A fulguração do real: Pasolini e a crítica literária (original) (raw)

Pasolini e a imaginação crítica

Remate de Males, 2020

Diante do pequeno ensaio de Pier Paolo Pasolini, publicado em 1964, Cinema de prosa, cinema de poesia, este artigo propõe uma leitura de certas posições políticas do poeta italiano acerca do que toma como “situação cultural”, primeiro, numa operação com as formas de expressão e, depois, da expansão de seu pensamento crítico a partir dos modos deliberados de imaginação.

Pier Paolo Pasolini e as linguagens do real

Remate de Males, 2020

O nexo estabelecido por Pier Paolo Pasolini entre realidade e linguagem constitui uma tensão que distende as suas obras em distintos meios de expressão. Diante dos vínculos particulares que ele estabelece entre a linguagem pictórica e a poética, nos quais a recepção do aparato crítico de Roberto Longhi se mostra estratégica, propõe-se considerá-los por meio do gesto exemplarmente cristalizado nos versos de Gli affreschi di Piero ad Arezzo, primeira parte do poema La ricchezza (1955-1957), coligido em La religione del mio tempo (1961). Nesses versos, para os quais se apresenta tradução neste artigo, o impacto produzido pela pintura renascentista de Piero della Francesca permite observar o vitalismo estético que fundamenta a práxis poética pasoliniana, assim como a crítica do presente que articula tal prática. Nesse sentido, verifica-se que também a perspectiva de Pasolini acerca das artes visuais se revela uma penetrante tradução histórica e crítica da própria realidade como forma de linguagem.

Pasolini e a língua da poesia

Pasolini pratica a poesia quando é poeta, faz romance, no cinema, com o teatro ou como ensaísta. Uma obra de poeta, em estado de crise. Origem e vertigem, ordem e voragem: elemento dialético, configurador e reconfigurador, que não se restringe ao plano estritamente linguístico, embora acabe desvelando um germe de língua (um grão, um veneno) em tudo que toca.

Um intelectual perto do fim: as agruras da resistência de Pasolini

O presente ensaio apresenta uma leitura de como Pier Paolo Pasolini pensava a figura do intelectual. Pretende apontar como, nos últimos anos de vida, o poeta e cineasta italiano vivia um paradoxo diante do que denominava a anarquia do poder. Aponta como Pasolini, em situação de desespero existencial total, procurava um meio de exercer a função de intelectual, qual seja, destotalizar. Também apresenta como as últimas obras -sobretudo Petrolio e, de maneira mais indireta, Saló -estão intimamente implicadas nesse movimento destotalizante proposto por Pasolini. Por fim, divergindo de uma parte considerável da crítica, intenta mostrar como Pasolini, mesmo em desespero, não se deixa deprimir por um furor melancólico (que lhe impediria qualquer resistência) e, apesar de tudo, ainda se expõe na sua função de intelectual.

“Pasolini – Ou quando o cinema se faz poesia e política de seu tempo”

Ed. Uns Entre Outros, Flavio Kactuz (Org.), Rio de Janeiro, 2014

Edição completa do "Dossiê Pasolini", reunindo estudos sobre a atualidade e a urgência da arte e do pensamento de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), cineasta, escritor e poeta que alcança uma estranha fulguração nestes tempos sombrios em que vivemos. A obra de Pasolini, como aqui se demonstra, é também um convite de coragem e poesia para que possamos enfrentar ameaças do fascismo, da pressão criminosa da mídia, da intolerância e de todo obscurantismo – como destacam os ensaios reunidos no presente catálogo, incluindo os poemas de Pasolini sobre o Brasil.

Pasolini: Paixão e filologia

2020

Este artigo aborda a intempestiva relação entre crítica e linguagem que emergiu já na juventude de Pasolini, a qual será uma constante mutável por toda sua breve vida. Giorgio Agamben aponta que o jovem Pasolini não subjuga o dialeto friulano à língua constitucional, pois deseja dizer com o dialeto coisas elevadas, difíceis, com maior frescor e potência. Assim, a crítica operada por Pasolini mobilizou eruptivos debates, nos quais colocava em choque a língua como inventum (língua institucional) e a língua como inventio (língua-poesia), para desse confronto insurgir-se uma filologia crítica e inventiva.

