75 anos das Convenções de Genebra: Das áreas cinzentas às novas fronteiras tecnológicas nos conflitos contemporâneos (original) (raw)

Fórum Social Mundial Biblioteca das Alternativas As tensões da modernidade

Nos últimos tempos, tenho observado com alguma perplexidade a forma como os direitos humanos se transformaram na linguagem da política progressista. De facto, durante muitos anos, após a Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos foram parte integrante da política da Guerra Fria, e como tal foram considerados pela esquerda. Duplos critérios na avaliação das violações dos direitos humanos, complacência para com ditadores amigos, defesa do sacrifício dos direitos humanos em nome dos objectivos do desenvolvimento — tudo isto tornou os direitos humanos suspeitos enquanto guião emancipatório. Quer nos países centrais, quer em todo o mundo em desenvolvimento, as forças progressistas preferiram a linguagem da revolução e do socialismo para formular uma política emancipatória. E, no entanto, perante a crise aparentemente irreversível destes projectos de emancipação, essas mesmas forças progressistas recorrem hoje aos direitos humanos para reinventar a linguagem da emancipação. É como se os direitos humanos fossem invocados para preencher o vazio deixado pelo socialismo. Poderão realmente os direitos humanos preencher tal vazio? A minha resposta é um sim muito condicional. O meu objectivo neste trabalho é identificar as condições em que os direitos humanos podem ser colocados ao serviço de uma política progressista e emancipatória. Tal tarefa exige que sejam claramente entendidas as tensões dialécticas que informam a modernidade ocidental 1. A crise que hoje afecta estas tensões assinala, melhor que qualquer outra coisa, os problemas que a modernidade ocidental actualmente defronta. Em minha opinião, a política de direitos humanos deste final de século é um factor-chave para compreender tal crise. Identifico três tensões dialécticas. A primeira ocorre entre regulação social e 1 Noutro trabalho, analiso com mais detalhe as tensões dialécticas da modernidade ocidental (Santos, 1995)

Nova Cosmópolis: as fronteiras como objetos de conflito no mundo contemporâneo

A globalização não suprimiu as fronteiras: ela as transforma, as desloca, as dissocia umas das outras. Algumas atividades econômicas, por exemplo, não têm o mesmo alcance das atividades políticas ou das comunicações. As fronteiras se multiplicam, se alargam e se tornam, assim, simultaneamente mais frágeis e incertas. O momento atual do processo de globalização nos traz duas questões referentes à possibilidade de viver em uma escala global. Por um lado, um número cada vez maior de fronteiras se transformam em muros, mais migrantes morrem em mares, desertos e montanhas ao tentar atravessar fronteiras fechadas. Por outro lado, a questão filosófica e política do cosmopolitismo volta à ordem do dia em um contexto diferente daquele do Iluminismo, mas que formula, concretamente, as mesmas perguntas. A partir de etnografias de “homens-fronteira” e “lugares-fronteira” (Borderlands), proporei pensarmos uma nova cosmópolis, considerada como um mundo em movimento que antecipa a forma banal e quotidiana do cosmopolitismo. Na esfera antropológica, trata-se de uma nova situação onde a cultura e a sociabilidade se definem em situações de fronteira que se tornam cada vez mais constantes. Palavras-chave : Fronteiras: Globalização; Cosmopolitismo; Borderlands; Conflitos.

