Narrativas orais e (trans)masculinidade: (re)construções da travestilidade (original) (raw)
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2012
A partir de um estudo etnografico realizado entre 2003 e 2004 em uma comunidade de travestis que se prostituem em uma regiao urbana do Rio Grande do Sul, o presente artigo traz a baila uma discussao sobre a identidade travesti. Mais precisamente, analisa-se a construcao discursiva da transmasculinidade, ou seja, a “masculinidade” travesti. Essa “masculinidade” especifica e o efeito de posicionamentos interacionais adotados em narrativas orais contadas pelas informantes nas quais caracteristicas ideologicamente tidas como femininas e masculinas sao sobrepostas e, assim, as travestis posicionam-se nas fronteiras dos generos. Para essa discussao, duas narrativas sobre violencia e sobre sexualidade sao analisadas sob o prisma da teoria da performatividade para demonstrar o carater fragmentado, fluido e sempre em devir da travestilidade.
Apresento, neste texto, algumas reflexões epistemológicas / teóricas / metodológicas acerca dos desafios e riscos de uma pesquisa feita por quem é pesquisadorx e ao mesmo tempo, nativx da pesquisa. Este artigo se fundamenta em minha tese de doutorado, em que pesquisei, através de etnografia e história oral, o que pessoas transgêneras, ex-transgêneras e em outras situações nãocisgêneras faziam com o que determinados discursos religiosos (principalmente de igrejas inclusivas e de missões de “cura e libertação” de travestis faziam (ou procuravam fazer) delas.
Narrativas de mulheres e da lesbianidade: discursos do "outro lugar
Revista Criação & Crítica, 2018
O objetivo deste trabalho é discutir a literatura escrita por mulheres de modo descentrado ao atribuído culturalmente ao feminino e à própria noção de mulher, que supõe, compulsoriamente, também a heterossexualidade. A leitura proposta tem como basilar o conceito de “outro lugar” (DE LAURETIS, 1994) para se pensar os discursos que habitam espaços dentro e fora da cultura dominante, o “ponto cego” implícito mas invisível, numa posição de contradição e resistência capaz de (re)construir e (re)inscrever o gênero. Inicialmente, busco demonstrar porque é aqui tensionada a noção de feminino, optando-se por pensar a literatura escrita por mulheres e sobre a lesbianidade como um discurso que provém desse espaço alternativo, das brechas do discurso hegemônico, ameaçando sua estabilidade. Em seguida, a obra Thérèse et Isabelle (2000) de Violette Leduc é aqui analisada para se pensar como esse discurso, cujo tema é não apenas uma experiência da mulher, mas a relação entre duas moças, se articu...
Ponto Urbe: Revista do núcleo de antropologia urbana da USP, 2018
O objetivo deste artigo é discutir o processo de transformações corporais, subjetivas e violências nas narrativas de travestis que tiveram suas trajetórias de vida atravessadas pela experiência do aprisionamento. Trata-se do recorte de uma pesquisa etnográfica mais ampla que discutiu o aprisionamento de travestis no Ceará (NASCIMENTO, 2018). Aqui, me remeterei às vivências das travestis implicadas no processo de transformações das travestilidades e as violências em decorrência da transgressão aos padrões de gênero e de sexualidade. Com isso, pretendo pôr em discussão as múltiplas “tecnologias de gênero” (LAURETIS, 1994) utilizadas pelas travestis para a produção de seus corpos e subjetividades, mas também as “precariedades” (BUTLER, 2016b) que atravessam suas vidas por transgredirem as normas de gênero e sexuais. The objective of this article is to discuss the process of corporal, subjective and violent transformations in the narratives of transvestites that had their life trajectories crossed by the experience of the imprisonment. It is the cut of a broader ethnographic research that discussed the imprisonment of transvestites in Ceará (NASCIMENTO, 2018). Here, I will refer to the experiences of the transvestites involved in the process of transformations of travestilities and violence as a result of transgression to the standards of gender and sexuality. With this, I intend to discuss the multiple “gender technologies” (LAURETIS, 1994) used by transvestites for the production of their bodies and subjectivities, but also the “precarities” (Butler, 2016b) that cross their lives for transgressing the norms of gender and sex.
