Gustavo Barreto Vilhena de Paiva | Universidade de São Paulo (original) (raw)
Papers by Gustavo Barreto Vilhena de Paiva
El período que va del siglo XI al XIV es uno de los períodos de más efervescente producción filos... more El período que va del siglo XI al XIV es uno de los períodos de más efervescente producción filosófica. Sin embargo, es difícil encontrar trabajos exclusivamente dedicados a la reflexión sobre el lenguaje y la comunicación. Así, formará parte de esa investigación una extracción de textos medievales -(principalmente, pero no sólo) de textos escolásticos-en busca de aquellas ocasiones en que emerge un discurso sobre el lenguaje o la comunicación. Un primer campo en el que estos temas surgían para un autor universitario de aquel tiempo eran las discusiones sobre lógica que contribuyeron a una reflexión cada vez más sutil acerca de los signos utilizados en el lenguaje y la comunicación. En el presente trabajo se centrará en dos campos en los que los escolásticos medievales eran llevados a la reflexión sobre la comunicación: [i] la discusión sobre el hablar De los ángeles y [ii] la discusión sobre el sacramento católico de la eucaristía y, en especial, sobre la 'fórmula eucarística'. Se verá cómo estos dos temas sirven como ocasión para una discusión sobre el lenguaje y la comunicación en la obra de Juan Duns Scoto (c. 1265-1308). La finalidad de este estudio será, ante todo, ver en qué medida es posible, de hecho, encontrar en la Edad Media nociones de 'comunicación' o de 'lenguaje' próximas a las actuales. Palabras Claves: Filosofía Medieval -Lógica -Lenguaje -Comunicación-Juan Duns Scoto Palabra y Razón ISSN 0719-2223 Nº9 y Nº10 Julio-Diciembre 2016 Universidad Católica del Maule pp. 45-91 ____________________________
RESUMO No livro VI de suas "Questões sobre a Metafísica", João Duns Escoto desenvolve um complexo... more RESUMO No livro VI de suas "Questões sobre a Metafísica", João Duns Escoto desenvolve um complexo estudo sobre a verdade. Para tanto, ele distingue dois modos de verdade: a "verdade na coisa" e a "verdade no intelecto". Pretendo aqui me voltar para a primeira dessas duas noções, interpretando uma curta passagem daquela obra à luz de outros textos do Doutor Sutil -um procedimento sugerido por aquelas próprias questões.
Resumo: O termo "transcendental" tem sido de fundamental importância para a discussão produzida n... more Resumo: O termo "transcendental" tem sido de fundamental importância para a discussão produzida nos mais variados campos da filosofia contemporânea. Isso se deve, em larga medida, ao fato de a filosofia de Kant ser a inegável e constante referência para autores dos séculos XIX a XXI. Daí se derivou uma problemática projeção da noção de "transcendental" sobre a filosofia de autores escolásticos medievais. Embora estes últimos se valessem do termo "transcendente", eles nem mesmo conheciam o termo "transcendental". A confusão entre ambos os termos não poderia ser mais prejudicial para a leitura de autores medievais.
Henrique de Gand (a. 1240Gand (a. -1293 pode ser considerado um dos mais influentes mestres de te... more Henrique de Gand (a. 1240Gand (a. -1293 pode ser considerado um dos mais influentes mestres de teologia em atividade na Universidade de Paris durante o último quarto do século XIII. Dentre as suas obras atualmente conhecidas, encontram-se três sermões universitários, pregados em diferentes momentos de sua carreira. Embora estejam entre os textos menos estudados do autor, tais sermões possuem importantes elementos para a compreensão de suas doutrinas filosóficas e teológicas. Em particular, esse é o caso do Sermão para a festa de Sta. Catarina, pregado em 1282. Nele, é possível ler uma interessante reflexão sobre o conhecimento motivada não somente pela vida exemplar de Catarina de Alexandria, mas também pelos versículos temáticos dos Salmos: "confissão e beleza em seu semblante; confessarei a ti na correção do coração". Além de considerar ambos os versículos como descrições da própria pregação, Henrique os lê como uma enumeração das virtudes de Sta. Catarina. Especialmente importante para nós é a 'beleza', que se refere à "sábia claridade no conhecimento da verdade". A atribuição dessa 'beleza' a Sta. Catarina leva Henrique a notar que a celebrada santa possuía toda sabedoria teológica e filosófica, o que lhe fornece uma ocasião para mostrar quais virtudes são necessárias para que se possa atingir o conhecimento verdadeiro. Nesse ponto, vemos o desenvolvimento de uma abordagem ética do conhecimento, na qual as virtudes éticas são estreitamente relacionadas à integridade fisiológica. Assim, lida à luz dos Salmos, a vida de Sta. Catarina emerge como um exemplo -a um só tempo, religioso e ético (mas, também, fisiológico)para o estudante que busca o conhecimento. Aqui, pretendo examinar mais de perto esses 'requisitos éticos do conhecimento' apresentados por Henrique de Gand em seu sermão. Palavras-chave: Conhecimento. Virtude. Sermão universitário. Filosofia medieval. Henrique de Gand (a. 1240-1293). trabalho foi apresentado, em 2015, no XI Seminário dos Estudantes de Pós-graduação em Filosofia da UFSCar. Além disso, no mesmo ano, uma versão modificada do item II. foi exposta nos seminários quinzenais do Centro de Estudos de Filosofia Patrística e Medieval de São Paulo (CEPAME). Sendo assim, gostaria de agradecer por todas as sugestões e críticas que pude receber nas duas ocasiões.
