Olhar a cidade: o flâneur e o etnógrafo urbano (original) (raw)

Formas de Ver, Modos de Narrar: o Viajante, o Etnógrafo e a Cidade

Índice Apresentação AMÍLCAR TORRÃO FILHO Dos guias de viagem aos relatórios de fiscalização sanitária: A representação do espaço urbano nas metrópoles do século XIX BIANCA MELZI DE DOMENICIS Sonoridades Urbanas no século XIX: Um vir a ser cidade CLÉBER DE OLIVEIRA SANTANA Olhares sobre vendedores ambulantes (1890-1910) ISABELA DO CARMO CAMARGO Uma viagem pela escravidão no Brasil através de uma caricatura de Angelo Agostini WASHINGTON KUKLINSKI PEREIRA 8 16 44 71 90 Registros de memórias e patrimônio cultural nas escritas sobre viagens NAPOLEÃO ARAÚJO DE AQUINO A Índia Portuguesa: Um relato jesuítico sobre Goa no Império Luso-Oriental JORGE LÚZIO MATOS SILVA Corpo e Subjetividade. A corporalidade do índio catequizada. Um processo histórico com o outro MARIA CRISTINA PEREIRA BRANDINI Corpo e ambição civilizatória na cidade de Fortaleza nos anos 1920 LUCIANA ANDRADE DE ALMEIDA Álbuns de governo e o discurso eurocêntrico no Pará (1899-1908) ISABEL TERESA CREÃO AUGUSTO 109 134 153 169 187 Uma escrita da atividade científica moderna: A Astrologia e a construção de conhecimento na narrativa de viagem de um médico astrólogo GERALDO BARBOSA NETO A natureza é nossa identidade? Notas sobre a construção de uma identidade brasileira no século XIX e sua relação com o futebol no início da República FELIPE MORELLI MACHADO Em meio a múltiplas identidades políticas: Ideias sobre a formação da identidade nacional e os escritos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no século XIX MARIANA DE CARVALHO DOLCI Um mesmo percurso, dois pontos de vista. Visões contrapostas e complementares do fenômeno migratório na partida e na chegada. Espanha e Brasil SILVIA ELENA ALEGRE 208 221 243 255 8 Apresentação Os textos que fazem parte desta publicação são resultado de comunicações apresentadas no Encontro de Pesquisas de Pós-graduação do programa em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, realizado entre os dias 28 de maio e 11 de junho de 2012. Trata-se de pesquisas apresentadas ao Seminário Temático coordenado por mim e intitulado Formas de Ver, Modos de Narrar: o Viajante, o Etnógrafo e a Cidade. Os textos então apresentados e aqui reunidos revelam o vigor e a qualidade das pesquisas realizadas em nosso programa de pós-graduação, além da diversidade de temas, abordagens, objetos e documentação das investigações realizadas por estes jovens pesquisadores. São treze textos dos mais variados temas e períodos históricos, mas que tinham um fio condutor dado pelo deslocamento provocado pela viagem, o olhar treinado daquele que conta um mundo visitado por meio do texto e do relato, ou da imagem; e a cidade, esse espaço que cada vez mais atrai o interesse de viajantes, higienistas, engenheiros, arquitetos. A partir do século XIX a cidade é um lócus de experimentação social e objeto de um novo campo conceitual, o urbanismo nascente e triunfante. Os povos exóticos não deixam de ter apelo ao gênero da viagem, mas num novo hábitat, suas cidades pitorescamente confusas, desordenadas, tão parecidas, ao menos conceitualmente, aos bairros infectos e perigosos das grandes metrópoles europeias, espetáculos de pobreza. abolição bem como as omissões do poder público diante das injustiças do sistema escravocrata, visíveis e atuantes mesmo em seu ocaso.

O antiflâneur de “Walking Around”: errância e estranhamento na cidade

La Junta (São Paulo), 2018

A poesia do século XIX consagrou como um de seus arquétipos literários representativos a figura do flâneur, caminhante observador que encarna o espírito do homem curioso que, sem destino certo, vaga pela cidade surpreendido com a variedade da paisagem urbana. O flâneur ganhou destaque na poesia de Charles Baudelaire. No século XX, mais precisamente no poema “Walking Around”, Pablo Neruda redesenha os contornos do flâneur, a partir do olhar da vanguarda. Ressurge nos versos do poeta chileno a figura do homem que caminha pela cidade. Este, porém, diferente do andarilho do século anterior, já não é um observador apaixonado, mas um antiflâneur. Sua relação com o espaço urbano não é mais de admiração, mas de choque permanente. A sintonia passou à dissonância; a curiosidade deu lugar ao estranhamento e o deleite do ócio tornou-se cansaço. O poeta, antes observador unilateral, sofre agora a ação dos objetos do mundo, sentindo o cansaço, a angústia e a culpa de seu tempo.

