Heidegger e a possibilidade do novo (original) (raw)

Heidegger e a técnica como acabamento da metafísica e possibilidade de um novo início

Ekstasis: revista de hermenêutica e fenomenologia, 2020

O presente artigo se propõe mostrar, a partir de uma seleção de textos de Heidegger acerca da técnica, como esta, derradeira manifestação da vontade de vontade e último estágio de desenvolvimento do pensamento metafísico, pode ser, a despeito de seu caráter corruptor do real, o único caminho para a reconexão do homem ao ser na sua relação originária com o ente. Entendida como “novo início” por Heidegger, esta configuração dependeria de uma recuperação do sentido originário de técnica enquanto te/xnh para abrir a humanidade, por meio do pensamento e da arte, a um retorno a si mesma e aos entes como possibilidades e não mais enquanto objetos indiferenciados de domínio e exploração da técnica. A título de fundamentação, a tarefa em questão também se compromete a discutir os princípios histórico-metafísicos da técnica, resguardados na evidenciação da identidade entre niilismo e metafísica e do estabelecimento do cogito como fundamento ôntico-ontológico do real na modernidade.

Heidegger e o Fim do Mundo

Phainomenon, 2007

A comunicação que aqui pretendemos apresentar situa-se, em certa medida, na continuação de um outro estudo que, há meses, apresentámos no II Congresso Internacional da Associação Portuguesa de Filosofia Fenomenológica, 1 e cujas conclusões é imprescindível retomar aqui. Um tal estudo procurou abordar o conceito de vida no pensamento de Martin Heidegger, interrogando-se acerca da razão pela qual, depois de admitir, em Sein und Zeit, que a vida é acessível através do Dasein, encontrando-se, portanto, nele, embora não determinando o seu modo de ser, Heidegger separa de forma crescente a vida e o humano até chegar às formulações de Brief über de n »Humanismus«, ou seja, até chegar à afirmação de que o corpo humano está separado do corpo animal por um abismo e de que o homem, enquanto Da-sein ou "aí" do ser, está mais próximo de um deus que de um ser vivo (Lebewesen). No estudo que propusemos, concluímos que Heidegger recusa de um modo crescente qualquer "contaminação" do Dasein pela vida em função de duas razões principais: por um lado, o contacto intenso com o pensamento de Ernst Jünger, sobretudo a partir da publicação de Der Arbeiter, em 1932; por outro lado, a confrontação com o nacionalsocialismo emergente. A publicação, em 2004, do volume 90 das Gesamtausgabe possibilita documentar até que ponto se estende a relação do pensamento de Heidegger com Jünger, a partir dos anos 30. Para Jünger, a vida é o modo mais completo da mobilização total (totale Mobilmachung), num processo 1 A Vida e o Humano em Heidegger: a ontologia heideggeriana na aurora de uma biopolítica.

Heidegger e a técnica: sobre um limite possível

Revista de Filosofia Aurora, 2013

The article discusses Martin Heidegger's reflection on the technique from reading the text The question of the technique. In this sense the text accompanying the movement to expose Heidegger's analysis of its key elements. So, first the article shows how Heidegger's thought about the technique should be placed under the prism of the more general question of his philosophy: the question of the meaning of Being a second time the text organizes the core concepts that structure the reflection on Heidegger technique: the essence of the technique; unconcealment of Being, epochal modes. These key concepts are articulated with the rest of the conceptual apparatus of the text. Finally, the article analyzes the consequences of certain postulates of Heidegger's perspective limits that such assumptions could lead to both Heidegger's interrogation technique as for reflection on the technique in general. [#]