Nas Questões sobre as Categorias, João Duns Escoto estuda o problema da predicação do conceito de... more Nas Questões sobre as Categorias, João Duns Escoto estuda o problema da predicação do conceito de ente. São apresentadas três soluções possíveis para ele: o ente predica-se por univocidade, analogia ou equivocidade. Nessa obra, Escoto determina que a predicação do conceito de ente ocorre por equivocidade, isto é, 'ente' é predicado equívoco das dez categorias, pois a univocidade e a analogia são tidas como soluções inaceitáveis para o problema. Aqui, estudamos os elementos que surgem nas Questões sobre as Categorias com respeito a esse tema tomando como auxílio outros textos filosóficos de Escoto em que o conceito de ente também seja tomado como predicado equívoco. Por fim, vemos que a resposta das Questões sobre as Categorias é a primeira resposta de Escoto ao problema, já que ela será modificada posteriormente. O presente trabalho estuda essa primeira posição adotada por Escoto face ao problema da predicação do conceito de ente.
Vitória (ES), vol. 3, n. 1 SOFIA Agosto 2013 V Ve er rs sã ão o e el le et tr rô ôn ni ic ca a ... more Vitória (ES), vol. 3, n. 1 SOFIA Agosto 2013 V Ve er rs sã ão o e el le et tr rô ôn ni ic ca a Doutorando no Depto. de Filosofia da USP e bolsista CAPES/ gustavo.barreto.paiva@usp.br Resumo: Um dos elementos mais fundamentais e complexos na filosofia de João Duns Escoto é a doutrina da causalidade. Em poucas palavras, sua centralidade se deve ao fato de que, para este último, toda a ordem do mundo pode ser compreendida a partir das relações de causa e efeito, que perpassam todos os entes. Esse caráter fundamentalmente metafísico da noção de causalidade será um primeiro tema de nosso estudo. Em seguida, atentaremos para dois outros aspectos da causalidade na filosofia do Doutor Sutil: a noção de causalidade concorrente e o problema da causalidade de algo sobre si mesmo. Com isso, espero fornecer uma exposição acurada de alguns dos aspectos mais relevantes da doutrina da causalidade em Duns Escoto. Palavras-chave: causalidade; relação; ordenação; metafísica; João Duns Escoto. Palavras-chave: : Causalidade; relação; ordem; metafísica; John Duns Scotus.
RESUMO: Henrique de Gand foi um dos mestres de teologia da Universidade de Paris mais influentes ... more RESUMO: Henrique de Gand foi um dos mestres de teologia da Universidade de Paris mais influentes nos debates filosóficos sobre ética em fins do século XIII. Sua ética se caracteriza por dois aspectos: [i] o papel central nela reservado à vontade enquanto potência livre da alma e fundamento das ações humanas; e [ii] a relevância da noção de virtude como um hábito da alma que permite a ação ordenada das potências desta última. Baseando-se nessas noções de 'vontade' e 'virtude', Henrique defende que todas as virtudes se unem pela virtude primeira da prudência (prudentia). Esta, por sua vez, garante que toda ação humana seja fruto de uma ordenação correta da alma pela qual a vontade escolha livremente aquilo que foi inteligido como sendo algo bom. Porém, Henrique defende que a alma só chega à sua perfeição máxima quando, para além dessas virtudes naturais, ela obtém as virtudes sobrenaturais. Destas, a mais relevante é a caridade (caritas), tomada como um dom (donum) infuso e não adquirido, ao contrário das virtudes naturais. No presente trabalho, pretendo apresentar alguns aspectos centrais da ética de Henrique de Gand a partir, precisamente, da consideração dessas virtudes da 'prudência' e da 'caridade'.
