HERMANO: ESTUDO SOBRE IDENTIDADE E TRAUMA NO ROMANCE MÃOS DE CAVALO, DE DANIEL GALERA (original) (raw)
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EXPERIÊNCIAS URBANAS E MEMÓRIAS EM MÃOS DE CAVALO, DE DANIEL GALERA
Revista de Letras Juçara, 2018
RESUMO: O espaço literário não é meramente um elemento que completa a narrativa, mas algo dotado de complexidades que completa a identidade dos personagens, bem como o significado do enredo. A memória, por sua vez, se encarrega de guardar as emoções, sentimentos, particularidades dos personagens. Diante disso, o presente trabalho objetiva analisar a relação entre memória e experiência urbana na obra Mãos de Cavalo, do escritor Daniel Galera, a partir dos lugares de referência. Temos como referências básicas os seguintes pressupostos teóricos: no que concerne à memória, adotamos o pensamento de Maurice Halbwachs (1990) e Ecléa Bosi (2003); quanto ao espaço, amparamo-nos na visão de Osmar Lins (1976) e Santos; Oliveira (2001). Assim, o entrelace entre a memória dos personagens da trama com os espaços de vivências suscita a valorização dos lugares da cidade que guardam histórias individuais e coletivas. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Espaço; Literatura; Daniel Galera. INTRODUÇÃO O espaço literário, ao longo da historiografia literária, era comumente definido como um mero pano de fundo das cenas, servindo apenas de complemento aos demais elementos de uma determinada narrativa, bem como a um aspecto estritamente geográfico. Essa realidade foi mudando gradativamente, graças à intensificação de estudos nessa linha, a partir dos anos 1960 do século XX. Atualmente são muitas as pesquisas relacionadas ao espaço na narrativa literária, especialmente numa ótica de entrelace com a memória do lugar. Diante dessa realidade, entendemos que o espaço literário não está presente nas tramas ao acaso, ele é dotado de peculiaridades possíveis de envolver os personagens, no tocante a sentimentos, percepções e sensações. Ruas, casas, praças não são simplesmente elementos geográficos, mas sim fatos urbanos que completam os sujeitos sociais, e dizem muito sobre eles. Diante disso, a proposta deste trabalho é analisar os lugares de memória citadina, a partir dos espaços de vivências individuais e coletivos dos
Este artigo analisa Gupeva: romance brasiliense, de Maria Firmina dos Reis, por meio da investigação das relações entre o referido romance e Caramuru: poema épico do descobrimento da Bahia, de José de Santa Rita Durão, à luz da estética do Romantismo brasileiro, contexto de produção da obra de Reis, e das opiniões de José de Alencar expressas durante a polêmica em torno d'A Confederação dos Tamoios (junho a agosto de 1856). Dessa forma, este artigo demonstra, no contexto oitocentista, a relevância da retomada consciente de um clássico épico brasileiro.
IDENTIDADE CULTURAL E IDENTIDADE DE GÊNERO EM UMA NARRATIVA MÍTICA: QUANDO SER GAÚCHO É SER HOMEM
Os mitos fundadores são por defi nição trans-históricos: não apenas estão fora da história, mas são fundamentalmente a-históricos. São anacrônicos e têm a estrutura de uma dupla inscrição. Seu poder redentor encontra-se no futuro, que ainda está por vir (HALL, S. 2008, p. 29). Para uma discussão sobre a noção de identidade cultural a par-tir de um referencial antropológi-co, o primeiro passo é retomarmos a noção de cultura. Há sempre uma tensão presente entre uma linha argumentativa que percebe a cultura como sistema de regras estabelecido pela tradição, mito ou totem, uma instituição, amálgama que estabelece o social para além dos atores sociais individualizados e uma outra, que foca nestes ato-res sociais e os concebe com dada autonomia. Este segundo caminho percebe o mundo cultural com ên-fase no próprio indivíduo, em sua agencia, e defi ne a cultura pela ca-pacidade dos indivíduos tecerem vínculos e signifi cados, que iriam além do engessamento do mundo coletivo. Evidencia-se na discus-são teórica sobre cultura a tensão entre estrutura e conjuntura. A li-teratura antropológica tem indicado recorrentemente uma dinâmica que envolve: de um lado, um sistema de crenças, repertório coletivo de princípios e valores, representados por normatividades que conformam modos de pensar e de agir do mundo social. De ou-tro lado, temos atores sociais concretos e suas práticas cotidianas, espaço de atualização e de transformação das prescrições culturais, da in-ventividade das muitas estratégias. Espaço este, também subordinado a imperativos culturais, mas é o pólo do indivíduo, de suas redes e do mundo cotidiano ao qual se submete, e potencialmente faz es-colhas ou cria, ainda que dentro de um repertório sempre estrutural-mente dado. É aqui, neste pólo, o do ator social capaz