O museu de cada um: montagens e fantasmas (original) (raw)
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A Casa-Museu Fernando de Castro: das coleções e das fantasmagorias
Midas, 2020
Um museu é um instrumento óptico (Vale 2014, s/p) O homem e o coleccionador Fernando de Castro, poeta e artista de singular temperamento, com ter nascido rico, porque era filho de homem rico, teve de cumprir a fatalidade do seu destino. E assim, pela vida fora, num sonho de poeta e de artista, com o dinheiro que lhe sobrava, em vez de tentar operações aventurosas na Bolsa, foi carreando e amontoando materiais para a realização de sua obra máxima, em que inverteu não só o montante das economias, como o melhor de 35 anos de vida. 1 1 Fernando de Castro (1889-1946) tem uma biografia singular que, até hoje, mantém zonas de obscuridade. Filho de um próspero comerciante portuense (com escritório na Rua das Flores) trabalhou com o seu pai desde o começo da juventude e, depois da morte daquele, em 1918, continuou a assegurar a firma comercial de onde retirava os meios para manter a célula familiar, restrita à mãe e à irmã. 2
Museu: um lugar de todos (p.24)
A FONTE: coletânea comemorativa : um ano de publicações sobre nossos valores e sobre a memória do saneamento, 2022
Esta publicação traz artigos assinados divulgados nas edições do Boletim A FONTE entre os anos de 2021 e 2022, subdivididos em duas grandes áreas: Educação Ambiental e Educação Museal. É a forma que encontramos para levar até você as nossas ideias, ampliando o alcance das nossas conquistas, buscando estreitar laços entre quem faz e quem se interessa por saneamento. Para facilitar a busca pelos textos, estão citadas, junto ao título de cada artigo, as referências sobre a edição onde o material foi pulicado originalmente. Esta Coletânea Comemorativa é também um modo de agradecer, imensamente, aos leitores e aos autores de A FONTE e de convidar, novamente, a todos para celebrarmos, juntos, o nosso passado e, com muita coragem, abrirmos nossos olhos e corações para a história que desejamos, verdadeiramente, construir.
Primeiro contemplei no tocador as pequenas joias, as loções e os objetos que usava. Peguei-os e os olhei. Dei-lhe voltas e voltas na mão ao seu diminuto relógio. Depois olhei o armário. Todas aquelas roupas e aqueles acessórios, empilhados uns sobre os outros. Os objetos que completam a todo ser me produziram uma solidão e uma dor terríveis e a sensação e o desejo de ser seu. Ahmet Hamdi Tanpinar I. Não é o museu o que me interessa, o que me interessa são as insignificâncias e sua existência precária. Afinal, quem ou que pode determinar a significância ou a insignificância das coisas? Os objetos descartados, perdidos ou olvidados, perdem o valor de uso, mas ganham, em poder de sugestão, um acréscimo que os coloca em algum lugar entre a relíquia e o testemunho; que os afasta da insignificância e os impregna de sentidos íntimos e pessoais, mas que, paradoxalmente, são uma e outra vez compartilhados. Na Casa Museu de Bolívar, na cidade de Bucaramanga, nordeste da Colômbia 1 , há, numa vitrine, um peinetón: um grande pente convexo de tartaruga que, na época colonial, as mulheres usavam como enfeite de cabelo, sob a mantilha de rendas. A legenda sob a vitrine diz: Peinetón usado por una mujer que danzó con el libertador Simon Bolívar. E imaginamoscriamos imagensdo garboso oficial, da bela mulher (tem que ter sido bela), dos salões iluminados com velas. O pente é quase uma antiguidade, mas o que importa não é seu desenho, nem o material do qual está feito, nem a ocasião em que foi usado, nem sequer a identidade dessa mulher que 1 Devo essa informação ao Dr. Adolfo Cifuentes.
A montagem da pulsão e o quadro do fantasma
2015
Através de dois textos de Freud, “Pulsão e destinos da pulsão” (1915) e “Uma criança é batida” (1919), proponho pensar uma articulação entre dois conceitos fundamentais da psicanálise: pulsão e fantasma. O ponto de partida é que a pulsão age como uma força constante e desenfreada exercida pelo corpo em busca de satisfação, enquanto que o fantasma funciona como uma tela protetora que enquadra e delimita essa exigência, tornando possível a relação do sujeito com o Outro. Como ponto em comum, a perda do primeiro objeto que produziu satisfação: o objeto a. A pulsão surge como efeito dessa falta – através dos orifícios do corpo – e o fantasma vem servir como uma amarração – pela via de representações – de um real inapreensível.