Resumo: Um dos debates mais acirrados na filosofia do século XIII dizia respeito à possibilidade ... more Resumo: Um dos debates mais acirrados na filosofia do século XIII dizia respeito à possibilidade de um conhecimento intelectual do singular. Isto é, seria possível para o intelecto ter como objeto de conhecimento, além do universal, o próprio singular? Aqui são estudadas as respostas de dois autores de fins do século XIII a esse problema: Mateus de Aquasparta e Vital de Furno. Suas posições são iguais nas grandes linhas, pois ambos admitem uma intelecção do singular. Elas são ligeiramente distintas, no entanto, porque Vital determina mais precisamente do que Mateus qual é o conteúdo dessa intelecção do singular. Ainda que um pouco distintas, juntas, as duas posições fornecem as bases para a discussão sobre o mesmo tema que se desenvolveria na primeira metade do século XIV. Palavras-chave: Intelecção. Sensação. Conhecimento do singular. Mateus de Aquasparta. Vital de Furno. Abstract: One of the fiercest debates in the
A distinção entre intuição e abstração é um dos elementos mais característicos da filosofia de Jo... more A distinção entre intuição e abstração é um dos elementos mais característicos da filosofia de João Duns Escoto (c. 1265-1308. Por essa distinção, ele defende a possibilidade para o intelecto humano de conhecer singulares. No que se segue, estudo diversos textos em que há uma caracterização da intelecção intuitiva, de maneira a apontar os temas implicados na noção de intuição de Duns Escoto. Ao fazê-lo, veremos a distância que separa, por um lado, os singulares reais dos singulares tal como são por nós conhecidos e, por outro, o conhecimento dos singulares que a abstração nos proporciona daquele possível pela intuição.
Resumo: Discuto aqui a necessidade de se estabelecer uma história da filosofia que recorra unicam... more Resumo: Discuto aqui a necessidade de se estabelecer uma história da filosofia que recorra unicamente ao estudo de documentos de interesse filosófico, caso essa história nos deva ser útil para a compreensão de determinadas noções filosóficas a partir de seu desenvolvimento histórico. Para tanto, mostro primeiramente que, no momento em que uma narrativa histórica pressupõe um nível lógico além do seu nível documental, ela perde essa sua utilidade. Em seguida, aponto a maneira pela qual podemos narrar uma história da filosofia exclusivamente documental.
Book Reviews by Gustavo Barreto Vilhena de Paiva
Em uma famosa passagem do segundo prefácio à sua Crítica da razão pura, Kant defende que a lógica... more Em uma famosa passagem do segundo prefácio à sua Crítica da razão pura, Kant defende que a lógica seguiu, desde seu surgimento com Aristóteles, a via segura da ciência. Isso porque, em todo esse tempo, ela não deu nenhum passo atrás (ou seja, ela não apresentou o desnorteamento típico dos conhecimentos que ainda não seguem a via segura) e, por outro lado, também não deu nenhum passo adiante (o que aponta para o seu acabamento e sua completude). Decerto, pode-se dizer que houve, na lógica, "a remoção de sutilezas dispensáveis ou a determinação mais clara do exposto". Talvez possamos até contar isso como "efetivos melhoramentos", porém eles "pertencem mais à elegância do que à segurança da ciência" (BVIII) 1 . Não é difícil perceber que, se seguirmos a opinião de Kant, não sobra muito espaço para uma história da lógica. Que, de fato, era essa a sua posição fica claro no seu próprio curso de Lógica, onde a história da disciplina aparece mais como um adendo do que como algo necessário para a sua compreensão 2 .
