Eurico Carvalho | Universidade do Porto (original) (raw)

Papers by Eurico Carvalho

Research paper thumbnail of O Fim Da Arte, O Tédio E A Miséria Da Vida Quotidiana

Aufklärung: journal of philosophy, Mar 11, 2014

Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma ... more Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma crítica do presente. Deste ponto de vista, tornase manifesto o facto iniludível de a Arte e a Revolução, enquanto práticas de ruptura criativa, estarem em crise. Daí que seja imperativo reler Guy Debord, que tanto recusou a estetização da política (a atitude histérica dos fascistas) como a politização da estética (a obsessão totalitária do estalinismo). Para uma hermenêutica da contemporaneidade, a sua obra é, por certo, um lugar incontornável. Proválo, em suma, constitui o desígnio deste ensaio.

Research paper thumbnail of A poetics of everyday LIFE — GUY Debord and the Situationist International

DOAJ (DOAJ: Directory of Open Access Journals), Apr 1, 2016

Research paper thumbnail of D’A sociedade do espetáculo 2(1967) aos Comentários (1988): um “corte epistemológico”? Uma hipótese hermenêutica sobre a Obra de Guy Debord

Aufklärung: journal of philosophy, Dec 30, 2022

Research paper thumbnail of O Humanismo Normativo de Fromm

Ao falarmos da contemporaneidade (e dos seus problemas), tenhamos bem presentes os riscos de pers... more Ao falarmos da contemporaneidade (e dos seus problemas), tenhamos bem presentes os riscos de perspectivá-la em âmbitos unilaterais, caindo, então, num dimensionamento ocidentalizante do fluxo temporal histórico por demais erróneo. Por um lado, sujeita-se a especificidade intrínseca de diferentes culturas e povos de latitudes diversas a uma mesma grelha de leitura, através da qual, como é óbvio, todo e qualquer «desenvolvimento» possível terá como meta obrigatória o próprio modelo civilizacional do Ocidente; por outro, ocorre o movimento inverso mas de nível correlativo-ou seja: os acontecimentos sócio-históricos particulares da civilização de matriz europeia são, não poucas vezes, ilegitimamente extrapolados para o mundo inteiro (*)♦ Em ambos os casos se assiste, no entanto, à iniludível regionalização do ser humano * Este texto teve por base um trabalho apresentado no âmbito da cadeira «Filosofia Social e Política» (ano lectivo 19816/817) e foi amplamente debatido em algumas aulas práticas. (x) Parece-nos ser exactamente esse o caso por nós visado: a Psicanálise da Sociedade Contemporânea de Erich Fromm.-Senão vejamos, e passamos a citar. «Lao-tse, Buda, Isaías, Heráclito e SÓcrates e, mais tarde, no solo palestino, Jesus e os Apóstolos, e, no solo americano, Quetzalcoatl, e novamente, mais tarde, no solo árabet, Maomé, ensinaram as ideias da unidade do homem, da razão, do amor e da justiça como os ideais pelos quais o homem devia lutar» (VI, 1339). Para lá do facto, meramente folclórico, da razão, amor e justiça constituírem, por si, um exemplo banal de mais uma repetição profana do complexo trinitário no contexto antropológico da reflexão judaico-cristã (e assi

Research paper thumbnail of Guy Debord e as Aventuras do Sujeito: As Encruzilhadas Contemporâneas da Estética e da Política

Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma ... more Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma crítica do presente. Deste ponto de vista, torna-se manifesto o facto iniludível de a Arte e a Revolução, enquanto práticas de rutura criativa, estarem em crise. Daí que seja imperativo reler Guy Debord, que tanto recusou a estetização da política (a atitude histérica dos fascistas) como a politização da estética (a obsessão totalitária do estalinismo). Para uma hermenêutica da contemporaneidade, i.e., que toma o presente como um problema histórico, a sua obra é, por certo, um lugar incontornável. Prová-lo, em suma, constitui o desígnio da nossa tese. Para o efeito, impõe-se o projeto de uma revalorização teórica da obra de Guy Debord. Assim sendo, não parece curial tomar a sua bibliografia como um bloco homogéneo. Na verdade, podemos dividi-la em duas partes distintas: de um lado, os livros que revelam o desejo de um resgate poético do passado; e, do outro, os livros que se subordinam à vontade de fazer a crítica do presente com vista à sua transformação futura. Por isso mesmo, é possível distinguir, de um modo esquemático, um corpus autobiográfico e um outro de vasto alcance teorético. Não há que entender esta divisão, todavia, por força do entrelaçamento debordiano do vivido e do pensado, como uma separação estanque dos dois domínios. Há que tomá-la, antes, como um horizonte hermenêutico, de acordo com o qual, naturalmente, se explica o privilégio que atribuímos à interpretação de alguns textos. Daqui se depreende que não pretendemos escrever uma biografia intelectual de Guy Debord. Também não queremos levar a cabo uma história da Internacional Situacionista, ainda que seja inevitável que lhe sejam feitas, ao longo deste estudo, inúmeras referências. Outro equívoco a evitar, a propósito do nosso trabalho, seria lê-lo como se fosse um tratado sociológico, pelo simples facto de abordar o campo dos «meios de comunicação social». Prevenimos, de resto, quaisquer riscos de «sociologização» espúria com os recursos transfronteiriços da dialética inerente às transações histórico-culturais entre estética e política.

Research paper thumbnail of José Matias" de Eça de Queiroz — ou as Reflexões de Um Professor de Filosofia (da Vontade de Saber à Ironia: Um Retrato Oblíquo da Falência do Panlogismo)

This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is... more This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is demonstrably an “open work”, (ii) it constitutes a philosophical short story and (iii) it illustrates the failure of panlogism. With regard to the first thesis, it is necessary to concede up front that this interpretation of José Matias does not purport to be unique nor does it encompass the richness of the work’s content. Yet, given the second thesis, the paper intends to defy the common notion among critics that the philosophical references that pervade the Queirozian text fulfill a merely rhetorical function, in the pejorative sense of this expression. Finally, the third thesis seeks to bring the reader to realize that after all, in this narrative, we have a subtle literary incarnation of the nineteenth-century crisis of reason, of which ‘scientism’, far from a cure, was nothing but a symptom

Research paper thumbnail of Uma Leitura de «Mente e Mundo» de John McDowell

Poliética. Revista de Ética e Filosofia Política. ISSN 2318-3160, 2016

Em Mente e Mundo , John McDowell pretende fazer o diagnostico de uma angustia filosofica fundamen... more Em Mente e Mundo , John McDowell pretende fazer o diagnostico de uma angustia filosofica fundamental, cujo centro gravitico, como se depreende do titulo da obra, radica, a seu ver, na relacao que habitualmente se estabelece entre mente e mundo. Alem disso, assumindo por inteiro as consequencias da metafora clinica, tambem almeja a cura, que se revela, como havemos de ver, e contrariamente as pretensoes do filosofo sul‑africano, com um colorido pouco wittgensteiniano. Por outro lado, e a proposito, em particular, da questao do cepticismo, exibimos uma visao contrastante das abordagens «analitica» e «fenomenologica» dos problemas do conhecimento. Palavras‑chave: McDowell; Mente; Mundo; Filosofia analitica; Fenomenologia ABSTRACT In Mind and World , John McDowell intends to make the diagnosis of a fundamental philosophical anxiety, whose hard core, from his point of view, is deeply rooted in the relationship that usually occurs between mind and world, as the title suggests. Moreover, assuming entirely the clinical consequences of metaphor, McDowell’s main aim is to point towards a cure. This therapy, as we shall see, doesn’t have an effective Wittgensteinian direction, in contrast with McDowell’s assertions. On the other hand, I will show, in particular on the issue of skepticism, a contrasting vision of «analytical» and «phenomenological» approaches to the problems of knowledge. Keywords: McDowell, Mind; World; Analytic philosophy; Phenomenology

Research paper thumbnail of «José Matias» de Eça de Queiroz — ou as Reflexões de Um Professor de Filosofia (da Vontade de Saber à Ironia: Um Retrato Oblíquo da Falência do Panlogismo)

Portuguese Studies Review (PSR). Peterborough, Ontário (Baywolf Press), 2019

This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is... more This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is demonstrably an “open work”, (ii) it constitutes a philosophical short story and (iii) it illustrates the failure of panlogism. With regard to the first thesis, it is necessary to concede up front that this interpretation of José Matias does not purport to be unique nor does it encompass the richness of the work’s content. Yet, given the second thesis, the paper intends to defy the common notion among critics that the philosophical references that pervade the Queirozian text fulfill a merely rhetorical function, in the pejorative sense of this expression. Finally, the third thesis seeks to bring the reader to realize that after all, in this narrative, we have a subtle literary incarnation of the nineteenth-century crisis of reason, of which ‘scientism’, far from a cure, was nothing but a symptom.

