A atualidade da tensão entre capitalismo e democracia: para além do modelo habermasiano (2017) (original) (raw)
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A tensão entre capitalismo e democracia em Habermas: do pós-guerra aos dias de hoje
O objetivo desse artigo é o de compreender a evolução do diagnóstico do capitalismo tardio ao longo da trajetória intelectual de Habermas. O nosso interesse é o de investigar se há mudanças significa- tivas no modo pelo qual Habermas concebe a relação entre capitalismo tardio e democracia efetiva. Como hipótese geral, defenderemos a ideia de que há ao menos uma grande ruptura no modelo crítico habermasi- ano, entre o fim dos anos 70 e início dos anos 80. Tal ruptura pode ser resumida, grosso modo, pela ideia segundo a qual, pelo menos até Proble- mas de Legitimação no Capitalismo Tardio, obra de 1973, capitalismo e democracia efetiva não eram vistos como compatíveis. Por outro lado, a partir da Teoria da Ação Comunicativa, publicada em 1981, ambos passam a poder conviver, apesar das tensões e mediante um novo equilíbrio de poderes. Finalmente, iremos ver como Habermas concebe esta tensão entre capitalismo e democracia hoje, a partir de seu debate recente com o sociólogo alemão Wolfgang Streeck, notadamente tendo em vista a crise da União Europeia.
O tema da democracia constitui talvez o tema mais importante na obra do filósofo alemão Jürgen Habermas. No entanto, apesar da importância essencial de uma discussão vinculada diretamente aos seus aspectos normativos, pretendemos testar uma perspectiva complementar no estudo desta temática. Ora, é importante ressaltar que Habermas pensou a democracia não apenas a partir de suas possibilidades normativas de realização de ideais como os de autonomia e auto-determinação. Como um autêntico teórico crítico, ele também investigou as possibilidades concretas de institucionalização de formas democráticas de governo. A análise da relação tensa entre capitalismo e democracia é importante para refletir sobre os condicionamentos sistêmicos ou estruturais que o capitalismo impõe ao funcionamento dos regimes democráticos liberais. Ou seja, trata-se aqui de pensar a democracia a partir de suas possibilidades concretas de realização, o que pressupõe levar em conta os obstáculos impostos pelo capitalismo tardio. Desse modo, esta dissertação de mestrado tem como objetivo analisar as duas primeiras décadas da trajetória intelectual do filósofo alemão sob o prisma da relação entre capitalismo e democracia. Investigaremos como o tratamento dessa problemática surge a partir dos diagnósticos do capitalismo tardio produzidos pelo autor ao longo de diversas obras, culminando na sua Teoria da Ação Comunicativa (1981). Ademais, na trilha de Habermas, nos perguntaremos acerca do estado desta relação tensa no contexto do capitalismo contemporâneo, marcado pelo neoliberalismo, pela globalização e por crises.
A hesitação de Jürgen Habermas: capitalismo, democracia, crise
Dissertatio - Revista de Filosofia, 2023
Este artigo objetiva apresentar um panorama sobre o modo como Habermas aborda a relação entre capitalismo, democracia e crise no marco de suas análises sobre o Estado de Bem-Estar Social. Para tanto, divide-se sua obra em 4 momentos: o primeiro de 1962 a 1971; o segundo de 1973 a 1981; o terceiro de 1985 a 1992; e o último de 1992 até os dias de hoje. Sua principal justificativa é a relevância contemporânea dessa discussão, em face das recentes ameaças autoritárias na América Latina e no mundo. A hipótese fundamental é que com esses três elementos conceituais – capitalismo, democracia, crise - Jürgen Habermas coloca a si mesmo em uma encruzilhada paralisante, pois ele enxerga as tensões inevitáveis entre tais elementos, mas hesita diante das opções para sair do amálgama que eles hoje formam. Dois são os motivos principais para essa hesitação: um reducionismo empiricista e um paradoxal déficit de complexidade em sua teoria social.
Entre os modelos hegemônicos e os necessários rompimentos para a retomada da democracia
Revista Pós Ciências Sociais, 2019
SANTOS, Boaventura de Souza. A dificil democracia : reinventar as esquerdas. Sao Paulo: Boitempo, 2016. 224 p. A dificil democracia, de Boaventura de Sousa Santos, joga luz em diversas contradicoes, disputas, normas, direitos e caminhos a partir de experiencias de paises que construiram o entendimento acerca da democracia. Mais do que isso, o autor nos convida a refletir sobre as relacoes dubias de poder, presentes em nossos dias, que deslegitimam a soberania popular, principio central e regente da democracia.