___________________________________________ I. Roland J. Teske tem sido, desde de inícios da déca... more ___________________________________________ I. Roland J. Teske tem sido, desde de inícios da década de 1990, um dos autores que mais contribuíram para a recente recepção historiográfica da obra de Henrique de Gand. Uma boa parte de suas contribuições se compõe de numerosas e cuidadosas traduções de trechos das duas principais obras do Doutor Solene: a Suma das questões ordinárias e as Questões quodlibetais. De fato, como o autor nos narra no livro que ora resenhamos, seu interesse por Henrique foi incentivado, incialmente, pelo hoje já falecido Raymond Macken (provavelmente, o mais importante estudioso do gandavense entre a metade do século XX e o início do XXI) que, nas palavras do autor, o "persuadiu a traduzir algumas das Questões quodlibetais de Henrique sobre a natureza da liberdade humana" (pp. 7-8), em uma época em que Teske já era reconhecido por seu trabalho acerca de Agostinho de Hipona e Guilherme de Auvergne. 1 Esse impulso inicial rendeu bons frutos, pois Teske continua a publicar suas traduções ainda hoje, embora seu interesse inicial pela noção de liberdade tenha aberto espaço para a consideração de outros temas na obra de Henrique. Se esse primeiro conjunto de traduções foi publicado ainda em 1993, 2 os
A crítica textual tem sido uma ferramenta fundamental na historiografia da filosofia medieval des... more A crítica textual tem sido uma ferramenta fundamental na historiografia da filosofia medieval desde o século XIX. Há poucos anos, Donald H. Reiman destacou, no prefácio de Textual Editing and Critisicm de Erick Kelemen, o quanto um leitor de literatura pode se beneficiar com a crítica textual 1 -ela lhe permitiria uma maior compreensão de uma peça literária (mais precisamente, no caso de Reiman, poética) ao permitir acompanhar "o crescimento de um poema desde seu início [the growth of a poem from its inception]". 2 Em outras palavras, a crítica textual não somente permite um estabelecimento crítico de textos (o que, por si só, já seria um ganho), mas igualmente possibilita uma melhor compreensão literária desses textos. Pois bem, o mesmo parece valer para as narrativas da história da filosofia medieval. Nesse campo, a crítica textual permite o estabelecimento de edições críticas e, ao fazê-lo, influi profundamente na interpretação filosófica ou teológica que se poderá propor acerca do texto estabelecido. Talvez possamos dizer que, também na historiografia da filosofia medieval, a crítica textual diz respeito não somente à forma, mas -ao determinar a forma -também ao conteúdo.
___________________________________________ I. Ainda hoje se mostra válida a fórmula de Paul Vign... more ___________________________________________ I. Ainda hoje se mostra válida a fórmula de Paul Vignaux: "o historiador que recebeu uma formação filosófica deve ter receio de unificar demais, de sistematizar; é preciso que ele deixe ver a diversidade rebelde". 1 Com essa afirmação, Vignaux se opunha frontalmente a qualquer tentativa de sistematização da história da filosofia e, em particular, da história da filosofia medieval. Assim, ele fazia a sua própria concepção de história da filosofia escolástica ir de encontro àquela que se podia ler, por exemplo, nos textos de Étienne Gilson, onde todo o desenrolar histórico da filosofia medieval parecia estar centrado na obra de Tomás de Aquino, já que este último representava o próprio apogeu da escolástica -ele era aquele que "ia pondo tudo em seu devido lugar". 2 De fato, essa centralização da história da filosofia medieval em torno de Tomás de Aquino surge em diversos momentos da obra de Gilson. Como exemplo, temos a introdução ao seu Jean Duns Scot, na qual, logo após reconhecer quase que a contragosto a influência de Henrique de Gand sobre Duns Escoto, Gilson rapidamente passa a ignorá-la e defender que o Doutor Sutil se compreende melhor por comparação ao Doutor Angélico do que ao Doutor Solene, visto que a relação que se pode estabelecer entre Duns Escoto e Tomás de Aquino é mais importante em si e para nós do que aquela entre Duns
El período que va del siglo XI al XIV es uno de los períodos de más efervescente producción filos... more El período que va del siglo XI al XIV es uno de los períodos de más efervescente producción filosófica. Sin embargo, es difícil encontrar trabajos exclusivamente dedicados a la reflexión sobre el lenguaje y la comunicación. Así, formará parte de esa investigación una extracción de textos medievales -(principalmente, pero no sólo) de textos escolásticos-en busca de aquellas ocasiones en que emerge un discurso sobre el lenguaje o la comunicación. Un primer campo en el que estos temas surgían para un autor universitario de aquel tiempo eran las discusiones sobre lógica que contribuyeron a una reflexión cada vez más sutil acerca de los signos utilizados en el lenguaje y la comunicación. En el presente trabajo se centrará en dos campos en los que los escolásticos medievales eran llevados a la reflexión sobre la comunicación: [i] la discusión sobre el hablar De los ángeles y [ii] la discusión sobre el sacramento católico de la eucaristía y, en especial, sobre la 'fórmula eucarística'. Se verá cómo estos dos temas sirven como ocasión para una discusión sobre el lenguaje y la comunicación en la obra de Juan Duns Scoto (c. 1265-1308). La finalidad de este estudio será, ante todo, ver en qué medida es posible, de hecho, encontrar en la Edad Media nociones de 'comunicación' o de 'lenguaje' próximas a las actuales. Palabras Claves: Filosofía Medieval -Lógica -Lenguaje -Comunicación-Juan Duns Scoto Palabra y Razón ISSN 0719-2223 Nº9 y Nº10 Julio-Diciembre 2016 Universidad Católica del Maule pp. 45-91 ____________________________
RESUMO No livro VI de suas "Questões sobre a Metafísica", João Duns Escoto desenvolve um complexo... more RESUMO No livro VI de suas "Questões sobre a Metafísica", João Duns Escoto desenvolve um complexo estudo sobre a verdade. Para tanto, ele distingue dois modos de verdade: a "verdade na coisa" e a "verdade no intelecto". Pretendo aqui me voltar para a primeira dessas duas noções, interpretando uma curta passagem daquela obra à luz de outros textos do Doutor Sutil -um procedimento sugerido por aquelas próprias questões.
