UM EM CASA DE OUTRO – Concubinato, família e mestiçagem na Comarca do Rio das Velhas (1720-1780) - Rangel Cerceau Netto. São Paulo: Ed. Annablume; Belo Horizonte: PPGH/UFMG, 2008. (Coleção Olhares) 160p. (original) (raw)
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Os livros nos inventários da Comarca do Rio das Velhas no século XVIII (1740-1760)
IV Congresso de Pesquisa e Ensino em História da Educação, 2007
Os inventários se apresentam como uma das melhores (e poucas) fontes para a pesquisa a respeito da circulação de livros e a possível leitura dos mesmos durante o século XVIII, sobretudo nos arquivos brasileiros. A prática de feitura dos inventários era necessária, visto que era o primeiro passo no longo processo de partilha dos bens que ficavam dos indivíduos que haviam morrido. Nesses documentos podem ser encontradas informações diversas e descrições detalhadas sobre a ocupação do indivíduo, se deixava herdeiros e os bens que possuía. É, especificamente, nessa parte dos inventários que se encontram, para nós, as informações mais relevantes, já que em meio a peças de metais preciosos, ferramentas, roupas e outros materiais, se encontravam -às vezes em separado, às vezes mesclados a outros artefatos -os livros, a biblioteca em posse daquele indivíduo. É justamente nesses livros, na sua descrição e detalhamento, que investiremos nosso olhar. Na tentativa de estabelecer alguns parâmetros, buscaremos compreender o que a posse desses livros parece representar, a existência de determinados livros como reflexo de seus possuidores e também uma possível leitura de alguns deles. Porém, se faz extremamente necessário salientar que a posse dos livros não significa de forma alguma a sua leitura. Como reflete Silvio Gabriel Diniz, "para se avaliar o grau de expansão cultural na Capitania, no século XVIII, nada mais positivo do que descobrir as bibliotecas existentes então. Elas informarão o que as pessoas cultas liam, ou melhor, o que havia para ser lido". (1959a, p.338) Nesse sentido, acrescentaríamos ao "circuito do livro", apresentado por Robert Darnton 2 , mais um elemento. Para além do autor, editor, impressor, distribuidor e vendedor, acrescentaríamos o possuidor, antes de chegar ao leitor propriamente dito. É claro que na maioria das vezes existe a sobreposição desses dois últimos agentes do circuito num mesmo indivíduo, mas não se pode afirmar diretamente que a posse de uma determinada obra implica na sua leitura e vice-versa. O que veremos, em muitos casos, é uma posse de livros que reflete um estatuto social, não 1 Graduando no curso de História -FAFICH -UFMG. Bolsista de Iniciação Científica FAPEMIG. 2 Ver Robert DARNTON. O que é a história dos livros? . In.: O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 112-131.
Testamentos como fonte para pesquisas sobre mestiçagens (São Paulo e Maranhão, séculos XVII e XVIII)
Ao se assenhorear dos costumes fúnebres e das representações sobre a morte no Ocidente cristão, a Igreja Católica, com muita destreza, infundiu o medo em relação ao destino da alma, na tentativa de fazer desse sentimento um mecanismo regulador do comportamento dos fiéis. A redação do testamento era, pois, o momento de passar a consciência a limpo, confessar as culpas, tentar reparar alguns erros pretéritos e decidir sobre o destino da terça parte dos bens, quando havia herdeiros, ou sobre a totalidade deles caso não existissem mais descendentes ou ascendentes legítimos. Testamentos eram feitos somente por aquelas pessoas que possuíam bens suficientes para dispor deles em benefício de suas almas e/ou enfrentassem problemas sucessórios, tais como a ausência de herdeiros ou o reconhecimento de prole natural. As mestiçagens se fazem presentes em múltiplos aspectos dessa tipologia documental, a exemplo das alusões a índios e a escravos de origem africana sob o poder dos testadores e a menção as suas diversas qualidades (pretos, pardos, mulatos, mamalucos, cabras); o reconhecimento de prole ilegítima com pretas, índias (escravas ou forras) e mestiças livres; a distribuição de legados pelos testadores a parentes consanguíneos ou rituais; amigos e libertos. Não raro alcançando a condição senhorial, parcela expressiva de forros e de forras acumulava fortuna suficiente que os habilitava a redigir suas últimas vontades. O uso dos testamentos como fonte de pesquisa histórica permite, portanto, dentre outras possibilidades, o estudo das mestiçagens associado às relações familiares; à acumulação e transmissão de patrimônio por descendentes de africanos e de indígenas; a prática da alforria e à mobilidade social.
Revista Temporalidades, 2015
O artigo tem como proposta apresentar e analisar a prática da exogamia familiar enquanto estratégia matrimonial no período compreendido entre os séculos XVIII e XIX, na região mineira da comarca do Rio das Mortes. Para tanto, utilizamos de um estudo de caso no qual buscamos observar as variações nos padrões das uniões exogâmicas levadas a cabo pela primeira geração de um grupo familiar recém-chegado à região das Minas, vindo de Portugal. Também comparamos o estudo de caso à historiografia que aborda a prática dos casamentos exogâmicos nas diferentes regiões da colônia e do Império brasileiro, buscando compreender o que buscavam estas famílias ao realizarem uniões exogâmicas à parentela.
