Como escrever? Ensaio e experiência a partir de Adorno (original) (raw)

Adorno e O ensaio como forma.

Este artigo, publicado na revista Ítaca (Ítaca (UFRJ), v. 14, p. 135-147, 2009), trata do ensaio do filósofo frankfurtiano sobre a forma da escrita filosófica, onde ele problematiza alguns tratamentos clássicos da tradição da história da filosofia e sugere o ensaio, por sua exigência de fundir filosofia e literatura, a forma mais filosófica possível. This paper, published on Itaca (Adorno e O ensaio como forma. Ítaca (UFRJ), v. 14, p. 135-147, 2009), analize Adorno´s essay about philosophy writing, where he treat some types of philosophical writings on traditional phylosophy history and suggests thar essay is the most philosophical writing form, because it needs a fusion between literature and philosophy

Verdade e Enigma: Ensaio sobre o pensamento estético de Adorno

CACHOPO, João Pedro. Verdade e Enigma: Ensaio sobre o pensamento estético de Adorno. Lisboa: Vendaval, 2013

O presente livro debruça-se sobre o pensamento estético de Theodor W. Adorno (1903-1969) e procura esclarecer aquele que é porventura o seu desafio mais decisivo: a captação e a exploração críticas do «teor de verdade» de obras de arte. Que a verdade da arte, segundo Adorno – para quem esta questão se declina no singular, em torno de obras de arte concretas –, seja inseparável do seu potencial crítico, da sua negatividade, é insofismável. Contudo, este potencial – de que não seria possível dar conta abstraindo da imanência dos processos artísticos – revela-se irredutível aos ditames de uma arte explicitamente política. Na esteira da insistência de Adorno na tese de que o potencial crítico e a autonomia da arte não se contradizem, a dialéctica entre verdade e aparência ocupou um lugar central na recepção da estética adorniana. Nos termos dessa dialéctica, a arte seria crítica não só na medida em que certas obras de arte exibem a negatividade do real, mas também por nelas despontar o que no meio da aparência artística escapa a essa mesma negatividade. O «teor de verdade» seria então a «aparência do não-aparente», que mais não seria do que a aparência da reconciliação de contradições históricas e sociais que atravessam tanto o plano do real quanto a esfera das artes. Ora, é para desequilibrar esta dialéctica entre verdade e aparência – e, por conseguinte, para impedir que a pesquisa de Adorno seja confundida com uma estética utópica enquadrada por uma filosofia da reconciliação – que se deslocará a atenção para o conceito de enigma. Segundo a hipótese que norteia este ensaio, o «teor de verdade» de obras de arte jogar-se-ia no facto de estas resistirem à interpretação em virtude do seu «carácter enigmático». Em vários casos – nomeadamente nos estudos dedicados a Beethoven, Kafka, Hölderlin, Beckett e Mahler – o âmago da estética adorniana residiria no desdobramento dos efeitos críticos de um tal confronto com o «enigmático». Seguindo por vias menos trilhadas na estética de Adorno, dir-se-á que a arte não se limita a denunciar o real – sob a figura do «protesto» – ou a antecipar um outro real por vir – sob a figura da «utopia» – mas, enquanto «enigma», lança a razão numa crise de compreensão que perturba a inteligibilidade do real e, consequentemente, desloca as condições da sua possível transformação. Chega-se assim à hipótese, na qual se joga quer a singularidade quer a actualidade da proposta de Adorno, segundo a qual o seu pensamento estético constitui, a despeito da sua suposta ancoragem nas heranças filosóficas associadas aos conceitos de belo e de sublime, uma «estética do enigmático».

Notas sobre experiência em Thompson, Benjamin e Adorno

Revista Prelúdios, 2013

O objetivo deste texto é discutir a noção de experiência em três autores da tradição crítica a partir da exposição daquela noção em Thompson, Benjamin e Adorno. Parte-se da hipótese segundo a qual a experiência serve como ponto de crítica das relações de classe, da narrativa e sociedade administrada. Para isso recuperamos o caráter histórico, corporal, narrativo e político da experiência. Nos três autores que tomamos para discutir, tal noção é possível, mesmo considerando suas particularidades teóricas. As similitudes residem precisamente na forma como a experiência fundamenta e permite realizar o diagnóstico da sociedade existente, sublinhando os elementos alienadores e as possibilidades de sua superação, e, ademais, na construção de um pensamento crítico ou uma reflexão que vislumbre na práxis social cotidiana as possibilidades de emancipação