Resumo: O termo "transcendental" tem sido de fundamental importância para a discussão produzida n... more Resumo: O termo "transcendental" tem sido de fundamental importância para a discussão produzida nos mais variados campos da filosofia contemporânea. Isso se deve, em larga medida, ao fato de a filosofia de Kant ser a inegável e constante referência para autores dos séculos XIX a XXI. Daí se derivou uma problemática projeção da noção de "transcendental" sobre a filosofia de autores escolásticos medievais. Embora estes últimos se valessem do termo "transcendente", eles nem mesmo conheciam o termo "transcendental". A confusão entre ambos os termos não poderia ser mais prejudicial para a leitura de autores medievais.
Henrique de Gand (a. 1240Gand (a. -1293 pode ser considerado um dos mais influentes mestres de te... more Henrique de Gand (a. 1240Gand (a. -1293 pode ser considerado um dos mais influentes mestres de teologia em atividade na Universidade de Paris durante o último quarto do século XIII. Dentre as suas obras atualmente conhecidas, encontram-se três sermões universitários, pregados em diferentes momentos de sua carreira. Embora estejam entre os textos menos estudados do autor, tais sermões possuem importantes elementos para a compreensão de suas doutrinas filosóficas e teológicas. Em particular, esse é o caso do Sermão para a festa de Sta. Catarina, pregado em 1282. Nele, é possível ler uma interessante reflexão sobre o conhecimento motivada não somente pela vida exemplar de Catarina de Alexandria, mas também pelos versículos temáticos dos Salmos: "confissão e beleza em seu semblante; confessarei a ti na correção do coração". Além de considerar ambos os versículos como descrições da própria pregação, Henrique os lê como uma enumeração das virtudes de Sta. Catarina. Especialmente importante para nós é a 'beleza', que se refere à "sábia claridade no conhecimento da verdade". A atribuição dessa 'beleza' a Sta. Catarina leva Henrique a notar que a celebrada santa possuía toda sabedoria teológica e filosófica, o que lhe fornece uma ocasião para mostrar quais virtudes são necessárias para que se possa atingir o conhecimento verdadeiro. Nesse ponto, vemos o desenvolvimento de uma abordagem ética do conhecimento, na qual as virtudes éticas são estreitamente relacionadas à integridade fisiológica. Assim, lida à luz dos Salmos, a vida de Sta. Catarina emerge como um exemplo -a um só tempo, religioso e ético (mas, também, fisiológico)para o estudante que busca o conhecimento. Aqui, pretendo examinar mais de perto esses 'requisitos éticos do conhecimento' apresentados por Henrique de Gand em seu sermão. Palavras-chave: Conhecimento. Virtude. Sermão universitário. Filosofia medieval. Henrique de Gand (a. 1240-1293). trabalho foi apresentado, em 2015, no XI Seminário dos Estudantes de Pós-graduação em Filosofia da UFSCar. Além disso, no mesmo ano, uma versão modificada do item II. foi exposta nos seminários quinzenais do Centro de Estudos de Filosofia Patrística e Medieval de São Paulo (CEPAME). Sendo assim, gostaria de agradecer por todas as sugestões e críticas que pude receber nas duas ocasiões.
Nas Questões sobre as Categorias, João Duns Escoto estuda o problema da predicação do conceito de... more Nas Questões sobre as Categorias, João Duns Escoto estuda o problema da predicação do conceito de ente. São apresentadas três soluções possíveis para ele: o ente predica-se por univocidade, analogia ou equivocidade. Nessa obra, Escoto determina que a predicação do conceito de ente ocorre por equivocidade, isto é, 'ente' é predicado equívoco das dez categorias, pois a univocidade e a analogia são tidas como soluções inaceitáveis para o problema. Aqui, estudamos os elementos que surgem nas Questões sobre as Categorias com respeito a esse tema tomando como auxílio outros textos filosóficos de Escoto em que o conceito de ente também seja tomado como predicado equívoco. Por fim, vemos que a resposta das Questões sobre as Categorias é a primeira resposta de Escoto ao problema, já que ela será modificada posteriormente. O presente trabalho estuda essa primeira posição adotada por Escoto face ao problema da predicação do conceito de ente.
