Imagens de um continente (original) (raw)

Imagens latino-americanas

Fênix - Revista de História e Estudos Culturais, 2021

O presente artigo tece reflexões sobre imagens latino-americanas em diálogos com uma teoria da montagem. O texto está dividido em três partes. Na primeira, analisa-se como a historiografia da arte – desde as últimas décadas do século XX – aponta significativas aberturas para questões mais alargadas da imagem. Na segunda parte, apresenta-se teorias da montagem embasadas nas experiências que dois intelectuais, significativamente utilizados na história da arte, com base em suas viagens à América: Aby Warburg e Sergüei Eisentein. Num terceiro momento, estuda-se a proposta do Museu de Arte Latino-Americano que em suas salas expõe imagens que contemplam fragmentos de uma heterogeneidade. Neste momento do texto, foram também expressas três propostas montagens de imagens, onde as mesmas se encostam pelo problema proposto.

Algumas Imagens no Mundo

Arte Pará 2003 O Modernismo como Inspiração e Diálogo, 2003

Pequeno texto no catálogo do Arte Pará 2003

As Imagens do Mundo e os Mapas

Maquinações (UEL), v. 1, p. 42-45, 2007., 2007

Desde a Pré-história podemos pensar que os grupos humanos buscaram representar o espaço geográfico. Os desenhos nas cavernas representando cenas de caça são uma forma bastante simples do cotidiano destes povos, desenhos estilizados do ambiente em que viviam. A história dos mapas não começou na Grécia Antiga, mas entre os povos de outros continentes -asiáticos, africanos e americanos (chineses, esquimós, astecas) -que já estavam acostumados com esta prática. Nem sempre eles foram feitos em pergaminhos, o que permitiu que chegassem até nós, como a placa babilônica de barro de Ga-Sur, cuja idade estimada recua a 2500 a.C. Porém, a base do sistema cartográfico dos mapas atuais data da Grécia antiga, cujos elementos são: a terra esférica, os trópicos (Câncer e Capricórnio), o Equador e os pólos, assim como a longitude e a

Os territórios expandidos e as imagens

Os territórios, nas visões contemporâneas, se colocam como formas espaciais mais complexas, estabelecendo novos jogos entre a fisicalidade do espaço real e os muitos usos e sentidos que damos a ele, em nossas múltiplas experiências. Os

Um continente entortado (América Latina)

Tempo Social, 2006

Prados de la Escosura, 2005). O nível de desigualdade encontrado no continente desafia a imaginação, bem como qualquer descrição 1. Comparações transregionais são sempre difíceis, mas nenhum outro conjunto de países definido por quaisquer critérios categoriais possíveis partilha tais características distribucionais. A faixa 5% mais alta na escala de renda latino-americana recebe o dobro da porção comparável de suas contrapartes na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), enquanto a faixa mais baixa recebe a metade do que receberia naqueles mesmos países (cf. Portes e Hoffman, 2003). As conseqüências desse sistema distributivo são ainda agravadas pelo fato de que, com algumas exceções significativas, essas sociedades são relativamente pobres 2. Assim, não apenas os pobres, os mais negros e as mulheres recebem fatias menores, mas o bolo social também não é grande, para início de conversa. A UNDP calcula que mais da metade da população em vários países vive com menos de U$ 2 (dois dólares) por dia. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas estima que mais de 200 milhões vivem na pobreza (cf. O'Donnell e Tokman, 1998). O Haiti permanece no pior patamar, com um terço da população com expectativa de vida inferior a 40 anos (cf. Gafar, 1998).

A imagem da nação em Terra Estrangeira

Rumores, 2009

Este artigo procura analisar algumas construções simultaneamente imagéticas e sociológicas presentes no filme «Terra estrangeira», de Walter Salles e Daniela Thomas, principalmente aquelas que se referem a uma discussão sobre identidade nacional, sobre a trajetória histórica e política de Brasil e Portugal e, sobretudo, sobre a situação do Estado e da Nação como (im)possibilidade de identificação e refúgio para o cidadão brasileiro e sua arte.

