete a atuação desses testadores forros, visando uma ascensão espiritual e social no momento da morte.