Vitória (ES), vol. 3, n. 1 SOFIA Agosto 2013 V Ve er rs sã ão o e el le et tr rô ôn ni ic ca a ... more Vitória (ES), vol. 3, n. 1 SOFIA Agosto 2013 V Ve er rs sã ão o e el le et tr rô ôn ni ic ca a Doutorando no Depto. de Filosofia da USP e bolsista CAPES/ gustavo.barreto.paiva@usp.br Resumo: Um dos elementos mais fundamentais e complexos na filosofia de João Duns Escoto é a doutrina da causalidade. Em poucas palavras, sua centralidade se deve ao fato de que, para este último, toda a ordem do mundo pode ser compreendida a partir das relações de causa e efeito, que perpassam todos os entes. Esse caráter fundamentalmente metafísico da noção de causalidade será um primeiro tema de nosso estudo. Em seguida, atentaremos para dois outros aspectos da causalidade na filosofia do Doutor Sutil: a noção de causalidade concorrente e o problema da causalidade de algo sobre si mesmo. Com isso, espero fornecer uma exposição acurada de alguns dos aspectos mais relevantes da doutrina da causalidade em Duns Escoto. Palavras-chave: causalidade; relação; ordenação; metafísica; João Duns Escoto. Palavras-chave: : Causalidade; relação; ordem; metafísica; John Duns Scotus.
RESUMO: Henrique de Gand foi um dos mestres de teologia da Universidade de Paris mais influentes ... more RESUMO: Henrique de Gand foi um dos mestres de teologia da Universidade de Paris mais influentes nos debates filosóficos sobre ética em fins do século XIII. Sua ética se caracteriza por dois aspectos: [i] o papel central nela reservado à vontade enquanto potência livre da alma e fundamento das ações humanas; e [ii] a relevância da noção de virtude como um hábito da alma que permite a ação ordenada das potências desta última. Baseando-se nessas noções de 'vontade' e 'virtude', Henrique defende que todas as virtudes se unem pela virtude primeira da prudência (prudentia). Esta, por sua vez, garante que toda ação humana seja fruto de uma ordenação correta da alma pela qual a vontade escolha livremente aquilo que foi inteligido como sendo algo bom. Porém, Henrique defende que a alma só chega à sua perfeição máxima quando, para além dessas virtudes naturais, ela obtém as virtudes sobrenaturais. Destas, a mais relevante é a caridade (caritas), tomada como um dom (donum) infuso e não adquirido, ao contrário das virtudes naturais. No presente trabalho, pretendo apresentar alguns aspectos centrais da ética de Henrique de Gand a partir, precisamente, da consideração dessas virtudes da 'prudência' e da 'caridade'.
Resumo: Um dos debates mais acirrados na filosofia do século XIII dizia respeito à possibilidade ... more Resumo: Um dos debates mais acirrados na filosofia do século XIII dizia respeito à possibilidade de um conhecimento intelectual do singular. Isto é, seria possível para o intelecto ter como objeto de conhecimento, além do universal, o próprio singular? Aqui são estudadas as respostas de dois autores de fins do século XIII a esse problema: Mateus de Aquasparta e Vital de Furno. Suas posições são iguais nas grandes linhas, pois ambos admitem uma intelecção do singular. Elas são ligeiramente distintas, no entanto, porque Vital determina mais precisamente do que Mateus qual é o conteúdo dessa intelecção do singular. Ainda que um pouco distintas, juntas, as duas posições fornecem as bases para a discussão sobre o mesmo tema que se desenvolveria na primeira metade do século XIV. Palavras-chave: Intelecção. Sensação. Conhecimento do singular. Mateus de Aquasparta. Vital de Furno. Abstract: One of the fiercest debates in the
A distinção entre intuição e abstração é um dos elementos mais característicos da filosofia de Jo... more A distinção entre intuição e abstração é um dos elementos mais característicos da filosofia de João Duns Escoto (c. 1265-1308. Por essa distinção, ele defende a possibilidade para o intelecto humano de conhecer singulares. No que se segue, estudo diversos textos em que há uma caracterização da intelecção intuitiva, de maneira a apontar os temas implicados na noção de intuição de Duns Escoto. Ao fazê-lo, veremos a distância que separa, por um lado, os singulares reais dos singulares tal como são por nós conhecidos e, por outro, o conhecimento dos singulares que a abstração nos proporciona daquele possível pela intuição.
