Candomblé: partículas da história de resistência de uma religião em Londrina (original) (raw)

Dos navios negreiros para a sala de aula em escolas religiosas: candomblé, uma religião de festa, culto e resistência

Dos navios negreiros para a sala de aula em escolas religiosas: candomblé, uma religião de festa, culto e resistência

Dos navios negreiros para a sala de aula em escolas religiosas: candomblé, uma religião de festa, culto e resistência diego AndrAde de Jesus lelis 1 Resumo: A religião é parte constituinte do arcabouço social, cultural e espiritual de um povo. Cada nação, a partir de suas necessidades e crenças, desenvolve um modo de se comunicar com suas divindades e, como valor, carrega consigo essa identidade religiosa. Assim, não foi diferente com os seres humanos que, escravizados no continente africano, foram trazidos, forçadamente, para terras brasileiras. Contudo, em um país marcado pelo cristianismo, a manutenção de outra cultura religiosa não ocorreu com tanta tranquilidade ao longo da história. Se religiões africanas e de matriz afro-brasileira foram deixadas sempre à margem, pouco a pouco elas vêm, com muito esforço, ganhando espaço no meio acadêmico e escolar. Por isso, tem-se como objetivo para este trabalho apresentar, ainda que de forma panorâmica, os caminhos percorridos pela cultura e religiões, em especial o candomblé, desde os navios negreiros até as escolas, bem como promover a reflexão sobre a sua inserção como meio de formação da pessoa humana. Para alcançar tais objetivos, foi realizada uma revisão bibliográfica em livros e artigos disponíveis em meios eletrônicos e em acervo pessoal referente às temáticas que tratam sobre as religiões de matrizes africana, sua história, concepção teológica, organização ritual e inserção nos programas de ensino da Educação Básica no Brasil. Assim, por meio da análise de vários autores, como Edgar Morin, Miguel Arroyo, Oder J. dos Santos, Milton Santos e Mauro Meirelles, discute-se sobre a necessidade de a escola estar cada vez mais atenta em responder à parcimônia do ser humano diante da realidade daqueles que saem das margens sociais e começam a reivindicar o seu lugar de direito na história. Palavras-chave: Religiões africanas. Ensino. Candomblé. Of slave ships for classroom in religious schools: candomblé a party religion, cult and resistance religion Abstract: Religion is a constituent part of the social, cultural and spiritual framework of a people. Each nation, from its needs and beliefs, develops a way of communicating with its deities and, as a value, carries with it this religious identity. Thus, it was no different with the human beings who, enslaved on the African continent, were forcibly brought to Brazilian lands. However, in a country marked by Christianity, the maintenance of another religious culture has not occurred so smoothly throughout history. If African and Afro-Brazilian religions have always been left on the sidelines, little by little ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA 112 LELIS, D.A.J. Dos navios negreiros para a sala de aula em escolas religiosas: candomblé uma religião de festa... Rev. Educ., Brasília, ano 42, n. 159, p. 111-121, jun./set. 2019 they come, with much effort, gaining ground in the academic and school environment. For this reason, our objective is to present, albeit in a panoramic way, the paths taken by culture and religions, especially Candomblé, from the slave ships to the schools, as well as to promote the reflection on their insertion as a means. of formation of the human person. To achieve these goals, a literature review was conducted on books and articles available in electronic media and in personal collections related to the themes that deal with the religions of African mothers, their history, theological conception, ritual organization and insertion in the teaching programs of Basic Education in Brazil. Thus, through the analysis of several authors, among them

Candomblés vistos a partir de suas contribuições político-epistêmicas

Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social

A identidade religiosa — assim como os saberes guardados, produzidos e atualizados no interior do Candomblé — tem sido convocada nos discursos e ações de ativistas e pesquisadoras. Há toda uma fundamentação ética e cosmogônica que orienta suas ações, agenciando toda uma rede de significados e reposicionamentos subjetivos e epistemológicos que informam a política e a produção de conhecimento de adeptas e iniciadas na religião dos Orixás. Utilizando revisão bibliográfica, consideramos, ao menos, cinco apontamentos que podem nos ajudar a compreender esse cenário: (ⅰ) Candomblés como exercício de decolonialidade; (ⅱ) Candomblés como exercício de outro modelo organizativo de família; (ⅲ) Candomblés como exercício de afetividades; (ⅳ) Candomblés como exercício de autoavaliação e autodefinição; e (ⅴ) fundamentos epistemológicos religiosos afro-brasileiros. Concluímos que os Candomblés, como espaços não formais de educação, bem como políticos, têm pressupostos que os constituem como vetores...

