As querelas entre marchantes e políticos em torno da carne verde (Matadouro Público de Santa Cruz, Rio de Janeiro, 1872-1889). In: Amantino, Márcia e Engeman, Carlos (orgs). Santa Cruz: de legado dos jesuítas à pérola da Coroa. Rio de Janeiro: EdUERJ/FAPERJ, 2013. (pp. 315-348) (original) (raw)
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Um ditado popular brasileiro diz que deus sempre fecha uma porta abrindo uma janela. Brincando com seu sentido, poderíamos dizer que, no Brasil, o processo de transferência de recursos públicos para o domínio privado soube ‘abrir janelas’, mesmo quando se fechava uma porta. O que nos propomos neste trabalho é conhecer um pouco das estratégias utilizadas por indivíduos comuns, fora do aparelho do Estado, para ‘abrirem janelas’ e/ou não se submeterem às normas previstas de controle, pagamento ou produtividade das terras que apossavam. Nossa hipótese é que o processo de transferência histórica do patrimônio imobiliário público para particulares pode ter sido operado, em alguns casos, por indivíduos fora da sociedade política ou mesmo para além dos interesses e previsões dos governos, aproveitando-se de sua pouca fiscalização.
Dissertação de mestrado em História defendida na UFF, 2007
O suprimento de carnes verdes assumiu um papel central dentro do comércio de abastecimento na economia colonial brasileira e a cidade do Rio de Janeiro era o principal mercado desta produção na primeira metade do século XIX. Através da metodologia da história do abastecimento, analisou-se a estrutura desse comércio, que interligava a Corte às diversas capitanias/províncias do Centro-Sul da América portuguesa/Brasil de 1808 a 1835. Foi analisada também a política do Estado imperial português e brasileiro e da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para o tema das carnes verdes, tendo-se em conta o poder, inserção, pressão e anseios do grupo mercantil ligado ao comércio. Foi relacionada a dinâmica do mercado das carnes frescas à vida social da cidade, abordando-se temas como a situação dos matadouros e açougues, a questão do asseio e da saúde pública, a exclusão social do consumo e os motins contra a carestia e a escassez. Concluiu-se que os fenômenos sociais encontrados que envolviam o comércio de carnes verdes são plenamente explicáveis através do modelo do escravismo colonial e que, além disso, foi possível constatar que havia uma acumulação de capital neste comércio, o que pode ser compreendido como algo subjacente ao modo de produção escravista colonial.
Dramas e tramas da vida cotidiana: a imprensa paraense e a questão das carnes verdes (1897-1909)
Cordis Revista Eletronica De Historia Social Da Cidade Issn 2176 4174, 2011
Resumo: Neste artigo, procura-se dar visibilidade para os usos políticos da idéia de escassez de carne verde através dos artigos publicados nos jornais Folha do Norte, O Binoculo e O Holophote entre 1897-1909. Nesse sentido, acredita-se que os discursos de escassez, carestia e fome, foram, para a época, construções políticas. Assim, a carne assumia um papel central no comércio, tornando-se um gênero de primeira necessidade na capital, mas também, em constante escassez, com preços elevados e de péssima qualidade. Palavras-chave: Imprensa; Discursos de escassez; Carne verde; Abastecimento.
V. 13, n. 01, 2020
Busca-se com este artigo entender de que maneira os trabalhadores informais pobres, principalmente vendedores de carne verde (fresca), contribuíram no movimento político que resultou na queda do governo Accioly, nas primeiras metades do século XX, na capital cearense. Com a perseguição contra a realização do trabalho informal, o número de revoltosos aumentava na cidade, até que, finalmente, dentro de uma composição coletiva, a multidão veio às ruas e exigiram a mudança de governo. O artigo possui uma abordagem teórica com base em revisão de literatura, especialmente a partir dos estudos de Rodolpho Theophilo e Raimundo Girão.
Revista Territórios e Fronteiras, 2013
Este artigo apresenta um estudo sobre a comercialização de carne verde e aspectos de vida e trabalho de açougueiros em Corumbá entre os anos 1870 e 1888. Utilizamos processos crimes e a documentação camarária, que nos forneceram informações sobre a compra e abate do gado, acondicionamento e venda da carne, bem como as relações entre açougueiros e a municipalidade e outros indivíduos da sociedade local.
Revista de Economia Política e História Econômica, 2019
Este artigo analisa o comércio interno realizado no Brasil na primeira metade do século XIX, enfatizando o abastecimento de carnes verdes para a cidade do Rio de Janeiro. Abordando a bibliografia que se dedica ao estudo do tema, bem como acessando fontes primárias, percebemos que, ao contrário de certos antigos postulados historiográficos, o comércio doméstico dispunha no período de razoável dinamismo e constituiu uma via para a acumulação mercantil. Notamos que os capitais acumulados no comércio de abastecimento da cidade do Rio de Janeiro formaram recursos que depois foram revertidos no processo de industrialização do país, na formação do capital bancário nacional e na montagem de unidades produtoras da economia para exportação de gêneros primários para o mercado internacional.