Itinerários do corpo na cidade: do flâneur ao performer

2021

O presente ensaio busca analisar as relações entre a poesia, a cidade e o corpo, partindo das considerações de Walter Benjamin (1985, 1989) sobre a figura do flâneur em Baudelaire e de Beatriz Sarlo (2014) sobre o performer. Defendemos que, na pós-modernidade, a relação do poeta com o espaço urbano passa da contemplação e do assombro para a intervenção e a ação sobre a urbe, ou seja, marca-se a transição do flâneur para o performer. Para tal, confrontamos o trabalho de dois poetas performáticos: Miró da Muribeca e Biagio Pecorelli. No caso do último, tomamos como corpus essencialmente uma série de performances desenvolvidas pelo poeta entre 2009 e 2012 na cidade do Recife, enquanto que analisamos a obra do primeiro à luz do trabalho de Rosário (2007), com seu conceito de corpoeticidade. Foram também importantes do desenvolvimento das ideias presentes neste ensaio as contribuições de Sennet (1994), Oliveira (2004) e Bacherlard (1993), entre outros

Pesquisando cidade e subjetividade: corpos e errâncias de um flâneur-cartógrafo.

RESUMO. À luz do método de pesquisa-intervenção da cartografia, proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari (2011), apresentamos reflexões sobre o estudo da subjetividade e da cidade contemporânea em suas dimensões processuais e produtivas. O corpo do cartógrafo emerge como central para a metodologia, sendo criado ao longo do processo de pesquisa a fim de existencializar universos de referência (Rolnik, 1993) de modos de existência na urbe. Desenvolvemos, então, relações entre a prática do cartógrafo e a do flâneur enquanto exemplos de errâncias urbanas (Jacques, 2012) que problematizam as possibilidades da experiência corporal no espaço urbano como resistência à espetacularização das cidades contemporâneas. Para tal, utilizamos conceitos-ferramentas do campo da esquizoanálise e dos autores citados neste resumo, desenvolvendo a ideia de que experiências urbanas, sob certos modos, podem se revelar como fonte de produção e de conhecimento sobre a subjetividade, a cidade, o corpo assim como sobre as relações entre eles. ABSTRACT. In light of the cartographic method of research proposed by Gilles Deleuze and Félix Guattari (2011), we present reflections on the study on subjectivity and the contemporary city with an approach to its process and production dimensions. The cartographer's body is crucial for the methodology and is created along the research process in order to allow for the existence of universes of reference (Rolnik, 1993) of modes of existence in urban life. We then develop relationships between the cartographer's practice and that of the flâneur as examples of urban wandering (Jacques, 2012) that problematize the possibilities of body experiences in the urban space as a resistance to the contemporary spectacularization of the city. For such, we use concepts-tools from the field of schizoanalysis and those of the authors mentioned in this abstract, developing the idea that urban experiences, in some ways, can prove to be a source of production and knowledge of subjectivity, the city, the body and the relationships between them.

A cidade, seus espaços, narrativas e o morador de rua: entre o miserável e o flâneur

Rizoma, 2017

Este artigo trata de urbanidades, subjetividades e conflitos gerados na cidade moderna e que se mantêm entrelaçados ao ambiente urbano contemporâneo. Para tal, o morador de rua é destacado na narrativa que busca refletir sobre sua invisibilidade perante a sociedade, o estado e a mídia ao ocupar os espaços esquecidos ou não reconhecidos como espaços ativos da cidade. Como um personagem do urbano, o morador de rua situa-se entre o miserável de Victor Hugo e o Flâneur de Baudelaire.

O Geógrafo e os Estudos Urbanos

Revista Políticas Públicas & Cidades

Assim como o urbano, os cientistas que tentam explicá-lo são resultado de dado momento histórico e determinados social, política, ideológica, jurídica e economicamente. Com base neste fato e tomando-se as ideias centrais dos intelectuais que por meio da Geografia entendem o espaço urbano, se busca a compreensão da cidade, verificando como a abordagem técnico-científica nos ajuda na compreensão da mesma. A análise abrange a produção da Geografia com relação ao estudo do urbano e de ciências correlatas, suas problemáticas e particularidades. O método utilizado é o da pesquisa histórica/ teórica e na experiência do autor, buscando decifrar e compreender a cidade. Valoriza-se as categorias e conceitos, enquanto ferramentas de conhecimento, de entendimento dos processos, contribuindo no estudo de outros campos e temáticas.