de construir e negociar signifi cados, que se situa a noção de identidade cultural. Identidade cultural, como ca-tegoria analítica, opera uma subs-tantivação com o termo identidade e torna cultura um adjetivo. Ao fa-zermos isto e lançarmos mão desta noção, estamos heuristicamente pressupondo uma noção de agen-cia-coletiva ou individual-com potencial de apropriar-se, engen-drar ou até mesmo conceber ou produzir cultura. Ainda assim, o pano de fundo permanece a noção clássica de cultura como sistema de signifi cados compartilhados que se institucionalizam na ação; mas, neste caso, recorren-do à noção de identidade cultural temos atores sociais reorganizando suas identidades; e temos signifi cados e estratégias políticas que são negociados e devem (ou deveriam) ser o foco de nossas análises empíricas. D O S S I Ê ONDINA FACHEL LEAL* RESUMO Este trabalho inicialmente discute as no-ções de cultura e identidade cultural, para focar na análise de uma narrativa mitológica da cultura pastoril tradicional da região do pampa. Através da análise desta narrativa, aponta-se para a função estruturante da cultura na construção da identidade gaúcha, que neste caso, so-brepõe-se também a uma identidade de gênero. ABSTRACT This paper, fi rst, discusses the notionof culture andcultural identity, in order to focuson the analysis ofamythological nar-rativeof thetraditionalpastoral cultureof the pampa region, in south Brazil.Through the analysisof this narrative, points tothes-tructural roleof culture in buildingGaucho identity that, in this case, overlaps with-gender identity.
2021
Ensaio sobre o conto 'Der Sandmann', de E. T. A Hoffmann. ntre os períodos marcadores da história da literatura alemã, destacou-se o período romântico. O Romantismo (1795-1848) caracterizou-se como um período de resistência à antiguidade e aos modelos clássicos, evidenciando-se um maior interesse para temas relativos à própria história e à cultura germânica. Dizeres e mitos, como aqueles escritos pelos Irmãos Grimm, passam a ganhar destaque. Conforme sugeriu Novalis, essa corrente daria nascimento a uma estética de produção que dissolveria a cultura de reprodução dos clássicos. Há, por um lado, uma forte influência do movimento pré-romântico, denominado Sturm und Drang, mas, por outro, há uma redescoberta do gótico, do medieval, do pitoresco e, em
CULTURA POP EM ROMANCES DE DANIEL GALERA E DE MARCELO MIRISOLA
Resumo: despretensiosamente, comparamos os romances Meia-Noite e Vinte, de Daniel Galera, e Hosana na Sarjeta, de Marcelo Mirisola, a partir das referências que ambos contêm à cultura pop, à indústria cultural e à cultura erudita. Concluímos que a narrativa de Galera é mais homogênea, restringindo-se quase que exclusivamente à cultura pop digamos mais cult (e mencionando vários termos conhecidos apenas por quem participou da Internet nos seus inícios, na década de 1990). Já Mirisola esforça-se por misturar, muitas vezes na mesma frase, expressões das chamadas alta e baixa cultura, criando assim um estilo peculiar. São anotações apenas para uso em sala de aula. Palavras-chave: Daniel Galera; Marcelo Mirisola; cultura pop. 1) REFERÊNCIAS À CULTURA POP EM "MEIA-NOITE E VINTE", DE DANIEL GALERA Começamos a leitura de 'Meia-Noite e Vinte' a partir dos níveis do conceito de 'arqueologia' (cf. FREUD. "A 'Gradiva' de Jensen") que podem ser encontrados no romance; da questão da profissionalização do escritor na contemporaneidade, e sua relação com o Mercado e a Academia (MORICONI, 2006; AZEVEDO, 2015); e chamando a atenção para a (trans)formação por que passam os três personagens-narradores do livro (cf. LEHNEN, 2013), a qual, segundo nossa hipótese de trabalho, não teria ocorrido com Duque. Aqui, por enquanto apenas a título de curiosidade ilustrativa, registramos algumas das menções dos personagens à cultura pop, a fim de futuramente distinguirmos as diferenças que separam a sobriedade calculada desse tipo de informação no livro de Galera, da abundância desmedida das citações de Averbuck, por exemplo, que, além disso, menciona invariavelmente letras de músicas em inglês e nomes de bandas de rock norte-americanas que fazem sentido apenas para determinadas tribos que compartilham do mesmo gosto musical alternativo muito específico. (O que não tira, evidentemente, de forma alguma, nem um pouco do encanto e da força do Máquina de Pinball, mesmo para quem, como eu, não possui tais referências.) Ater-nos-emos, então, somente aos três narradores e a Duque (deixando de lado o pai e a mãe de Aurora, por exemplo, com Simply Red e Nei Lisboa, respectivamente, ambos ouvidos pelo rádio, no começo do livro). Não estão incluídas também as inúmeras referências à Internet, tanto de seus primórdios da década de 1990, como as atuais, que serão todas objeto de outra listagem, assim como as citações de nomes do universo literário. *
