Museus e território para além do consumo cultural: o desafio do “comum” (original) (raw)

A ascenção dos museus comunitários e os patrimônios 'comuns'

Análise das mudanças ocorridas na concepção de Museu e das novas experiências desenvolvidas no decorrer do século XX, como o movimento intitulado Nova Museologia e os museus comunitários. Considerando algumas das manifestações do Museu, tais como os museus locais, os museus de vizinhança, os ecomuseus, os Children's Museums e os parques naturais, bem como o movimento ideológico conhecido como Nova Museologia, torna-se possível perceber a natureza das formas comunitárias do museu atual. A experiência sobre o território no museu é analisada no âmbito das relações humanas que nele sucedem: o Museu reconcilia o humano com o ambiente integral. A experiência do intangível também marca este Museu renovado. O Museu que abre portas e janelas se vê cada vez mais permeado pelo humano, admitindo que o seu maior objeto sejam as múltiplas formas de experiências sociais. Palavras-chave: Museu. Museologia. Patrimônio. Conceitos. Museus Comunitários. Ecomuseus. 1 MUSEUS E CASAS: ABRINDO PORTAS E JANELAS Não há duvidas de que o Museu 1 está em movimento. O conjunto de transformações que o vêm afetando nos últimos anos levou os teóricos da museologia a repensarem a sua própria origem, sua função e suas formas. A Nova Museologia, movimento elaborado com este nome durante a década de 1980, foi uma das tentativas de se organizar uma teoria em prol de tais mudanças. No entanto, alguns dos caminhos tomados não levaram muito longe, já outros deram frutos e hoje os colhemos. A própria idéia de ecomuseu -modelo que inspirou toda uma nova forma de se pensar os museus no âmbito deste movimento -nos leva a pensar sobre o Museu como um espaço do habitar. Eco (ou Oikos), do grego, remete à palavra casa, e esta reflexão etimológica refletida na prática comunitária talvez tenha sido a maior contribuição do que se chamou de 'ecomuseologia'. Aqui tiramos proveito desta imagem poética explorada por Bachelard, ao lembrar que "todo espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa" 2 . Sem a casa o ser humano seria um ser disperso; ela o mantém 1 Referimo-nos aqui ao fenômeno Museu, do qual os diferentes museus são modos específicos de representação. 2 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 25.

Museus e Museologia: desafios para a construção de territórios colaborativos1

ler.letras.up.pt

Este artigo apresenta as principais orientações e contextos de um projecto de investigação em curso, projecto que se refere à natureza do impacto social e funções museológicas num contexto profundamente colaborativo. Começa por apresentar os contextos e os desafios do projecto, considerando, igualmente, as suas opções metodológicas e propondo uma discussão dos conceitos principais implicados. Partindo das tradições da investigação-acção e participação interactiva, este projecto tem como campo de acção os museus da cidade do Porto e como actores centrais, particularmente, os profissionais vocacionados para o trabalho de mediação com os públicos. Propõe-se promover a colaboração sustentável entre profissionais dos museus; ou seja, a proposta implica, sobretudo, o desenvolvimento de um espaço colaborativo e de uma comunidade de prática que potencie mudanças a partir de reflexões críticas e criativas.

Território, Museus e Sociedade

Coleção Museus, Memória e Cidadania, 2018

Diante do avanço e do fortalecimento do neoliberalismo em todo o mundo, não é possível discutir as estreitas relações entre território, museus e sociedade na contemporaneidade sem que se amplie o alcance do olhar e da análise. É preciso incorporar também a perspectiva dos que hoje lutam e resistem à precariedade imposta pelo sistema capitalista globalizado e ao modelo excludente da cidade-empresa/cidade-criativa disseminado com a vitória neoliberal das últimas décadas. A museologia social, nos termos como a praticamos e pensamos, escova o museu e a própria museologia a contrapelo, afirma a dignidade das classes populares, a potência dos povos indígenas e dos povos afro-brasileiros, a força dos movimentos feministas e LGBTI, a ecologia dos saberes e a mobilização dos afetos poéticos e políticos a favor da potência da vida. A museologia social, como aqui é compreendida, está inteiramente a serviço da vida. Fica o que significa.

O desafio dos museus históricos celebratórios

Tempo-niteroi, 2022

Resumo: O artigo visa a contribuir para o debate em torno da tensão presente em museus históricos de temáticas ligadas à Segunda Guerra Mundial entre narrativas celebratórias de certos fatos e personagens (memória) e narrativas críticas próprias à natureza da pesquisa histórica. Tal tensão aparece tanto em museus europeus, como norte-americanos. Como desdobramento dessa discussão, aborda também os conflitos em torno da criação de museus históricos dedicados a assuntos tais como fascismo, nazismo, colaboração, na Europa.

Museus no capitalismo cognitivo: para além do consumo cultural?

dObra[s] – revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas em Moda

A mudança de paradigma produtivo faz emergir um conjunto de conceitos que põem em xeque as formas segundo as quais encaramos o papel dos museus nos dias de hoje. A hegemonia das dimensões imateriais do trabalho, no âmago dessa mudança paradigmática, promove o deslocamento da centralidade que o objeto-significante possuía até então, impondo desafios analíticos em relação ao fenômeno-museu. O consumo cultural, atividade da qual os museus constituem uma parte importante, não se limita, hoje em dia, ao consumo de bens culturais, mas diz respeito às próprias formas de vida, ou seja, ao consumo de devires. Nesse sentido, quando as cidades espetacularizam-se a partir de projetos de revitalização urbana, os museus viram as novas fábricas – questão que está presente neste artigo.

Museus e Diversidade Cultural: Da Representação aos Públicos

Museus e Diversidade Cultural: Da Representação aos Públicos, 2016

Na Europa a realidade sociodemográfica das cidades tem vindo a mudar substancialmente nas últimas décadas devido à intensificação dos fluxos migratórios e dos efeitos da globalização. Hoje os espaços urbanos são cada vez mais multiculturais, evidenciando diferentes expressões culturais, mas também tensões várias. Como podem os museus contribuir para a discussão sobre diversidade cultural e migração? Que políticas museológicas desenvolvem em torno da diversidade cultural e do diálogo intercultural? Que contributos e iniciativas promovem? Este livro explora as relações que os museus estabelecem com comunidades e grupos associados à imigração, a partir de três estudos de caso: o Museum of World Culture (Suécia), o World Museum Liverpool (Reino Unido) e o Museu Nacional de Etnologia (Portugal). A autora analisa as estratégias desenvolvidas com as comunidades e grupos numa dupla perspectiva, por um lado, enquanto participantes na construção de narrativas contemporâneas sobre património cultural (material e imaterial) e identidade e, por outro lado, enquanto públicos locais no contexto de estratégias de captação de públicos diversos. Uma abordagem histórica dos percursos e contextos institucionais de cada um dos museus revelou as suas especificidades e diferenças, enquanto o balanço comparativo perspectivou problemas e motivações partilhados. Os museus etnográficos estão entre os museus que mais desafios têm enfrentado nas últimas décadas e onde o tema da diversidade cultural interpela de forma transversal as várias frentes de actuação – desde as colecções, à documentação e investigação, às exposições, ao envolvimento de públicos e comunidades, à deontologia, à gestão e ao financiamento. Como demonstra esta obra, a contemporaneidade convoca mudanças significativas na forma como os museus se organizam e no fortalecimento da sua função social.