Notas sobre narrativas míticas e transculturação
Remate de Males
As narrativas míticas são geralmente compreendidas como termos de síntese e mediação entre atores e mundos humanos e não humanos. As mudanças ocorridas na abordagem antropológica do século XX alteraram a concepção corrente do mito, a partir de então não mais visto como uma narrativa do passado, mas como tendo adquirido uma função de orientar a vida social cotidiana no presente. Essa nova atitude destacou a dimensão do mito sendo vivido, utilizado e atuante. Quando introduzidas no contexto artístico, as narrativas míticas se tornam um campo no qual se desenvolve um intenso processo de transculturação, estabelecendo um diálogo intercultural entre culturas periféricas e culturas hegemônicas. Esse artigo afirma o lugar central que as narrativas míticas ocuparam (e ainda ocupam) nos processos de modernização do campo das letras e das artes no contexto dos países de língua oficial portuguesa, especialmente Brasil e Angola. Além disso, destaca como essas narrativas desafiam o eurocentrismo...
Revista Brasileira de Literatura Comparada, 2021
RESUMO O objetivo desse artigo é a construção de um itinerário que diz respeito a duas questões. Por um lado, mapeia-se a tradição da representação de personagens transgêneros - especialmente protagonistas - na narrativa brasileira escrita por autores transgêneros; por outro, discute-se a emergência do fenômeno que pode ser chamado de autoria transgênero no campo da narrativa contemporânea brasileira, dando-se especial atenção aos livros escritos por João Nery (Erro de pessoa, de 1985, e Viagem solitária, de 2011) e Loris Ádreon (Meu corpo, minha prisão, de 1985). Finalmente, são apresentadas algumas considerações em torno de recorrências tropológicas ao longo dessas três narrativas.
Gravando: desafios para (re)contar narrativas do(no) movimento social de travestis brasileiras
Fractal : Revista De Psicologia, 2020
The documentary as a research strategy in the field of human sciences still generates significant debate. Aiming to contribute to this debate, the objective of this article is to point out some methodological challenges that marked the process of researching/ recording/narrating a documentary film about the life trajectory of Keila Simpson and its interweavings with(in) the history of the transvestite movement in Brazil. Thus, through a theoretical analysis, we initially discuss the disputes over the real and the truth that (re)produce in the interaction with the images. From an ethnographic perspective, then, we reflect on our journey of making a documentary, in the stages of exploration and production of sketches, presenting possibilities and limits to make/think/negotiate an ethnographic film being a researcher/filmmaker in interaction with the interlocutor/narrator. We understand that the film will allow us to understand sensitive aspects of the protagonist and her sociability a...
Narrativas sobre conjugalidade de mulheres que se relacionam com crossdressers
Artigo, 2017
Este texto discute dados coletados em pesquisa com mulheres que se identificam como “esposas” ou “S/O’s” de homens que “praticam crossdressing”. É, também, um desdobramento de minha tese de Doutorado, sobre como homens que se identificam como crossdressers negociam esta prática em suas vidas cotidianas. A pesquisa parte de uma etnografia e é complementada por entrevistas semiestruturadas com estas mulheres. Busca-se compreender como elas lidam com as tensões relativas às convenções sobre gênero e sexualidade e com o manejo de segredo ao conviverem com esta prática. Também se discute como o crossdressing impacta a vida privada e a afetivo-sexual/conjugal de pessoas que se montam, em especial, naqueles casos em que os desejos e práticas relativas ao crossdressing do cônjuge foram revelados após vários anos de casamento.
Novas formas de ser: mídia e Transexualidade a partir de Narrativas de (re) construção Identitária
Revista FAMECOS, 2019
o texto apresenta uma reflexão sobre a transexualidade: a identificação dosindivíduos com o gênero oposto ao seu nascimento. Trata-se de uma análise contextual, derivada de uma pesquisa em curso2 à luz dos aportes teóricos alteridade (BHABHA, 2005), identidade (HALL, 2004) e estigmas (GOFFMAN, 1988), atrelada a um movimento empírico que notabiliza as vozes de transexuais masculinos e femininos a partir de suas narrativas (MEDINA, 2003; ALVES, 2008). As interlocuções apontam os tratamentos midiáticos concedidos ao fenômeno sugerindo sensibilidades e subjetividades à revelia de preconceitos que relegam as minorias sexuais ao silenciamento e à invisibilidade social.