Research paper thumbnail of Pêro Vaz de Caminha e a Figura da Repetição: Uma Revisitação Histórico-filosófica da Carta do Achamento do Brasil

PORTUGUESE STUDIES REVIEW 29 (2), 2021

The Letter from Pero Vaz de Caminha to the King of Portugal, Manuel I, is a unique document becau... more The Letter from Pero Vaz de Caminha to the King of Portugal, Manuel I, is a unique document
because its account of first contact with a people unknown in Europe up to that time may be
regarded as evidence of the anthropological impossibility of a neutral gaze. This is an asymmetric
testimony, as we do not possess (for obvious reasons) the Amerindian counterpart of European
discourse. Although the letter’s author is someone who fully assumes the objectivity claim, we
must not neglect the rhetorical framework of this assumption. Hence the need for textual analysis
that seeks to somehow discern the boundaries between fiction and reality. It is not as an
ethnographic document, indeed, that we should value the Letter. In fact, it is necessary to recognize
that this is a beautiful piece of literature whose architectural weave owes everything to the
classical mechanisms of Rhetoric.

Research paper thumbnail of On Spetacle: Critique And System In Debord's Work

Aufklärung, 2014

This paper aims to examine the nature of the situationist concept of spectacle, especially by sep... more This paper aims to examine the nature of the situationist concept of spectacle, especially by separating it into its philosophical elements, in order to check the effectiveness, from a systematic point of view, of situationism's radical critique. In doing so, the main focus of our attention will be Debord's major theoretical work: Society of the Spectacle. In fact, the concept of spectacle, repeatedly evoked in other writings, has its most far-reaching version in that small but great book, whose first edition was published in 1967.

Research paper thumbnail of O Fim da Arte

Aufklärung: journal of philosophy, 2014

Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma ... more Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma crítica do presente. Deste ponto de vista, tornase manifesto o facto iniludível de a Arte e a Revolução, enquanto práticas de ruptura criativa, estarem em crise. Daí que seja imperativo reler Guy Debord, que tanto recusou a estetização da política (a atitude histérica dos fascistas) como a politização da estética (a obsessão totalitária do estalinismo). Para uma hermenêutica da contemporaneidade, a sua obra é, por certo, um lugar incontornável. Proválo, em suma, constitui o desígnio deste ensaio.

Research paper thumbnail of Será que ainda somos cartesianos? Breve excurso sobre a ideia de vida

Principia: An International Journal of Epistemology, 2020

Research paper thumbnail of Reading McDowell: On Mind and World

In Mind and World, John McDowell intends to make the diagnosis of a fundamental philosophical anx... more In Mind and World, John McDowell intends to make the diagnosis of a fundamental philosophical anxiety, whose hard core, from his point of view, is deeply rooted in the relationship that usually occurs between mind and world, as the title suggests. Moreover, assuming entirely the clinical consequences of metaphor, McDowell’s main aim is to point towards a cure. This therapy, as we shall see, doesn’t have an effective Wittgensteinian direction, in contrast with McDowell’s assertions. On the other hand, I will show, in particular on the issue of skepticism, a contrasting vision of «analytical» and «phenomenological» approaches to the problems of knowledge.

Research paper thumbnail of Uma poética da vida quotidiana — Guy Debord e a internacional situacionista

Neste ensaio, procedemos a analise do conceito situacionista de vida quotidiana, tendo em vista e... more Neste ensaio, procedemos a analise do conceito situacionista de vida quotidiana, tendo em vista evidenciar nao so a riqueza que lhe e propria, mas tambem a respectiva ambiguidade. Alem disso, faz‑se a demonstracao de que existe, em termos de uma poetica do quotidiano, e pese embora a diversidade das fases de desenvolvimento da Internacional Situacionista, uma indiscutivel unidade do seu programa revolucionario.