O continente pobre e católico

A presente tese da área de História Cultural tem como objetivo compreender a estrutura das relações de saber e poder presentes no discurso da teologia da libertação surgida na América Latina nos anos 1960 e consolidada nos anos 1970. Trata-se de uma análise das estratégias discursivas que primeiramente envolveu a construção da identidade da teologia da libertação por uma literatura militante a partir de pares conceituais assimétricos, de representações culturais da América Latina e de sua história que legitimavam a própria teologia da libertação como uma alternativa político-pastoral viável para o catolicismo latino-americano e suas instâncias institucionais. Para tanto, se analisa os axiomas discursivos centrais da teologia da libertação construídos pelos teólogos que constituíam uma elite intelectual-religiosa transcontinental bem como dos modos de difusão destas representações, dentre as quais se destacavam as que visavam recriar e fortalecer a idéia da América Latina como uma grande comunidade homogênea, com uma história específica, com seus heróis continentais, mito de fundação e narrativa histórica própria. Entretanto, por se tratar de um discurso produzido por intelectuais religiosos com um projeto político de poder essencialmente católico, a questão da religiosidade cristã e mais especificamente católica apareceu como fator diferenciador dessa narrativa que redefiniu a América Latina como um continente crente e oprimido, num esforço por preservar a tese de uma catolicidade cultural inerente à América Latina, atribuindo-lhe, desta forma, um sentido religioso.

A paisagem enquanto País

Paisagem enquanto País (…) -Lhe explico a palavra, filha. Paisagem vem de pai… (Mia Couto) "-Isso que trouxe para mim? O pai acenou. Que sim, trouxera da viagem para o aniversário da mais nova. Uma anónima pedra, sem tamanho nem cor especiais. Ser pedra era o único valor daquela prenda. A menina já conhecia as ofertas que lhe cabiam: pena de corvo, casca de arbusto, fragmento de chão. Tudo fragrância do natural, nada comprado nem comparável. (…) A moça levou a prenda e colocou-a sobre a mesa do seu quarto. Sentou-se, sem gesto nem ruído. Assim calada, esperava que a pedra saísse do silêncio. -Nenhuma coisa é um qualquer nada. Assim aprendera a inventar nome para os muitos incógnitos objectos. Ela vestia esses pequenos desvalores com histórias que retirava de sua fantasia. Nesse criar ela mesma se iluminava. (…) -Lhe explico a palavra, filha. Paisagem vem de pai… A filha riu, enquanto ele lhe contava como descobrira aquela pedra, tão aquela e nenhuma mais. Começava, então, a prenda não de aniversário mas de eternidade. (…) Seu pai lhe dava um outro pai, roubando-a dessa orfandade original que nos assalta nas fraquezas. "

Imagens da América-Latina (Capítulo A fala exilada em A hora da Estrela)

O último romance de Clarice Lispector, publicado em 1977, no ano de seu falecimento, é bastante lido e compõe uma obra que provocou uma vasta bibliografia crítica. Não temos, obviamente, a pretensão de dar uma interpretação cabal para A hora da estrela, mas apenas expor um contato recente, 1 bem como dialogar com esse texto de 37 anos, com apenas 87 páginas (na edição da Rocco), e que suscitou tanta proliferação (explosão) em torno dele. Assim, diante da passagem dos anos, e de sua sobrevivência, propomos algumas reflexões que surgiram no momento de recente releitura desse romance muito sério, e ao mesmo tempo cheio de humor. 2 Com isso, queremos dizer que A Hora da estrela é uma espécie de porta aberta a qual parece solicitar uma escrita daquele que lê e também exigir a transposição para outras linguagens. Ele é teatral, notadamente na presença de diálogos entre Macabéa e Olímpico, quando o narrador Rodrigo S. M., sempre tão presente, se oculta e os deixa tomar a palavra (caso compreendamos aqui o teatro em seu traço primitivo, como a arte sem mediação, tal como Aristóteles conceitua), e cinematográfico, quando se sente na leitura a aproximação de uma espécie de câmera oculta, e isto acontece quando temos uma marca em linguagem, quando a palavra "explosão" surge entre parênteses, e este recurso pode marcar um corte de edição ou, ainda, uma forma de close, com aproximação e posterior afastamento de câmera. Nos momentos de "explosão" também se dá uma mudança de ritmo 1 Este contato se deu na mesa redonda do evento "A hora da estrela: uma visão interdisciplinar", promovido pelo projeto Cinemas e Temas, em abril de 2014, quando apresentamos um primeiro esboço das ideias presentes neste artigo. 2 Pouco se fala do humor em Clarice Lispector, neste romance especificamente há várias cenas, mas destacamos a consulta de Macabéa à cartomante, em que o humor surge mesclado há uma crítica feroz ao cristianismo.