Uma visão sobre Heidegger

Em Ser e Tempo, Heidegger procurou estabelecer como se processa a relação do homem com o mundo e como um e outro poderiam ser definidos fora da dualidade sujeito/objeto. Com este intuito ele introduziu o conceito de mundo como instância fundamental para romper com o esquema sujeito-objeto. Este rompimento se concretizaria na medida em que não se teria mais um sujeito frente a um objeto ou vice-versa, mas uma copertença de constituição entre o objeto (mundo) e o sujeito (homem). Com a inserção do conceito de mundo Heidegger transformou o esquema sujeito-objeto na articulação do Dasein-entemundo. Dentro dessa articulação, o conceito de mundo abrange tudo que existe na natureza assim como toda e qualquer forma de produção artística ou científica. Entretanto, o conceito de mundo não diz respeito apenas àquilo com que o homem (Dasein) mantém relação, antes significa um momento estrutural e, nesse sentido, constitutivo do homem. A articulação Dasein-ente-mundo acontece, justamente, na interseção dessas instâncias: quando dá-se o mundo simultaneamente dá-se o Dasein e demais entes e reciprocamente. A copertinência de fundamentação ontológica dessas instâncias registra, na filosofia heideggeriana, a quebra do esquema dual por não apresentar privilégio de constituição do mundo em relação ao homem e vice-versa. Da relação de copertinência entre mundo e homem, Heidegger definiu o homem com a expressão 'ser-no-mundo' e os demais entes como 'entes intramundanos'.

Heidegger e a Técnica Moderna como Perigo e como Salvação

A técnica que marca o mundo contemporâneo o marca desde um sentido próprio e orientador de técnica, ou seja, desde um logos a partir do qual a técnica emerge como tecnologia, que vem a constituir o nosso ser-no-mundo, a nossa situação histórica. Ela é assim a nossa herança e o nosso envio. A conquista do nosso futuro e do nosso destino se determina pela compreensão da essência da técnica, do mundo técnico, no qual já estamos desde sempre lançados, enviados. É isto o que propõe Heidegger, como salvação do mundo técnico, e que vamos aqui procurar desenvolver. Sendo a nossa herança, a técnica é a nossa servidão e a nossa liberdade. É servidão enquanto o dado, o objetivado, o concretizado, o já posto, e acima de tudo, enquanto o abuso desses usos. Mas, no entanto, é só a partir disso que se pode ser livre, à medida que se possa conquistar a essência disso de que já se é herdeiro. Desse modo não se é somente herdeiro, mas também conquistador. Por isso aquele que tem uma meta e um herdeiro, conforme dizia Zaratustra no discurso da morte livre, " quer a morte no tempo certo para a meta e o herdeiro " , pois quer que o herdeiro não seja somente herdeiro, mas também criador, honrando assim o mestre, e quer também que aquilo que já foi posto como meta seja superado, ou seja, no tempo certo abandonado, a fim de que a sua morte possa aperfeiçoar a vida. Desse modo, ser livre é poder conquistar aquilo que se herdou a fim de fazê-lo seu, sendo aquele que assim conquista a sua herança não somente um herdeiro, mas sobretudo um criador. Em seu sentido grego, a técnica (téchne) é um modo da episteme, do saber. É um saber não tematizado, não explicitado, e sendo assim é um saber fazer, que orienta para a ocupação ou lida com as coisas, abrindo o acesso adequado às coisas, segundo a natureza (physis) ou o modo de ser das próprias coisas. 2 Isto caracteriza o saber antecipado, matemático, (do grego mantano), que abre o acesso em concordância com a " natureza " (physis) das coisas. Mas o que isto quer dizer, o acesso à coisa a partir da

Heidegger e a questão da técnica

A técnica não é nenhum saber senão a organização de correções do âmbito explicativo. O mundo humano transformou-se em um universo técnico, no qual estamos presos e arredados.

Heidegger e a possibilidade de uma antropologia existencial.