Research paper thumbnail of On Debord's Square of Modernity

Research paper thumbnail of The Critical Marxism of Guy Debord: May '68 Revisited from a Situationist Perspective

Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma revisitação... more Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma revisitação de Maio de 1968. Cinquenta anos depois deste evento, com efeito, impõese a pergunta: «Em que medida a definição situacionista da subjectividade anticapitalista ainda mantém a sua pertinência histórico crítica?» Não sendo simples, a resposta equivale, afinal, à avaliação do marxismo debordiano, tendo em vista discriminar, a seu respeito, o que está vivo e o que está morto.

Research paper thumbnail of Será o pós-capitalismo contemporâneo um novo situacionismo?

Aufklärung: journal of philosophy

Aparentemente, é neosituacionista o movimento póscapitalista. Com vista à prova desta afirmação, ... more Aparentemente, é neosituacionista o movimento póscapitalista. Com vista à prova desta afirmação, aduzse, em suma, o que os media dizem ser a «economia de partilha». De facto, os póscapitalistas propõem uma interpretação das novas tecnologias da informação e da comunicação que lhes permite postular que elas acarretam a possibilidade de organizar a produção de um modo descentralizado, ou seja, sem recurso à hierarquia. Deste ponto de vista, o desenvolvimento da produção colaborativa já não obedece às forças do mercado nem à gestão empresarial. Mas o que parece ser evidente não o é, porque, na sua essência, a base da economia de mercado mantémse enquanto tal. Efectivamente, o sistema capitalista do nosso tempo, isto é, o pósfordismo, apropriase da chamada «economia de partilha». PALAVRASCHAVE: Capitalismo; fordismo; póscapitalismo; pósfordismo; situacionismo ABSTRACT: It may seem that the postcapitalist movement is a neoSituationist one. The evidence for this is, in short, what the media has been called "sharing economy". In fact, the postcapitalists offer an interpretation of the new information technologies in order to postulate that these make it possible to organize production in a not centralized and hierarchical way. From this point of view, the increase of collaborative production no longer responds to the market forces or to the managerial organization. However, I shall argue that what seems to be the case, in reality, turns out to be different, because, deep down, the ground of the market economy has not changed. Actually, the capitalism system of our times, that is, the postFordism, takes over the socalled "sharing economy".

Research paper thumbnail of O marxismo crítico de Guy Debord: Uma revisitação Situacionista de Maio de 1968

Aufklärung: Journal of Philosophy

RESUMO: Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma rev... more RESUMO: Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma revisitação de Maio de 1968. Cinquenta anos depois deste evento, com efeito, impõese a pergunta: «Em que medida a definição situacionista da subjectividade anticapitalista ainda mantém a sua pertinência histórico crítica?» Não sendo simples, a resposta equivale, afinal, à avaliação do marxismo debordiano, tendo em vista discriminar, a seu respeito, o que está vivo e o que está morto. PALAVRASCHAVE: Capitalismo; Keynesianismo; Marxismo; Neoliberalismo; Situacionismo ABSTRACT: Revisiting May 1968, this paper highlights the critical nature of Guy Debord's Marxism. Fifty years after the French events, the question then arises: "To what extent does the Situationist definition of anticapitalist subjectivity still preserve its historicalcritical relevance?" The answer is not simple. After all, it amounts to the evaluation of the critical Marxism of Debord, in order to distinguish, in its regard, what is living and what is dead. KEYWORDS: Capitalism; Keynesianism; Marxism; Neoliberalism; Situationism.

Research paper thumbnail of O quadrado da modernidade de Guy Debord

Aufklärung: journal of philosophy

Research paper thumbnail of A Ideia de Espectáculo: Crítica e Sistema em Guy Debord

Aufklärung: journal of philosophy, 2015

Sob o domínio da razão, não devem os nossos conhecimentos em geral formar uma rapsódia, mas um si... more Sob o domínio da razão, não devem os nossos conhecimentos em geral formar uma rapsódia, mas um sistema, e somente deste modo podem apoiar e fomentar os fins essenciais da razão. Ora, por sistema, entendo a unidade de conhecimentos diversos sob uma ideia 1 A verdadeira figura na qual a verdade existe só pode ser o sistema científico da mesma 2 . O verdadeiro é o todo 3 .

