Do fundo daqui Luta política e identidade quilombola no Espírito Santo (original) (raw)

Quilombolas no Espírito Santo: identidade e territorialidade

A reorganização dos movimentos sociais com base na etnização e territorialização dos conflitos tem revelado a profundidade da expropriação das comunidades tradicionais diante do modelo predatório de ocupação do solo. Comunidades tradicionais que têm sua existência baseada na relação com a natureza e formas específicas de socialidade são as que mais experimentam as formas “invisíveis” de violência no campo, devido, especialmente, a sua forma de organização social e percepção dos direitos.

Campesinidade e território Quilombola no norte do Espírito Santo

GEOgraphia, 2010

Este trabalho busca analisar as comunidades negras rurais do norte do Espírito Santo a partir das características e práticas camponesas na reapropriação de seu território. Estas práticas de territorialidade retomam antigas origens e saberes, e vêm sendo fortalecidaspela incorporação do direito étnico ao território, ora afirmado pelo Estado por meio de seureconhecimento como "comunidades remanescentes de quilombos". This work aims to analyse the rural black communities of north Espírito Santo state, in Brazil, from the peasants characteristics and practices in the reappropriation of their territov. These practices of territoriality retake old origins and wisdoms, and they are being stressed through the incorporation of ethnic rights to tenitory, at the same time legitimated by the State through its recognition as "communities remaining of quilombos".

A guerra contra os índios botocudos e a formação de quilombos no Espírito Santo

Afro-Ásia

This article focuses on the contradictions in the construction of social order and public security in Espirito Santo during the first half of the 19th century, which ended up promoting the formation of quilombos (runaway slaves communities). The documents suggest that the backlands of Espirito Santo was the scene of an interesting social-ethnic interaction of slaveowners, Indians, and enslaved Africans, beside the common sense point of view about it as a place of "barbaric peoples", "renegades" and "criminals". Two forms of social-ethnic alliances stand out and deserve to be studied more carefully: on one hand, slaveowners and Indians fighting against escaped enslaved Africans; on the other, armed African slaves and slaveowners fighting Indians, in the middle of a slaveholding system crisis. The research is based on documents held by the State of Espirito Santo Public Archives.

Identidade e Territorialidade Quilombola na Comunidade de Alto Iguape – Guarapari – Espírito Santo

O presente trabalho trata da identidade e da territorialidade na Comunidade Quilombola de Alto Iguape, localizada na região outrora conhecida como Goiabas, no município de Guarapari (ES), que recebeu a Certidão de Autodefinição como Remanescente de Quilombo no ano de 2012. Considero que Alto Iguape é uma comunidade quilombola translocal, pois seus membros não residem somente nas Goiabas, mas também em outras localidades da área urbana de Guarapari e em outros municípios da Grande Vitória. Mesmo assim, os sujeitos que moram fora das Goiabas possuem forte vinculação com seus parentes do interior e sentem-se parte da mesma comunidade. Após dois anos de pesquisa etnográfica realizada nas Goiabas e em Jabaraí, bairro da área urbana do município onde reside o maior número de quilombolas fora das Goiabas, constatei que o processo de constituição da sua identidade quilombola ocorreu paralelamente ao seu processo de reconhecimento e certificação pela Fundação Cultural Palmares, visto que anteriormente os seus membros não se identificavam como quilombolas. Participaram de ambos os processos, em maior ou menor grau, além dos próprios quilombolas, diversos atores externos, na maioria agências do Poder Público municipal, estadual e federal, bem como integrantes da Comunidade Quilombola de Monte Alegre, do município capixaba de Cachoeiro de Itapemirim. A identidade quilombola passou a ser reivindicada inicialmente no núcleo de Jabaraí, devido ao maior contato desse núcleo com as referidas agências, e só depois foi apropriada de diferentes maneiras pelos membros do núcleo das Goiabas: alguns negam tal identificação; outros a encaram como algo adjudicado; e outros, ainda, a apropriam autonomamente. Na constituição dessa identidade, os de Alto Iguape mobilizam os mesmos elementos que utilizam para a construção da sua territorialidade, que são as suas relações de parentesco, as suas atividades econômicas e relações de trabalho, as suas relações com o meio ambiente e as suas práticas culturais e religiosas. Por isso, é possível afirmar que ambos os processos são relacionais, já que são baseados nesses quatro níveis de relações sociais. Palavras chave: Comunidades quilombolas. Identidade. Territorialidade.

