DENIS DIDEROT E O CONTO FILOSÓFICO: O SUPLEMENTO À VIAGEM DE BOUGAINVILLE (original) (raw)
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DENIS DIDEROT – CARTA A PAUL LANDOIS
The Letter to Paul Landois, written in 1746 and containing a survey of the main thesis concerning Diderot’s moral philosophy, is presented, translated to Portuguese and annotated. As the others, this volume from Cultura can be acceded at http://cultura.revues.org/
DIAGNÓSTICO E BATALHA: SOBRE A DUPLA CARACTERIZAÇÃO DA FILOSOFIA POR FOUCAULT 1
Revista de Ética e Filosofia Política, 2024
Resumo: O presente artigo intenta explorar aquilo que parece se uma caracterização bifronte da filosofia na obra de Michel Foucault. Por um lado, uma noção da tarefa da filosofia mais corriqueira na exegese de seu pensamento, tal seja, a ideia de que a filosofia é um diagnóstico do presente, ideia que Foucault ora aponta como oriunda de Kant, ora como tendo uma raiz nietzschena. Por outra via, a noção, que ocorre em alguns textos, de que a genealogia, enquanto método histórico-filosófico, é uma arma em um conflito social. No correr do texto, apresentamos e discutimos esse Janus filosófico e lançamos mão de uma interpretação do mesmo.
FATO E FICÇÃO NA OBRA DE DANILO KIŠ: UMA LEITURA DE UM TÚMULO PARA BORIS DAVIDOVITCH
O espaço (auto) biográfico contemporâneo, tal como nos apresenta Arfuch (2010) constitui-se em uma zona híbrida, instável, irregular. Uma zona em que predominam a interdiscursividade entre os gêneros, a transversalidade dos discursos e uma dificuldade cada vez maior de etiquetar e classificar as produções que trabalham com a escrita da intimidade. Este novo cenário exige que o leitor incorpore novas formas de olhar às narrativas, armando-se de procedimentos de leitura específicos, porém ao mesmo tempo ambíguos, afinal uma obra de ficção pode conter elementos (auto) biográficos, assim como uma produção (auto) biográfica pode se construir predominantemente de invenção. Como encarar então este tipo de texto? Uma destas experimentações cada vez mais crescentes no interior do espaço (auto) biográfico é uma constante na bibliografia de um escritor iugoslavo que nas palavras de Sontag (2001), sempre esteve sob ataque e portanto, de modo forçoso, no ataque: Danilo Kiš. Espectador de períodos tempestuosos da História Mundial, filho de um país que celebrava a literatura provinciana (e que logo, opunha-se ao modelo nada conservador de escrita de Kiš), transformado em astro por seus conterrâneos apenas após a sua morte em 1989, o que se estabelece na produção deste autor, em especial na obra que analisamos, Um túmulo para Boris Davidovitch, é uma forte tensão entre fato e ficção. Ou seja, na construção mimética, Danilo Kiš incorpora às suas narrativas ficcionais, uma série de estratégias comumente presentes nas narrativas biográficas. Esse procedimento, que também aparece em Vidas Imaginárias (2011), de Marcel Schwob; História Universal da Infâmia (1986), de Jorge Luís Borges; e Mortes Imaginárias (2005), de Michel Schneider, insere Um túmulo para Boris Davidovitch na tradição das genericamente chamadas ficções biográficas (Premat, 2010). São obras que se estruturam no formato de relatos curtos, em que a veracidade e o testemunho, típicos da biografia, se mesclam com a invenção, a especulação e a dúvida da invenção ficcional. Pensando nestas questões, neste trabalho, lançamos um olhar analítico sobre os sete relatos que compõem Um túmulo para Boris Davidovitch, de Kiš, buscando compreender como se organizam as narrativas, como se estabelece essa tensão entre ficção e realidade na obra, e de que maneira o escritor iugoslavo assume o que Premat (2010) chama de posição de falsário, ao introduzir nas narrativas como dados autênticos personas e informações que, na verdade, não encontram referentes no mundo real. Paralelamente, buscamos conexões entre a obra de Kiš e os outros livros que compõem a tradição na qual ela está inserida, propondo o estabelecimento de uma genealogia que se configure não pela herança de sangue, típica da crítica comparativista tradicional, e sim, como propõe Souza (2007), pela aproximação, que se vale tanto de coincidências ideológicas entre os autores quanto de experiências biográficas comuns, que pode ser feita pela crítica a partir de liberdades interpretativas, de rede de associações que se compõem de elementos ficcionais, teóricos e biográficos.
