Walter Benjamin e Roland Barthes às margens da escritura (original) (raw)
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Aproximações entre Dyonélio Machado e Walter Benjamin
Walter Benjamin: estética, política, literatura, psicanálise, 2019
Escritor proscrito, torturado pelo Estado Novo, médico pioneiro na psicanálise brasileira, deputado comunista eleito e depois cassado… As diversas facetas de Dyonélio indicam uma trajetória heterogênea, na qual historicismo, teoria estética e conhecimentos médicos, por vezes serviam de munição para seu combate público e privado. Sua luta política contra o Estado de exceção getulista, e o biopoder elitista brasileiro, se refletiram também em sua produção ficcional. Em obras como Deuses Econômicos e Sol Subterrâneo, que poderíamos chamar de histórias de mistério para “detetives dialéticos”, suas personagens visitam ruínas, discutem teses as mais diversas, numa tentativa ficcional de construir memórias para a história dos vencidos. Aquilo que Dyonélio propunha como mote desta obra o “passado que contamina o presente”, associa-se muito bem com as Teses sobre o Conceito de História de Walter Benjamin, na qual o resgate do passado aponta o sol da história. A força de narração destas ruínas tem seu apogeu na alegoria de O Louco do Cati, onde Dyonélio dá voz a personagem silenciada, que como em Experiência e Pobreza de Benjamin, parece já não comunicar aprendizado nenhum advindo das guerras civis que houveram na região. Os motivos do quase silenciamento destas obras na historiografia literária parecem surgir apenas se escovarmos vigorosamente esta tradição à contrapelo. É neste sentido que um diálogo entre Walter Benjamin e Dyonélio Machado busca reconfigurar estas narrativas históricas, de maneira a fazê-las relampejar, indicando seus perigos, seus esquecimentos, a barbárie que jaz sob seu conformismo.
Vida e obra. Roland Barthes e a escrita do Diário
outra travessia, 2017
http://dx.doi.org/10.5007/2176-8552.2016n21p145GIORDANO, Alberto. “Vida y obra. Roland Barthes y la escritura del Diario”. In: ______. La contraseña de los solitarios. Diarios de escritores. Rosario: Beatriz Viterbo Editora, 2011, p. 91-108. Tradução de Carlos Eduardo Schmidt Capela. Alberto Giordano, crítico e ensaísta, é professor da Universidad Nacional de Rosario (UNR), na Argentina. Todas as passagens citadas pelo autor, ao longo do ensaio, foram aqui traduzidas diretamente da versão espanhola. As traduções de Barthes ao português encontram-se, ao lado das suas versões castelhanas, nas Referências bibliográficas (N. T.).
Roland Barthes e seus primeiros toques de delicadeza minimalista: sobre O grau zero da escritura
Alea : Estudos Neolatinos, 2010
A mais de meio século da publicação de O grau zero da escritura e a trinta anos do desaparecimento de Roland Barthes, ensaia-se aqui um exame da obra princeps, uma das mais radicais da crítica contemporânea e, bem por isso, uma das mais intrigantes. O presente artigo constitui-se de notas para um acercamento das principais influências ativas sobre o primeiro Barthes e das principais literaturas no horizonte desta nova crítica, quando ela principia, em 1953. Trata-se também de uma tentativa de pequena gênese do conceito de "grau zero", estranho ao corte saussuriano da escola das estruturas. Destas notas, espera-se que encaminhem um argumento em defesa da ideia de que, antes que erráticos, os escritos barthesianos são percorridos por uma linha de força representada pelo "grau zero", que nada mais é que o "neutro". A esse conceito sui generis - em sua última versão grafado com maiúscula - seria inteiramente dedicado o penúltimo curso no Collège de France. ...
Escritura e amizade: a presença de Roland Barthes na obra de Leyla Perrone-Moisés
Alea: Estudos Neolatinos, 2020
Resumo As relações pessoais não se apagam nos projetos de colaboração intelectual e, embora não determinem os resultados de pesquisas, participam ativamente de seu desenvolvimento. Este artigo, embora não se dedique a explorar detalhes biográficos para além do que emerge de livros e entrevistas, trata da presença do escritor francês Roland Barthes na crítica literária de Leyla Perrone-Moisés.
Roland Barthes e a muralha chinesa
Em 1974, Roland Barthes e uma comitiva de intelectuais ligados à revista francesa Tel Quel visitam a China de Mao Tsé-Tung. Durante as três semanas que passa no país, Barthes anota tudo o que vê e escuta, bem como o que pensa e sente. Essas notas vêm a público em 2009, com a publicação francesa dos Cadernos da viagem à China, e mostram um escritor entediado, aprisionado pelo discurso político que esteriliza a escrita literária. Ao contrário de seus companheiros de viagem, que se posicionam a favor ou contra o regime maoísta em livros e artigos publicados quando do retorno à França, Barthes escreve um texto curto e absolutamente neutro: “E então, a China?”, uma reflexão sobre as cores pálidas que viu e o chá fraco que experimentou, desvencilhando-se do que para ele era a verdadeira armadilha, a polaridade que fixa em uma posição cristalizada a favor ou contra, forçando um engajamento político em nome de uma doxa. O presente artigo contará a história dessa viagem e analisará os textos barthesianos que dela se originaram, interrogando-se sobre a relação entre Barthes e o estrangeiro.
Walter Benjamin e a fronteira entre literatura e história
Métis: História & Cultura , 2002
Este texto discute alguns aspectos da teoria de Walter Benjamin e suas possibilidades de uso como suporte teórico nas relações de fronteira entre história e literatura. Baseando-se não somente nos escritos de Walter Benjamin, como também nos textos de alguns de seus comentadores, procura ressaltar a potencialidade de seu uso na atualidade, no âmbito da história cultural. Palavras-chave: Walter Benjamin; História e literatura; Sonho; História Cultural.
Escritura biografemática em Roland Barthes
Pesquisa em Foco: Educação e Filosofia, 2010
Apesar de Roland Barthes nos apresentar a noção de "biografema", em nenhuma oportunidade ele nos fornece um texto que seja considerado, por ele mesmo, como sendo uma escritura biografemática. No presente texto, defendemos que o seu livro "Sade, Fourier, Loyola" é um livro biografemático: ao invés de deter-se nos elementos em que cada um desses autores é reconhecido (pornografia: Sade; socialismo utópico: Fourier; mística da obediência: Loyola), Barthes detém-se em algo novo. Identifica o que faz de Sade, Fourier e Loyola escritores, ou melhor, o que faz de suas escritas, escrituras. Sade, por exemplo, faz escritura porque inventa a língua do crime, a qual faz com que o seu texto valha por si mesmo, independentemente dos seus conteúdos (dito obscenos, violentos, perversos). Com isso, Barthes inventa um novo Sade, e, por essa razão, faz biografema. Concebe Sade não como o autor da pornografia (não o limita a isso), mas como produtor de escritura, a partir de detalhes que até então eram foscos e desprovidos de sentidos. Se Barthes reúne, então, um escritor maldito, um filósofo utopista e um santo jesuíta, é para enfatizar um modo outro de se apropriar de um autor. Trata-se da apropriação de um sujeito que é sempre disperso, doador de traços biografemáticos. Os traços são detalhes que passam despercebidos pelos biógrafos (o regalo branco de Sade, os vasos de flor de Fourier, os olhos de Loyola), justamente porque são vazios de significação prévia. Na mão de um biografólogo como Barthes, esses traços tornam-se disparadores de escrituras.