Diálogo conceitual em torno do Estado plurinacional: entre o multiculturalismo e a teoria pós-colonial (original) (raw)

Bolívia: do Estado-Nação ao estado plurinacional

Pós - Revista Brasiliense de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2014

Este ensaio trata das mudanças ocorridas na identidade nacional na Bolívia, que se estruturou historicamente a partir da independência do domínio colonial espanhol, e desde então foi questionada por uma população de maioria indígena que não se reconhecia como sendo parte integrante do Estado-nação proposto pelas elites que governaram o país.

Etnonacionalismo: o MAS e a formação do estado plurinacional boliviano

Teoria e Pesquisa, 2012

RESUMO Este artigo se propõe a analisar como o MAS (Movimento ao Socialismo) foi capaz de articular uma série de demandas étnicas e regionais que vinham cindindo a nação boliviana desde algum tempo. O MAS de Evo Morales, através da última constituição aprovada em 2009, foi capaz de trazer ao jogo político e democrático as demandas oriundas de variados nichos étnicos indígena-camponeses, sendo representados, principalmente, pelas organizações indígenas da região andina, embora também por diversos grupos da região amazônica e do chaco. Através de um sistema de descentralização por vias departamentais e pelas autonomias municipais indígenas, o MAS foi capaz de representar os diversos grupos étnicos em um mesmo pólo ideológico mantendo a unidade nacional.

Transnacionalidade e intermidialidade em perspectiva pós-colonial

Rumores, 2018

Este artigo tem como objetivo explorar a relação entre transnacionalidade e intermidialidade para os estudos de cinema. Considero que a questão da complexidade midiática precisa ser abordada quando se discutem os aspectos epistemológicos e metodológicos no estudo de filmes transnacionais. Enquanto as academias europeia e americana veem na transnacionalidade uma ferramenta para realçar a pluralidade cultural e o hibridismo, bem como a chance de superar o eurocentrismo, no caso das nações lusófonas, ideias acerca de um suposto hibridismo – como o luso-tropicalismo e a lusofonia – costumam remitificar questões identitárias em produções transnacionais. Visando compreender sua estreita relação, realizarei primeiro uma abordagem histórica dos dois conceitos para, depois, usar meus estudos anteriores sobre filmes e coproduções de língua portuguesa, que lidam com o colonialismo e o pós-colonialismo, como exemplos para essa abordagem.

MUNDIALIZAÇÃO E MULTICULTURALISMO E A REFUNDAÇÃO DO CONCEITO DE CIDADANIA

Atlântida, 2017

Com o presente trabalho pretende-se analisar, do ponto de vista jurídico, as mutações do conceito de cidadania resultantes de uma movimentação social sem precedentes com reflexos no conceito pós-moderno de cidadania, sobretudo na modelação do seu conteúdo. Propõe-se, mais concretamente, analisar a resposta do direito, com especial enfoque no Direito Internacional, às mutações do conceito de cidadania no contexto da mundialização e do multiculturalismo, procurando, sobretudo, definir o alcance dessa cidadania, dita cosmopolita. Parte-se da ligação próxima entre cidadania e nacionalidade, o mesmo será dizer entre cidadania e Estado, questionando-se se no presente contexto da mundialização fará sentido manter a mesma matriz, ou se, antes, será possível, ou pelo menos desejável, uma cidadania desprendida do Estado.

A ideologia colonialista no discurso multicultural

Anais da 2ª Jornada Internacional de Estudos do Discurso e 1º Encontro Internacional da Imagem em Discurso, 2012

Em pesquisa de mestrado em linguística sobre as relações de poder no discurso da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a respeito das políticas para a promoção e difusão do português nesta última década, identificamos duas formações ideológicas (FIs) 1 . Uma que chamamos de colonial ou etnocêntrica e outra de multicultural.

Dilemas e desafios na construção do Estado plurinacional: Territorialidade, Indigeneidade e Diálogo Deliberativo Intercultural no Equador

Revista MovimentAção, 2019

A partir de 2008, com a promulgação de uma nova Constituição, o Equador se tornou formalmente um Estado Plurinacional e Intercultural, resultado de décadas de lutas dos povos indígenas. Desde então, um dos desafios centrais das organizações indígenas trata das visões e modelos para a implementação prática e institucional do Estado Plurinacional. Existem diferentes interpretações e posturas sobre a plurinacionalidade e a interculturalidade dos atores indígenas. Problematizar-se-á como se expressam essas posições internamente, dentro da organização, e como se expressam externamente. Refere-se a este segundo processo externo como o diálogo deliberativo intercultural. O objetivo principal do presente texto é analiticamente problematizar os desafios e dilemas associados ao projeto de Estado Plurinacional a partir da perspectiva dos povos indígenas. Na estrutura teórica se destacam as contribuições sobre democracia deliberativa em sociedades divididas e/ou multiétnicas. A pergunta investigativa principal é: Como se refletem as complexidades do processo de implementação do Estado Plurinacional e Intercultural nos discursos dos atores envolvidos? O projeto plurinacional se inseriu contextualmente em uma relação complexa entre a territorialidade e a autoidentificação étnica. Enfatizamos a centralidade da territorialidade na indigeneidade e como estratégia nos processos organizativos e discursivos das organizações indígenas. Nessas disputas discursivas sobre a territorialidade, diferentes grupos indígenas se posicionam segundo sua relação histórica com a sociedade branco-mestiça. De tal maneira se constroem temporalidades diferentes desde a territorialidade. Metodologicamente, além da leitura crítica da literatura existente sobre o tema central do estudo, a presente investigação tem como base o trabalho etnográfico no Equador no qual se realizaram centenas de entrevistas entre 2001 e 2016 com políticos, intelectuais e porta-vozes das organizações indígenas.