Research paper thumbnail of O Fim Da Arte, O Tédio E A Miséria Da Vida Quotidiana

Aufklärung: journal of philosophy, Mar 11, 2014

Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma ... more Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma crítica do presente. Deste ponto de vista, tornase manifesto o facto iniludível de a Arte e a Revolução, enquanto práticas de ruptura criativa, estarem em crise. Daí que seja imperativo reler Guy Debord, que tanto recusou a estetização da política (a atitude histérica dos fascistas) como a politização da estética (a obsessão totalitária do estalinismo). Para uma hermenêutica da contemporaneidade, a sua obra é, por certo, um lugar incontornável. Proválo, em suma, constitui o desígnio deste ensaio.

Research paper thumbnail of A poetics of everyday LIFE — GUY Debord and the Situationist International

DOAJ (DOAJ: Directory of Open Access Journals), Apr 1, 2016

Research paper thumbnail of D’A sociedade do espetáculo 2(1967) aos Comentários (1988): um “corte epistemológico”? Uma hipótese hermenêutica sobre a Obra de Guy Debord

Aufklärung: journal of philosophy, Dec 30, 2022

Research paper thumbnail of O Humanismo Normativo de Fromm

Ao falarmos da contemporaneidade (e dos seus problemas), tenhamos bem presentes os riscos de pers... more Ao falarmos da contemporaneidade (e dos seus problemas), tenhamos bem presentes os riscos de perspectivá-la em âmbitos unilaterais, caindo, então, num dimensionamento ocidentalizante do fluxo temporal histórico por demais erróneo. Por um lado, sujeita-se a especificidade intrínseca de diferentes culturas e povos de latitudes diversas a uma mesma grelha de leitura, através da qual, como é óbvio, todo e qualquer «desenvolvimento» possível terá como meta obrigatória o próprio modelo civilizacional do Ocidente; por outro, ocorre o movimento inverso mas de nível correlativo-ou seja: os acontecimentos sócio-históricos particulares da civilização de matriz europeia são, não poucas vezes, ilegitimamente extrapolados para o mundo inteiro (*)♦ Em ambos os casos se assiste, no entanto, à iniludível regionalização do ser humano * Este texto teve por base um trabalho apresentado no âmbito da cadeira «Filosofia Social e Política» (ano lectivo 19816/817) e foi amplamente debatido em algumas aulas práticas. (x) Parece-nos ser exactamente esse o caso por nós visado: a Psicanálise da Sociedade Contemporânea de Erich Fromm.-Senão vejamos, e passamos a citar. «Lao-tse, Buda, Isaías, Heráclito e SÓcrates e, mais tarde, no solo palestino, Jesus e os Apóstolos, e, no solo americano, Quetzalcoatl, e novamente, mais tarde, no solo árabet, Maomé, ensinaram as ideias da unidade do homem, da razão, do amor e da justiça como os ideais pelos quais o homem devia lutar» (VI, 1339). Para lá do facto, meramente folclórico, da razão, amor e justiça constituírem, por si, um exemplo banal de mais uma repetição profana do complexo trinitário no contexto antropológico da reflexão judaico-cristã (e assi

Research paper thumbnail of Guy Debord e as Aventuras do Sujeito: As Encruzilhadas Contemporâneas da Estética e da Política

Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma ... more Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma crítica do presente. Deste ponto de vista, torna-se manifesto o facto iniludível de a Arte e a Revolução, enquanto práticas de rutura criativa, estarem em crise. Daí que seja imperativo reler Guy Debord, que tanto recusou a estetização da política (a atitude histérica dos fascistas) como a politização da estética (a obsessão totalitária do estalinismo). Para uma hermenêutica da contemporaneidade, i.e., que toma o presente como um problema histórico, a sua obra é, por certo, um lugar incontornável. Prová-lo, em suma, constitui o desígnio da nossa tese. Para o efeito, impõe-se o projeto de uma revalorização teórica da obra de Guy Debord. Assim sendo, não parece curial tomar a sua bibliografia como um bloco homogéneo. Na verdade, podemos dividi-la em duas partes distintas: de um lado, os livros que revelam o desejo de um resgate poético do passado; e, do outro, os livros que se subordinam à vontade de fazer a crítica do presente com vista à sua transformação futura. Por isso mesmo, é possível distinguir, de um modo esquemático, um corpus autobiográfico e um outro de vasto alcance teorético. Não há que entender esta divisão, todavia, por força do entrelaçamento debordiano do vivido e do pensado, como uma separação estanque dos dois domínios. Há que tomá-la, antes, como um horizonte hermenêutico, de acordo com o qual, naturalmente, se explica o privilégio que atribuímos à interpretação de alguns textos. Daqui se depreende que não pretendemos escrever uma biografia intelectual de Guy Debord. Também não queremos levar a cabo uma história da Internacional Situacionista, ainda que seja inevitável que lhe sejam feitas, ao longo deste estudo, inúmeras referências. Outro equívoco a evitar, a propósito do nosso trabalho, seria lê-lo como se fosse um tratado sociológico, pelo simples facto de abordar o campo dos «meios de comunicação social». Prevenimos, de resto, quaisquer riscos de «sociologização» espúria com os recursos transfronteiriços da dialética inerente às transações histórico-culturais entre estética e política.