O ROMANCE HISTÓRICO E A CRIAÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA EM VOLTAR A PALERMO
Anais do Viva a Pernambucanidade Viva XVI | Letras | FAFIRE , 2016
Link para a publicação deste trabalho: http://publicacoes.fafire.br/diretorio/vpv/vpv\_16\_03.pdf Resumo Voltar a Palermo é um romance histórico escrito por Luzilá Gonçalves Ferreira e publicado em 2002, que nos conta a história de Maria, que nos anos 70, ao ficar viúva, decide mudar-se para Argentina, onde conhece e se envolve com Nino, que desaparece ao ser perseguido pela ditadura militar argentina. O presente artigo objetiva discutir os traços das tendências contemporâneas da produção literária presentes na obra, dividindo-se em dois pilares para tal estudo escolhidos: o romance histórico e a identidade do discurso feminino. O romance histórico, que perde sua força no século XX, retorna com grande força nas três últimas décadas deste século, a partir da necessidade cada vez maior da revisão da história oficial, reinterpretando o passado e revendo suas certezas, percebendo agora o olhar dos pequenos e dos anônimos. Além disso, temos em Voltar a Palermo a representação da identidade feminina em seu próprio imaginário. A mulher, aqui, não depende da voz masculina, falando de si própria, afirmando-se e questionando-se. Palavras-chave: Romance histórico, Identidade feminina, Luzilá Gonçalves Ferreira Voltar a Palermo é um romance histórico escrito por Luzilá Gonçalves Ferreira e publicado em 2002. O presente trabalho objetiva discutir os traços das tendências contemporâneas da produção literária presentes na obra, dividindo-se em dois pilares para tal estudo, mais especificamente: o romance histórico e a identidade do discurso feminino. Na obra nos é apresentada a história de Maria, professora universitária brasileira que, nos anos setenta depois de ficar viúva, decide se mudar para a Argentina, onde conhece Nino, um motorista de taxi por quem se apaixona. Nino tinha um casamento problemático com Mercedes, que manifestou sinais de loucura após a morte do primeiro filho e vivia internada em um asilo, não reconhecendo o marido nem familiares. Durante dois anos, o casal – Maria e
Phoînix, 2018
Resumo: Heliogábalo foi um jovem imperador romano de origem siríaca, membro da dinastia dos Severos que governou o Império Romano de 193 a 235 da era comum. Embora em um curto período de governo (218-222), representações extremamente negativas de Heliogábalo foram apresentadas em diversos textos contemporâneos e tardios ao seu governo. Tais representa-ções enfatizam a construção negativa da imagem de Heliogábalo, apontando seu mau governo e suas performances de gênero desviantes das normas, associadas a certas práticas homoeróticas e aos seus descontroles sexuais. Da mesma forma, essas representações apontam os "abusos religiosos" do imperador, parte de seus costumes "bárbaros". Viso, neste artigo, analisar as representações de Heliogábalo na documentação textual escrita por seus contemporâneos Dião Cássio, Herodiano e Filóstrato. Pretendo mostrar uma perspectiva de análise interseccional sobre aspectos de performances de gênero e identidade cultural para a melhor compreensão da imagem negativa de Heliogábalo nos textos. Palavras-chave: Principado Romano; Heliogábalo; identidade cultural; performances de gênero. CULTURAL IDENTITY AND GENDER IN THE ROMAN PRINCIPATE: A PROPOSAL FOR AN INTERSECCIONAL ANALYSIS OF THE REPRESENTATIONS OF THE EMPEROR HELIOGABALUS (3rd CENTURY CE) Abstract: Heliogabalus was a young Roman Emperor from a Syriac origin, member of the Severan dynasty that ruled the Roman Empire from 193 to 235 of the common era. Although in a short period of government (218-222), extremely negative representations of Heliogabalus were presented in several contemporary and subsequent texts to his government. These representations emphasize the negative construction of Heliogabalus’ image, pointing out his bad government and his deviant gender performances, associated with certain homoerotic practices and his supposed uncontroller sexual manners. In the same way, these representations point to the “religious abuses” of the emperor, part of his “barbaric” customs. In this article, I aim to analyze the representations of Heliogabalus in the textual documentation written by his contemporaries Cassius Dio, Herodian and Philostratus. I intend todevelop an intersectional analysis on those aspects of gender performances and cultural identity for a better understanding of the negative image ofHeliogabalus in these texts. Keywords: Roman Principate; Heliogabalus; cultural identity; gender performances.
