TERRITÓRIOS DA INFÂNCIA EM ONDJAKI: UMA ESTÉTICA DA PÓS-COLONIALIDADE ANGOLANA (original) (raw)
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PAISAGENS DA INFÂNCIA EM OS DA MINHA RUA LANDSCAPE OF CHILDHOOD IN ONDJAKI
RESUMO Neste artigo buscamos uma compreensão das relações afetivas entre a infância e o espaço nas narrativas de Os da minha rua (2007), do escritor angolano Ondjaki, um dos nomes mais destacados da literatura em língua portuguesa contemporânea. A partir das significações adquiridas pela casa, pela rua e pela escola, ambientes nos quais transita o pequeno Ndalu, o narrador recria os lugares de sua infância e as implicações do contexto da guerra civil na paisagem da cidade e em sua pai-sagem interior, ordenando-os em uma prosa lírica que mescla o biográfico e o ficcional. Nessas paisagens inscrevem-se também algumas personagens que marcam afetivamente os tempos infantis do autor, como a avó Agnette, os professores cubanos e a menina Charlita, por quem o narrador cultiva um carinho especial. Para essa abordagem, encontramos fundamentação em estudos que tratam da relação entre o espaço e a percepção humana, na área da geografia humanista, como Tuan (1983), da fenomenologia de Bachelard (1988) e dos estudos literários. ABSTRACT In this article we seek an understanding of the emotional relationships between childhood and space in the work Os da minha rua (2007), by the Angolan writer Ondjaki. From the meanings acquired by the house, by the street and by the school environments through which transits the small Ndalu, the narrator recreates the places of his childhood and the implications of civil war context in the landscape of the city and in the his inner landscape. He organizes this landscapes in a lyrical prose that mixes biographical and fictional. In these places also enroll yourself some characters who affectively mark the author's childhood like his grandmother Agnette, the Cuban teachers and the
A REPRESENTAÇÃO DA INFÂNCIA NO CENÁRIO DISTÓPICO PÓS-COLONIAL ANGOLANO DE JOÃO MELO
Sociopoética, 2018
O presente estudo analisa o contexto pós-colonial distópico angolano e a representação da infância nos contos “Tio mi dá só cem” e “O feto”, de João Melo. Os dois contos são narrados em Luanda e representam uma denúncia da sociedade angolana atual arraigada a uma organização neocolonialista por sua estruturação em bases coloniais há poucas décadas extintas, que mantiveram profundos laivos na construção de uma nação que ansiava por sua emancipação. O autor produz uma obra distópica, para que sejam avaliados e ponderados os ideais libertários do período de lutas pela independência nacional e as conquistas reais que a nação obteve após a descolonização. Acredita-se que, paradoxalmente, os temas abordados suscitam sentimentos de esperança, embora o que transpareça seja uma visão pessimista da sociedade retratada. Desta forma, a literatura constitui-se em instrumento de humanização, uma vez que não se atemoriza diante da violência, do abuso de poder, da corrupção, mas contribui para uma reflexão ampla acerca da concepção de mundo contemporâneo.
UMA PROPOSTA ETNOARQUEOLÓGICA SOBRE A CONCEPÇÃO DO TERRITÓRIO: OS MBYA GUARANI E O TEKOA PINDOTY
Resumo: Os grupos indígenas Mbya Guarani possuem um discurso que privilegia seus territórios como sendo lugares compostos de uma série de elementos físicos, econômicos e simbólicos, previamente preparados para que possam viver de acordo com o que prevê sua cultura e tradição. O Tekoa Pindoty, nome indígena dado a Terra Indígena Ilha da Cotinga, formado pelas Ilhas Cotinga e Rasa da Cotinga, no litoral do Estado do Paraná é um dos lugares que possuem estas características. Segundo os Mbya, a escolha deste território se deu pela presença de vestígios de seus ancestrais e pela confirmação de Nhanderu (Deus verdadeiro) que ali poderiam viver conforme seus ensinamentos. Desta forma, este artigo busca demonstrar uma discussão sobre o processo de ocupação recente Mbya Guarani no Tekoa Pindoty, como eles atribuem este território como um local ideal para que possam viver de acordo com os preceitos estabelecidos por Nhanderu, e como se dá a relação entre teko e nhandereko, que juntos dão vida ao tekoa. Outra questão abordada é quanto à relação cosmológicas dos Mbya com o ambiente próximo ao mar, e como as ilhas Cotinga e Rasa da Cotinga estão presentes na memória indígena. Por fim, serão apresentados alguns conceitos referentes ao uso do espaço por grupos guarani pré-históricos e históricos, e sua correspondência de acordo com os Mbya Guarani contemporâneos.