Neste texto, trataremos das transformações de alguns direitos de propriedade dos escravos da Fazenda de Santa Cruz já no contexto de colapso do paternalismo e do fim do escravismo. Sabemos que os termos da transição para liberdade foram intensamente disputados por senhores e cativos, conforme já bem demonstrou Hebe Mattos. Portanto, resta-nos saber se esta comunidade escrava foi capaz de fazer frente a negociações cruciais para a consolidação ou ampliação de seus direitos. Ao usarmos o termo ‘direitos’ estamos tomando nossa posição no que diz respeito às origens e aos usos de recursos, que por outros podem ser lidos como ‘privilégios’ ou ‘concessões’ senhoriais. Encarando-os como direitos, ressaltaremos o caráter coletivo e regulado destas concessões, possivelmente fruto de negociações com os senhores, sancionadas não apenas no campo dos costumes, mas também nos regulamentos da Fazenda desde o tempo dos jesuítas. Por outro lado, são direitos porque melhoravam as condições de vida das famílias escravas e por isso eram almejados com grande expectativa pelos próprios cativos. Trataremos especificamente de alguns direitos de propriedade, aqueles que nos remetem ao campo da subsistência e da autonomia na gestão do tempo, do trabalho familiar e de seus frutos. Falamos, por exemplo, do direito a ter um fogo e uma casa; do direito de criar animais; do acesso a recursos naturais naquele tempo indispensáveis para a manutenção de uma família: a terra para produção de alimentos, a caça, a lenha e a água. Entendemos estes como direitos de propriedade, na medida em que regulam o acesso a meios de produção, a apropriação dos seus frutos e a possibilidade de legá-los ou transferi-los. É mister reconhecer as influências de E. P. Thompson e Rosa Congost nesta abordagem, já que encaramos como direitos não apenas o que sanciona a lei, mas aquilo que emana da tradição, do costume e do processo social, e também o que é reivindicado por grupos sociais como direito, mesmo que fora da lei ou em suas brechas. Encarados dessa forma, a análise da transformação destes direitos nos obriga a integrar neste texto aspectos que quase sempre são estudados separadamente: grupos sociais, condições de vida, trabalho, produção, o papel da lei e do Estado, hábitos, costumes e tradições.
Nures, 2017
Introduzo neste ensaio algumas possíveis relações entre racismo religioso e o falacioso "racismo reverso", bem como sobre a urgência em se fomentar uma educação inclusiva, laica e democrática que instigue as pessoas a, mais que tolerarem, abrirem seus caminhos ao respeito à diversidade religiosa. A análise foi feita a partir de observações de campo, referências bibliográficas e diálogos com pessoas que sofreram racismo religioso em Florianópolis, Santa Catarina. Essa é a segunda parte de um ensaio que comenta sobre a questão do racismo religioso. Palavras-chave: racismo religioso; racismo reverso; intolerância religiosa. The slave ship of "reverse" religious racism and the school as an insecure port Abstract: I introduce in this panoramic text some possible links between religious racism and "reverse racism", as well as the urgency of promoting an inclusive, secular and democratic education that instills, rather than tolerance, respect to religious diversity. The analysis was based on field observations, other authors and dialogues with people who have suffered religious racism in Florianópolis, Santa Catarina. This is the second part of an essay that briefly comments on the issue of religious racism. A carne mais barata do mercado é a negra? 2 Silêncio. Musa… chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto!… (Castro Alves, 1869, s/p). A segunda frente de ataques às cantoras negras (comentada na primeira parte deste artigo, publicada no último número da NURES) está em comerciantes de Florianópolis. Uma das interlocutoras narrou que estes as denunciavam a policiais que diziam que respeitavam seu trabalho religioso mas pediam que elas "parassem com os batuques de macumbas" pois "perturbavam o silêncio e a ordem pública", e que caso não cessassem teriam de "recolher seus instrumentos religiosos".
2018
O objetivo desta comunicação é mostrar de que forma uma rede diversificada de trabalhadores e trabalhadoras da terra (escravos negros, índios aldeados, foreiros e posseiros), todos moradores no domínio chamado Fazenda de Santa Cruz (na capitania do Rio de Janeiro, estado do Brasil), fizeram frente a uma série de investidas contra seus direitos de propriedade e acesso a recursos naturais protagonizada pelo Reino de Portugal a partir de 1785. Este domínio, tomado dos padres jesuítas em 1759, passou a ser efetivamente administrado pelo Rei, Vice-Rei do Brasil e funcionários locais, a partir de 1761.