Séculos de silêncio: contribuições de um antropólogo para uma história da “homossexualidade” no sul de Moçambique (Séc. XVI-XX) (original) (raw)
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história, histórias, 2015
A partir de pesquisa arquivística e etnográfica, o presente artigo tem por objetivo contar uma história da homossexualidade masculina no arquipélago de Cabo Verde, África. Neste intento, analiso os registros etnográficos sobre homossexualidade no continente africano, a documentação produzida pela Santa Inquisição sobre o arquipélago e, por fim, a memória oral dos homossexuais cabo-verdianos registrada nas últimas quatro décadas. Defendo que os dados aqui trazidos corroboram com a tese de que o homoerotismo não é novo e nem exógeno no continente africano.
Novos Debates, 2022
Pioneers of the Field: South Africa’s Women Anthropologists, livro do historiador sul-africano Andrew Banks, é uma obra que relaciona história da antropologia e relações de gênero a partir da constituição da antropologia principalmente na África do Sul. O livro, ainda inédito em português, reúne um minucioso trabalho de análise de documentos e da trajetória pessoal e profissional de seis antropólogas que atuaram principalmente na primeira metade do século XX no país. A despeito das contribuições institucionais e acadêmicas de seus trabalhos, estas antropólogas permaneceram silenciadas frente à atuação de seus colegas homens do mesmo período. Dessa forma, o trabalho de Banks nos ajuda a ir além de um simples reconhecimento dessas trajetórias particulares, nos estimulando a refletir sobre os mecanismos de consagração e silenciamento na constituição das histórias oficiais da antropologia e de como podemos desenvolver uma historiografia da disciplina mais atenta a esses mecanismos.
A Homossexualidade No Continente Africano: História, Colonização e Debates Contemporâneos
Cadernos de África Contemporânea , 2018
Resumo: Este artigo aborda a homossexualidade no continente africano a partir das perspectivas das colonizacoes islâmica e judaico-crista europeia. Apresenta o “estado da arte” das discussoes contemporâneas, analisando os discursos existentes de pesquisadores, figuras publicas, religiosos, autoridades e governantes. Por ultimo, verifica a situacao dos direitos de lesbicas, gays, bissexuais, transgeneros e intergeneros (LGBTI’s) nas sociedades africanas. Utilizo como metodos a revisao bibliografica e pesquisa documental sobre o assunto. Discutir acerca da homossexualidade em Africa nao apresenta tarefa facil, alem de ser assunto tabu, ha dificuldades em obter dados sobre o assunto, pouco documentado no continente. Desde o inicio do seculo XXI que se verificam discursos acirrados, atuacoes de governos, estadistas e religiosos africanos contra a homossexualidade. Nesse contexto, o debate sobre os direitos de LGBTI’s em Africa mostra-se urgente. Palavras-chave: Homossexualidade; Contine...
2019
MIGUEL, Francisco. Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucionalização das homossexualidades masculinas no sul de Moçambique. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social. Universidade de Brasília. 362p. “Maríyarapáxjis” é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa “maria-rapaz”) encontrado na língua materna de meus interlocutores (a língua changana) para dar conta de sujeitos que a princípio demonstram certa efeminação, mas que nas últimas décadas passou também a nomear os homossexuais. Escolho-a como título desta tese porque além de ser uma das palavras mais ouvidas no sul do país para nomear esses sujeitos, ela parece ser o epítome de uma série de processos históricos de institucionalização das homossexualidades masculinas nas classes populares do sul de Moçambique. Para chegar até ela, o trabalho se inicia por uma investigação sobre registros históricos acerca do homoerotismo em Moçambique, seja nos arquivos coloniais seja a partir dos relatos de interlocutores mais velhos. Posteriormente, o trabalho se dirige para dois agentes fundamentais de institucionalização da homossexualidade no período pós-colonial, quais sejam, a mídia impressa e o movimento LGBT moçambicanos. Na terceira e última parte da tese, apresenta-se uma etnografia que busca compreender processos de institucionalização da homossexualidade não apenas contemporâneos à própria pesquisa, mas levados a cabo por outros agentes sociais, tais como a família, a religião e os próprios sujeitos que, em seus corpos, articulam sexualidades e gêneros distintos daqueles que a eles foram projetados quando a este mundo vieram – e por vezes distintos também das epistemes oferecidas pelo movimento LGBT. No percurso da tese, três categorias-chave serão recorrentes: “exogenia”, “silêncio” e “tolerância”. Assim, os dados aqui trazidos demonstram como tais categorias perpassam os processos de institucionalização da homossexualidade no sul de Moçambique, além de complexificar diversas outras questões que dizem respeito aos debates com a etnologia africana, com as teorias antropológicas de gênero e sexualidade e com as políticas nacionais e globais sobre os corpos.
DISCRETOS E DECLARADOS: Relatos Sobre A Dinâmica Da Vida Dos Homossexuais Em Maputo, Moçambique 1
Resumo Neste artigo apresento relatos da dinâmica da vida dos homossexuais em Maputo, capital de Moçambique. A coleta de dados se deu através de entrevistas semiestruturadas realizadas no final do segundo semestre de 2013 e início de 2014 e em fontes escritas, como periódicos de circulação nacional. Os entrevistados são, na sua maioria, jovens, de formação urbana, de média a alta escolaridade. As entrevistas nos revelam que o interesse afetivo-sexual de um homem por outro não é bem visto pelos círculos de relacionamentos dos entrevistados. A homossexualidade é vista como uma influência estrangeira, fora dos valores difundidos como " africanos ". Por fim, a pesquisa nos revelou que o modelo homossexual difundido no ocidente através da associação LGBT, bem como a homofobia são ideias de fora, herança do sistema colonial europeu. Abstract This article presents descriptions about homosexual lifestyle in Maputo, capital of Mozambique. The informations were collected trough semi-structured interviews made in the second half of 2013 and in the beginning of 2014 and through written sources as newspapers with national circulation. The respondents are, in most cases, young, downtown boys and have high school level of education. The interviews reveal that affective-sexual interest a man have for another is not well seen by society. Thus, homosexuality is seen as a foreign influence considered opposite of " African " values. However, this work revealed that the western model of homosexuality widespread through LGBT Association and the homophobia are real related to foreign ideas, inheritance of the colonial european system.
Revista de Antropologia (USP), 2023
The article investigates, historiographically and ethnographically, three large-circulation Mozambican newspapers published between 1975 and 2007 in order to understand how the media used to address the homosexuality since independence. Based on the theoretical approach provided by the Anthropology of the Media, firstly it contextualizes the debate related to homosexuality in other African countries' press, secondly it provides a historical background of the discussion in the Mozambican media. Chronologically it approaches the main themes developed by the country's press regarding sexual and gender dissidence. As conclusion, by publicizing the homosexuality of foreigners and not engaging in hate speech, the local media reinforced the idea of the exogeny of homosexuality in Africa and, unlike other neighboring African nations, contributed to produce an environment of tolerance towards the theme in Mozambique.