SERÁ O ELEVADO ÍNDICE DE MORTES MATERNO – INFANTIS EM ANGOLA, UMA DAS CONSEQUÊNCIAS DA “NEGLIGÊNCIA” DA NÃO PRÁTICA DO MWALAKAJI OU KIVWADI NA ANGOLA PÓS-INDEPENDENTE? RESUMO O uso das práticas do Mwalakaji ou Kivwadi foi fundamental para a sustentabilidade da saúde materno-infantil antes da independência de Angola, e o facto de se terem negligenciado estas práticas após a independência mostra ser uma das causas do elevado índice de mortes materno-infantis que atualmente assola o país. Ciente da gravidade do problema de saúde que afecta as mulheres, mães, crianças e famílias angolanas, no sentido de melhor esclarecer e confirmar se efectivamente uma das possíveis causas do mal está também ou não realcionada com a “não prática das terapias do Mwalakaji na Angola pós - Independente”, foi importante antes demais para uma melhor compreensão das dinâmicas que envolvem as utentes - praticantes, estudar as referidas terapias de modo abragente de forma a encontrar-se uma melhor solução no combate e consequente erradicação das mortes materno-infantis em Angola. Foi neste sentido e, dado que as práticas do Mwalakaji são uma forma representativa de as Angolanas viverem e verem a doença e a saúde, levou a que o primeiro estudo de investigação sobre o tema incidisse na análise das vertentes social, antropológica, clínica, e na diversidade que engloba o pluralismo terapêutico, num apelo para a abertura a outras formas de ver a doença, de prevenir e tratar a saúde, uma nova forma de fazer a integração da diversidade étnica em Portugal e, citando(Pereira,Luís 1993:173): “Uma forma de promover o diálogo e não a inversa”. acrescentando (Pereira, Luís 1993:173) “Em sociedades como a nossa, que não privilegiam a unidade existente através da polaridade, a doença é encarada sob aquele último ponto de vista, sendo fundamental alterar esta atitude, através do recurso a outras modalidades de sistema de pensamento e de interpretação da doença". Estaremos assim a privilegiar não só a integração das mulheres angolanas, mas sobretudo a defender a sua saúde e a de todas as outras mulheres e famílias que optem por estas terapias, num ambiente técnico-científico, salutar, de partilha e paz. O primeiro trabalho científico sobre o tema, é o marco de posteriores fases de aprofundamento das investigações programadas pela autora, integradas no Projecto de Doutoramento que frequenta, sobre esta Etno ─ Medicina ─ africana-Mwalakaji ou Kivwadi. No estudo anterior investigou-se as práticas terapêuticas do Mwalakaji entre Mulheres em Portugal, em especial entre Mulheres imigrantes integrantes das Igrejas Tokoistas e Kimbanguistas, cujos resultados foram apresentados e defendidos em Dissertação do Mestrado em Desenvolvimento e Saúde Global, lecionado no Instituto Universitário de Lisboa(ISCTE-IUL), e, depositado no seu Repositório, trabalho esse integrado no “XXVIII CADERNO TEMÁTICO MIGRAÇÃO EM ÁFRICA da referida Escola”. PALAVRAS CHAVE Saúde; Mwalakaji ou Kivwadi, Desenvolvimento Sustentável, Medicina Tradicional; Integração Social, Demografia, Pluralismo Terapêutico.
