REALISMO E MITOPOESIA NOS CONTOS DE MIA COUTO (original) (raw)
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RESUMO: O artigo trata das relações entre mito e filosofia enquanto formas do discurso humano. A análise filosófica da narrativa mítica a partir do modelo metafórico e a compreensão da consciência mítica, como forma originária da presença do ser humano no mundo, revelam o mito como sabedoria, pela qual os grupos humanos garantiram sua sobrevivência e identidade e na qual formulam o sentido de sua existência.
SOARES DOS PASSOS JÚLIO DINIS CAMILO CASTELO BRANCO ANTERO DE QUENTAL, EÇA DE QUEIRÓS, CESÁRIO VERDE ULTRA-ROMANTISMO ESCRITORES DE TRANSIÇÃO REALISMO Predomínio da emoção, da exaltação, do espírito, da melancolia que vai ao tédio da vida e ao desejo da morte, ao fatalismo.
Entre as maiores manifestações da consciência crítica neste século, a presença de Camus é certamente uma das mais generosas. Sobretudo agora, no final do milênio, quando tantas das suas reflexões podem ser redescobertas como advertências ou "diagnósticos" de espantosa acuidade e rigor intelectual. Não há como duvidar de que o homem dos nossos dias tem tudo para abrigar conflitos ainda mais intensos -e mais devastadores, ou mais fecundos -que os de todas as outras épocas. É certo que ele contou com enormes precursores, mestres que foram ao fundo do desenvolvimento moderno de suas emoções -e suas razões -como Nietzsche, Dostoiévski, Proust, Kierkegaard, Kafka (para só ficarmos em alguns dos nomes mais caros a Camus), e chega, hoje em dia, aos desdobramentos efetivos e consistentes das revoluções de Darwin, Marx, Freud, Einstein. Mas, até mesmo por isso tudo, "os homens presentes", n' "a vida presente", estão ainda mais sós e dilacerados. Há uma busca desesperada -mas persistente -de novos valores. Como toda possibilidade dos sistemas mágicos ou metafísicos se encontra pulverizada, como só insiste ou resmunga nos desvãos do medo, nos laboratórios da psicopatologia ou em sinistros desvios de igreja e dissimulação, esse homem presente só pode contar consigo mesmo, seu cérebro, seus sentidos, suas mãos, seus meios. Daí o encontro -cada vez mais freqüente -com o absurdo. E face a face com a sua condição, esse homem tem muito poucos amigos. Um deles, de extraordinária inteligência e lealdade, é Albert Camus.
Hesíodo é um nome relativamente desconhecido fora de círculos especializados dentro dos Estudos Clássicos. Apesar disso, juntamente com seu contemporâneo mais célebre, Homero, o poeta deu aos gregos a imagem dos deuses tal qual a conhecemos hoje. Em suas duas principais obras, a Teogonia e Os Trabalhos e os dias, Hesíodo compõe e coloca em prática os mitos helenos, aplica-os ao cotidiano do homem do campo. Apesar de serem praticamente contemporâneos, Hesíodo e Homero têm em comum apenas o formato de suas obras. Os temas escolhidos pelos poetas são diferentes, assim como o objetivo e público de suas composições. Enquanto Homero falava sobre grandes guerras e heróis do passado, Hesíodo fala sobre a origem dos deuses e do cosmos e traz a força dessa origem ao mundo contemporâneo, ao mesmo tempo ensinando a moral do universo aos homens simples do campo e dando sentido e significado à experiência do homem sobre a terra com os mitos. O período em que a vida de Hesíodo transcorreu, provavelmente entre os séculos VIII e VII a.C., foi um tempo de grandes transformações para o homem grego. As invasões dóricas haviam terminado e as influências do Oriente Médio e da Ásia estavam presentes entre os helenos, ainda sem uma forma definida. Nesse contexto, tornava-se necessário reunir e adaptar todas as impressões culturais e religiosas. Hesíodo fez isso em Teogonia, ao reunir e organizar várias idéias diferentes enquanto, na primeira vez que temos conhecimento, mostra a origem da cosmologia grega. Em Os Trabalhos e os Dias, o poeta faz uso, de uma forma até então inédita, da cosmologia para compor uma obra em que fala não de heróis ou guerras distantes, mas do homem do campo do agora, não envolvido em atos legendários, e sim em atos cotidianos que assumem significado quando comparados aos mitos. Na obra, o poeta apela a Perses, seu irmão tolo, pedindo que saia do caminho do Excesso e trilhe a estrada da Justiça, ainda que isso seja mais penoso. Mircea Eliade chama esse homem, que pauta sua vida pelos mitos, de Homo Religiosus¸ designando o homem que pratica o Pensamento Mítico, conceito desenvolvido por Jean- Pierre Vernant. Esse homem entende o mundo através de sua experiência sagrada com as origens, e não do modo empírico com o qual nosso pensamento lógico acostumou-se. Mudar a forma de pensar e tentar entender os mitos da forma como eles significavam ao homem antigo é um desafio, para o qual selecionei como corpus Os Trabalhos e os Dias, por nele aparecerem os mitos voltados justamente para essa finalidade: ou seja, com os mitos explicando o mundo ao homem através da mediação do poeta. Embora não tenha pretensão de esgotar os ainda escassos estudos sobre Hesíodo em língua portuguesa nem estabelecer um consenso sobre fenômenos sociais tão amplos e complexos quanto o mito e o pensamento, este trabalho coloca-se como uma contribuição aos estudos clássicos, colocando questões quando as respostas não bastam. Palavras-chave: Pensamento Mítico, Hesíodo, mitos, interpretação.