Conhecer, 2022
Este artículo presenta una reflexión-sustentada en las categorías teóricas y metodológicas gramscianas de modernidad desequilibrada y cesarismo, pensadas de manera "post-totalitaria"-acerca de las transformaciones y las profundas contradicciones generadas por el modelo de desarrollo "dualista" Norte-Sur, teniendo como foco privilegiado a las derechas en el gobierno de Nápoles y el "Meridione" de Italia en el momento de la reconstrucción post Segunda Guerra Mundial. Palabras clave modernidad desequilibrada; cesarismo; nápoles; aquiles lauro. "Modernidad desequilibrada" y "cesarismo": categorías gramscianas para pensar las crisis de la democracia Key words unbalanced modernity; caesarism; naples; achille lauro. This article presents a reflection-supported by the Gramscian theoretical and methodological categories of unbalanced modernity and Caesarism, thought of in a 'post-totalitarian' way-on the transformations and deep contradictions brought about by the 'dualist' North-South development model, having as a privileged focus the right-wings in the government of Naples and Italy's 'Meridione' at the time of the post-World War II reconstruction.
As crises do capitalismo democrático
Novos Estudos - CEBRAP, 2012
O autor discute as sucessivas crises econômicas ocorridas nos países capitalistas desde os anos 1970, interpretando-as como produto de tensões e contradições endêmicas entre mercados capitalistas e políticas democráticas.
Autoritarismo, populismo e democracia na atual conjuntura internacional
2021
Texto apresentado oralmente por Thomas Jacques Cortado na sessão final do seminário "Antropologia da democracia e dos populismos", no dia 7 de julho de 2021, ocorrido de forma online. Este texto discute as noções de autoritarismo, populismo e democracia, com base na bibliografia da disciplina "Antropologia da democracia e dos populismos", ministrada pelo professor Thomas Jacques Cortado na Universidade Estadual de Campinas durante o primeiro semestre 2021. Faz um balanço da literatura e aproveita o material trazido por estudantes na ocasião de exercícios distribuídos pelo professor.
Limites políticos do comunitarismo e do contratualismo a partir de uma perspectiva habermasiana
Habermas não elaborou nenhum tratado de teoria política. Porém, o debate sobre a unidade da União Européia, no qual ingressou, bem como alguns aspectos de sua crítica à Religião, permitem, ao meu sentir, traçar algumas críticas que indicam os limites do comunitarismo e do contraturalismo. O comunitarismo, de Taylor e Sandel, apesar de serem distintas ambas as formulações, tem em comum a afirmação do papel da adesão a tradições fundadoras da vida política, como fundamento do cuidado com o bem comum. O comunitarismo é, no limite, uma teoria política que se opõe à tradição liberal contratualista. Comunitarismo e liberalismo representam limites para uma ação política que pretenda estabelecer processos participativos, permanentes, com controle social da administração. Tal seria a proposta de democracia deliberativa, como defendida por Jürgen Habermas. O debate político pós-Rawls permanece orbitando ao redor da justiça. A grande questão que nos atine é como é possível à democracia deliberativa avançar além da defesa de mera unidade formal de diferentes, por meio de um consenso político construído de forma plural e inclusiva. Para Habermas, a construção política se dá por meio de atos comunicativos capazes de serem propostos por cidadãos iguais em direito, que possuem no direito o dique para conter a força avassaladora do dinheiro e do poder. O papel da solidariedade, como mecanismo intersubjetivo, é capaz de destronar as noções individualistasreproduzidas pelo individualismo metodológico, e que estão à base de muitas das teorias contratualistas; bem como, é capaz de redimensionar a trama de identidades que se afirmam por negação de coletividades que têm o direito de serem incluídas, por meio de reconhecimento (que exige reciprocidade). A ética do discurso se fundamenta por meio de uma construção que indica atos performativos comunicativos, que implicam em ações comunicativas entre falantes que aceitam essas regras entre si. Em princípio, trata-se de considerar que todas as pessoas poderiam, se quisessem, dirimir cenários normativos perturbados por meio da aplicação dessas pretensões já inscritas na nossa condição de falantes. Porém, a consideração do universo lingüístico e nossa inserção nele é insuficiente. É necessário agregar a nossa constituição sociopolítica e cultural, como elemento que faculta essa interação normativa, que ergue pretensões de validade e que permite uma ação cooperativa, uma
Artigo Contradiçoes entre capitalismo e democracia
A evasão fiscal e promiscuidade do arco do poder são hoje causas explicitas da crise global. A galopante inflação acompanhada de cortes no estado social, fomentam a pobreza, trabalho precário, desemprego, elitização de ensino, entre outras variantes das consequências do neoliberalismo. Os paises do sul da Europa são consumidos devido a uma gestão danosa dos seus recursos e sectores-chave com sentença de prisão perpétua a uma divida gerada por complexos produtos financeiros, concebidos por "cérebros pagos a preço de ouro". A deturpação de informação atinge niveís tão altos como os casos de corrupção politica, a opinião publica é bombardeada com mentiras e falácias que atenuam o niilismo em sociedade.