O CERRADO GOIANO SOB MÚLTIPLAS DIMENSÕES: um território perpassado por conflitos

Espaco Em Revista, 2012

As transformações socioculturais ocorridas no território do Cerrado goiano com o advento da modernização da agricultura na década de 1970 e a articulação deste território ao capital internacional são tomadas como ponto de partida para as discussões neste artigo. Os impactos ambientais e sociais resultantes desse processo foram profundos e irreversíveis e as cidades têm se caracterizado como centros que aglutinam a tradição dos migrantes das fazendas goianas e as legendas culturais da modernidade. É nessa dinâmica de territorialização do capital e desterritorialização dos sujeitos que os conflitos e as possibilidades de (re)invenção da cultura podem surgir. Esta pesquisa de abordagem qualitativa foi desenvolvida a partir de pesquisa bibliográfica e em trabalho de campo em alguns municípios do Sudoeste goiano. As discussões foram balizadas sobretudo numa análise que busca uma abordagem mais totalizante do Cerrado e de sua gente. Palavras-chave: Cerrado goiano. Modernização da Agricultura. Conflitos. Transformações sociais e culturais. El GOIANIA CERRADO DE CONFORMIDAD CON MÚLTIPLES DIMENSIONES: un área atravesada por conflictos Resumen: El socio-transformaciones culturales que ocurren en el territorio de la Goias Cerrado con la llegada de la moderna tecnología agrícola en la década de 1970 y la articulación de este territorio a los capitales internacionales se toman como punto de partida para los debates en este artículo. Los impactos ambientales y sociales resultantes de este proceso fueron profundos e irreversibles, y las ciudades se ha caracterizado como centros de agrupamiento tradición de Goiás agrícolas migrantes y leyendas de la modernidad cultural. Es esta dinámica de capital territorial y el desarraigo de los temas que los conflictos y las posibilidades de (re) invención pueda surgir. Este estudio cualitativo, desarrollado a partir de la literatura y el trabajo de campo en el sudoeste de Goiás. Los debates estuvieron marcados por un análisis que busca una más totalizadora Cerrado y su gente. Palabras-clave: Cerrado Goias. Modernización de la Agricultura. Conflictos. Transformaciones sociales y culturales.

Revoluções Tecnológicas e Conflitos Sociais da Técnica: relações conceituais e herança histórica

Ecoam em nossa sociedade contemporânea os sons das revoluções industriais ou tecnológicas do passado que deflagraram processos históricos, bem como, movimentos contestadores, na atual organização sociocultural, política e econômica. Tomando como parâmetro este contexto, a discussão não estará restrita, mas tomará como fio condutor inicial os estudos da escola histórica britânica, e em especial, o que se apresenta nos estudos e na contribuição do historiador Eric Hobsbawm para as reflexões acerca da reincidência de conceitos e conflitos na história social contemporânea, e mais especificamente na relação sociedade e tecnologia. Mediante o que se convencionou denominar de "revolução industrial" e seu significado para a humanidade, sob uma perspectiva histórica de "progresso", tenciona-se concisa reflexão, a partir de um resumido resgate da ação e luta das classes trabalhadoras, mais especificamente do movimento de rebelião do século XVIII, cognominado "quebradores de máquinas" e conhecidamente denominado como Luddismo. Do mesmo modo, localizar sua ressignificação mediante as consequências do "progresso", globalização mundial e introdução crescente de novas tecnologias no seio da sociedade moderna que originou um novo movimento de contestação e resistência denominado Neoludismo.

Quando a Ciberconflitualidade Desafia as Regras Cinéticas – as Ciberoperações Militares e a Noção de Ataque Constante no Artigo 49.º do Primeiro Protocolo Adicional às Convenções de Genebra

VII Seminário do IDN Jovem, 2023

Resumo: Este artigo analisa a noção de ataque constante do artigo 49.º do I PA às CG e a sua adequabilidade em relação às ciberoperações militares. A metodologia assentou na revisão do estado de arte, no recurso às leis e às regras jurídicas aplicáveis, à jurisprudência, à doutrina e à soft law. Foram analisadas as diferentes correntes doutrinárias (Schmitt, Dörmann e Melzer) e conclui-se que o conceito de hostilidade, embora não seja perfeito, todavia, é o que oferece mais garantias para proteger os civis, população civil e objetos civis. Keywords: Ataques; Ciberoperações militares; Efeitos cinéticos; Hostilidades Abstract: This article focuses on the concept of attack enshrined in article 49.º of the I AP to the GC and its suitability for Military Cyber Operations. The methodology used was the revision of the state-of-the-art, law and rules, case law, doctrine, and soft law. Several scholars were considered (Schmitt, Dörmann and Melzer) to conclude that the concept of hostilities, even not being perfect, is the one which is the most suitable for the protection of the civilian population, civilians, and civilian objects. Keywords: Attacks; Military Cyber Operations; Kinetic effects; Hostilities

