Acomodação, negação e adaptação: debate historiográfico entre Gilberto Freyre, Jacob Gorender e a Historiografia do Escravo Real (Historiografia da escravidão no Brasil) (original) (raw)
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Afro-Ásia
Em Orientalismo, Edward Said descreve as representações européias que dão origem à noção do Oriente, não somente como o diferencial da Europa, mas também como inerentemente sujeito ao Ocidente. 1 Na sociologia de Gilberto Freyre a respeito da sociedade brasileira da plantation, Casa-grande e senzala, ele argumenta que o Brasil tem uma singular democracia racial baseada num instável "equilíbrio de antagonismos" entre senhores e escravos, herdado da dominação moura na península ibérica. 2 O trabalho que se segue considera as ligações entre a concepção imaginária ocidental sobre o Oriente e a inventiva genealogia freyriana da sociedade brasileira, justapondo duas dimensões fundamentais de Casa-grande e senzala: o caráter sincrético "afro-europeu" do * Tradução do inglês de Leonora Paula.
Revista Vox, 2019
Neste artigo, temos por finalidade examinar e relacionar as propostas de Jacob Gorender e de Sidney Chalhoub no que diz respeito ao mesmo objeto: o escravismo no Brasil. Para tanto, centraremos nossa análise nas obras O escravismo colonial, de Gorender, e Visões da liberdade, de Chalhoub, visto que, em tais produções, os historiadores fundamentam suas concepções relativas à escravidão no Brasil. Apesar de trilharem itinerários teórico-metodológicos díspares, ambos os escritores adquiriram notável importância na historiografia brasileira, servindo como referência para inúmeros outros trabalhos. Além das nítidas diferenças, tentaremos demonstrar como as falas dos autores, mesmo mediante divergências, acabam por se relacionar analogamente em determinados momentos. Por fim, versaremos sobre os motivos pelos quais Gorender e Chalhoub caminham em distintas direções, apesar de terem o mesmo objeto de pesquisa.
Dimensões, 2017
Resumo: Esse trabalho parte da tradicional divisão da historiografia da escravidão brasileira: Gilberto Freyre (1933), Escola Paulista de Sociologia (anos 1950/70) e a renovação após os anos 1980. Propõe-se, inicialmente, identificar como a relação indivíduo e sociedade é mobilizada pelas duas primeiras tendências. Pretende-se, de forma complementar, destacar propostas contemporâneas que sugerem novos caminhos para esse campo historiográfico. A análise realizada neste artigo tem como base o conceito de tradições eletivas, pois este permite evidenciar os embates entre as tendências historiográficas, salientando o quanto essas disputas têm relação com o contexto dos pesquisadores e suas perspectivas acerca do tema em questão. Em face desse cenário, o artigo defende que a historiografia da escravidão brasileira é um terreno fértil para analisar a epistemologia da história. Palavras-chave: Historiografia da escravidão brasileira; Teoria e metodologia da história; Relação indivíduo e sociedade.
Ensaios Fee, 2011
This paper compares the views of two authors who provided decisive and conflicting contributions to the study of the Brazilian slavery: Caio Prado Junior and Jacob Gorender. Therefore its first section presents the general outlines of the debate, emphasizing the issues which are most involved in the debate, specially as to how to define the systems of production in colonial Latin America within the Marxist theory. This controversy has been big and involves the adjustment and the limitations of Marxist categories to account for the analysis of the Latin American economic and social formations in the period, generating a debate that is both methodological and factual-historical. The second and third sections compare the ideas of both authors, enphasizing Gorender's criticism of Prado Junior's work. At last we try to show this is not convincing, specially in relation to the existence of a system of laws which is inherent to the colonial slavery, which leads us to the conclusion that Prado Junior's view seems to be the most appropriate to historically revisit the Brazilian slavery and the transition towards capitalism.
Gilberto Freyre e o Brasil Meridional
Nos últimos anos, a obra de Gilberto Freyre (1900-1987) tem sido profundamente re-examinada, o que tem levado pesquisadores a explorar este legado intelectual a partir de novos ângulos. Como contribuição ao debate, neste artigo analisarei o modo como Freyre incorpora o Brasil Meridional em sua interpretação mais ampla da cultura brasileira, ao mesmo tempo em que desenvolve um diálogo com intelectuais do Sul do Brasil. Compreendo que este duplo movimento insere-se no projeto intelectual de Freyre de valorização da província, articulando a ideia de re-gião à de unidade nacional, de base cultural lusitana e católica. Palavras Chaves: Gilberto Freyre. Pensamento social brasileiro. Brasil Meridional. Interpretação do Brasil.