De 'herdeiros' a 'quilombolas': identidades em conflito (Sibaúma - RN)

2006

De 'herdeiros' a 'quilombolas'-Sibaúma /RN Agosto 2006 30º Encontro Anual da ANPOCS 24 a 28 de outubro de 2006 GT20-Relações raciais e etnicidade Sessão 2-Raça e Identidade(s) Coordenador(es): Livio Sansone (UFBA) , Osmundo Pinho (UCAM) , Angela Figueiredo (UNEB; UFBA) De 'herdeiros' a 'quilombolas': identidades em conflito (Sibaúma-RN) Julie Antoinette Cavignac (UFRN) Cyro Holando de Almeida Lins (UFRN) Augusto Maux (UFRN) Resumo Durante a pesquisa realizada numa comunidade quilombola situada no litoral sul do estado do RN para fins de elaboração de um relatório técnico, notamos situações ímpares 1 O relatório apresentado em agosto de 2006 foi elaborado no quadro de um convênio assinado em janeiro de 2006 entre a Universidade Federal do Rio Grade do Norte (UFRN) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Visa fornecer informações para o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação das terras ocupadas por remanescentes de quilombo, localizadas no município de Tibau do Sul (RN) e contém a descrição dos quadros históricos, geográficos, sociais e antropológicos que devem compor um relatório antropológico.

Migração e Identidade Étnica Pomerana No Espírito Santo

2016

Este trabalho esta vinculado ao Laboratorio de Estudos do Movimento Migratorio (LEMM) da Universidade Federal do Espirito Santo. Nossos objetivos principais foram analisar os fluxos migratorios do povo pomerano dentro do estado do Espirito Santo; apontar e discutir os demarcadores etnicos deste povo neste estado, com enfase no idioma; analisar as relacoes interetnicas com os demais povos para discutir a construcao e representacao da identidade pomerana. O objeto de estudo foi uma comunidade pomerana localizada em Laginha, distrito do municipio de Pancas, a noroeste do estado. O trabalho se desenvolveu com o uso de documentos oficiais, pessoais, registros religiosos, fotografias. Alem da historia oral com realizacao de entrevistas. A partir dessas entrevistas foram levantas e discutidas algumas questoes centrais: em contraponto ao discurso de comunidades isoladas, percebemos a intensa movimentacao dos pomeranos no territorio capixaba e suas interacoes nas localidades, estabelecendo r...

COMUNIDADE QUILOMBOLA ILHA DE SÃO VICENTE: territorialidade, identidade, resistência, conflitos e disputas socioespaciais

2019

O trabalho a seguir, resultado das impressões e informações colhidas em uma atividade de campo na ilha de São Vicente (localizada dentro dos limites territoriais do município de Araguatins - TO) através das disciplinas Geografia Agrária, Geografia Física do Brasil e Climatologia, ainda que proponha proceder a considerações um tanto lacônicas sobre características físicas e humanas atinentes à comunidade quilombola habitante daquele local - Comunidade Quilombola Ilha de São Vicente -, tem como foco principal a busca por discorrer - bem como tecer algumas considerações sobre - a respeito do enredo de existência e permanência de uma autoidentificação coletiva do grupo social ali residente com o espaço onde se encontram estabelecidos, que também é percolado por um histórico de iniciativas e estratégias de mobilização societária continuada e brava resistência ante às frequentes e gradualmente mais pesadas pressões demográficas e socioeconômicas exercidas, principalmente, no plano de um específico embate agrário e fundiário no qual estão envolvidos os membros da comunidade e um fazendeiro local, que alega ser detentor de diversos terrenos na mencionada ilha e já conseguiu se apossar de mais da metade das terras da localidade, com a anuência da justiça local de Araguatins. Em detrimento dessa realidade exposta, o nosso estudo se propõe a discutir a realidade da ilha de São Vicente através da perspectiva da Geografia, apresentando a relevância de estudar a temática, assim como evidenciar a visão da comunidade perante a situação. Por fim, manifestaremos alguns apontamentos sobre a realização da pesquisa.

