Glossário de (des)identidades sexuais (original) (raw)

MARQUES, FRANÇA. Cafuçu. In: Glossário das (Des)identidades sexuais. 2023.

Glossário de (des)identidades sexuais, 2023

Roberto Marques e Isadora Lins França propõem uma genealogia do cafuçu, associada ao racismo que é marca de origem do Estado nacional brasileiro. Descrevem o cafuçu como “usualmente vinculado a corpos avaliados por terceiros como carentes de distinção, subalternizados entre convenções e estratégias narrativas que atribuem ao cafuçu uma sensualidade (mais) primitiva em meio a repertórios coloniais de diferenciação, violência e desejo”. Marques e França também comparam o cafuçu com os camponeses celibatários descritos por Bourdieu, uma vez que o cafuçu “exibiria características e gestos acintosamente relacionados a um mundo que foi ou deveria ser deixado para trás”. O cafuçu, pela sua “origem rural e o modo de trabalho a ela vinculada como algo primitivo, pouco rentável e degradante [...] não possuiria os recursos necessários para acessar os bens e prazeres que almeja [...]”. Ao mesmo tempo, os cafuçus também são apresentados e valorizados como objetos de desejo e de consumo alheio. Assim, muitos deles terminam por gerar valor de compra ao deixarem-se consumir em um arranjo de trocas monetárias e sexuais.

Fora do alfabeto? Hibridismo e normatização de identidades sexuais

Letras & Letras, 2011

A partir do diálogo entre teorias sociais (sobretudo HALL, 1992 e 1998, e BRUNER, 1990) e da linguagem (AUSTIN, 1970 e 1998) o presente artigo analisa identidades sexuais não-padrão tal como apresentadas no site MixBrasil. Busca-se compreender como tais identidades são linguisticamente constituídas e também o lugar que ocupam na economia do site. Conclui-se que as identidades citadas tanto contestam a norma do site quanto contribuem para seu estabelecimento, pois se constituem hibridamente e apresentam marcas do outro contra/com o qual tal norma é forjada.

Sexo, desejo e identidades

Intexto, 2016

Resenha do livro "Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual" de Beatriz Preciado.

Artivismos das dissidências sexuais e de gênero

EDUFBA, 2019

Os textos que compõem o livro resultam de uma pesquisa sobre políticas de respeito às diferenças sexuais e de gênero no Brasil atual. Cada autor aborda artistas e coletivos que têm usado, ontem e hoje, o teatro e a música para problematizar e questionar as normas de gênero e sexualidade no País. Os objetos abordados transitam entre a música popular brasileira e o teatro brasileiro/baiano do passado e do presente.

Dissidências sexuais e de gênero

Dissidências sexuais e de gênero, 2016

Livro com textos apresentados no II Seminário Internacional Desfazendo Gênero. O livro conta com textos de Judith Butler, Berenice Bento, Gracia Trujillo, João Manuel de Oliveira, Renata Pimentel, Iris Nery do Carmo, Fernanda Capibaribe Leite, Catarina Isabel Martins, Tiago Duque, Jaqueline Gomes de Jesus e Yuri Tripodi.

Jovens produzindo identidades sexuais

2009

A seção final do artigo considera as implicações que tais entendimentos podem ter para práticas profissionais. Elas indicam que os praticantes, por exemplo, de profissões de cuidado, ensino ou assistência médica estão direta e ativamente envolvidos na construção da identidade de seus jovens clientes, alunos ou pacientes ao mesmo tempo em que constroem suas próprias identidades profissionais.

" Gênero " para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra

The misadventures of the Author in writing about a "key-word" for a famous marxist dictionary are recounted here. In her own words: "Also, even if Marx and Engels -or Gayle Rubin, for that matterhad not ventured into sexology, medicine, or biology for their discussions of sex/gender or the woman question, I knew I would have to do so. At the same time, it was clear that other BIG currents of modern feminist writing on sex, sexuality, and gender interlaced constantly with even the most modest interpretation of my assignment. Most of those, perhaps especially the French and British feminist psychoanalytic and literary currents, do not appear in my entry on Geschlecht. In general, the entry below focuses on writing by US feminists. This is not a trivial scandal." Em 1983, Nora Rathzel, do coletivo feminista autônomo do jornal marxista independente Das Argument, da Alemanha Ocidental, escreveu pedindo-me um verbete sobre uma "palavra chave" para um novo dicionário marxista. Um grupo editorial do Das Argument havia empreendido o ambicioso projeto de traduzir para o alemão os vários volumes do Dictionnaire Critique du Marxisme 1 e também de preparar um suplemento alemão à parte, que tratasse particularmente dos novos movimentos sociais, não tratados na edição francesa. 2 Esses movimentos haviam produzido uma revolução internacional na teoria social crítica dos últimos vinte anos. Produziram também -e parcialmente foram produzidos por -revoluções na linguagem política no mesmo período. Como disse Rathzel, Nós, isto é, o grupo editorial feminista, vamos sugerir algumas palavras-chave que estão ausentes e queremos que algumas outras sejam re-escritas, porque as mulheres não aparecem onde deveriam. 3 Esta crítica sutil identificava uma importante arena da luta feminista -a canonização da linguagem, da política e das 1 LABICA, Georges e BENUSSEN, Gerard. (eds.) Dictionnaire critique du marxisme. 8 vols., Paris, Presses Universitaires de France, 1985. 2 O projeto era tão assustador que o "suplemento" separou-se do projeto de tradução e está a caminho como um trabalho em dois volumes com vida própria, o Marxistisches Wörterbuch, sob a organização geral de Wolfgang F. Haug do Institut für Philosophie, Freie Universität, Berlim. Há centenas de contribuições, da Alemanha e de vários outros países. A partir de uma lista feita em 1985, algumas das palavras-chave planejadas, de particular interesse para as feministas,

A multiplicidade das configurações sexuais

Revista Brasileira de Psicanálise, 2013

afirma que a sexualidade humana é na sua origem traumática, traumatismo que está ligado ao reconhecimento da diferença entre os sexos. A configuração edipiana, seja na sua dimensão homossexual ou heterossexual, confronta o indivíduo com a impossibilidade de possuir os dois sexos, como também de possuir seus pais. Este artigo sugere que a distinção entre "pai assassinado" e "pai morto" é crucial na internalização da diferença sexual. A fantasia de "um pai espancado" e suas transformações emergem na análise de certos pacientes homens e expressam a apropriação do pai morto (pai simbólico). Quatro casos clínicos são descritos. A autora formula a hipótese de que alguns casos clínicos demonstram a incapacidade de elaborar a perda do pai simbólico e apresentam erotização desta perda. Palavras-chave: pai morto; pai assassinado; pai espancado; cena primitiva; foraclusão; fantasias primárias; perversão; diferença sexual. Joyce McDougall relata a seguinte sessão com uma criança de cinco anos, depois das férias de verão: Ele entra correndo no consultório, num evidente estado de excitação, para me anunciar um acontecimento inusual: "Durante as férias, fomos para um acampamento onde todas as crianças tomavam banho juntas, peladas!". "Você quer dizer as meninas e os meninos juntos?", pergunta JMD. Um pouco surpreso, o menino grita: "Não seja boba! Como vou saber? Eu já te disse, elas estavam sem roupa!" (1989, p. 205).