CETICISMO E MATERIALISMO EM DENIS DIDEROT (I): UMA ANTROPOLOGIA CÉTICA
Sapere Aude, 2023
Este artigo é o primeiro de dois estudos tratando das relações entre o ceticismo e o materialismo no pensamento de Denis Diderot. Um segundo trabalho, complementar a este, tratará do ceticismo em registro epistemológico, enquanto este primeiro estudo trata do elemento cético em registro metafísico-religioso, buscando evidenciar a presença de uma antropologia cética na obra do autor. A hipótese avançada aqui é a de que desde os textos de juventude Diderot formula a ideia de uma heteronomia do pensamento, isto é, de sua determinação por fatores externos a si. Se nesses textos essa ideia é ainda formulada por meio do uso de alegorias e de um anatomismo bastante esquemático, nos textos da maturidade, por sua vez, vemos que o influxo das ciências da vida permite ao autor traduzi-la segundo os termos de uma "fisiologia filosófica". Num e noutro caso, de todo modo, é o tema da relação entre alma e corpo que está em jogo. PALAVRAS-CHAVE: Diderot; iluminismo; ceticismo; materialismo.
DISTINÇÕES NA FILOSOFIA DE BOURDIEU: UMA ENTREVISTA COM MICHAEL GRENFELL
Tematicas, 2023
DISTINÇÕES NA FILOSOFIA DE BOURDIEU: UMA ENTREVISTA COM MICHAEL GRENFELL RESUMO: Entrevista com Michael Grenfell, Professor Emérito de Educação na Universidade de Southampton, em que se discute vários aspectos de seu trabalho e da obra de Pierre Bourdieu, com quem Grenfell trabalhou na década de 1980. Enfatiza-se a necessidade de uma apreciação e aplicação mais cuidadosa da abordagem bourdieusiana, que leve em conta também seu projeto filosófico de oferecer uma conversão da visão de mundo — uma metanoia — da parte dos pesquisadores atentos a questões de reflexividade. Também se conversa sobre as adaptações necessárias para aplicar a teoria da prática a nosso mundo do século XXI.PALAVRAS-CHAVE: Pierre Bourdieu. Reflexividade. Teoria da prática. DISTINCTIONS IN BOURDIEU’S PHILOSOPHY: AN INTERVIEW WITH MICHAEL GRENFELLABSTRACT: Interview with Michael Grenfell, Emeritus Professor of Education at the University of Southampton, in which we discuss several aspects of his work and also Pierre Bourdieu’s, with whom Grenfell worked in the 1980s. The need for a more careful appreciation and application of Bourdieu’s approach is emphasized, taking into account also his philosophical project of offering a conversion of the worldview — a metanoia— for researchers attentive to questions of reflexivity. We also talk about the necessary adaptations in order to apply the theory of practice to our 21st century world. KEYWORDS: Pierre Bourdieu. Reflexivity. Theory of practice.1 Pós-doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo. E-mail: frrs@usp.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2006-754X.DOI 10.20396
2023
RESUMO: O presente trabalho tem como principal objetivo, através de uma concisa exposição acerca do simbolismo anagógico e da estética luminosa do estilo gótico, estabelecer a sua relação com a Via-Pulchritudinis, caminho da beleza, retomada em documento homólogo pelo Conselho Pontifício para a Cultura em 2006. Busca-se compreender o contexto, a cosmovisão e as influências que conduziram o precursor do estilo, Abade Suger de Saint-Denis, na reforma da primeira igreja gótica, bem como o fundamento de sua visão estética e simbólica. Como a arquitetura da abadia, os ornamentos e o programa iconográfico apontam para uma estrutura sistemática de doutrinas metafísicas e teológicas, procura-se atestar a íntima relação entre a metafísica da luz, do Pesudo-Dionísio e o simbolismo da obra, principalmente através dos vitrais, que inundavam a igreja com a luz divina. Por conseguinte, tenta-se compreender a beleza e o simbolismo no pensamento medievo, presentes no estilo gótico, como esses se fundamentam desde sempre nos Sacramentos, sobretudo na Sagrada Eucaristia. Observar o seu valor perene, que se estende e se relaciona aos fiéis do contexto atual, compreendendo, assim, a via da beleza. Por fim, ressalta-se que essa via não é única, mas em harmonia com outros caminhos, ilumina e eleva o homem à Verdade. Esse trabalho despende especial atenção ao estilo gótico sabendo que, sem aspirar a recuperação da ideia de uma idade de ouro da liturgia ou arquitetura, o empenho deve estar na criação de belas e atemporais obras sacras. 1 Especialista em arquitetura e arte sacra do espaço litúrgico pela Faculdade São Basílio Magno (FASBAM).
