A iconografia do Inferno na tradição artística medieval (original) (raw)
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Rangel Cerceau Netto, 2020
The iconography of Souls and Purgatory: a re-reading bibliographic and some examples. Resumo: O artigo retrata a tradição historiográfica sobre o desenvolvimento da crença no Purgatório enquanto lugar escatológico, comentando principalmente os trabalhos de Jacques Le Goff, Michel Vovelle e Flávio Armando da Costa Gonçalves. Assim busca-se problematizar a existência de um hiato entre o estabelecimento da crença no Purgatório e o surgimento de sua representação figurativa. Faz -se uma análise iconográfica de três obras de arte,em que são representados três momentos históricos distintos, permitindo assim que sejam vistas as transformações na crença no Purgatório, ao mesmo tempo em que nos permite perceber a continuidade do conceito escatológico. Palavra Chaves: Purgatório; barroco; iconografia Abstract: The article portrays the historiographical tradition about the development of belief in Purgatory as an eschatological place, commenting mainly on the works of Jacques Le Goff, Michel Vovelle and Flávio Armando da Costa Gonçalves. Thus, we seek to problematize the existence of a gap between the establishment of belief in Purgatory and the emergence of its figurative representation. An iconographic analysis of three works of art is made, in which three distinct historical moments are represented, thus allowing the changes in the belief in Purgatory to be seen, while allowing us to perceive the continuity of the eschatological concept. Keywords: Purgatory; baroque; iconography Recebido em: 10/07/2020 – Aceito em 26/07/2020
Evocações do Paraíso na iconografia da Idade Média
Invenire: Revista de bens culturais da Igreja, 2015
delícias (...) onde haverá gozo e alegria, cânticos de louvor e melodias de música" (Is 51, 3); no Novo Testamento, no Evangelho de São Lucas, Cristo refere-o ao bom ladrão, como promessa de salvação, afiançando que "Em verdade te digo: Hoje estarás Comigo no Paraíso" (Lc 23, 43), tema que é retomado, no Apocalipse de São João, ao afirmar que "ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da Árvore da Vida que está no Paraíso de Deus" (Ap 2, 7). A escatologia apocalíptica refere-se ao Paraíso celeste, relacionando-o com a exaltação prometida a Jerusalém no fim dos tempos (Ap 21, 10-27 e 21, 1-5).
O inferno como componente iconográfico do Juízo Final bizantino
No seio do cristianismo, até os dias atuais, habita a promessa de uma retribuição futura aos atosbons ou mauspraticados pelos homens durante a vida terrena. Para o cristão medieval anterior ao século XII, ou seja, para o cristão que viveu na época que antecede a instituição do Purgatório como local de expiação dos pecados, tal recompensa se daria no Além, um espaço-tempo composto por duas localidades distintas: o Paraíso, destino dos justos, e o Inferno, lugar de suplício aos pecadores, o qual agrega a concepção de pecado e o imaginário das torturas sem fim. O temor ao inferno tinha um papel de grande relevância na sociedade medieval. Porém, seria perigoso, como afirma Jérôme Baschet, "tomar o medo do inferno como algo óbvio. Devemos, ao contrário, medir os limites e analisar o seu funcionamento" 2 (BASCHET, 2014: 1). Nesse contexto, o presente artigo discute as fontes e os caminhos da concepção iconográfica do inferno encontrado, particularmente, nas primeiras representações bizantinas do Juízo Final (século X), e sua influência em obras posteriores. A importância do tema do Juízo Final para a cultura cristã é refletida nas numerosas manifestações artísticas produzidas ao longo dos séculos. Segundo a concepção cristã, tratarse-ia do julgamento derradeiro por Cristo, do momento em que os justos, os eleitos, seriam separados dos maus, os condenados. Esta ideia do retorno do Cristo ao fim dos tempos, com o objetivo de julgar a humanidade, remonta às origens do cristianismo. Sua fundamentação se encontra na tradição religiosa judaica, da qual herda a concepção de tempo linear, ou seja, o tempo em movimento retilíneo com uma sucessão contínua de eventos irrepetíveis e irreversíveis. Dessa forma, a história que se inicia na criação do mundo, o Genesis, se dirige implacavelmente ao fim. Como esclarece Georges Duby: Para o cristianismo, a História é orientada. O mundo possui uma idade. Deus, em um determinado momento, o criou (…). Alguns textos, aqueles da Escritura Santa, permitem calcular as datas, aquela da criação, aquela da encarnação, portanto
Considerações Sobre a Ideia de Inferno Medieval
2011
