Ed. 472 - Cuidado de si e biopolítica (original) (raw)

Narcisismo e biopolítica

Resumo Na clínica psicanalítica contemporânea, depressões, compulsões e automutilações mostram um predomínio do eixo narcísico sobre o eixo desejante e que tais formas de padecimento psíquico não advêm de um conflito como nas neuroses clássicas, mas de uma descarga direta do mal-estar no registro do corpo ou da ação. Entendendo que não há clínica psicanalítica sem cultura, este estudo objetivou fazer um mapeamento conceitual sobre o narcisismo na psicanálise, analisar as mutações na biopolítica e seus efeitos nos modos de subjetivações e nos sofrimentos psíquicos contemporâneos no que diz respeito ao narcisismo. Para sua realização, privilegiou-se a compreensão da relação entre narcisismo primário, responsável pelo surgimento da criança maravilhosa, e pulsão de morte e a leitura biopolítica das transformações nas estruturas familiares. Pode-se inferir que o individualismo extremo e as perturbações psíquicas na atualidade advêm da falta de representantes narcísicos primários que possibilitem ao indivíduo recorrer a eles nos momentos de desespero. Palavras-chave: clínica psicanalítica; narcisismo; narcisismo primário; pulsão de morte; biopolítica. Narcissism and bipolitics AbstRAct In contemporary clinic of psychoanalysis, depression, compulsion and self-injury demonstrate the dominance of a narcissistic axis over the axis of desire and that such forms of psychic suffering don't derive from conflict as

CUIDADO DA VIDA E CUIDADO DE SI: SOBRE A INDIVIDUALIZAÇÃO BIOPOLÍTICA CONTEMPORÂNEA

In the 1979 course, entitled Naissance de la biopolitique, Michel Foucault proposes contemporary neoliberalism, especially in its North American variant, as one of the most expressive biopolitical governmentality instance of our time. This article examines if the care of the life and its articulation with the constitution of the individual as a free entrepreneur of himself, observable in this biopolitics, can be considered as a contemporary unfolding of the " care of the self " , the nuclear concept in Foucault´s last writings. It suggests that the care of the self, understood as a principle of permanent concern whose scope is the transformation of the self and the creation of new ways of being and living, leads us away to point two conclusions: the first one is that the neoliberal care of the life is inseparable from the management of the individuals´freedom; the second one is that the neoliberal self-government, considered by means of the calculation of economic self-investment, it is something from which one should get rid of.

Do biopoder ao cuidado de si

PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, 2019

Nosso artigo analisa a transição de ênfase de Michel Foucault da biopolítica, relacionada às populações, para o cuidado de si. O “biopoder” está relacionado, primeiramente, ao controle social exercido como um direito de morte do soberano sobre seus súditos e, a partir dos séculos XVIII e XIX, se operacionaliza por meio da administração dos corpos e na gestão da vida, em questões relativas à natalidade, à saúde pública e à migração. Torna-se um desiderato político-social a constituição dos corpos e mentes dóceis, aptas ao trabalho. No entanto, em suas obras tardias, nos últimos volumes da História da Sexualidade e suas aulas no Collège de France, entre 1980 e 1982, parte delas reunidas em A hermenêutica do sujeito, Foucault transita para uma reelaboração da ética do cuidado, que se caracteriza pelo retorno à moral greco-romana para dela reelaborar uma ética como o modo como o indivíduo se constitui a si mesmo como um sujeito moral de suas próprias ações, isto é, a ética como a relaçã...

A Vila e a Biopolítica

A Vila retrata a história de uma pequena comunidade em uma época atemporal nos Estados Unidos que vive uma existência idílica, ainda que condicionada pela hipotética existência de criaturas que vivem no bosque. Sob uma espécie de pacto, nenhum habitante da Vila invade a floresta e nenhum dos habitantes da floresta entram nos limites da comunidade. Porém, quando Lucius Hunt (Joaquim Phoenix) é gravemente ferido por Noah (Adrien Brody), Edward Walker (William Hurt) permite que sua filha Ivy (Bryce Dallas Howard) atravesse a floresta em busca de remédios.

A biopolítica de Oliveira Vianna

Francisco José de Oliveira Vianna foi um jurista e cientista político de relevante atuação política na primeira metade do século XX, com importante ênfase no período do Estado Novo, no qual chegou a exercer cargos públicos e a apoiar com sua produção acadêmica. Oliveira Vianna buscou, ao longo de sua obra, expor as bases da formação histórico-cultural do Brasil, a fim de fornecer um diagnóstico da situação política de sua época e uma solução para a melhora do quadro. Essa solução pode ser resumida ao chamado “autoritarismo instrumental”, que consiste na adoção de um governo forte e centralizador para que se chegue a um Estado liberal, somente alcançável a partir do advento de uma sociedade também liberal. O que se observou na obra de Oliveira Vianna foi um forte e permanente traço biopolítico, uma vez que todo seu projeto diz respeito à sujeição dos corpos dos indivíduos à ação do Estado, controlando, em um primeiro momento, sua disposição genética e os respectivos traços fenotípicos e, em um segundo momento, sua colocação como cidadãos por meio da outorga de características a uma “raça brasileira” composta pela força aglutinante dos sindicatos. A separação entre um “Povo” incluído e um “povo” excluído, seguida da tentativa de transformá-los em um unico bloco homogêneo, é uma constante na obra de Oliveira Vianna, de modo que se pôde observar em sua produção as características da biopolítica que descreveram autores como Giorgio Agamben e Michel Foucault.

