Vieira e a alegoria dos teólogos e do Renascimento (original) (raw)

A teologia retórico-humanista do Padre António Vieira

2019

O padre Antonio Vieira escreveu uma obra de circunstância – as cartas, os sermoes e os papeis –, que ele chegou a apelidar de «choupanas», e uma obra de grande investigacao – a Chave dos Profetas –, que tambem apelida de «palacios altissimos». Em todos os textos perpassa uma teologia retorico-humanista, que ele partilha com muitos dos pensadores do seu tempo, e com os seus confrades em particular. O inovador desta teologia e que ela faz tambem recurso a «novas» fontes (a reflexao historica e a espiritualidade jesuita) e a novas inspiracoes (proprias de Vieira) que a tornam unica e merecedora de um aprofundamento que ainda nao foi feito. Palavras-chave: teologia positiva, retorica, Exercicios Espirituais, Reino, escatologia.

Hermenêutica e historicidade em António Vieira

Phainomenon, 2003

Constitui um dos pontos mais caracteristicos da concep<;:ao henneneutica vieiriana a insistencia no papel que o tempo desempenha no processo do desenvolvimento e revela<;:ao da verdade, o que e dito na recorrente tese segundo a qua! «o melhor comentador das profecias e o tempo». Tai tese sup6e a introdu<;:ao do tempo na substiincia da verdade. E o que mais surpreende e que ela nao se refere apenas as verdades humanas e mundanas, mas tambem, e antes de mais, as verdades teo16gicas e ate mesmo as verdades reveladas nas Escrituras Sagradas. Ha um real crescimento da verdade, pelo menos do ponto de vista da sua manifesta<;:iio aos hcimens ou da consciencia que estes dela alcan<;:am. Esta tese de Vieira constitui sem duvida uma <las mais pristinas formula<;:6es da intima correla<;:ao que existe entre hermeneutica e historicidade, segundo a qual toda a interpreta<;:ao e possibilitada e ao mesmo tempo limitada pelo respectivo horizonte hist6rico do interprete.

Vieira e a Bíblia

Escrutar as Escrituras com arte e com alma. Vieira e a Bíblia A obra do padre António Vieira está repleta de citações bíblicas, e toda ela fundada na Sagrada Escritura. Os seus sermões desenvolvem-se a partir de um tema (único) retirado do "Texto sagrado", geralmente um versículo ou um pequeno trecho dos Evangelhos. As obras proféticas, sobretudo as de maior folego (História do Futuro e Clavis prophetarum), mais do que desenvolverem uma teologia sistemática, como bem notou Besselaar, são sobretudo tratados exegético-retóricos sobre o fim da história 1 . Em outros escritos, particularmente em alguns apensos ainda inéditos, ele dá mostras de conhecer o que de melhor se fazia na exegese do seu tempo. Aliás, a lista dos autores citados nas suas obras é impressionante. Se os consultou diretamente ou se os cita socorrendo-se de comentadores, como é geralmente o caso na História do Futuro (ver Besselaar 1974; Banza 2004), aqui pouco importa.

Ouvir ou ver por espelhos: a retórica de Vieira e de Bach

Em Tese, 2007

Tentando manipular o turbilhão do real, a retórica de Vieira eBach acomoda o mundo no formato do espelhamento, atravésde uma confortável simetria que permite que o fugaz sejacontrolado. O virtuosismo desses dois mestres mostra como arepetição e a diferença podem conviver num projeto deexplicação do mundo.

