Nietzsche e a vivência de tornar-se o que se é (original) (raw)
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O futuro anterior de Nietzsche: “tornar-se o que se é” como tarefa filosófica em Ecce Homo
Estudos Nietzsche, 2020
Este artigo tem o objetivo de apresentar uma análise da fórmula nietzschiana “como tornar-se o que se é”, em seu estatuto como tarefa filosófica tal como descrita no parágrafo 9 do capítulo “Porque sou tão inteligente” de Ecce Homo (1888). Para isso, toma-se como chave de leitura o conceito de “futuro anterior”, desenvolvido a partir de uma interlocução com a narratologia e que tem como objetivo oferecer um tratamento teórico adequado à complexidade temporal da noção de tarefa em Nietzsche. Na primeira parte do texto, argumenta-se que o ato de “tornar-se o que se é” não pode ser tomado como objeto de uma intencionalidade racional, portanto não pode ser antecipado. Em seguida, desenvolve-se formalmente o conceito de “futuro anterior” e apresenta-se sua vantagem teórica. Por fim, realiza-se uma análise dos movimentos de prospecção e retrospecção presentes na relação entre discurso autobiográfico e tarefa filosófica futura no texto nietzschiano.
Cadernos De Etica E Filosofia Politica, 2010
Resumo: o objetivo do artigo é lançar algumas hipóteses de análise sobre uma fenomenologia da ação moral em Nietzsche, especialmente no que se refere à fórmula nietzscheana "tornar-se o que se é", notadamente por meio de duas noções decisivas à constituição do homem pela ação: vivência (Erlebnis) e 'cultivo'. O homem se torna o que é exclusivamente na vida e sob as condições concretas de sua existência, sem que "suspeite", como escreve Nietzsche, "remotamente o que é" e, neste caso, trata-se de um processo que se desdobra em meio às suas vivências. Compreendida como pathos ou contra-conceito da razão, toda vivência atua cultivando o homem, em um processo fenomenológico de 'cultivo' humano rumo à trajetória de 'tornar-se o que se é'. Palavras-chave: 'Tornar-se o que se é'-Erlebnis-cultivo-pathos.
Entre a "caracterologia" de Schopenhauer e o "tornar-se o que se é" de Nietzsche
Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, 2016
Esta publicação concerne ao desdobramento de um estudo sobre o tema do sujeito. Seu foco se encontra na ambivalência de alguns aspectos do tema, como é o caso de um sujeito entendido como o "resultado" de um processo de subjetivação, por um lado, e, por outro, como um "agente" que atua sobre esse processo no intuito de dirigi-lo. O objetivo, neste artigo, e mostrar que esse tipo de ambivalência, comum nos últimos escritos de Nietzsche, na o e casual, mas corresponde a um modo peculiar de fazer filosofia que pode ser sumariado sob a expressão “margem de manobra”, que corresponde a um procedimento conhecido por ele em suas leituras de Schopenhauer. No intuito de exemplificar esse procedimento, apontaremos a ambivalência verificada na caracterologia de Schopenhauer, em especial na maneira como ele amplia o conceito de caráter, tendo em vista as seções 28 e 55 de "O mundo como vontade e representação" e, em Nietzsche, indicaremos a ambivalência presente na ...
Nietzsche educador: o processo artístico de tornar-se o que se é…
Vértices (Campos dos Goytacazes), 2018
Este texto visa pensar a educação enquanto processo artístico de formação do humano e da existência humana. Na esteira das críticas que apontam o processo formativo como homogeneização e redução do tipo humano a uma única formação, este ensaio vislumbra a possibilidade de uma educação para a singularidade. Pensando com Nietzsche, metodologicamente se situa para além de um elencar premissas e defender argumentos, intentando explicitar, narrar e propor pensamentos radicais sobre educação e vida. Assim, arregimenta a arte enquanto um elemento que permite pensar a educação para além das necessidades imediatas, a arte enquanto instrumento que autoriza pensar uma educação para a vida, não para um ofício nem para um acúmulo de conhecimento. Uma formação para tornar-se o que se é, sem um juízo prévio do que deveríamos ser, mas sim uma abertura para as múltiplas perspectivas de configuração do humano. Provocado pelo tema, projeta algumas características de uma educação, de um educador e de um educando imbuídos em um processo artístico, no qual a vida é a obra de arte. Pressupõe que a vida é devir e que nossas teorias pedagógicas não dão conta deste mover existencial, então provoca pensar uma educação como processo artístico, sem finalidades últimas, mas um constante tornar-se o que se é.