Biopolítica e Niilismo

Revista Dialectus - Revista de Filosofia

Pretendo mostrar como o tema da biopolítica pode se articular com o tema do niilismo. Para isso, concentrarei a atenção em expor esquematicamente alguns dos principais argumentos de Roberto Esposito que autorizam aquela articulação. Assim, primeiramente, considerarei os elementos constitutivos da comunidade que podem ser interpretados como niilistas. Tendo esse dado como ponto de partida, procurarei mostrar de que modo o paradigma imunitário, longe de resolver a deriva niilista que assombra a comunidade, acaba por acirrá-lo; o que leva a articulação com a questão da biopolítica que, paradoxalmente, sendo uma política da vida se desvirtua numa política de morte e aniquilação do sujeito. Por fim, tomando a questão de uma política da negação, implicada na deriva tanatopolítica, apresento como Esposito crê poder solucionar esse perigo, isto é, por uma assunção da potência afirmativa da negação.

BIOPODER E CUIDADO DE SI NO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT

Revista Margens Interdisciplinar, 2010

RESUMO: Levanta questões relativas à constituição das subjetividades contemporâneas acompanhando, no pensamento de Michel Foucault, a transição de sua pesquisa entre a problematização dos regimes de obediência, por meio da explicitação do conceito de Biopoder, e a abertura sobre uma possibilidade de liberdade ética, por meio da exploração do conceito de cuidado de si no pensamento antigo e no pensamento helenístico. Trata-se de um estudo teórico ancorado em pesquisa bibliográfica que, como resultado, aponta para uma problematização de si diversa da proposta pelas tutelas contemporâneas. Palavras-chave: Bipoder. Disciplinas. Biopolíticas. Cuidado de si e processos de subjetivação. ABSTRACT : It stands up relative questions to the constitution of the contemporary subjectivities accompanying, in the thought of Michel Foucault, the transition of his inquiry between the problematization of the obedience regimes, through the set out of the concept of Biopower, and the opening on a possibility of freedom ethics, through the exploration of the concept of care of the self in the ancient thought and in the hellenisthic thought. It the question is a theoretical study anchored in bibliographical inquiry that, like resulted, points to a different problematization of the self that proposal for the contemporary protections.

A biopolítica em tempos de coronavírus

Letras de Hoje, 2021

Desde o final de 2019, e ainda em 2020, o mundo vem se deparando com uma crise sanitária de grandes proporções. Falamos da pandemia provocada pela Covid-19. Doença que tem mobilizado a comunidade científica em busca da tão sonhada cura. Para nós linguistas, vale observar como os discursos veiculados pelos órgãos governamentais constituem sentido no que concerne à forma como se estabelece o diálogo com a população. Este processo de discursivização empreendido pelo poder público denomina-se biopolítica – um conceito articulado pelo teórico Michel Foucault, que compreende um conjunto de normas utilizadas para controlar a vida dos sujeitos. À luz da Análise do Discurso, com base em Foucault (1997; 2000; 2009), Charaudeau (2016), e Courtine (2006), o artigo analisa como a biopolítica aparece em dois cartazes publicados no site do Ministério da Saúde no Brasil. Nossas investigações comprovam que há, assim, uma busca pela instauração de um efeito de positividade do governo em ganhar a conf...

Biopolítica e Controle Sobre a Vida

Vacinações em massa, tratamentos de saúde, sanitarismo, previdência social – em suma, direito à saúde pública e direitos sociais. Quem, nos dias de hoje, poderia negar que essas são questões de Estado, tarefas primordiais da política? Evidentemente, não se trata de negar os ganhos relativos à nossa existência com relação ao aparecimento dessas políticas, como chamamos, públicas. Todavia, isso nos traz, do ponto de vista ético e, sobremaneira, político, alguns questionamentos, senão alguns problemas. O que está em questão é toda uma vinculação entre o que chamamos de política e sua relação com a vida, com o simples fato da vida biológica. Michel Foucault (1926-1984) foi um filósofo francês que tematizou e problematizou tal vinculação. O cuidado com a vida nem sempre foi uma tarefa política, como nos dias de hoje. Para Foucault, a vida como preocupação fundamental da política é uma invenção recente, data da aurora da modernidade. A essa realidade política, para nós aparentemente familiar, o filósofo francês deu o nome de “biopolítica”.

Dossiê Biopolítica

Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise

O presente dossiê é resultado do “II Encontro Nacional e I Encontro Internacional de Biopolítica: Os desafios da atualidade” realizado pelo grupo de pesquisa “(des)Leitura: Filosofia, Ciência e Arte”, existente desde 2004 na Universidade Estadual de Londrina (UEL – PR). O grupo (des)Leitura já vem atuando, há um bom tempo, em participações de eventos nacionais e internacionais, bem como em publicações. Sobre estas, vale ressaltar, além de artigos especializados, os livros Foucault em múltiplas perspectivas (Londrina: EDUEL, 2013), Michel Foucault: desdobramentos (Belo Horizonte: Autêntica, 2016) e Ensaios de biopolítica: entre caminhos e desvios (Santo André, EdUFABC, no prelo). Além dos integrantes do grupo, de diversas áreas do conhecimento (filosofia, psicologia, direito, música), participam deste dossiê tanto pesquisadores nacionais como internacionais, que trazem novas problematizações e enriquecem os debates em torno da biopolítica.