O MULTICULTURALISMO ANTROPOFÁGICO COMO PROPOSIçÃO DECOLONIAL

Revista Brasileira de Direitos Fundamentais & Justiça, 2020

A crescente demanda global pelo reconhecimento de identidades culturais, subjugadas ao longo de séculos de imperialismo, orientalismo e colonialismo, implicam o alargamento do espectro e das problemáticas dos estudos multiculturais. Muito antes, contudo, de tais teorias, o poeta modernista Oswald de Andrade propusera, mirando nos hábitos antropofágicos de povos ameríndios brasileiros, a antropofagia como uma possibilidade latente de construção de uma identidade e de uma estrutura social novel, mastigando os elementos estrangeiros, sem sucumbir às suas características quando cá aportassem. Considerando que a antropofagia, nesse sentido, passa a habitar uma virtual natureza decolonial, buscam-se proposições de sua aplicação, de modo a aproximar a representação democrática e as próprias instituições jurídicas da realidade, marginalizada, ao sul. Palavras-chave: Antropofagia. Direito latino-americano. Decolonialismo. Multiculturalismo. sumário: Introdução-1 Devorar-se: do multiculturalismo à antropofagia-2 O direito Abaporu-Considerações finais-Referências introdução Desde a segunda metade do século XX, os axiomas acerca das interações culturais ganharam maior relevo, especialmente sob o prisma analítico dos fenômenos da construção social multiétnica do continente americano. As convergências e divergências culturais, oriundas da convivência de diversas etnias em um mesmo território, resultado dos fluxos migratórios, da colonização

Cenas de plurilinguismo em Relato De Um Certo Oriente, de Milton Hatoum

Zenodo (CERN European Organization for Nuclear Research), 2023

The aim of the text is establishing connexion between scenes from the work Relato de um certo Oriente, by Milton Hatoum, with theoretical texts on language and identity. Analysis shows how credible these connexions are and focus on a plurilingual context in Amazon, which transcends the relationship between Portuguese speakers and Arabic speakers, giving space to other cultures that were present there, such as German. Furthermore, the original peoples also add new nuances to the linguistic and cultural diversity of the novel. Topics such as family language policies and constitutive aspects of the bilingual subject are explored in the work and enable a fruitful dialogue between different areas of knowledge.

A Nação Pluralizada e Ironizada Pela Perspectiva Pós-Colonial

Organon

A ideia de ‘nação’ é inevitavelmente marcada, nos tempos contemporâneos, por relações transculturais. Nas Américas, tal conceito sofreu influências da presença do outro, resultado inegável da experiência colonial. A partir desse ponto de vista, propomos discutir ao longo do presente artigo o conceito de ‘nação’, tendo o conto “15 cenas de descobrimento de Brasis”, de Fernando Bonassi, e o ensaio “My Canada”, de Tomson Highway como focos para a análise que desenvolvemos. Nossa discussão buscará interpretar centralmente as cenas da descoberta do Brasil através de um olhar pós-colonial. A ironia, suas construções e interpretações ao lidar com a temática de tal “descobrimento”, tão frequentemente marcado por um tom nacionalista, também são discutidas, iluminando novas possíveis perspectivas de análise para os textos em tela. Finalmente, indicamos algumas das razões para a impossibilidade de se apresentar uma cena sintética do momento pós-colonial, pelo menos no que diz respeito ao conte...

Uma análise do discurso contra-hegemônica - Interseccionalidade crítica e pluriversalidade decolonial

Fórum Linguístico, 2023

Ange-Marie Hancock [...] conta seu espanto durante um colóquio, quando ficou surpresa ao ouvir um colega citar Foucault em vez de Hill Collins sobre o conceito da matriz de dominação. Quando ela lhe contou como se sentia, a colega se justificou dizendo que "ela prefere Foucault". Para parodiar esta senhora, e para colocá-lo de forma um pouco provocativa, este livro também se baseia no princípio de que, sendo todas as coisas iguais, não, não se tem o direito de "preferir Foucault" (Soumaya Mestiri, Elucidating Intersectionality. As razões do feminismo negro).