Entre a caridade e a desconfiança: a atuação das Santas Casas do Minho para com os viajantes, nos séculos XVII e XVIII desconfiança.pdf (original) (raw)
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A investigação que levámos a cabo e cujos resultados são agora apresentados, versa a assistência prestada pelas instituições de caridade, especificamente, as Santas Casas da Misericórdia, na região do Minho, durante a época moderna, aos que se encontravam em viagem. Neste sentido, desenvolvemos os nossos trabalhos em quatro confrarias minhotas: as Misericórdias de Viana do Castelo, Braga, Ponte da Barca e Ponte de Lima. Analisámos os contextos europeu e português, em que os viajantes da época moderna se movimentavam, de forma a avaliar os impactos que os panoramas políticos, económicos, sociais e meteorológicos poderiam ter sobre o fluxo de viandantes em circulação. Definido o cenário em que o nosso objeto de estudo estava inserido, avançamos para uma análise das diferentes formas que as Santas Casas tinham de atuar perante os peregrinos, prestando-lhes o apoio necessário à progressão do seu caminho, desde o oferecimento de um local de pernoita, seguro, até a doação de uma esmola ou transporte para a jornada do dia seguinte. Identificámos, ainda, a proveniência e destinos dos passageiros, tanto nacionais como estrangeiros. Conseguimos, também, definir as profissões mais frequentes, entre aqueles que estavam em viagem. E através das atas das confrarias em estudo, apurámos a forma como as Misericórdias se preocupavam com o auxílio aos passageiros, e a maneira como se relacionavam com os mesmos, nem sempre pacíficas. Por fim, analisámos os quantitativos despendidos pelas Santas Casas com a obra de misericórdia “dar pousada aos peregrinos”. Neste contexto, analisámos vários anos de despesas nas quatro instituições em estudo, de forma a registar as oscilações existentes entre o século XVII e XVIII, verificando o impacto das conjunturas nacionais e internacionais no fluxo de viajantes e a própria sazonalidade dos mesmos.
The benefactors of the poor in the Misericórdias of Minho (17th-18th centuries
Resumo: Neste trabalho analisamos os benfeitores das Misericórdias do Minho dos séculos XVII e XVIII, destacando o seu contributo para as práticas de caridade destas instituições. Ao mesmo tempo, chamamos a atenção para a importância dos seus legados para a constituição e reforço do património destas confrarias, demonstrando como as preocupações com a salvação da alma os aproximaram dos pobres e se refletiram no crescimento do seu património material e imaterial. Situadas numa região de forte emigração para o Brasil, as Misericórdias do Minho receberam importantes legados de benfeitores " brasileiros " , incrementando a distribuição de dotes de casamento, a assistência à doença e a dádiva de esmolas aos pobres. Porém, não apenas estes, mas muitos outros beneficiaram as Santas Casas na esperança de salvarem a sua alma. Abstract: In this work we analyze the benefactors of the Misericórdias do Minho of the 17th and 18th centuries, highlighting their contribution to the charitable practices of these institutions. At the same time, we draw attention to the importance of their legacies to the constitution and reinforcement of the patrimony of these confraternities, demonstrating how the preoccupations with the salvation of the soul brought them closer to the poor and reflected in the growth of their material and immaterial patrimony. Located in a region of strong emigration to Brazil, the Misericórdias of Minho received important legacies of "Brazilian" benefactors, increasing the distribution of marriage gifts, assistance to the disease and the donation of alms to the poor. But not only * Doutora em História. Docente na Universidade do Minho.
Nas franjas da sociedade: os esmolados das misericórdias do Alto Minho (séculos XVII e XVIII)
Diálogos, 2005
2 Sobre a reforma da assistência na Península Ibérica consulte-se ARAÚJO, Maria Marta Lobo de-A reforma da assistência nos reinos peninsulares. Cadernos do Noroeste. série História. 19 (1-2). 2002, 177-198. 3 Existiam, contudo, instituições de caridade que não tinham critérios de actuação. Recordo, a título de exemplo, os hospitais para expostos, que recebiam todos os que eram aí entregues.