«Zonas de contacto» e o presente (pós)colonial

Este texto é um resumo adaptado e modificado da primeira parte da comunicação apresentada no XXII Encontro Nacional de Professores de Geografia e no I Congresso da Geografia dos Açores, realizado entre 3 e 7 de Setembro de 2008 em Ponta Delgada, Açores. O objectivo principal é o de fazer uma breve discussão do paradigma pós-colonial e das suas implicações na Geografia. Tento fazê-lo partindo da análise de duas imagens em resorts no «sul» global, procurando desta forma «materializar» algumas das ideias, conceitos e posturas que o pós-colonialismo nos traz, e usando em particular o termo ‘zonas de contacto’. Inspiro-me principalmente nos trabalhos de autores como a linguista canadiana Mary Louise Pratt (1948-), o crítico literário e activista palestiniano Edward Said (1935-2003), o pós-colonialista indiano Homi Babha (1949-), o sociólogo polaco Zygmunt Bauman (1925-) a geógrafa feminista e pós-colonial australiana Jane Margaret Jacobs (1958-), e o geógrafo político e cultural inglês D...

História e projeto nas margens da modernidade - DOI: 10.5752/P.2316-1752.2013v20n26p21

Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, 2014

Resumo Este artigo propõe um diálogo entre o conceito de historia no texto de 1435, Da Pintura, de autoria de Leon Battista Alberti, e a ideia de pós-história, na sua abordagem proposta para a arquitetura, segundo Anthony Vidler, no livro Histórias do Pre- sente Imediato. Pergunta-se: em que medida essas compre- ensões da história, por meio do distanciamento necessário do tempo, como considera Panofsky, se relacionam, e onde elas se diferenciam? Desse embate resulta uma atualidade crítica do pensamento de Alberti no sentido de que ele fomenta a liberdade da história como narrativa. Porém, ao mesmo tempo ele a circunscreve dentro dos limites da narrativa mítica. Essa postura é diferente – e é sobre isso que se propõe discutir neste artigo – de uma abordagem contemporânea como a de Anthony Vidler. Vidler estimula a busca pelos problemas não resolvidos da modernidade, aos quais hoje respondemos na cidade contemporânea. Palavras-chave: História da arquitetura; Projeto; Anthony Vid- ler; Leon Battista-Alberti.

O CERRADO GOIANO NUMA ENCRUZILHADA DE TEMPOS: OS TERRITÓRIOS EM DISPUTA E AS NOVAS TERRITORIALIDADES DO CONFLITO

Revista Geográfica de América Central, 2011

As discussões sobre o Cerrado goiano – uma das áreas de maior produção/produtividade agropecuárias do mundo e um hotspot de sociobiodiversidade – está ameaçado de destruição pelas formas de uso e exploração da terra, intensificadas nas últimas décadas, pelo agrohidronegócio. A ocupação e apropriação do Cerrado goiano decorrem das relações sociais, que, por conseguinte espelham as trajetórias espaciais dos sujeitos, grafando-as na espacialidade. Essa proposta decorre de uma análise bibliográfica, de pesquisas de campo e de reflexões em congressos científicos e similares. Essas atividades conduziram a seguinte síntese: o Cerrado se constitui em territórios em disputa. Disputas entre as diversas formas de uso, entre as diferentes interpretações e linguagens e disputas para assegurar quinhões, sejam materiais e/ou imateriais. Assim, propomos colocar em discussão as leituras geográficas sobre o Cerrado, os conflitos decorrentes das formas de uso da terra e da água e as múltiplas territorialidades construídas a partir da conflitualidade.