Revista Natureza Humana 6 (2004): 29-52. , 2004

The present investigation intents to discuss Heidegger’s reflections on science by focusing both on his analysis of it in Being and time and on his reflections concerning the possibility of an existentially grounded anthropology, exposed in the Zollikoner Seminare. In spite of the important transformations that affected Heidegger’s thinking concerning science after the Kehre, I shall argue that what unifies his understanding of it throughout his work is the deconstructive subordination of science to the ontological investigaton. By thus proceeding, Heidegger was able to criticize the dangerous objectifying and reifying tendencies implied by traditional scientific approaches of the human being, specially those ontic approaches that do not consider the possibility and necessity of the existential analytic. The corollary of these criticisms is Heidegger’s consideration of the possibility of constituting an existentially grounded science of man, which could be defined in terms of an existential anthropology.

Martin Heidegger e a sua hermenêutica

Este trabalho abordará a questão hermenêutica em Martin Heidegger, onde far-se-á o esboço da sua hermenêutica ontológica, na questão da pré-estrutura da compreensão, na questão do ser e na análise existencial. Heidegger viveu entre os anos 1889 à 1976. É o expositor principal da filosofia da existência. Na sua obra Ser e Tempo objectiva-se em estabelecer uma ontologia capaz de determinar, de maneira apropriada, o sentido do ser, onde faz uma análise existencial sobre aquele ente, o homem, mas nos seus escritos de 1930. Heidegger concede uma reviravolta, onde não trata mais aquele ente, mas o ser e sua autorrevelação. Desta forma, Heidegger pôs-se na preocupação de orientar uma ontologia assente na determinação dos existenciários, isto é, modos do ser do Dasein. O Dasein é o primeiro pré-ontológico, pois tem a possibilidade de desenvolver uma ontologia, ou seja, um perguntar em forma claramente teórica pelo sentido dos entes. O Dasein, é o sentido do ser, isto é, o Ser-aí, onde este é aquele ente que propõe a pergunta sobre o sentido do ser. O Ser-aí, não é uma simples-presença, mas é aquele ente para o qual as coisas estão presentes, e o seu modo de ser, a sua essência e a sua natureza é a existência. A existência é poder-ser e poder-ser é projectar, por isso que a existência é transcendência, ou nas palavras de Heidegger, ultrapassagem.

Heidegger Para a Bioética

Revista Latinoamericana De Bioetica, 2014

Within the present global crisis, we discuss some proposals of the philosopher Martin Heidegger concerning the human being that could sensibly modify the formulation of a good portion of bioethical questions. He introduces a new concept of human, not as a person or rational agent. According to Dasein modernity was built around three main ideas: the subject as a center, science as the sole criterion of truth and progress and the consequent technification of the world. There would have to liberate a place for another kind of creation that doesn't excludes the technical and neither stands out it to the point to make everything else disappear. Heidegger can be extremely useful on the issue of health-illness distinction and medicalization, in an attempt to obtain an existential notion of these concepts surpassing the traditional metaphysical view. Health is no longer a fact, but an existential project.

Sobre a leitura heideggeriana de Nietzsche e a possibilidade de se pensar o sujeito a partir da vontade de poder

Revista DIAPHONÍA, 2017

O artigo tem o objetivo de explorar a interpretação que Heidegger faz da vontade de poder no pensamento de Nietzsche. Tendo em mente o fato de Heidegger desconsiderar o aspecto genealógico do tema em função de uma abordagem metafísica, vislumbra-se a possibilidade de, a partir da interpretação que Heidegger faz dos aforismos 485 e 489 do texto A vontade de poder, postular uma noção de sujeito de sentimento, o qual não seria o ego volo, tal como Heidegger propõe, pois consistiria numa unidade momentânea e não numa substância corpórea. Ainda que Müller-Lauter mencione uma unidade momentânea de vontades de poder dominantes, a hipótese das forças, com a qual Nietzsche pretende superar a metafísica, não permite unidade alguma que não seja uma ficção. O artigo termina com impossibilidade de pensar um sujeito que não seja ficção, pois até o sujeito de sentimento enquanto sentimento da realidade consiste numa ficção.