YNARI E O PODER EVOCATIVO DAS PALAVRAS: A GUERRA CIVIL EM ANGOLA NO CONTO DE ONDJAKI
RESUMO: Ambientado num contexto de guerra civil pós-independência angolana, o presente trabalho tem por objetivo a análise do conto Ynari: a menina de cinco tranças, do escritor Ondjaki. Com bastante desenvoltura, somos colocados diante de uma narrativa simples, mas grandiosa em seu conteúdo. Ynari, nossa protagonista, é uma menina que gostava de passear perto de sua aldeia, ouvir os pássaros e sentar-se na margem do rio. Certo dia, em uma dessas andanças, encontrou um pequeno homem saído do capim. O elemento fabular aqui se encontra presente e nos leva a vermos a guerra pelo controle da nação renascida pelos olhos de uma criança. Para teorizar serão abordadas as teorias de Bruno Bettelheim, Robert Darnton e Elias Canetti. Palavras-chave: conto fabular; literatura angolana; guerra civil; 1 A estrutura do conto Vês? Às Vezes uma coisa pode ser tão grande (ONDJAKI). Desde o princípio, o homem sempre procurou explicações para os fenômenos compreensíveis e incompreensíveis. Uma vez entendidos, precisavam ser transmitidos. Nascia assim o conto. Manifestado, primeiramente de forma oral, era ele o responsável por perpetuar o entendimento e o ensinamento entre o povo que estava inserido. Antes de entrar na análise do conto, é necessário levantar alguns aspectos presentes na obra: o primeiro deles é o tom fabular que aproxima a narrativa daquelas escritas entre os séculos XVIII e XIX, por Charles Perrault, os irmãos Grimm, ou mesmo Hans Christian Andersen. Contendo uma narrativa curta, diferente do romance, apresenta certa linearidade e unidade estrutural. Para acontecer, é necessário se construir uma história focada em um conflito básico e apresentar, ao longo de seu desenvolvimento, a resolução do mesmo problema. Não obstante, ele deve ter um tom moralizante e instrutivo. Além de estar enraizado na cultura daqueles que o transmitem. Visões de mundo não podem ser descritas da mesma maneira que acontecimentos políticos, mas não são menos reais [...]. O próprio senso comum é uma elaboração social da realidade [...]. Longe de ser a invenção arbitrária de uma imaginação coletiva, expressa a base comum de uma determinada ordem social1.
ÁFRICA EM ONDJAKI: INFÂNCIA, ESPAÇOS E VOZES AFRICA IN ONDJAKI: CHILDHOOD, SPACES AND VOICES
Via Atlântica, 2020
Aborda a infância a partir da perspectiva do escritor angolano Ndalu de Almeida (Ondjaki) nos contos das obras "Os da minha rua" e "AvóDezanove e o segredo do soviético." Objetiva compreender a perspectiva infantil do autor e estabelecer relações entre a infância, a resistência lúdica e a contemporaneidade de suas obras. Trata-se de pesquisa qualitativa, instrumentalizada por revisão de literatura e entrevista não estruturada com o escritor. Ressalta-se que o estudo sobre a inserção da ludicidade, implícita ou não em suas obras proporcionou não somente a aquisição de conhecimentos sobre um escritor africano, mas antes, a perpetração dos compromissos basilares de um ser humano: ser aprendiz.
POVO DO MANGUE ANTROPIZAÇÃO E VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS NA PENÍNSULA ODIVELENSE
Espaço Ameríndio, 2020
As pesquisas arqueológicas na costa norte paraense foram desenvolvidas desde o século XIX e ampliadas na segunda metade da década de 1960, confirmando a antiguidade nessa região há pelo menos 5.000 anos. Apesar da importância dos sítios e vestígios arqueológicos referentes aos pescadores-coletores e agricultores, os estudos sobre sambaquis e sítios de terra preta arqueológica ainda são pontuais na costa norte paraense. Este artigo apresenta discussões e dados preliminares acerca da retomada das pesquisas arqueológicas nesse espaço amazônico, em metodologia baseada na bibliografia arqueológica, nas pesquisas de campo, nos relatos orais de moradores locais e documentos sobre povoamentos na colonização da região nordeste e costeira do Estado do Pará, atentando-se para a incipiente pesquisa a respeito de sítios com terra preta arqueológica em áreas (intra)manguezais, ecossistema predominante na costa amazônica. Os estudos levaram a análises de fontes documentais e visualização de materialidades, observadas no município de São Caetano de Odivelas (PA), com fortes indícios da presença indígena pré-colombiana nos vestígios até então encontrados na superfície do terreno, além de vestígios históricos. Pode-se configurar nova dinâmica dos movimentos populacionais na costa norte do Brasil, com indícios de contatos entre os povos pré-colombianos do nordeste brasileiro e os povos provenientes das Guianas. Archaeological research on the north coast of Pará, in Brazil, has been conducted since the 19th century and expanded in the second half of the 1960s, confirming antiquity in this region less than 5,000 years ago. Despite the importance of archaeological sites and garments related to fisherman-gatherers and farmers, studies on sambaquis and archaeological black earth maps are punctual on the north coast of Pará. This article presents discussions and preliminary data about the resumption of archaeological research in this Amazonian space, having methodology based on archaeological bibliography, field research, oral reports from local residents and documents about settlements in the colonization of the northeast and coastal region of the State of Pará. , paying attention to the incipient research about sites with archaeological black earth in (intra) mangrove areas, predominant ecosystem on the Amazon coast. The studies led to the analysis of documented sources and discovered material evidence, observed in the city of São Caetano de Odivelas (PA), with strong indications of the pre-Columbian indigenous presence in the traces that were found on the surface of the land, as well as historical traces. New dynamics of population movements on the north coast of Brazil can be configured, with indications of contacts between the pre-Columbian peoples of northeastern Brazil and those from the Guianas.