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa 1 0. Introdução O uso 2 e a posse de peças de adorno masculinas e femininas em diversas localidades das Minas Gerais-Vila Rica (Ouro Preto) 3 , Vila do Príncipe (Serro) e Tijuco (Diamantina) 4 , Mariana 5 , Sabará 6 , São José (Tiradentes) e São João del Rei 7-, no Brasil, tem vindo a receber, nos últimos anos, alguns estudos que permitem ir estabelecendo juízos comparativos entre elas, sobretudo para a segunda metade do século XVIII e primeira metade da centúria seguinte. A 1 Professor catedrático da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa; investigador integrado do CITAR-Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes (EA-UCP). Estudo inserido no "Projecto Aliança: Design e Inovação de produtos de joalheria em Comunidades Criativas mineiras a partir de aspectos tradicionais de sua origem portuguesa" (2015-2017), da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, financiado pelo Programa Ciência sem Fronteiras e CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A nossa investigação nesse projecto visou a análise da posse de peças de joalharia nas Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX. Agradecemos a Suely Maria Perucci Esteves e a Carmem Silva Lemos toda a colaboração durante a nossa investigação no Arquivo Histórico do Museu da Inconfidência/Casa do Pilar, em Ouro Preto. 2 Para uma leitura mais geral, vd. SOUSA, Gonçalo de Vasconcelos e-Entre el civil y el sagrado, el cotidiano y el esplendor del aparato: la joyería en Portugal y Brasil (1700-1820). In MEJÍAS, María Jesús, ed.-Estudios de artes decorativas: España y Portugal. Relaciones culturales y artísticas.
Um só corpo, uma só carne : casamento, cotidiano e mestiçagem no Recife colonial 1790 - 1800
2008
A presente pesquisa tem por objetivo historicizar como o sacramento matrimonial esteve presente na sociedade do Recife no final do seculo XVIII, buscando entender a sua associacao com as praticas cotidianas. Do mesmo modo, vamos analisar como a populacao da freguesia estava inserida socialmente no espaco eclesiastico, aceitando normas da Igreja e adaptando-as de acordo com suas necessidades mais imediatas. Dentro deste contexto, inserem-se as Ordenacoes Filipinas e as Constituicoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, codigos que regiam as esferas civis e eclesiasticas do periodo colonial. A partir destas normas, buscamos observar a sua aplicacao no cotidiano do Recife entre os anos de 1790 – 1800. Algo que nos proporciona entender questoes como: as idades dos nubentes, os costumes acerca dos horarios, dias e meses do ano nos quais aconteciam as celebracoes. Alem disso, os registros de casamento respondem questionamentos feitos acerca da insercao social que o ato de casar poderia prop...
Resumo: Temas relacionados à exposição de crianças não têm recebido a devida atenção da historiografia sulina, muitas lacunas que cercam o universo do abandono ainda precisam ser preenchidas. O presente trabalho propõe tratar desta temática na Freguesia Madre de Deus de Porto Alegre num período anterior à institucionalização da Casa dos Expostos em 1838, quando a prática do abandono domiciliar era o mais corriqueiro, ou seja, estas crianças eram abandonadas nas portas dos domicílios daquela sociedade. Portanto, neste artigo procuramos dar atenção a este assunto, mas por outro viés, em especial aos laços matrimoniais destes sujeitos que foram abandonados quando crianças e que ainda carregavam este estigma social de exposto. Percebemos o casamento neste período como um sacramento no qual estes sujeitos teriam a chave de acesso a sua inserção numa sociedade fortemente hierarquizada como a do antigo regime. Cruzando as informações contidas nos registros paroquiais de casamentos procuramos identificar a possível inserção do exposto na comunidade porto-alegrense. Tendo como principais referenciais teórico-metodológicos a Demografia histórica, História da Família e da população. Palavras-chave: Expostos. Matrimônio. Freguesia Madre de Deus de Porto Alegre.
MENEZES, Marluci (2018). Entre campos do urbano como pretexto de (re)encontro. In: MAIA, Rosemere (2018), Rio Revisto das suas margens. Letra Capital: Rio de Janeiro, pp. 167-183. ISBN978-85-7785-619-0, 2018
O texto discute os territórios de intersecção como contextos em potencial para o estabelecimento de um urbanismo de (re)contato. Mais do que focar a discussão nas bipolaridades resultantes de oposições extremadas – e de que o par centro/periferia é um dos exemplos possíveis –, o objetivo é evidenciar o que se manifesta nos territórios de intersecção. Entre é a expressão aqui tomada como mote para o repensar os espaços do urbano e a vida que neles se realizam a partir do que se cria nas áreas de intersecção. Três conjuntos de questões emergem: 1) a ambiguidade presente nas áreas de intersecção – entre – como uma condição intrínseca à contemporaneidade da condição urbana; 2) as áreas de intersecção como potencialmente geradoras de iniciativas inovadoras que decorrem das inventivas estratégias de sobrevivência adotadas pelas pessoas; 3) a emergência do inventar um dinâmico e interativo processo de cocriação na restituição de um urbanismo de contato entre territórios. Palavras-chave: Intersecção. Ambiguidade. Fronteiras. (Re)contato. Cocriação. Urbanismo.