2011 Novas e velhas questões de curadoria no sistema contemporâneo das artes (original) (raw)

Criticidade curatorial - sobre o papel de curadores independentes no campo da arte contemporânea

2016

Desde os anos 1990, a curadoria vem alcancando uma intensa visibilidade no campo da arte contemporânea. A acao exemplar de Harald Szeemann, que inaugurou o papel do curador independente, como um agente que propoe exposicoes e atua em diversos eventos culturais sem, no entanto, estar atrelado a uma unica instituicao, abriu caminho para diferentes frentes em curadoria, fazendo com que o curador atingisse um nivel de paridade junto aos artistas. Por outro lado, e esperado dos curadores independentes que, ao atuar dentro de contextos especificos, eles ativem relacoes entre as producoes artisticas e as conexoes com as questoes culturais, politicas, sociais e economicas, no intuito de atingir uma postura critica quanto aos projetos apresentados.

Artista enquanto curador — Das convergências e dissoluções entre práticas artísticas e curatoriais

MODOS, 2019

Artigo integrante do dossiê da revista MODOS dedicado à 33ª Bienal de São Paulo. A discussão parte do modelo curatorial desta edição da bienal, na qual artistas-curadores assumiram a responsabilidade pelas escolhas e decisões que guiaram o processo de concepção e organização das mostras coletivas que compuseram o conjunto expositivo. Ao analisar a intenção do curador-chefe, Gabriel Pérez-Barreiro, de colocar em discussão os modelos de curadorias centralizados na figura do curador e estruturadas como arranjos temáticos de obras, argumenta-se que a opção por artistas-curadores implica em um inevitável tensionamento quanto às funções tanto dos curadores como dos artistas na organização de uma grande exposição. Tendo em conta essas questões, são mobilizados antecedentes históricos e referenciais teóricos que ajudam a melhor delinear e compreender a problemática em torno das convergências entre práticas artísticas e curatoriais, com especial atenção às dissoluções de categorias e às trocas de papéis. A discussão sobre as possíveis equivalências de práticas e os conflitos de autorias aponta para questões em torno da “curatorialização” de procedimentos artísticos em âmbito institucional.

Crítica e curadoria como espaços de discussão da arte

Anais do 40º Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte: Pesquisas em diálogo (evento online), 7-11 nov. 2020, 2021

O discurso da Crítica de Arte no campo das artes visuais não cessou de se transformar ao longo do tempo. Ademais da articulação já consagrada entre Crítica, Estética e História da Arte, ainda hoje, em constante processo de discussão pelos estudiosos da arte, vemos, também agora, a necessidade de pensar a crítica em articulação com outra realidade – a curadoria em sua tarefa de organizar exposições de arte. Este é, ao nosso entender, um lugar fundamental para pensar atualmente a práxis da crítica de arte, seus desafios, sua utilidade, sua especificidade, sua relação com a construção de conhecimento na sociedade contemporânea.

Comentário II: Um olhar antropológico sobre a curadoria: da agência dos objetos a sua artificação

Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material

O artigo que tenho a honra de comentar na presente edição dos Anais do Museu Paulista traça, de maneira clara e articulada, um histórico ao mesmo tempo objetivo e panorâmico das relações entre a antropologia e os museus, desde o século XIX até os dias atuais. O autor Camilo de Mello Vasconcellos recupera processos convergentes pelos quais tanto a disciplina antropológica quanto as instituições museais passaram. Se, durante a vigência dos paradigmas evolucionista e positivista, ambas eram pautadas por visões eurocêntricas e unilineares da história e por uma postura colonialista, hoje, ao contrário, estão em curso experiências dialógicas bastante interessantes, como as descritas na última parte do artigo de Vasconcellos, voltada à curadoria compartilhada entre o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE USP) e os povos indígenas ali representados. Uma vez que a argumentação do artigo está bem desenvolvida e fundamentada, optei

Modernismo “emparedado”: curadoria como embate de representações a partir do Nordeste

Estudos Universitários

A curadoria de arte, por meio do evento exposição e do arranjo temporário de obras, pode questionar cânones e narrativas hegemônicas, estratégia essa empregada para tensionar e questionar processos que inventam e reproduzem representações identitárias, muitas delas vinculadas à “brasilidade” imaginada pelo modernismo paulista. Parte dessas representações foram produzidas a partir de determinadas alteridades relacionadas aos diferentes regionalismos, entre eles certa “nordestinidade”, as quais foram operadas sobretudo enquanto objeto de representação. Partindo de um caso emblemático de curadoria, no qual obras canônicas do nosso modernismo são confrontadas com produções contemporâneas produzidas por artistas negros e mestiços localizados fora do eixo hegemônico do Sudeste do país, propomos discutir como uma série de exposições realizadas por curadores nordestinos nas últimas duas décadas têm questionado representações identitárias sobre “nordestinidade” e seu uso enquanto construção ...

Percursos da prática curatorial - por uma noção expandida de curadoria em artes

A curadoria é uma atividade exercida há muito tempo no campo das artes, ainda assim o surgimento do curador como agente cultural influente só se deu em meados do século XX. Nessa perspectiva, a presente pesquisa buscou investigar as origens históricas do exercício curatorial, assim como as transformações sofridas no transcorrer de sua prática secular. Buscamos também compreender os diálogos possíveis entre curadoria, crítica de arte e museologia nas dimensões institucional e independente. Partindo dessa perspectiva histórica, resgatamos as primeiras exposições de arte do período medieval, passando pelo advento da cultura museológica no século XVIII até o surgimento da arte modernista no século XX, desembocando nas exposições e instalações multidisciplinares contemporâneas. Num gesto de deslocamento radical, utilizamos o cinema em seu caráter “polissêmico” como objeto de estudo, analisando a natureza híbrida da sua imagem e o posicionando como terreno fértil para o exercício de curadoria no campo da arte contemporânea, dadas às múltiplas possibilidades de inserção do “filme” no espaço- tempo. Finamente, buscamos discutir conceitos relacionados à teoria da imagem a partir da obra de Aby Warburg e seus intérpretes Phlippe-Alain Michaud e Georges Didi-Huberman, lançando mão de ideias como a do anacronismo na arte, as forças não-lineares do tempo, o deslocamento das imagens no espaço e a multiplicidade de sentidos que as obras de arte podem assumir quando justapostas ou sobrepostas; temas esses que podem servir como uma espécie de “caixa de ferramentas” para o curador contemporâneo tanto no sentido da inspiração quanto do método.