Sádicos e Masoquistas: uma interpretação do Brasil à luz de Gilberto Freyre
Editora Milfontes, 2020
Gilberto Freyre tornou-se daqueles autores mais criticados do que efetivamente lidos e interpretados. A seu nome geralmente vêm associados determinados rótulos, como “democracia racial” e “miscigenação”, que funcionam como verdadeiros atalhos hermenêuticos através dos quais sua obra ou é imediatamente descartada ou irremediavelmente empobrecida. O primeiro objetivo deste livro é oferecer uma leitura de Freyre desapegada desses rótulos, evidenciando os aspectos de distanciamento, de violência e de crueldade que se deram paralelamente àqueles de aproximação, integração e associação ao longo da formação da sociedade brasileira. O segundo é o de compreender como tais aspectos foram “ocultados”, não por Gilberto Freyre, mas pelas leituras que sua obra recebeu. E, por fim, para elucidar a constituição dos padrões sádico-masoquistas de relação interpessoal, propomos dois conceitos: o “manejo escravocrata” e a “educação para o patriarcado”. Este último passo nos permitiu perceber como tais padrões, além de resistirem aos tempos, se dispersam por diversas esferas da cultura e da sociedade brasileiras: em especial, a esfera política, na qual formas masoquistas de comportamento alimentam as mais grotescas e mesmo sádicas formas de populismo e autoritarismo. Com isso, esperamos chamar a atenção para a atualidade do pensamento de Gilberto Freyre, o modo como sua obra ainda fala diretamente a nosso presente sobre coisas que gostaríamos de esquecer ou de continuar ignorando, mas que de tempos em tempos se manifestam na história brasileira com escandalosa ostensividade.
Strictly speaking, there isn't a sociology of immigration in the works of Gilberto Freyre. Nonetheless, immigration isn't a topic absent from analyses on the freyrian model of amalgam and on social and racial miscegenation. It is present also in lectures and books on the luso-tropical civilization, and in his interest and travels through other cultures and countries. It can also be observed in his parliamentary acting in defense of lusophony during the Assembleia Constituinte [Constituent Assembly] of 1946. This paper discusses Freyre's contribution to the sociology of immigration in Brazil, with regards to a more general discussion on luso-tropicalism. Putting into a comparative perspective the definitions of luso-tropicalism and analyses of assimilation processes, the paper concludes that the studies in which Freyre analyses aspects of immigration were a decisive counterpart to the development of his ideas on the luso-tropical civilization, in addition to being important contributions to the sociology of immigration in Brazil.
A mestiçagem colonialista ou a colonialidade de Gilberto Freyre na colonialidade do Brasil
Portuguese Studies review, 2018
Abstract, Resumo, Résumé Colonialist Miscegenation or the Coloniality of Gilberto Freyre in the Coloniality of Brazil This study attempts to advance a critique of the coloniality of Gilberto Freyre (GF). In fact, GF was widely criticized for both mitigating the discrimination aimed at blacks and indigenous populations in Brazil as well as being more of an aestheticized essayist than a field sociologist. However, little attention has been paid to the fact that GF was not only in favour of the Portuguese colonization in Africa, but he was also in favour of colonizing Brazil! The continued expansion of Brazil in the twentieth century held a perfectly colonial dimension, but seems to have been ignored because it remained within its international-recognized borders: yet this does not change anything of the social aspects of this expansion. The thesis of “internal colonialism”, originating in Mexico, is entirely Eurocentric from this point of view: based on the fact of “international” recognition of the borders of the country, territorial expansion is not considered as other types of colonization. But for the indigenous populations affected, it is! Indeed, GF also wrote in support of continuing this expansion, as if these lands were “empty”. The herald of miscegenation reveals here to what extent this was used as a tool to whiten the country and to "Lusitanize" these new conquests. One will wonder, later, why it is that this aspect of the work of GF was, until today, so overlooke. Actually, the coloniality of GF and that of Brazil remain inherently linke... A mestiçagem colonialista, ou a colonialidade de Gilberto Freyre na colonialidade do Brasil Este estudo