Resumo: Discuto aqui a necessidade de se estabelecer uma história da filosofia que recorra unicam... more Resumo: Discuto aqui a necessidade de se estabelecer uma história da filosofia que recorra unicamente ao estudo de documentos de interesse filosófico, caso essa história nos deva ser útil para a compreensão de determinadas noções filosóficas a partir de seu desenvolvimento histórico. Para tanto, mostro primeiramente que, no momento em que uma narrativa histórica pressupõe um nível lógico além do seu nível documental, ela perde essa sua utilidade. Em seguida, aponto a maneira pela qual podemos narrar uma história da filosofia exclusivamente documental.
Em uma famosa passagem do segundo prefácio à sua Crítica da razão pura, Kant defende que a lógica... more Em uma famosa passagem do segundo prefácio à sua Crítica da razão pura, Kant defende que a lógica seguiu, desde seu surgimento com Aristóteles, a via segura da ciência. Isso porque, em todo esse tempo, ela não deu nenhum passo atrás (ou seja, ela não apresentou o desnorteamento típico dos conhecimentos que ainda não seguem a via segura) e, por outro lado, também não deu nenhum passo adiante (o que aponta para o seu acabamento e sua completude). Decerto, pode-se dizer que houve, na lógica, "a remoção de sutilezas dispensáveis ou a determinação mais clara do exposto". Talvez possamos até contar isso como "efetivos melhoramentos", porém eles "pertencem mais à elegância do que à segurança da ciência" (BVIII) 1 . Não é difícil perceber que, se seguirmos a opinião de Kant, não sobra muito espaço para uma história da lógica. Que, de fato, era essa a sua posição fica claro no seu próprio curso de Lógica, onde a história da disciplina aparece mais como um adendo do que como algo necessário para a sua compreensão 2 .
___________________________________________ I. Roland J. Teske tem sido, desde de inícios da déca... more ___________________________________________ I. Roland J. Teske tem sido, desde de inícios da década de 1990, um dos autores que mais contribuíram para a recente recepção historiográfica da obra de Henrique de Gand. Uma boa parte de suas contribuições se compõe de numerosas e cuidadosas traduções de trechos das duas principais obras do Doutor Solene: a Suma das questões ordinárias e as Questões quodlibetais. De fato, como o autor nos narra no livro que ora resenhamos, seu interesse por Henrique foi incentivado, incialmente, pelo hoje já falecido Raymond Macken (provavelmente, o mais importante estudioso do gandavense entre a metade do século XX e o início do XXI) que, nas palavras do autor, o "persuadiu a traduzir algumas das Questões quodlibetais de Henrique sobre a natureza da liberdade humana" (pp. 7-8), em uma época em que Teske já era reconhecido por seu trabalho acerca de Agostinho de Hipona e Guilherme de Auvergne. 1 Esse impulso inicial rendeu bons frutos, pois Teske continua a publicar suas traduções ainda hoje, embora seu interesse inicial pela noção de liberdade tenha aberto espaço para a consideração de outros temas na obra de Henrique. Se esse primeiro conjunto de traduções foi publicado ainda em 1993, 2 os
A crítica textual tem sido uma ferramenta fundamental na historiografia da filosofia medieval des... more A crítica textual tem sido uma ferramenta fundamental na historiografia da filosofia medieval desde o século XIX. Há poucos anos, Donald H. Reiman destacou, no prefácio de Textual Editing and Critisicm de Erick Kelemen, o quanto um leitor de literatura pode se beneficiar com a crítica textual 1 -ela lhe permitiria uma maior compreensão de uma peça literária (mais precisamente, no caso de Reiman, poética) ao permitir acompanhar "o crescimento de um poema desde seu início [the growth of a poem from its inception]". 2 Em outras palavras, a crítica textual não somente permite um estabelecimento crítico de textos (o que, por si só, já seria um ganho), mas igualmente possibilita uma melhor compreensão literária desses textos. Pois bem, o mesmo parece valer para as narrativas da história da filosofia medieval. Nesse campo, a crítica textual permite o estabelecimento de edições críticas e, ao fazê-lo, influi profundamente na interpretação filosófica ou teológica que se poderá propor acerca do texto estabelecido. Talvez possamos dizer que, também na historiografia da filosofia medieval, a crítica textual diz respeito não somente à forma, mas -ao determinar a forma -também ao conteúdo.