CULMINÂNCIA E INSATISFAÇÃO EM DOUTOR FAUSTO, DE ANTÓNIO VIEIRA
CULMINÂNCIA E INSATISFAÇÃO EM DOUTOR FAUSTO, DE ANTÓNIO VIEIRA, 2018
Artigo sobre a inter-relação de alguns elementos constitutivos (tempo, espaço, personagem, narrador e foco narrativo) junto à composição do romance Doutor Fausto, de António Vieira (2013). A pesquisa busca destacar alguns desdobramentos estéticos e conceituais provenientes dessa interação. Para tal, o estudo associa a análise provinda de proposições da teoria da narrativa (GENETTE, 1979; 1989; FRIEDMAN, 2002; LINS, 1976; ROSENFELD, 2002) aos horizontes críticos da historiografia literária. Despontam como resultados do trabalho um arcabouço inicial da constituição do romance, o arrolamento e o debate acerca de diálogos intertextuais e o entrecruzamento das dimensões temporais da história e do discurso. Por fim, destacam-se as considerações da oscilação da configuração do espaço na caracterização do protagonista, da variabilidade dos vetores das grandes unidades/articulações narrativas, da virtualidade da função contínua dos intertextos e da expressividade da metáfora
FILOSOFIA COMO ATIVIDADE NAO DOUTRINAL EM NIETZSCHE E WITTENSTEIN.pdf
O presente texto propõe uma reflexão acerca da relação entre filosofia e normatividade ética na contemporaneidade e se volta para a consideração de determinados pressupostos mobilizada pelas filosofias de Nietzsche e do primeiro Wittgenstein. Esta aproximação é justificável por vários motivos, mas dois merecerão aqui maior ênfase. Primeiramente a importância da critica a pressupostos tradicionais do discurso filosófico referente a questões morais e éticas efetuada pelos dois autores. Em segundo lugar, pela recusa de ambos em delimitar a questão da normatividade ética a uma reflexão unicamente conceitual, a partir de suas análises da prática linguística da filosofia. Estes aspectos serão mobilizados no sentido de evidenciar como eles levam os autores mencionados a um afastamento das noções tradicionais de fundamentação de posicionamentos filosóficos, assim como ao distanciamento com respeito às possibilidades de fundamentação de uma filosofia normativa de cunho determinista.
UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DO LIVRO DIDÁTICO FLIGHTPATH UM FOCO NOS CANAIS IMAGÉTICO E ORAL
Since 2008, pilots and flight controllers who intend to fly internationally are required to possess oral English proficiency, which has led to a spread of didactic materials for this specific purpose. Through a qualitative descriptive research which treats the non-verbal and verbal languages in the same way, we present a general overview of the didactic book Flightpath, as well as a deep analysis of its first unit. We indicate, in each activity, which language (verbal or non-verbal) the decoding process and meaning-making originate from. We identify how the verbal language is associated to the non-verbal language combined in their corresponding activities and/or page, aiming at the possible roles of the non-verbal language either when illustrative; or when they complete the verbal language; or yet when they are used as decoration. We have noticed that many of these activities are out of line with the reality of language use by these professionals. We believe that the perceptual models activated in pilots are firstly based on the non-verbal language and consequently