3 - Adorno - estudos sobre experiência e pensamento.pdf

O presente trabalho desenvolve as teses adornianas relativas à relação entre experiência e pensamento em três escritos da fase das décadas de 30 e 40 do pensamento do filósofo frankfurtiano Theodor W. Adorno, a saber: Ideia de História Natural, Dialética do Esclarecimento – esta em companhia de Max Horkheimer – e Minima Moralia. Trata-se de investigar nestas teses a relação que se encontra na base dos processos de formação e, em última instância, de administração da sociedade. Parte-se da hipótese de que o processo que leva o homem da experiência do mito à cultura e técnica atuais, arrasta consigo outro processo, a saber, que o progresso que aí é vislumbrado é também regressão: o empobrecimento da experiência e do pensamento. Para apresentar tal hipótese, o trabalho se divide em três etapas distintas. Em primeiro lugar, trata-se de desdobrar as faces natural e histórica do processo, uma estrutura que descortina os determinantes da experiência e do pensamento distintos que tendem, por sua vez, a justificar seja a regressão ou o empobrecimento culturais, seja o progresso humano através do aperfeiçoamento das técnicas à disposição. Em seguida, passando por leituras provenientes da antropologia (Marcel Mauss) e da sociologia (Émile Durkheim), procura-se evidenciar, através de uma leitura histórico-filosófica, o processo de depauperamento do sujeito em vista da autoconservação, extraindo dele suas potencialidades subjetivas que nele interditam o caminho a um conhecimento mais objetivo. O processo dialético entre a restrição do indivíduo em suas potencialidades e o empobrecimento histórico da experiência e do pensamento conduz ao enclausuramento do sujeito dentro do mundo administrado, incapaz que se torna de pensar um mundo diferente deste. Ao final, procura-se demonstrar a danificação da vida vivida como resultado de todo o processo em três vias: em primeiro lugar, o grau de alienação atingido nos mais recônditos espaços da vida através dos aforismos de Minima Moralia; segundo, a exploração econômico-cultural através dos mecanismos de entretenimento da indústria cultural; terceiro e último, o cenário político, a práxis alienada de toda teoria, a experiência separada do pensamento e seus resultados funestos para a sociedade na forma dos elementos de antissemitismo.

Experiência e Formação Em Theodor W. Adorno

EDUCAÇÃO E FILOSOFIA, 2015

O trabalho tem como objetivo refletir sobre o conceito de experiência na obra de Theodor W. Adorno e sua relação com o tema da formação. Em seus escritos sobre educação, Adorno associa a realização de experiências com um modo apropriado de pensar a realidade, o qual pode conduzir à emancipação. Essa ideia pressupõe que o pensamento apresente uma relação alternativa com seu objeto, buscando expressar seus aspectos não conceituais. Tal forma de pensar, a qual consiste em uma experiência filosófica, além de possuir um caráter dialético, deve apresentar um comportamento mimético. A experiência estética, por sua vez, aparece como um momento em que o sujeito pode ter acesso ao teor de verdade das obras de arte, permitindo um conhecimento sobre a realidade que exige a crítica filosófica. Nesse sentido, a experiência filosófica e a experiência estética se mostram complementares e fundamentais para a formação da consciência no sentido da emancipação.

A experimentação da escrita em

2014

Juan José Saer, em entrevista realizada em uma visita ao Brasil, conta a motivação para escrita d'O Enteado, romance publicado pela primeira vez em 1983: de uma imagem, uma situação histórica, um fato que se passou realmente quando [Juan Días de] Solís chegou ao rio da Prata. Ele e um pequeno grupo de marujos desembarcaram e imediatamente foram atacados pelos índios, que os comeram crus diante dos que permaneceram no navio e assistiram à cena assombrados. Os que haviam ficado no navio voltaram à Europa, onde os devoraram de uma outra maneira... No entanto os índios pouparam um grumete, que acabou por viver entre eles por dez anos, o que é algo misterioso. O fato de terem comido Solís e os outros marujos não é tão surpreendente, uma vez que naquela época a antropofagia era corrente na América. Já o grumete que os índios deixaram viver é um personagem enigmático, do qual se sabe muito pouco. Sabe-se apenas que se chamava Francisco del Puerto, porque era órfão. Era já um tema quase...

Leitura literária, experiência e formação do indivíduo: reflexões a partir da crítica de Adorno

Resumo: O objetivo deste artigo é discutir as relações entre a leitura de livros de literatura e a formação cultural do indivíduo [Bildung], partindo das contribuições críticas de Theodor Adorno. Esta discussão é norteada pelas seguintes perguntas: Como a leitura de livros participa da formação do indivíduo (ou da semiformação)? Qual o papel da experiência estética para a análise da obra literária? Como a semiformação pode comprometer esta experiência? Para conduzir essa reflexão, recupero alguns conceitos e categorias estéticas utilizados por Adorno, como aqueles de experiência, esquema e análise imanente, bem como pesquisas sociológicas do autor capazes de contribuir para uma caracterização da experiência de leitura. Sob essa perspectiva, proponho uma reflexão acerca dos problemas que envolvem a leitura de livros e a formação cultural do indivíduo no contexto atual. Palavras-chave: leitura, experiência, formação do indivíduo, literatura, Theodor Adorno.