Corsário e Polemista: Pasolini Nos Jornais Italianos Dos Anos 1970

Letras Escreve

Até os dias de hoje, o escritor italiano Pier Paolo Pasolini é conhecido como um dos mais importantes intelectuais que refletiram sobre a sociedade italiana dos anos 1970. Apesar de vários outros intelectuais também terem se empenhado em compreender as mudanças econômicas, políticas e culturais que estavam ocorrendo na Itália, seus escritos jornalísticos dessa época se tornaram responsáveis pela popularização de sua figura pública, a qual esteve sempre atrelada a constatações polêmicas e denúncias controversas. Com base nessa noção de pensador polemista atribuída a Pasolini, o presente artigo tem como objetivo analisar sua atuação em jornais italianos de grande circulação, partindo da suposição de que há particularidades em seu jornalismo que o colocam em um lugar de destaque, sobretudo em relação ao intenso debate que ocorria entre diversos escritores nesses jornais de amplo alcance. A hipótese de partida é que as particularidades do jornalismo de Pasolini devam ser buscadas levand...

Pasolini e os jovens infelizes

The unhappy youth is a constant subjetc in Pier Paolo Pasolini's essays, mainly when the writer is interested in understading the social and cultural changes that are happening in Italy during the 1970s. The intention of this presentation is to show how Pasolini comunicates and makes reference to this youth, creating a particular way of making journalism.

Pasolini e Calvino: a "literatura" dos autores

Anuário de Literatura, 2015

Resumo: No texto procura-se comentar a natureza do conceito de literatura em autores modernos italianos, a partir de reflexões sobre a obra de Pier Paolo Pasolini e Italo Calvino. São também sondadas as inter-relações nessas obras entre gêneros 'menores', autobiografia, fragmento e literatura e história. Contrariamente a uma perspectiva crítica que defende a ideia de que o século XX teria tido uma literatura pura em contraposição a uma literatura impura, evidenciam-se os outros caminhos e as outras propostas para o que é considerado como literário na obra desses dois grandes autores do período. Através de operações que privilegiaram o fragmento, o inacabado, as anotações e a releitura, ambos redimensionam o que é menor no campo literário. Através de operações editoriais que definiram e deram forma à própria obra, ambos afirmaram projetos em que o autobiográfico-coral e transbordante, no caso de Pasolini, transparente ou, por vezes, densamente metafórico, no caso de Calvinoocupa espaço relevante. Palavras-chaves: Italo Calvino. Pasolini. Literatura e fragmento. Literatura e autobiografia. Literatura e história. Lendo um dos livros do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, me deparo com a seguinte reflexão sobre a literatura italiana: (...) o diário de Pavese pertencia a um período da cultura mundial no qual se costumava integrar a experiência existencial com a ética da história. Um período ao qual o suicídio de Pavese parece marcar um limite cronológico. E também me disse que se o diário de Pavese estava tragicamente ancorado na vida, o de Gide e o de Gombrowicz-mais próximos da minha sensibilidade-o estavam na literatura, que é um mundo autônomo, uma realidade própria, não tem nenhum contato com a realidade porque é uma realidade em si mesma, uma opinião pessoal minha com a qual seguramente Pavese não estaria de acordo (VILA-MATAS, 2005, p. 181). Nessas observações, escritas por um autor para o qual as fronteiras entre a reflexão crítica e a produção ficcional são partes integrantes, ou melhor, constituintes, de seus 'romances', encontro algumas das mais interessantes questões dos estudos literários como a

A reflexão sobre o fascismo nos Escritos Corsários de Pier Paolo Pasolini

Exlibris, 2015

El artículo analiza los textos del libro Scritti Corsari (1975) de Pier Paolo Pasolini. El objetivo central de la interpretación de los textos es la discusión sobre el tema del fascismo, dominante en la reflexión de Pasolini a principios de los años 70 del siglo XX. Según Pasolini, en ese momento, Italia estaba viviendo el surgimiento de un nuevo tipo de fascismo, derivado de la "sociedad de consumo". El artículo plantea cuestiones en torno a este "fascismo de consumo" y propone una relación entre la reflexión llevada a cabo por Pasolini y el pensamiento de Antonio Gramsci.