2422 DOI:10.4025/5cih.pphuem.2214 Considerações Sobre a Ideia de Inferno MedievalDaniel Lula Costa1 ... A partir do ano mil, no ocidente medieval, o cristianismo propagou a crença nos ambientes do Além-túmulo. O documento medieval que possibilita um estudo aprofundado sobre este assunto é a Divina Comedia. Dante Alighieri nasceu em 1265, seguiu a carreira política, mas acabou exilado por desentendimentos políticos. É durante este exílio que ele escreveu a Divina Comédia. Esta obra é um conjunto de representações medievais resultantes da união de mitologias com a religião cristã. Abordaremos uma discussão bibliográfica sobre a obra magna de Dante Alighieri, a Divina Comédia. Escrita no início do século XIV, esta obra foi dividida em três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Estes modelos de ambientes do pós-morte são descritos em detalhes por Dante. Nosso objetivo é discutir por meio de diversos autores a influência deste documento literário como fonte historiográfica. Na primeira parte deste artigo discutiremos, também, um possível método de estudo para as obras literárias por meio das teorias de Todorov. Para difundir um conhecimento científico aproximado da verdade é necessário o aumento no diálogo entre o profissional de história e livros literários, documentos jurídicos, artísticos e outros. A compreensão e a pesquisa de uma obra literária são de extrema importância para a expansão do conhecimento de uma mentalidade construída por uma sociedade, por possibilitarem a apreensão de simbologias, signos e estruturas sociais que eram predominantes na época em que foi escrita, resultando na agregação e expansão da narrativa e do conhecimento historiográfico. O foco de nosso estudo está na primeira parte do poema: Divina Comédia: Inferno. Utilizaremos uma discussão teórica por meio do conceito de representação discutido pelo historiador francês, Roger Chartier, nas possíveis representações dos círculos do inferno de Dante. Para isso explicaremos os conceitos defendidos pelo mesmo historiador: o de apropriação e o de representação. O ato de se apropriar consiste em agregar um entendimento de mundo e desta forma explicar a realidade ao seu redor. Um estudo baseado em tal teoria deve centra-se no significado destes conceitos para melhor discutir a formação e explicação de mundo de determinada sociedade. Na segunda parte realizaremos uma discussão bibliográfica sobre o inferno dantesco e, principalmente, descreveremos sua estrutura. Este trabalho se centrará na materialização do inferno na formação que é imaginada por Dante. Toda a estrutura infernal possui explicações e simbologias ligadas à punição, ao pecado e aos demônios. Segundo o poeta, o inferno é constituído de nove círculos, cada um deles diferenciado dos demais por suas sentenças, seus pecados, sua estrutura física, guardiões e demônios. Buscaremos compreender os nove círculos infernais, e salientar a importância de estudo referente a tais aspectos da obra: Divina Comédia.
A iconografia de Guilherme de Norwich e a lenda de crime ritual no Ocidente Medieval
Resumo: As acusações de crime ritual foram escritas e disseminadas a partir do século XII, com a morte do menino de doze anos conhecido como Guilherme de Norwich (1144). Por vezes a tese proposta por Philippe Ariès, a qual afirma que não havia um conceito de infância até o século XVIII, pode ser debatida com o exemplo desta lenda que surgiu em torno do assassinato desse garoto. As imagens atribuídas a Guilherme de Norwich, principais fontes deste trabalho, se restringem à região do extremo leste da Inglaterra, com exceção da xilogravura da Crônica de Nuremberg, e foram produzidas majoritariamente no século XV. Busca-se demonstrar como a história de uma criança supostamente assassinada pelos judeus e intitulada como mártir por um monge beneditino pode demonstrar um reconhecimento do conceito de infância no século XII. A associação da morte de um menino de doze anos no período de Páscoa a um martírio é um indício de concepções extraoficiais, acerca deste grupo específico de santos, existentes na Igreja ao decorrer da Idade Média Central.
Dar corpo à alma: Representações na iconografia medieval
Gaudium Sciendi, 2014
What analogies and symbols are used to graphically represent the immaterial soul? What devices are used to make it visible? According to the Jewish and the biblical texts traditions, the soul is a breath that gives life to the body. The Greeks associated the immateriality with the image of a winged Psyche. The first images of the soul in Christian iconography are based on these concepts. Aquinas confirms the possibility of representing it this way, saying that soul and body form a unitary substance. Thus, throughout the Middle Ages, the soul in the picture of a human body appears in distinct iconographic themes: leaving the body on the Virgin or of the saints; in judgments after death, the first and special one, being of the Archangel Michael weighing souls, or in the final one, from which the scenes of Paradise and Hell are designed.