COMUNIDADE QUILOMBOLA MANOEL CIRIACO DOS SANTOS: IDENTIDADE E FAMÍLIAS NEGRAS EM MOVIMENTO

Esta dissertação, baseada na etnografia realizada junto à “Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos”, localizada em Guaíra/PR, problematiza a vinculação direta entre a legitimidade da reivindicação territorial das comunidades quilombolas e a ideia de territorialidade fixa, que tem sido presumida pela política de garantia de direitos territoriais quilombolas no Brasil. Esta pesquisa indicou como a construção da identidade quilombola é perpassada pelos processos de deslocamentos constitutivos da trajetória das famílias que vivem atualmente em Guaíra/PR, mas são provenientes de Santo Antônio do Itambé/MG. A reivindicação da identidade quilombola é elaborada pelos meus interlocutores(as) com base na origem e na ancestralidade comuns com antepassados negros que foram escravizados nesta região de Minas Gerais, a partir da qual ocorre a saída das famílias em busca de melhores condições de vida, passando pelo estado de São Paulo até a mudança para Guaíra/PR, onde adquirem área própria. Nas narrativas dos membros da comunidade, percebe-se como o movimento não dissolve, mas, ao contrário, sustenta o pertencimento coletivo. Este caso exemplifica como a ideia de territorialidade fixa desconsidera experiências de “resistência à opressão histórica sofrida” – critério trazido pelo Decreto Federal 4887/2003 ao regulamentar o processo de titulação quilombola –, constituídas por meio de estratégias de deslocamento e não pela permanência em um mesmo território de ocupação tradicional. Estas dinâmicas de movimento foram, em um primeiro momento do processo de regularização territorial, que ainda tramita no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), entendidas como um elemento de descaracterização da legitimidade da reivindicação do grupo pelo primeiro relatório antropológico produzido sobre a comunidade. Com a não aprovação deste estudo por parte do INCRA, um novo relatório foi contratado, tendo este investido no argumento de que há uma continuidade entre as dinâmicas socioculturais do grupo de Guaíra/PR e as comunidades quilombolas de sua região origem, a partir de pesquisa realizada no entorno do município de Santo Antônio Itambé/MG. Esta pesquisa realizada pelo segundo relatório criou o interesse por parte da comunidade de que eles mesmos pudessem visitar a região. Tais viagens de retorno foram realizadas no âmbito desta dissertação para buscarmos mais informações sobre a trajetória histórica das famílias, o que gerou um entrelaçamento entre a minha pesquisa e a trajetória do grupo. O (re)encontro entre parentes perdidos e a possibilidade de acesso às histórias dos antepassados proporcionados por estas viagens sugerem que a busca pela reconstituição de histórias e vínculos com a região de origem, por parte dos quilombolas de Guaíra/PR, não se restringe ao âmbito instrumental e administrativo, mas tem também uma importante dimensão afetiva. A articulação destas dimensões aponta para o anseio dos quilombolas pelo reconhecimento da legitimidade de sua versão sobre sua história, do valor de sua origem e trajetória, bem como do direito de se construírem como sujeitos e como coletividade específica. Palavras-chave: comunidade quilombola; relatórios antropológicos; movimento; memória.

Identidade Étnica como bandeira de luta: uma reflexão sobre a etnicidade quilombola

Resumo: o presente ensaio reflete sobre etnicidades, a partir da emergência da identidade quilombola no contexto do reconhecimento de direitos diferenciados às comunidades de quilombos, no âmbito do prescrito pelo Artigo 68 do ADCT/CF-88. Em questão se coloca o fato de que marcadores étnicos – fluidos e carregados de singularidades – representam o acesso a direitos – genéricos – a diversos grupos historicamente destituídos dos mesmos, na esteira do reconhecimento jurídico da diferença e do multiculturalismo. O caso dos remanescentes de quilombos, sujeitos instituídos, servirá à reflexão ora proposta, momentos onde o recurso a identidade étnica se torna bandeira de luta; colocam-se em questão as orientações políticas da etnicidade e a politização da diferença.