tem como objetivo avançar uma crítica da colonialidade de Gilberto Freyre (GF). Com efeito, GF foi largamente criticado por suavizar a discriminação, de que foram alvo os negros e indígenas no Brasil, e por ter sido um ensaísta estetizante mais do que um sociólogo de terreno. Mas pouca atenção foi prestada ao fato de que GF era não só a favor da colonização portuguesa em África, mas a favor da colonização do Brasil! A dimensão perfeitamente colonial da continuação da expansão brasileira no século XX parece ter sido ignorada, porque teve lugar dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas do país: mas isso não mudou a natureza social dessa expansão. A tese do “colonialismo interno”, de origem mexicana, é deste ponto de vista totalmente eurocêntrica: baseada no reconhecimento “internacional” das fronteiras do país, considera que a expansão territorial não é uma colonização como qualquer outra. Mas para os indígenas considerados, é! Ora, GF também escreveu textos para apoiar a continuação dessa expansão, como se essas terras estivessem “vazias”. O arauto da mestiçagem revela aqui o quão esta era uma ferramenta para branquear o país e lusitanizar as novas conquistas. Poder-se-á perguntar, pois, porque é que este aspeto da obra de GF foi, até hoje, pouco analisado. É que a colonialidade de GF e a colonialidade do Brasil, até a atualidade, continuam totalmente ligadas... Le métissage colonialiste, ou la colonialité de Gilberto Freyre dans la colonialité du Brésil Cette étude propose une critique de la colonialité de Gilberto Freyre (GF). En effet, GF fut amplement critiqué pour avoir adouci la discrimination dont ont été victimes les Noirs et les Indiens, et pour avoir été un essayiste esthétisant plus qu’un sociologue de terrain. Mais peu d’attention a été portée au fait que GF était non seulement en faveur de la colonisation portugaise en Afrique, mais aussi en faveur de la colonisation du Brésil ! La dimension parfaitement coloniale de la continuation de l’expansion brésilienne au cours du xxe siècle semble avoir été ignorée, puisque se produisant au sein des frontières internationalement reconnues du pays : pourtant, ceci n’a rien changé à la nature sociale de cette expansion. La thèse du « colonialisme interne », d’origine mexicaine, est de ce point de vue totalement eurocentrique : fondée sur le fait de la reconnaissance « internationale » des frontières du pays, elle considère que cette expansion territoriale n’est pas une colonisation comme tout autre. Mais pour les Indiens concernés, elle l’est ! Or GF a aussi écrit des textes pour appuyer la poursuite de cette expansion, comme si ces terres étaient « vides ». Le héraut du métissage révèle ici que ce dernier est un outil pour blanchir le pays et lusitaniser les nouvelles conquêtes. On pourra, alors, se demander, pourquoi cet aspect de l’œuvre de GF a été, jusqu’à aujourd’hui, peu analysé. C’est que la colonialité de GF et la colonialité du Brésil demeurent, jusqu’à nos jours, inséparables...
A Questão Racial em Paulo Prado (1869-1943) e Gilberto Freyre (1900-1987)
Fernanda Barros dos Santos, 2012
Este artigo tem por objetivo comparar as perspectivas distintas dadas por Paulo Prado (1869-1943) e Gilberto Freyre (1900-1987) quanto tríade caldeada. Ao comparar os dois autores, apresenta as principais diferenças em suas interpretações, haja vista a complexidade da identidade nacional para os teóricos. Por último, visa discorrer, de modo sucinto, sobre a identidade nacional brasileira.
Caderno CRH, 2017
Rigorosamente, não há uma sociologia da imigração na obra de Gilberto Freyre. Contudo o fenômeno da imigração não está ausente das análises sobre o modelo freyriano de amálgama e sobre os processos de miscigenação social e racial. Está presente ainda em conferências e livros sobre a civilização luso-tropical, em seu interesse e viagens por outras culturas e países. Ele pode ser observado ainda em sua atuação parlamentar em defesa da lusofonia durante a Assembleia Constituinte de 1946. Esse paper discute a contribuição de Freyre à sociologia da imigração no Brasil, em relação à discussão mais geral sobre o luso-tropicalismo. Colocando em perspectiva comparada as definições sobre o luso-tropicalismo e as análises dos processos de assimilação, conclui-se que os estudos nos quais Freyre analisa aspectos da imigração foram contrapartida decisiva para o desenvolvimento de suas ideias sobre a civilização luso-tropical, além de constituírem importantes contribuições para a sociologia da imi...