Ghost tour : os fantasmas como elo entre museus e público
2021
O presente Trabalho de Conclusão de Curso parte da premissa de que os museus, por muitas vezes estarem localizados em prédios históricos e possuírem acervos de outrora, se tornam palco de diversos mitos e histórias de fantasmas. Indica que as Ghost Tours, circuitos noturnos guiados e focados no sobrenatural, já consolidadas no turismo do exterior, podem ter um papel significativo para a relação dos museus com parte de seu público. Relata que, segundo as crenças, as almas penadas precisam de muita energia para se materializar e por isso, segundo Lamas e Giménez-Cassina (2012), o museu pode ser um cenário propício para tais manifestações, devido ao fluxo diário de pessoas, que acredita-se emanar muita energia, além do apego dos espíritos pelo acervo e pelo prédio. Traz uma diversidade de relatos de avistamentos de fantasmas em museus no Brasil, mostrando que há um grande potencial para realização das Ghost Tours nas instituições do país. Aborda que mesmo assim, a maioria dos museus br...
O museu na pasta de Sergio Larrain: uma coleção imaginária
Resumo: Partindo da premissa de que fotografias são artefatos visuais, apresentamos encaminhamentos da pesquisa sobre a constituição de uma coleção imaginária a partir da obra do fotógrafo chileno Sergio Larrain. Tomando como pressupostos os conceitos de alegoria, coleção, flânerie e imagens dialéticas propostos por Benjamin nas Passagens e no bojo das formulações de visível (objetos expostos ao olhar terreno) e invisível (objetos expostos ao olhar divino), articulados por Pomian, temos a possibilidade de enxergar no espaço do imaginário a realização de uma coleção sistematizada, ainda que não pertença à ordem do visível ou instituído, apontando para a constituição de um patrimônio latino-americano que abarque as diversas camadas de significados sobre o olhar de indivíduos de diferentes grupos da sociedade. A pesquisa pretende refletir sobre as trajetórias e biografias tanto do autor quanto das imagens para verificar algumas formas de subjetividade que são construídas e/ou que se reconstroem por meio do uso da linguagem visual. Abstract: Based on the premise that photographs are visual artifacts, we present the research guidelines on the constitution of an imaginary collection based on the work of the Chilean photographer Sergio Larrain. Taking as presuppositions the concepts of allegory, collection, flannel and dialectical images proposed by Benjamin in the Passages and in the bulge of the formulations of visible (objects exposed to the earthy gaze) and invisible (objects exposed to the divine gaze) articulated by Pomian, we have the possibility to see in the imaginary space the realization of a systematized collection, even if it does not belong to the order of the visible or instituted, pointing to the construction of a Latin American patrimonial constitution that embraces the layers of meanings about the gaze of individuals from different groups of the society. The research aims to reflect about the trajectories and biographies of both the author and the images and to verify some forms of subjectivities that are constructed and/or reconstructed using visual language.
Anos atrás, em viagem à Espanha, percorri o Museu do Prado inteiro arrastando meu caçula para ver El sueño de la razon produce monstruos (1797-1799) de Francisco de Goya. Não podíamos perder aquela oportunidade: monstros haviam me acompanhado ao longo da escrita de tese -Leviatãs, Golens, Cyborgs, Calibãs, etc -mas não eram monstros produzidos pelo sono da razão e sim pelo acordar ou abertura da razão a uma multiplicidade de formas de vida. Esses monstros da ambivalência, do excesso, da desmedida e da resistência eu os havia encontrado na leitura de Antonio Negri e dela estava impregnada quando me deparei com um cartaz-faixa que, pendurado no alto de uma imensa ocupação em pleno centro da cidade de São Paulo, gritava "Zumbi somos nós!"[i]. Impactada pela sublime visão da Prestes Maia, decidi pesquisar sua potente produção social, cultural e artística, e a ela dedicar um texto: Outros monstros possíveis [ii]. Anos mais tarde, voltei a me deparar com o monstro, desta vez na cidade do Rio de Janeiro em plena "ressignificação" criativa e "revitalização" urbana. Nesse processo, a museificação (ou simplesmente institucionalização) da cultura e da arte carioca organiza em termos econômicos a primeira e legitima em termos políticos a segunda. É no seio desse projeto que remove favelas, gentrifica bairros populares e elimina qualquer possibilidade de alteridade e heterogeneidade na cidade,
MASC: um museu em busca de identidade
Patrimonio E Memoria, 2007
Resumo: Este artigo apresenta aspectos relevantes acerca do Museu de Arte de Santa Catarina-MASC, visando proporcionar uma reflexão não só para os profissionais da área, como para os demais sujeitos envolvidos na existência e nos propósitos dessa Instituição, que são-ou deveriam ser-todos os cidadãos catarinenses, já que ele é um patrimônio público estadual. Criado em 1948, com a denominação de Museu de Arte Moderna de Florianópolis, em pouco mais de meio século trocou de nome, mudou de sede cinco vezes, tendo navegado desde então de acordo com os ventos ou a calmaria, decorrentes das políticas públicas cambiantes, às vezes não naufragando apenas graças aos esforços de idealistas por ele interessados, a exemplo do movimento que culminou com sua origem. Hoje, em 2010, enquanto suas instalações físicas são reformadas, sua administração trabalha para seu reordenamento organizacional, na qual poderia ser incluída a definição de uma identidade bem delineada.