Phoînix, 2018
Resumo: Heliogábalo foi um jovem imperador romano de origem siríaca, membro da dinastia dos Severos que governou o Império Romano de 193 a 235 da era comum. Embora em um curto período de governo (218-222), representações extremamente negativas de Heliogábalo foram apresentadas em diversos textos contemporâneos e tardios ao seu governo. Tais representa-ções enfatizam a construção negativa da imagem de Heliogábalo, apontando seu mau governo e suas performances de gênero desviantes das normas, associadas a certas práticas homoeróticas e aos seus descontroles sexuais. Da mesma forma, essas representações apontam os "abusos religiosos" do imperador, parte de seus costumes "bárbaros". Viso, neste artigo, analisar as representações de Heliogábalo na documentação textual escrita por seus contemporâneos Dião Cássio, Herodiano e Filóstrato. Pretendo mostrar uma perspectiva de análise interseccional sobre aspectos de performances de gênero e identidade cultural para a melhor compreensão da imagem negativa de Heliogábalo nos textos.
2019
RESUMO: O objetivo deste artigo é mostrar como a narrativa ficcional confere novas nuances sobre a historiografia tradicional paranaense a partir da análise do novo romance histórico Guayrá (2017), de Marco Aurélio Cremasco, o qual apresenta uma versão não retratada nos livros didáticos e compêndios da história oficial do Estado: a versão dos vencidos. Guayrá reelabora o início do século XVII, no espaço em que atualmente identifica-se o Paraná, e apresenta a versão da população indígena, obliterada pelo discurso histórico hegemônico. Nesse período, grande parte desse território pertencia à Espanha, e era ocupado pelas reduções jesuíticas de espanhóis. É esse espaço e tempo que Cremasco, por meio de extensa pesquisa histórica bibliográfica, reelabora e evidencia. Dessa forma, o romance concretiza-se em uma narrativa que descreve os conflitos entre as nações indígenas, bem como aqueles entre indígenas e os colonizadores portugueses e espanhóis, a partir do olhar autóctone, alocado num espaço de luta e resistência, marcado por muita violência e massacres. Estruturalmente, Guayrá configura-se como um novo romance histórico latino-americano, consoante a Fleck (2017), Menton (1993) e Aínsa (1991), o qual é marcado por seu posicionamento crítico frente ao passado, com postura formal experimentalista e desconstrucionista, que converge para a construção de um texto plural, questionador, o qual é capaz de ressignificar o discurso histórico eurocêntrico e colonial imposto como verdadeiro e único. Palavras-chave: História paranaense. Novo romance histórico latino-americano. Reduções jesuíticas. ABSTRACT: This article aims to show how the fictional narrative presents a new view of the traditional historiography of Paraná through an analysis of the new historical novel Guayrá (2017), by Marco Aurélio Cremasco, which shows a version does not portrayed in textbooks and official History compendium of the State: the version of the losers. Guayrá re-elaborates the beginning of the seventeenth century in the geographic space, currently identified as Paraná, and presents a version that chocks with the hegemonic historical discourse: the voice of the indigenous population. During this period, most of this territory belonged to Spain and was occupied by the Jesuit reductions of Spanish groups. It is this space and time that Cremasco re-elaborates and evidences through an extensive historical research. Thus, the novel materializes itself as a narrative that describes conflicts between indigenous nations, as well as the ones between indigenous and Portuguese and Spanish colonizers which are portrayed in the narrative through the autochthonous perspective, located in a space of struggles and resistance, marked by violence and massacres. In its framework, Guayrá is 1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Letras/Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE, linha de pesquisa Linguagem literária e interfaces sociais: estudos comparados; integrante do grupo de pesquisa Ressignificações do passado na América: processos de leitura, escrita e tradução de gêneros híbridos de história e ficção-vias para a descolonização.