OS USOS DA UTOPIA E DA DISTOPIA NO ROMANCE PÓSCOLONIAL: MIA COUTO, JM COETZEE E SONY LABOU TANSI 72
RESUMO: O estudo da literatura póscolonial permite questionar problemas que datam da colonização. Ao deslocar a maneira eurocêntrica de compreender o mundo, a crítica pós-colonial abriu caminho para se entender a obra literária de acordo com as especificidades sociais, históricas e políticas de um determinado país. Ao analisar alguns livros de Mia Couto, JM Coetzee e Sony Labou Tansi, compreendemos que a utopia aparece como um espaço de resistência face aos sofrimentos de uma sociedade recém independente e a distopia é um recurso de exacerbação da crítica. Dessa maneira, estudar como os autores se apropriam desses dois conceitos permite-nos questionar vários acontecimentos da época colonial, assim como os problemas da transição da independência e os traumas atuais das sociedades em questão.
MITO, METAFÍSICA, CIÊNCIA E VERDADE 1
Existem muitas formas de conhecimento que partilharam e ainda partilham, juntamente com o conhecimento científico do papel de realizar a explicação da realidade. São as formas artísticas, religiosas e mitológicas de conceber o mundo. Durante muitos séculos, essas várias formas de conhecimento se mesclaram e, em maior ou menor grau, se impuseram como formas dominantes na organização do pensamento. Foi somente a partir do Renascimento que uma nova "visão de mundo começou a rivalizar com as velhas concepções mitológicas, religiosas e metafísicas, oferecendo-pouco a pouco-novas referências para a organização do pensamento. Dissemos anteriormente que os gregos fizeram uma distinção entre o saber mítico e o racional, embora não tivessem-na prática-conseguido operar esta diferença e criar um conhecimento científico independente. Esta tarefa foi executada, a partir do Renascimento, pelos chamados fundadores da ciência moderna: Copérnico, Descartes, Galileu e Newton Embora não tivessem conseguido se libertar inteiramente da metafísica, cada um deles deu um passo decisivo no processo de formação da ciência moderna, questionando velhos dogmas e fornecendo uma nova direção e sentido às investigações. Todo este processo de formação da ciência moderna, que podemos caracterizar como sendo de desantropomorfização da natureza, coincidiu historicamente com o desenvolvimento do capitalismo e com a expansão ultramarina. Progressivamente, as transformações sociais econômicas e políticas repercutiram na "cultura geral" da época e foram produzindo novos padrões de referência. Enquanto na Idade Média a religião e as escrituras eram os paradigmas de pensamento, na Idade Moderna será a ciência que ocupará o lugar de honra na cultura. As mudanças foram tão notáveis e as realizações da ciência e tecnologia tão incríveis que passou, inclusive, a existir a concepção de que as sociedades modernas, capitalistas, são estritamente racionais e científicas. Um pouco desta concepção deriva da difusão da "lei dos três estados", de Conte. Segundo ela, o desenvolvimento dos povos passa pelo desenvolvimento do espírito humano, que percorre três fases distintas: a teológica, a metafísica e a positiva. A fase positiva, que tem a ciência como suporte, procura explicar fatos e fenômenos com base na investigação empírica e na busca de relações constantes entre eles. O abandono da teologia e da metafísica-que baseiam suas explicações nas causas primeiras-é o marco, sendo Conte, da moderna civilização e indica o seu progresso. Mas vejamos mais de perto as diferenças entre mito e ciência. Na introdução da enciclopédia Larousse World Mythology 2 , Pierre Grimal coloca a questão entre o mito e ciência da seguinte forma: É objetivo do mito, assim como da ciência, explicar o mundo, fazer seus fenômenos inteligíveis. Como a ciência, seu