Por onde anda nossa mente quando ela está vagando e o que isso nos diz sobre psicopatologia? (original) (raw)

A biologia pode nos ajudar a entender a psicopatologia?

Resumo A biologia pode nos ajudar a entender a psicopatologia? Eu acredito que pode. Atualmente, enfrentamos um momento histórico de crise de saúde mental em todo o mundo, com reflexões tanto na ciência quanto na política. É claro que o paradigma atual da biologia moderna, ou seja, o neodarwinismo e sua aplicação à medicina e à saúde pública, mostram sinais alarmantes de exaustão e danos iatrogênicos para os seres humanos e para a ecologia planetária. Em nenhum outro campo esta contradição se torna tão flagrante como na saúde mental pública. Estamos assistindo ao crescimento de uma pandemia de doença mental que o próprio sistema científico ajuda a construir e é incapaz de gerir. O uso excessivo, generalizado e mundial de medicação psicotrópica, os relatos alarmantes de efeitos colaterais iatrogênicos graves; Os crescentes níveis de violência, genocídio; Guerras emergentes em todos os cantos do planeta, estão nos dizendo que nossa compreensão do mundo, incluindo o seu modelo biomédico científico dominante, está flagrantemente errada. Nosso entendimento "científico" da realidade, que informa decisivamente as ações governamentais que, em última análise, induzem a população a agir com violência e ruptura de importantes relações biológicas das quais depende a nossa existência. Incrivelmente despercebido, um novo paradigma biológico foi proposto e desenvolvido nas últimas décadas. Isso é evidente em fenômenos experimentais observados em praticamente todos os campos da biologia e da medicina, especialmente quando mostram a determinação socioeconômica da saúde mental e os principais impactos da saúde ambiental, da educação e do nível de renda. Aqui, apresento um modelo abrangente de biologia humana e psicopatologia enraizado nos trabalhos científicos pioneiros de diversos pensadores e terapeutas importantes, como: o neurobiólogo chileno Humberto Maturana; O psiquiatra Carl Jung, ilustrado por experimentos científicos contemporâneos do psiquiatra americano John Weir Perry e da psiquiatra brasileira Nise da Silveira, na promoção da saúde mental. Eu também descrevo brevemente nossa própria experiência documentada e publicada na promoção da saúde mental que trabalha sob este novo paradigma, a fim de dar sentido às nossas aparentes contradições atuais e curar nossas ideias e práticas.

A tortuosa trajetória do corpo na psicanálise

Revista Brasileira de Psicanálise, 2007

Resumo: O trabalho trata do estatuto do corpo em psicanálise, partindo do conceito de neurose atual e procurando analisar as razões pelas quais Freud o foi deixando de lado. A seguir, com base em idéias de autores pós-freudianos ligados à escola francesa de psicossomática, são propostas articulações entre as neuroses atuais e os conceitos freudianos de trauma e pulsão de morte. Por fi m, examina-se o aproveitamento clínico dessa proposta. Grosso modo, defende-se a idéia de que o corpo, em psicanálise, é essencialmente um "resto", e que tal "resto" é simultaneamente resto da teoria-aquilo que foi, em determinado momento, abandonado como objeto psicanalítico-e "resto" do sujeito psíquico em sua ontogênese, ou seja, o seu patrimônio genético herdado, que fi ca aquém da formação de um sujeito psíquico fundado na linguagem (logo, marcado pela simbolização) e cujo funcionamento obedece aos esquemas fi logenéticos ainda não singularizados. Retoma-se, assim, a distinção entre corpo somático e corpo erógeno, marcada pela ação do apoio (Anlehnung) ou da subversão libidinal, conforme terminologia de C. Dejours. Palavras-chave: corpo; neuroses atuais; psicossomática.