História e funcionamento das línguas naturais: raízes e sementes da pesquisa acadêmica em Letras, 2023
Objetiva-se com este texto, embasado nos pressupostos teóricos da Filologia Textual, responder ao questionamento proposto no título, apresentando sucintamente as informações contidas em dois manuscritos sob custódia do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), a saber: o Maço 604 – Dôssies sobre a Irmandade, Conventos, Igrejas e Pessoal Eclesiástico/Santa Casa de Misericórdia da Bahia/Alvarás 14981 – 1684 e o Maço 604-1 – Santa Casa de Misericórdia. Privilégios concedidos à Santa Casa de Misericórdia de Lisboa e da Bahia, pelos Reis de Portugal – 1638-1817. Os registros desses manuscritos fazem alusão, entre outras coisas, às ações caritativas das Santas Casas de Misericórdia em Lisboa (Portugal) e na Bahia (Brasil), entre os séculos XV e XIX. Esse trabalho representa um recorte da Tese de doutoramento, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura, do Instituto de Letras, da Universidade Federal da Bahia e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), cujo objetivo é oferecer os textos dos referidos manuscritos a partir de uma edição conservadora. Ao oferecer uma edição, é imprescindível considerar o objetivo final do editor. Para tanto, o editor pode recorrer a vários tipos de edição. Contudo, a edição conservadora é a que mais se assemelha, em fidelidade, ao documento. Nela, o editor transcreve página a página do documento, linha a linha, palavra por palavra, mantendo, dessa forma, as características da escrita do manuscrito, conforme Massini-Cagliari, 2007. Partindo desses pressupostos, foi escolhida a edição semidiplomática, em que se respeita a disposição gráfica do texto na página, conserva-se a grafia original do texto, desenvolvem-se as abreviaturas, respeitam-se as separações e/ou ligações de vocábulos, e destacam-se as alterações no texto com o auxílio de alguns operadores que são previamente indicados nos critérios de edição. Por meio da Filologia, busca-se ler e editar criticamente textos e documentos diversos, a partir de sua materialidade e historicidade, sem esquecer o seu local de produção. (SOUZA, BORGES, 2018) “O registro da história e da memória humana se dá, atualmente e em grande parte, por meio dos documentos gerados pelas atividades desenvolvidas por determinada organização, pessoa ou família”. (MERLO; KONRAD, 2015, p. 27) Tais registos, dispostos de maneira sistemática, tornam-se uma rica fonte de informação, que precisa estar acessível, a qualquer tempo, aos interessados, sejam eles especialistas ou não. O trabalho com acervo documental, além de representar a preocupação dos estudiosos em protegê-lo, representa a própria preocupação da sociedade em manter e perpetuar a sua história, salvaguardando, assim, a memória. É nesse cenário que se vislumbra as contribuições da Filologia Textual, ao se debruçar sobre o texto, manuscrito, datiloscrito, digitoscrito ou impresso, oral ou escrito, fazendo emergir informações que possibilitem os estudoslinguísticos, literários, históricos e os demais relacionados às atividades que envolvam o estudo de um texto.
Património e crédito: Misericórdia e Carmelitas de Aveiro (séculos XVII e XVIII
A partir das práticas de crédito em torno de um convento feminino e da Misericórdia da cidade de Aveiro, na época moderna, questiona- se o discurso de abertura à prática creditícia, dentro dos cânones da Igreja e do Estado, poderá ter tido consequências na prática de crédito. Poder-se-á falar de uma lógica própria em espaço religioso, caracterizada por uma peculiar diversidade de instrumentos e eventualmente de taxas de juro praticadas e durações de reembolso consentidas? Será que lhes preside uma outra forma de actuação económica, fora ou à margem dos mecanismos de mercado? Ou então, tendo em conta as transferências de bens associadas à hipoteca, um sistema estratégico e coerente de gestão patrimonial fundiário? Ou ainda, dada a possível falta de liquidez e debilidade de circulação monetárias, o seu papel remete-se ao preenchimento da ausência de instituições financeiras?
Esta exposição assenta numa passagem intrigante registada no Caderno de Visitação de 1510 à então vila de Setúbal. A visita foi levada a cabo pelo Mestre de Santiago, D. Jorge, filho bastardo de D. João II, acompanhado por D. João de Braga, prior-mor da milícia e Francisco Barradas seu chanceler. A Visitação começou no dia 16 de Julho na igreja de Santa Maria de Setúbal e prolongou-se até 18 de Outubro do mesmo ano. Numa nota de 2 de Outubro, registada no Titolo da Anunciada, D. Jorge satisfez o requerimento apresentado pelos mordomos e confrades de Nossa Senhora da Anunciada, no qual era pedido aos visitadores que não registassem os ornamentos e outros bens da dita Confraria e capela alegando que muitas pesoas diziam que perderiam a devaçam da casa e por outras alguas rezõees alegadas mas não registadas. Segundo o texto da Visitação, D. Jorge, visto seu requerememto, concedeu-lhes a dita mercê, deixando de scripver os ornamentos e cousas da dita casa 1 . Desconhecemos as razões apresentadas pelos mordomos pois o documento não as regista. Mas os visitadores aceitaram-nas e respeitaram o pedido dos confrades. Consideramos, no entanto, que a recente fundação da Misericórdia de Setúbal e a rápida difusão destas instituições por todo o território 2