Research paper thumbnail of José Matias" de Eça de Queiroz — ou as Reflexões de Um Professor de Filosofia (da Vontade de Saber à Ironia: Um Retrato Oblíquo da Falência do Panlogismo)

This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is... more This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is demonstrably an “open work”, (ii) it constitutes a philosophical short story and (iii) it illustrates the failure of panlogism. With regard to the first thesis, it is necessary to concede up front that this interpretation of José Matias does not purport to be unique nor does it encompass the richness of the work’s content. Yet, given the second thesis, the paper intends to defy the common notion among critics that the philosophical references that pervade the Queirozian text fulfill a merely rhetorical function, in the pejorative sense of this expression. Finally, the third thesis seeks to bring the reader to realize that after all, in this narrative, we have a subtle literary incarnation of the nineteenth-century crisis of reason, of which ‘scientism’, far from a cure, was nothing but a symptom

Research paper thumbnail of Uma Leitura de «Mente e Mundo» de John McDowell

Poliética. Revista de Ética e Filosofia Política. ISSN 2318-3160, 2016

Em Mente e Mundo , John McDowell pretende fazer o diagnostico de uma angustia filosofica fundamen... more Em Mente e Mundo , John McDowell pretende fazer o diagnostico de uma angustia filosofica fundamental, cujo centro gravitico, como se depreende do titulo da obra, radica, a seu ver, na relacao que habitualmente se estabelece entre mente e mundo. Alem disso, assumindo por inteiro as consequencias da metafora clinica, tambem almeja a cura, que se revela, como havemos de ver, e contrariamente as pretensoes do filosofo sul‑africano, com um colorido pouco wittgensteiniano. Por outro lado, e a proposito, em particular, da questao do cepticismo, exibimos uma visao contrastante das abordagens «analitica» e «fenomenologica» dos problemas do conhecimento. Palavras‑chave: McDowell; Mente; Mundo; Filosofia analitica; Fenomenologia ABSTRACT In Mind and World , John McDowell intends to make the diagnosis of a fundamental philosophical anxiety, whose hard core, from his point of view, is deeply rooted in the relationship that usually occurs between mind and world, as the title suggests. Moreover, assuming entirely the clinical consequences of metaphor, McDowell’s main aim is to point towards a cure. This therapy, as we shall see, doesn’t have an effective Wittgensteinian direction, in contrast with McDowell’s assertions. On the other hand, I will show, in particular on the issue of skepticism, a contrasting vision of «analytical» and «phenomenological» approaches to the problems of knowledge. Keywords: McDowell, Mind; World; Analytic philosophy; Phenomenology

Research paper thumbnail of «José Matias» de Eça de Queiroz — ou as Reflexões de Um Professor de Filosofia (da Vontade de Saber à Ironia: Um Retrato Oblíquo da Falência do Panlogismo)

Portuguese Studies Review (PSR). Peterborough, Ontário (Baywolf Press), 2019

This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is... more This paper intends to validate the hermeneutic relevance of three core theses: José Matias (i) is demonstrably an “open work”, (ii) it constitutes a philosophical short story and (iii) it illustrates the failure of panlogism. With regard to the first thesis, it is necessary to concede up front that this interpretation of José Matias does not purport to be unique nor does it encompass the richness of the work’s content. Yet, given the second thesis, the paper intends to defy the common notion among critics that the philosophical references that pervade the Queirozian text fulfill a merely rhetorical function, in the pejorative sense of this expression. Finally, the third thesis seeks to bring the reader to realize that after all, in this narrative, we have a subtle literary incarnation of the nineteenth-century crisis of reason, of which ‘scientism’, far from a cure, was nothing but a symptom.