Vieira e Os Estilos Cultos:" Ut Theologia Rhetorica

2011

resumo: O estudo trata de adaptações que a ação contrarreformista fez de pressupostos da Poética e da Retórica aristotélicas e outros textos preceptísticos para constituir uma retórica ordenada pela ideia de um ut theologia rhetorica, ou seja, uma retórica definida como instrumento para a transmissão das verdades teológicas, em particular a verdade bíblica. Essa adaptação pressupôs a atenção às questões relacionadas à fantasia e ao campo metafórico das obras. A Contrarreforma não via a maravilha como essencial ao discurso sacro, mas como licença poética. Essa ordenação não pressupunha, contudo, a anulação total da fantasia, mas sua submissão à transmissão da verdade bíblica, o que pressupunha uma concepção particular da metáfora e da figura aqui analisada. Seguindo a concepção aristotélica pela qual todo discurso é por natureza metafórico, permitindo o rápido aprendizado, a questão do engenho foi fundamental para conceituar a representação icástica ou fantástica. Nos processos de centralização monárquica, a metáfora é o fundamento da agudeza que, como categoria, é um modo retórico-poético de pensar do Antigo Regime. O uso das imagens não é, então, pura fantasia de uma elocução dissociada dos lugares comuns teológicos, mas ordenação de imagens que os figuram em suas espécies históricas e naturais sensíveis. O estudo desenvolve conceitualmente e em detalhe essas questões, em particular no programa discursivo de Antônio Vieira, que propõe a invenção oratória como desenho de lugares teológicos adequados retoricamente à matéria sacra, censurando lugares arbitrários e coloridamente confusos, que define como o delectare fantástico dos seus rivais dominicanos.

Vieira e a permanencia do espirito profetico na Igreja

Resumo: Este artigo busca analisar o problema da permanência do espírito profético na Igreja conforme defendido por Padre Antônio Vieira (1608 -1697) durante seu processo inquisitorial. Por meio da análise de obras compostas no contexto desse processo, procura-se mostrar que Vieira defende a veracidade das Trovas do sapateiro português Bandarra (1500 -1556) na contramão dos decretos a respeito da questão da revelação profética que vinham especialmente do Quinto Concílio de Latrão (1512 -1517) e do Concílio de Trento (1545-1563). Assim, o que se percebe, a partir desse caso, é um descompasso entre a política da Igreja quanto ao tema e as práticas que efetivamente tinham lugar no mundo católico, especialmente no Portugal dos séculos XVI e XVII.

O letrado e o óbolo - Vieira e a justificação da pobreza

2000

A presente pesquisa tem como objetivo analisar os escritos do jesuíta Antônio Vieira a partir do recorte temático da pobreza e de sua estreita ligação com o pensamento religioso vigente. Considerando o grande volume de escritos, tanto sermões quanto epístolas e apontamentos históricos, selecionamos aqueles que mantêm relação mais próxima com o tema proposto. A fim de discutirmos essa problemática, buscamos historiadores que discorreram sobre o século XVII, abordando prioritariamente a questão da pobreza, da indigência e da bastardia. A ligação dos discursos históricos e documentais com outros escritos do autor nos revelou as dinâmicas das sociedades gestadas pelos portugueses e a tentativa desses de se inserirem na modernidade, repensando a organização econômica e redesenhando o panorama social de Portugal.

Padre António Vieira: o discurso engenhoso em nome da fé e da salvação do homem

Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 2016

No século XVII, o sermão é a via da evangelização do catolicismo. Baltazar Gracián, o grande teórico da retórica barroca, elabora as normas do discurso engenhoso: um saber fazer com a palavra, um trabalho de reconstrução da língua. Em seus sermões, padre António Vieira coloca o engenho a serviço de um discurso que se inscreve em uma das versões míticas sobre Portugal: uma nação cujo povo espera com a ressurreição de Dom Sebastião, o rei morto na batalha de Alkácer Kibir, reconquistar o passado glorioso da época dos descobrimentos.

Vieira e Bach: uma retórica do espelhamento

2006

A partir de comparacoes entre elementos presentes no Sermao da Sexagesima, no Sermao do Demonio Mudo e ao longo do sermonario do Padre Antonio Vieira, e de determinadas caracteristicas das fugas de Bach, especialmente no que tange as chamadas "fugas-espelho", o presente trabalho procura realizar um dialogo intersemiotico que aponte semelhancas entre as mencionadas obras. Com a ajuda de bibliografia critica e especializada sobre o assunto, pretende-se demonstrar como as estruturas do sermao e da fuga podem coincidir em varios niveis. Estrategias de espelhamentos parecem surgir enquanto praticas constitutivas do texto literario e do musical.