___________________________________________ I. Ainda hoje se mostra válida a fórmula de Paul Vign... more ___________________________________________ I. Ainda hoje se mostra válida a fórmula de Paul Vignaux: "o historiador que recebeu uma formação filosófica deve ter receio de unificar demais, de sistematizar; é preciso que ele deixe ver a diversidade rebelde". 1 Com essa afirmação, Vignaux se opunha frontalmente a qualquer tentativa de sistematização da história da filosofia e, em particular, da história da filosofia medieval. Assim, ele fazia a sua própria concepção de história da filosofia escolástica ir de encontro àquela que se podia ler, por exemplo, nos textos de Étienne Gilson, onde todo o desenrolar histórico da filosofia medieval parecia estar centrado na obra de Tomás de Aquino, já que este último representava o próprio apogeu da escolástica -ele era aquele que "ia pondo tudo em seu devido lugar". 2 De fato, essa centralização da história da filosofia medieval em torno de Tomás de Aquino surge em diversos momentos da obra de Gilson. Como exemplo, temos a introdução ao seu Jean Duns Scot, na qual, logo após reconhecer quase que a contragosto a influência de Henrique de Gand sobre Duns Escoto, Gilson rapidamente passa a ignorá-la e defender que o Doutor Sutil se compreende melhor por comparação ao Doutor Angélico do que ao Doutor Solene, visto que a relação que se pode estabelecer entre Duns Escoto e Tomás de Aquino é mais importante em si e para nós do que aquela entre Duns
___________________________________________ Na rapsódia An American in Paris, o compositor americ... more ___________________________________________ Na rapsódia An American in Paris, o compositor americano George Gershwin retrata, segundo ele próprio, as "impressões de um visitante americano em Paris enquanto ele passeia pela cidade, ouve os vários barulhos da rua e absorve a atmosfera francesa" 1 . Essas impressões, porém, longe de serem um mero vislumbre da novidade de Paris, são uma mistura complexa da alegria suscitada pela cidade francesa com uma inevitável saudade nostálgica de casa sentida por todo viajante em terra estrangeira. Mas diante dessa alegria imediata e da nostalgia que a sucede, "na conclusão, os barulhos da rua e a atmosfera francesa são triunfantes" 2 ! Esses são os sucessos de um americano em Paris no início do século XX, narrados por Gershwin, quiçá baseado na experiência dos anos que ele próprio vinha passando na França. No entanto, vale perguntar: somente um viajante de inícios do século XX se fascinaria de tal modo com a cidade de Paris? Ou poderíamos dizer que essa complexa fascinação narrada por Gershwin na sua rapsódia seria sentida também por um outro viajante, também há pouco chegado a Paris, porém há muitos séculos atrás? Ora, são justamente essas impressões de Paris que reencontramos no livro de Sophie Delmas, Un franciscain à Paris au milieu du XIII e siècle. Le maître en théologie Eustache d'Arras. Só que, agora, surge um retrato da Paris da segunda metade do século XIII, uma cidade agitada pela universidade nascente, pelas novas
Na contracapa do volume ora resenhado, lemos que "não houve síntese" das posições de Henrique de ... more Na contracapa do volume ora resenhado, lemos que "não houve síntese" das posições de Henrique de Gand (a. 1240Gand (a. -1293 "desde o trabalho de 1878 de Karl Werner, Heinrich von Gent als Repräsentant des christlichen Platonismus im dreizehnten Jahrhundert". Já em nosso Brill's Companion, os "18 (NB: de fato, são 14) capítulos escritos por especialistas no campo oferecem: um resumo [overview] crítico da pesquisa atual, os principais temas da vida e dos escritos de Henrique e análises de como seu pensamento está sendo interpretado no começo do século XXI". 1 Essa observação soa muito interessante, uma vez que ela põe um problema, sem entretanto resolvê-lo. De fato, o último trabalho de síntese do pensamento do Doutor Solene pode ser creditado a Werner, porém a obra A Companion to Henry of Ghent, editada por Gordon A. Wilson, não nos oferece de maneira alguma uma nova síntese. Pelo contrário, o que ela nos oferta é uma descrição do estado da arte da pesquisa sobre Henrique de Gand, no que diz respeito [i] ao trabalho de edição crítica de sua obra, [ii] à recepção historiográfica de sua teologia e filosofia, [iii] à sua atividade universitária enquanto mestre de teologia na Universidade de Paris entre 1276-1292/3, bem como à sua atividade eclesiástica enquanto secular e [iv] à sua recepção na escolástica do século XIV e no renascimento do século XV.