Research paper thumbnail of Pêro Vaz de Caminha e a Figura da Repetição: Uma Revisitação Histórico-filosófica da Carta do Achamento do Brasil

PORTUGUESE STUDIES REVIEW 29 (2), 2021

The Letter from Pero Vaz de Caminha to the King of Portugal, Manuel I, is a unique document becau... more The Letter from Pero Vaz de Caminha to the King of Portugal, Manuel I, is a unique document
because its account of first contact with a people unknown in Europe up to that time may be
regarded as evidence of the anthropological impossibility of a neutral gaze. This is an asymmetric
testimony, as we do not possess (for obvious reasons) the Amerindian counterpart of European
discourse. Although the letter’s author is someone who fully assumes the objectivity claim, we
must not neglect the rhetorical framework of this assumption. Hence the need for textual analysis
that seeks to somehow discern the boundaries between fiction and reality. It is not as an
ethnographic document, indeed, that we should value the Letter. In fact, it is necessary to recognize
that this is a beautiful piece of literature whose architectural weave owes everything to the
classical mechanisms of Rhetoric.

Research paper thumbnail of On Spetacle: Critique And System In Debord's Work

Aufklärung, 2014

This paper aims to examine the nature of the situationist concept of spectacle, especially by sep... more This paper aims to examine the nature of the situationist concept of spectacle, especially by separating it into its philosophical elements, in order to check the effectiveness, from a systematic point of view, of situationism's radical critique. In doing so, the main focus of our attention will be Debord's major theoretical work: Society of the Spectacle. In fact, the concept of spectacle, repeatedly evoked in other writings, has its most far-reaching version in that small but great book, whose first edition was published in 1967.

Research paper thumbnail of O Fim da Arte

Aufklärung: journal of philosophy, 2014

Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma ... more Satisfazer a exigência de interrogar a nossa condição de contemporâneos implica, desde logo, uma crítica do presente. Deste ponto de vista, tornase manifesto o facto iniludível de a Arte e a Revolução, enquanto práticas de ruptura criativa, estarem em crise. Daí que seja imperativo reler Guy Debord, que tanto recusou a estetização da política (a atitude histérica dos fascistas) como a politização da estética (a obsessão totalitária do estalinismo). Para uma hermenêutica da contemporaneidade, a sua obra é, por certo, um lugar incontornável. Proválo, em suma, constitui o desígnio deste ensaio.

Research paper thumbnail of Será que ainda somos cartesianos? Breve excurso sobre a ideia de vida

Principia: An International Journal of Epistemology, 2020

Research paper thumbnail of Reading McDowell: On Mind and World

In Mind and World, John McDowell intends to make the diagnosis of a fundamental philosophical anx... more In Mind and World, John McDowell intends to make the diagnosis of a fundamental philosophical anxiety, whose hard core, from his point of view, is deeply rooted in the relationship that usually occurs between mind and world, as the title suggests. Moreover, assuming entirely the clinical consequences of metaphor, McDowell’s main aim is to point towards a cure. This therapy, as we shall see, doesn’t have an effective Wittgensteinian direction, in contrast with McDowell’s assertions. On the other hand, I will show, in particular on the issue of skepticism, a contrasting vision of «analytical» and «phenomenological» approaches to the problems of knowledge.

Research paper thumbnail of Uma poética da vida quotidiana — Guy Debord e a internacional situacionista

Neste ensaio, procedemos a analise do conceito situacionista de vida quotidiana, tendo em vista e... more Neste ensaio, procedemos a analise do conceito situacionista de vida quotidiana, tendo em vista evidenciar nao so a riqueza que lhe e propria, mas tambem a respectiva ambiguidade. Alem disso, faz‑se a demonstracao de que existe, em termos de uma poetica do quotidiano, e pese embora a diversidade das fases de desenvolvimento da Internacional Situacionista, uma indiscutivel unidade do seu programa revolucionario.