A Encruzilhada da Psicopatologia

Associação Brasileira de Psiquiatria Biológica - ABPB, 2012

Quem esteve presente naqueles primórdios da Psiquiatria Biológica brasileira, no inicio dos anos 80, não poderia imaginar, por mais otimista, que "psiquiatria biológica" se tornaria praticamente um termo redundante, pois a psiquiatria como um todo se tornou de orientação biológica. É o que indicam as evidências, uma das principais delas o fato de que a "Molecular Psychiatry" é, de longe, a revista de maior impacto em Psiquiatria atualmente. Os trabalhos das principais revistas de psiquiatria são voltados às ciências básicas ou às ditas ciências hard, núcleo sólido das ciências naturais (outrora filosofia natural). Tudo isso é magnífico para a psicopatologia experimental e empírica. Porém, aqui e ali aflora questão agudizada já à época do Methodenstreit ou da disputa entre as ciências naturais e as humanas/culturais, com as quais Jaspers lidava: essa orientação das ciências hard basta à psiquiatria? Muitos afirmarão categoricamente que sim, que é o único caminho para o conhecimento em psicopatologia. Outros responderão igualmente, mas acrescentarão que isso se dará no futuro, sendo que, por motivos práticos, ainda precisamos da velha psicopatologia originária da clínica e com boa dose especulativo-intuitiva, teórica e até filosófica. Afinal, a psiquiatria é a especialidade médica que menos se apoia em evidências no seu propósito de cuidar dos pacientes. Ainda não dispomos de marcadores biológicos, de fórmulas ou algoritmos plenamente válidos para a maioria dos casos que encontramos na clínica. Portanto, falta muito a investigar cientificamente (hard) para que possamos finalmente prescindir daquela psicopatologia descritiva e teórica (soft). Outros dirão, ainda, que esse futuro é muito distante e inatingível, de modo que o afã de tudo explicar nos moldes das ciências naturais não passaria, na prática, de um ideal. Uma orientação frutífera, porém inatingível. Há ainda os que pensam no problema para além de uma questão prática. Para estes, a questão é de princípio. Estaríamos lidando, para sempre, com coisas diferentes. Tudo bem que uma influa na outra, ou que uma torne a outra possível, mas seriam dimensões diferentes: a natural e a humana. Seja como for, interessa-nos aqui saber a respeito da relevância da psicopatologia tradicional, notadamente de teor descritivo e conceitual (em diante designada simplesmente de psicopatologia), na psiquiatria atual. Nesse sentido, é digno de nota que a própria World Federation of Societies of Biological Psychiatry-WFSBP elaborou recentemente consenso a respeito, intitulado Psychopathology in the 21st Century

Psicopatia: Revisões e Novas Direções

Interações, 2010

A psicopatia é um conceito na interseção entre a psicopatologia e o campo das condutas antissociais. Descreve uma perturbação da personalidade caracterizada, entre outros, por indiferença afetiva, ausência de empatia ou remorso, emocionalidade superficial, impulsividade e manipulação, associados a comportamento agressivo ou antissocial, e que tem a sua expressão máxima no crime violento e na reincidência. O psicopata é um indivíduo amoral, incapaz de incorporar valores ou retirar proveito do processo de socialização, direcionando toda a ação com vista ao prazer imediato.

A evolução do conceito de psicopatia

A psicopatia é descrita como personalidade antissocial pelos manuais nosográficos contemporâneos: CID-10 e DSM-IV-TR. Contrastando tais nosografias entre si quanto aos critérios diagnósticos propostos para a psicopatia, assinalam-se as consequências de sua operacionalização, promovida, sobretudo, pelo DSM. Dentre elas, destacam-se: (1) a degradação do diagnóstico ao mero levantamento protocolar; (2) a acentuação da correlação histórica entre psicopatia e delinquência.

A psicopatologia como uma experiência da alma

Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental

Este trabalho teórico apresenta a visão do psicólogo arquetípico James Hillman sobre a psicopatologia. Ele defende que "patologizar" é um movimento da psique válido, necessário e autêntico, que permite um encontro com a alma e com os sentidos e que deve ser compreendido metaforicamente. Sua visão se contrapõe ao modelo médico e nominalista dominante, que tem uma visão literal da psicopatologia e que acaba por afastá-la dos sentidos, da alma e do próprio sujeito. A crítica maior de Hillman é sobre a relação literal da psicologia com as palavras e termos psicopatológicos.

As abordagens existenciais em Psicopatolo

As abordagens existenciais em Psicopatologia, tal como as abordagens fenomenológicas, não se constituem como uma posição unificada e incluem vários pontos de vista. Fundamentam-se primordialmente na procura do significado da existência desenvolvida nas obras filosóficas de S. temas essenciais foram a angústia, a razão/desrazão, a morte, a liberdade, a autenticidade e os valores (Olson,1962).