Religião e política no Candomblé em São Paulo: debates sobre uma problemática histórica e um discurso político

Resumo: O objetivo deste artigo é introduzir a discussão sobre a problemática da relação religião/política enfrentada pelos terreiros de Candomblé na cidade de São Paulo. A partir da análise do discurso de encerramento de um xirê, proferido pelo Babalorixá Sidney de Xangô em Osasco, querse apontar: (a) o enfrentamento histórico entre a hierarquia dos terreiros e a ação policial e políticorepressiva dos governos em diferentes instâncias e; (b) o desdobramento deste embate nas ações alternativas (afirmativas) desenvolvidas pelos líderes nas comunidades-terreiro atualmente. Com isso, espera-se auxiliar no desenvolvimento de fontes para o estudo das transformações históricas sofridas pela religião em São Paulo.

O Poder dos Candomblés

Em agradecimentos públicos incide sempre o risco dos lapsos ou a impossibilidade de falar de todas as pessoas, ainda mais quando não é pequeno o número daqueles que contribuíram para a realização do trabalho. Assim, inicio agradecendo ao professor Luis Nicolau Parés, que dedicou horas do seu tempo à orientação, leitura e releitura deste trabalho, tornando-se imprescindível para sua realização, sobretudo, pela discussão das mais diversas questões, pela amizade e respeito à liberdade de escolha dos meus próprios caminhos.

Os Candomblés vistos a partir de suas contribuições políticas-epistémicas

A identidade religiosa-assim como os saberes guardados, produzidos e atualizados no interior do Candomblé-tem sido convocada nos discursos e ações de ativistas e pesquisadoras. Há toda uma fundamentação ética e cosmogônica que orienta suas ações, agenciando toda uma rede de significados e reposicionamentos subjetivos e epistemológicos que informam a política e a produção de conhecimento de adeptas e iniciadas na religião dos Orixás. Utilizando revisão bibliográfica, consideramos, ao menos, cinco apontamentos que podem nos ajudar a compreender esse cenário: (ⅰ) Candomblés como exercício de decolonialidade; (ⅱ) Candomblés como exercício de outro modelo organizativo de família; (ⅲ) Candomblés como exercício de afetividades; (ⅳ) Candomblés como exercício de autoavaliação e autodefinição; e (ⅴ) fundamentos epistemológicos religiosos afro-brasileiros. Concluímos que os Candomblés, como espaços não formais de educação, bem como políticos, têm pressupostos que os constituem como vetores que oferecem estímulos decoloniais notáveis na formação das sujeitas, denotando a expressão e vida religiosa enquanto dimensões que podem levar a processos de subjetivação, estimulando a agência e processos de desidentificação e atuação política.

Nas margens da fé: a Umbanda e o Candomblé e seus enfrentamentos contra a violência e a discriminação de práticas sociais afro-brasileiras, em Uberlândia/MG (1980-2000)

As religiões afro-brasileiras, que nasceram no Brasil a partir de africanos escravizados ou que estão ligadas, de alguma forma, às culturas africanas, são recorrentemente violentadas por brasileiros de diversas outras denominações religiosas, principalmente as cristãs, e também pelo poder público que, na maioria das vezes, não toma medidas protetivas que assegurem a liberdade de expressão religiosa. Os últimos 20 anos assistiram ao aumento dessa violência. O ódio religioso tem sido recorrente, explícito e cada vez mais afrontoso. O objetivo deste texto é, a partir de uma perspectiva histórica, compreender a violência religiosa contra a Umbanda e o Candomblé como uma faceta do racismo que demoniza, persegue e, no limite, promove o extermínio da população e da consciência negra. Utilizamos como metodologia a História oral analisando as memórias e os discursos construídos pela oralidade que marcam a religiosidade por meio de entrevistas, orações, pontos cantados, em confronto com discursos e episódios onde o ódio e o conflito se evidenciam (matérias de jornais, assassinatos atribuídos a pais de santos), entendemos que Uberlândia, embora permeada do ideal da cidade Maravilha, é um lugar onde o conflito racial se evidencia de forma velada e que esconde entre suas dobras, não só um grande contingente de população negra organizada, mas também o racismo e os conflitos inerente a sua existência.

O passado composto no Candomblé da Bahia – o “ antigamente” como lugar de memória e aporte político

A temática do passado nos estudos afro-brasileiros tem estado acantonada às discussões de longue durée de pureza nagô, idioma diacrítico quer dos terreiros quer de parte da pesquisa especializada, veiculada tanta à herança científica da escola clássica de Nina Rodrigues e mais tarde de Roger Bastide, quanto ao que Castillo (2010) designa por “orgulho étnico dos nagôs”. Neste texto proponho observar o passado enquanto referencial normativo candomblecista, não mais intrincado a uma dialética pureza/degeneração expressa no binómio nagô/banto, mas antes em passado/presente, num vaivém temporal em que passado opera como ferramenta política de autenticidade. Nesse sentido, o Candomblé “de antigamente” é tanto um lieu de mémoire (Nora 1989) no sentido nostálgico, quanto um recurso político que depura o campo religioso afro-brasileiro do Candomblé.