Research paper thumbnail of On Debord's Square of Modernity

Research paper thumbnail of The Critical Marxism of Guy Debord: May '68 Revisited from a Situationist Perspective

Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma revisitação... more Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma revisitação de Maio de 1968. Cinquenta anos depois deste evento, com efeito, impõese a pergunta: «Em que medida a definição situacionista da subjectividade anticapitalista ainda mantém a sua pertinência histórico crítica?» Não sendo simples, a resposta equivale, afinal, à avaliação do marxismo debordiano, tendo em vista discriminar, a seu respeito, o que está vivo e o que está morto.

Research paper thumbnail of Será o pós-capitalismo contemporâneo um novo situacionismo?

Aufklärung: journal of philosophy

Aparentemente, é neosituacionista o movimento póscapitalista. Com vista à prova desta afirmação, ... more Aparentemente, é neosituacionista o movimento póscapitalista. Com vista à prova desta afirmação, aduzse, em suma, o que os media dizem ser a «economia de partilha». De facto, os póscapitalistas propõem uma interpretação das novas tecnologias da informação e da comunicação que lhes permite postular que elas acarretam a possibilidade de organizar a produção de um modo descentralizado, ou seja, sem recurso à hierarquia. Deste ponto de vista, o desenvolvimento da produção colaborativa já não obedece às forças do mercado nem à gestão empresarial. Mas o que parece ser evidente não o é, porque, na sua essência, a base da economia de mercado mantémse enquanto tal. Efectivamente, o sistema capitalista do nosso tempo, isto é, o pósfordismo, apropriase da chamada «economia de partilha». PALAVRASCHAVE: Capitalismo; fordismo; póscapitalismo; pósfordismo; situacionismo ABSTRACT: It may seem that the postcapitalist movement is a neoSituationist one. The evidence for this is, in short, what the media has been called "sharing economy". In fact, the postcapitalists offer an interpretation of the new information technologies in order to postulate that these make it possible to organize production in a not centralized and hierarchical way. From this point of view, the increase of collaborative production no longer responds to the market forces or to the managerial organization. However, I shall argue that what seems to be the case, in reality, turns out to be different, because, deep down, the ground of the market economy has not changed. Actually, the capitalism system of our times, that is, the postFordism, takes over the socalled "sharing economy".

Research paper thumbnail of O marxismo crítico de Guy Debord: Uma revisitação Situacionista de Maio de 1968

Aufklärung: Journal of Philosophy

RESUMO: Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma rev... more RESUMO: Neste ensaio, pretendemos evidenciar o marxismo crítico de Guy Debord a partir de uma revisitação de Maio de 1968. Cinquenta anos depois deste evento, com efeito, impõese a pergunta: «Em que medida a definição situacionista da subjectividade anticapitalista ainda mantém a sua pertinência histórico crítica?» Não sendo simples, a resposta equivale, afinal, à avaliação do marxismo debordiano, tendo em vista discriminar, a seu respeito, o que está vivo e o que está morto. PALAVRASCHAVE: Capitalismo; Keynesianismo; Marxismo; Neoliberalismo; Situacionismo ABSTRACT: Revisiting May 1968, this paper highlights the critical nature of Guy Debord's Marxism. Fifty years after the French events, the question then arises: "To what extent does the Situationist definition of anticapitalist subjectivity still preserve its historicalcritical relevance?" The answer is not simple. After all, it amounts to the evaluation of the critical Marxism of Debord, in order to distinguish, in its regard, what is living and what is dead. KEYWORDS: Capitalism; Keynesianism; Marxism; Neoliberalism; Situationism.

Research paper thumbnail of O quadrado da modernidade de Guy Debord

Aufklärung: journal of philosophy

Research paper thumbnail of A Ideia de Espectáculo: Crítica e Sistema em Guy Debord

Aufklärung: journal of philosophy, 2015

Sob o domínio da razão, não devem os nossos conhecimentos em geral formar uma rapsódia, mas um si... more Sob o domínio da razão, não devem os nossos conhecimentos em geral formar uma rapsódia, mas um sistema, e somente deste modo podem apoiar e fomentar os fins essenciais da razão. Ora, por sistema, entendo a unidade de conhecimentos diversos sob uma ideia 1 A verdadeira figura na qual a verdade existe só pode ser o sistema científico da mesma 2 . O verdadeiro é o todo 3 .