propósito é suprir o homem com os meios de influenciar o universo, de permitir sua apreensão material e espiritual. Dado um universo cheio de incertezas e mistérios, os mitos intervêm para introduzir um elemento humano. Ou seja: os mitos, tanto quanto a ciência, pretendera responder à nossa necessidade de dar ordem e coerência ao mundo. Mas, então, mito e ciência são semelhantes? De fato não o são, apesar dessa pretensão geral de suprir uma mesma necessidade. Uma das principais características da visão mítica do mundo é o seu humanismo, onde desejos e vontades são atribuídos à natureza. Na teoria aristotélica, por exemplo, os objetos físicos têm um desejo, uma vontade de permanecer no lugar que, por natureza, lhes foi destinado. Para Aristóteles, os objetos são formados a partir dos quatro elementos principais que ocupam seu lugar natural no mundo sublunar. A tema é o elemento mais pesado e, por isso, está abaixo dos outros. A água é mais pesada que
Os mitos têm a idade dos humanos. Poderíamos dizer que os mitos nasceram com os primeiros homens. É provavelmente mais exato dizer que os mitos surgiram com os primeiros agrupamentos humanos. Estamos aqui assinalando a natureza coletiva do mito, tanto quanto a da existência humana. E, ainda, a relação entre um fato e outro. Na história humana, não há casos de indivíduos que tenham existido sozinhos. Exceto na ficção da literatura e do cinema, os humanos existiram sempre em grupos e este fato permitiu as condições que fizeram a espécie humana adquirir suas características atuais (a linguagem, o bipedismo, etc.), tanto quanto a aquisição desses atributos constituiu condições favoráveis à vida de grupo. A significado. Embora o mito cosmogônico goze de prestígio especial entre os mitos, pois a criação do mundo precede todo o resto -a "história primordial" do grupo fornecendo o modelo para todas as outras "histórias" -, todo mito conta a história de um começo, conta a forma como qualquer coisa surgiu: o mundo, o homem, uma espécie animal, uma instituição social, etc. Assim, contando os começos, os mitos fornecem explicações para o sentido da existência das coisas e do próprio homem. A narrativa das "origens" (acontecimentos fabulosos que tiveram lugar no surgimento do universo, animais, vegetais, humanos, ou no aparecimento da diferença sexual, do casamento, da família, do trabalho, da morte ou que revelam igualmente como os seres sobrenaturais tomam parte nesses acontecimentos, tornando-os "sagrados", etc.) traz implícita a explicação do fundamento de tudo existente, dando sentido à existência individual e coletiva.
REALISMO E CONSCIÊNCIA PERCEPTIVA EM SARTRE
REALISMO E CONSCIÊNCIA PERCEPTIVA EM SARTRE, 2023
Resumo: Objetiva-se, no presente artigo, apresentar um percurso em alguns textos e obras de Sartre que antecedem à ontologia de 1943, L'être et le néant, que indica elementos de um pensamento realista, isto é, que mantém algum estatuto irredutível no mundo. Para isso, valemo-nos de textos como a dissertação sartriana, de 1927, sobre a imagem para a obtenção do Diplôme d'Études Supérieures, tal como o breve ensaio sobre a intencionalidade de Husserl, publicado em 1933. Em relação às obras, utiliza-se La transcendance de l'Ego, L'imagination e L'imaginaire, no intuito enfatizar os elementos que envolvem a ambiguidade da noção de consciência perceptiva, a qual envolve a atividade e espontaneidade referente à consciência, além de relacionar a passividade e receptividade inerentes à percepção. Visto isso, pode-se concluir que no empreendimento de Sartre em superar o idealismo e realismo tradicionais, mesmo o autor radicalizando a teoria de Husserl, ele indica um "novo realismo" que, de certo modo, está relacionado às ambiguidades da consciência perceptiva.