O CENTRO DE PAI JOAQUIM DE ANGOLA: REFLEXÕES ACERCA DE UM LUGAR RITUAL
Resumo Lugar é um aspecto relevante na construção cultural de identidades e, embora seja uma categoria e um acontecimento fundamentais da experiência vivida das pessoas em distintas sociedades, nem sempre seu estatuto teórico é debatido mais detidamente, permanecendo implícito. Este artigo tem como objetivo explorar algumas relações entre o lugar e o ritual enquanto conceitos antropológicos. Para tal, o texto compõe-se de três partes. Primeiramente, encontrar-se-á uma sucinta reflexão teórica sobre algumas noções do espaço e do lugar. Depois, apresenta-se o espaço e o lugar de um Centro de Umbanda, demonstrando como a arquitetura do templo conjuga um antigo simbolismo. Por fim, há uma descrição de alguns ritos em sua relação aos lugares nos quais acontecem. Argumenta-se que a experiência do ritual é " lugarizada " e que o caráter sagrado do lugar resulta da sacralidade dos próprios ritos. Abstract Place is a relevant aspect of the cultural construction of identities. Although place may be fundamental both as a category and a happening of people's lived experience in different societies, its implicit theoretical statute is often disregarded. This paper aims to explore some relations between place and ritual as anthropological concepts. For this purpose, the text is composed of three parts. First, it draws a brief theoretical reflection regarding some notions of space and place. Secondly, it reports how the space and place in the temple of Umbanda religion conjugate an ancient symbolism. Finally, it describes some rites in relation to the places they happen. It is argued that the experience of the ritual is " placed " and that the sacred character of place results of the sacrality of rites themselves.
O ESTATUTO ONTOLÓGICO DAS INTENÇÕES SENSÍVEIS
Resumo: À primeira vista, a investigação psicológica de Avicenna é pouco precisa quanto ao modo pelo qual a alma se relaciona com as intenções sensíveis. Dadas algumas passagens do Kitāb al-nafs nas quais se discute a relação entre elas e a faculdade estimativa, pode-se chegar a algumas conclusões acerca do estatuto ontológica das intenções. Utilizarei os exemplos fornecidos por Avicena em I.5, II.2 e IV.1 para mostrar em quais sentidos o termo maʻnā é utilizado e se elas existem no mundo ou resultam de uma relação particular.
O espaço fronteiriço angolano como casa:corpo e arquivo decolonial em Os Transparentes de Ondjaki
Itamar Cossi, 2024
Este texto propõe uma reflexão a partir da análise da obra de Os Transparentes de Ondjaki (2013) como espaço fronteiriço de casa/corpo com base na teoria de Gaston Bachelard (1978) e arquivo decolonial, conceito baseado na teoria de Walter Mignolo (2009), cujo um dos objetivos é trazer um novo viés sobre o território angolano pós guerra e se desprender do conhecimento baseado no ocidente. Como opção decolonial, a obra de Ondjaki estabelece novos parâmetros de se pensar, fazer e viver Angola contemporânea, não os impondo como verdade universal, senão como fonte de denúncia e resgate os sujeitos negligenciados, enterrados e descartados pela História e que agora, pela literatura decolonial angolana ressurgem, re-existem e tentam se desvincular do colonialismo que ainda perdura no país.