Nietzsche e a formação do (vir-a) ser pela linguagem
2016
O presente artigo possui o intuito de apresentar as criticas do filosofo alemao Friedrich Nietzsche as concepcoes de Ser e sua estima pelo vir-a-Ser, e, tambem, como isso se vincula, de certa maneira, as posturas eticas e nao apenas metafisicas ou ontologicas. Para tanto fizemos uso do pensamento de dois autores pre-socraticos basicamente: Heraclito e Parmenides, e, da mesma maneira, buscamos nos pautar em dois escritos fundamentais: Crepusculo dos Idolos e A filosofia na era tragica dos gregos , pois como se trata de dois textos distantes, demonstramos que algumas criticas e elogios vinculados aos filosofos ja era apresentada de modo embrionario e que se desenvolveu posteriormente de uma maneira mais consistente.
Estudos Nietzsche, 2013
No presente artigo procuro analisar a hipótese segundo a qual, não obstante as significativas diferenças de horizontes entre Schopenhauer e Nietzsche quando estes tratam da questão da busca por um “si mesmo”, as suas noções de caráter adquirido e de tornar-se o que se é podem ser consideradas duas expressões similares para uma abordagem da autenticidade.A partir da definição schopenhaueriana de caráter adquirido e de passagens da Terceira Extemporânea e de Ecce Homo, argumento que tal similaridade pode ser mais produtiva caso a consideremos a partir do que indico como possíveis definições negativas do caráter adquirido e do tornar-se o que se é. Ou seja, não a partir do que teríamos como conteúdo positivo de um caráter “adquirido” e do “que se é” como resultado de um “tornar-se”, mas a partir daquilo em relação a que ambos os pensadores indicam que precisamos nos desgarrar em vista de tornarmo-nos “nós mesmos”.
A autoencenação de Nietzsche como sofredor trágico
IPSEITAS, 2020
No fragmento póstumo 14[89], da primavera de 1888, Nietzsche esboça apontamentos acerca do que chamou de “problema do sentido do sofrimento”. Trata-se do antagonismo entre um sentido cristão e um sentido trágico. No primeiro caso, tem-se um modelo ascético-ideal de sentido, cumprindo a função de justificar o sofrimento para um tipo de sofredor, cuja debilidade fisiológica necessita da ficção de um além-mundo para fins de consolo e narcotização. Já o sentido trágico corresponde ao anseio de outro tipo de sofredor, cuja superabundância de forças requer a afirmação jubilosa da existência e justifica o sofrimento no próprio curso do vir a-ser. Partindo dessa distinção, o artigo objetiva caracterizar a figura de Nietzsche, tal qual ela aparece em Ecce Homo, enquanto um sofredor trágico. Mediante o recurso à autoencenação, pelo qual Nietzsche converte a si mesmo em instância argumentativa, seu próprio sofrimento vivido é tornado um vetor crítico para operar uma ressubjetivação em relação a certas valorações modernas. Ver-se-á como o filósofo insere a “sequência e interdependência internas” de sua vida na história da cultura ocidental, marcada pelas valorações metafísico-cristãs, de modo a fazer do seu sofrimento o testemunho da fratura da modernidade em direção à intentada transvaloração dos valores
Escrever o que se é: considerações de Nietzsche sobre o seu estilo
Estudos Nietzsche, 2018
O presente trabalho tem por escopo analisar o sentido da "arte de estilo" nietzschiana em sua filosofia tardia. Precisamente, buscamos averiguar em que medida a "arte do estilo" nietzschiana, conforme apresentada em Ecce Homo, pretende ultrapassar os limites de uma linguagem ordinária e da comunicação do "eu sou" (Ich bin) em direção à comunicação de uma interioridade mais profunda e que diz respeito ao "si mesmo" (Selbst). Assim, pretendemos averiguar em que medida Nietzsche pensou a possibilidade de uma comunicação que se dê fora do registro da consciência.
Nietzsche e o renascimento do trágico
Kriterion: Revista de Filosofia, 2005
O objetivo deste artigo é expor como a proposta de renascimento do trágico existente em O nascimento da tragédia insere o primeiro livro de Nietzsche no projeto cultural iniciado por Winckelmann, Goethe e Schiller, na segunda metade do século XVIII, que privilegia a arte grega como modelo da arte alemã. Destacarei, para isso, tanto as continuidades entre os dois momentos quanto as descontinuidades que Nietzsche introduz nesse projeto clássico da intelectualidade alemã ao pensar a cultura grega a partir da filosofia de Schopenhauer e da música de Wagner.