O futuro da sociedade: reflexões sobre o bem comum (original) (raw)
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Livro: Humanidade futuro em comum Capítulo: "Humanismo Integral Revisitado" - Elton Vitoriano Ribeiro - pp.4221-429.
Notas para uma reflexão sobre a natureza do bem público
O objetivo desta comunicação é discutir a noção de bem público, rastreando algumas formulações significativas, como as de Hobbes, Locke e Rosseau e aquelas que se associam à concepção "econômica" de bem público. Propõe-se, contrariamente a estas concepções, que a noção de bem público formulou-se, de um ponto de vista "prático" e normativo, de maneira diversa no processo de expansão da cidadania, aparecendo como o resgate da dimensão comunitária desta diante das injustiças do mercado.
Construir o nosso futuro comum
jornal PÚblico, 2020
Seremos capazes de aprender a lição? A violência do embate do covid-19 pode abrir caminho a novos modelos de funcionamento da economia e da sociedade? Não há qualquer garantia de que tal aconteça. Um interessante texto publicado há dias por José Gil, reporta-nos a mutação em curso nas subjetividades pessoais que estarão a ser substituídas por subjetividades virtuais, desterritorializadas, através das redes digitas. No entanto, a encruzilhada em que nos encontramos no nosso isolamento caseiro não nos permite captar qual o efetivo alcance desta vertigem, nem mesmo se estaremos ou não a ser direcionados para um outro conceito de modos de vida e de trabalho. Teremos capacidades cognitivas para aceitar ou meios para construir um modelo de sociedade radicalmente diferente? Ou apenas sonhamos em regressar à normalidade, ao nosso habitual conforto burguês? É cedo para se compreender plenamente o que aconteceu, na sociedade, na economia, nas representações subjetivas de cada um de nós, e as possibilidades quanto ao nosso futuro comum. É importante, desde logo, colocar em planos diferentes o papel das instituições e do poder político, por um lado, e as orientações e atitudes dos cidadãos, por outro, apesar da sua estreita interconexão. Limito-me aqui a refletir sobre o contexto europeu e português, muito embora o problema seja global. Os cenários possíveis estão nesta altura todos em aberto. Mas não haverá futuro se não surgirem líderes que se revelem à altura dos novos desafios. Vem a propósito invocar a história, recordando que as grandes viragens e ruturas do passado, ocorreram quando as lideranças e instituições ousaram romper com tabus instalados, como aconteceu com vários protagonistas que emergiram no pós-II Guerra Mundial, como por exemplo na implementação do Plano Marshall. Os verdadeiros líderes são os que conseguem por os interesses dos povos acima das divergências políticas, e nesse virar de página a democracia americana deu o exemplo, respondendo ao desafio gigantesco de reconstruir a Europa. Não se tratou nem de generosidade nem de caridade, mas sim de visão estratégica. Como sabemos, foi esse plano de ajuda (o equivalente, hoje, a 118 mil milhões de euros) que esteve na génese da União Europeia e da República Federal da Alemanha. E apesar de todas as dificuldades e insucessos ao longo dos últimos setenta anos, duvido que a história da Europa tivesse sido melhor se os EUA se tivessem remetido ao seu reduto, deixando o continente europeu à mercê de
A atenção compartilhada para o mundo em comum
Revista NUPEM
O objetivo deste artigo é refletir acerca das (im)possibilidades de “autoridade compartilhada”, sobretudo no que diz respeito ao encontro escolar, e sustentar a pertinência da “atenção compartilhada”. Nesse sentido, realiza uma discussão teórica a partir de autores que se dedicaram a problematizar os conceitos de autoridade, cuidado, atenção e a “forma escolar”, dentre os quais destacam-se Larrosa, Masschelein, Biesta, Wallace e Arendt. Está organizado em duas partes. Na primeira discute o encontro escolar como uma “atenção compartilhada” incontornável ao “durante escolar” destacando a importância de pensar a potência da “forma” da scholè como um tempo livre e um espaço público compartilhado. Na segunda tensiona a ideia de autoridade compartilhada e sustenta, com base na concepção de responsabilidade de Hannah Arendt, que a atenção compartilhada resulta mais eloquente para pensar o ensino da História e as relações que se dão no tempo-espaço escolar.
Bem comum e cidadania numa era emotivista
Isonomia, 2021
Resumo: Este artigo analisa os conceitos de cidadania e bem comum, a partir da crise do debate público ocasionada, entre outras causas, por uma deturpação da política de identidade, no contexto do emotivismo moral moderno. Para tanto, o trabalho adota a metodologia da revisão bibliográfica para proceder a uma análise teórica de conceitos centrais da filosofia prática contemporânea, abrangendo referências diversificadas, como MacIntyre, Lilla, Taylor, Finnis, Sandel e Kymlicka. Após apresentar o diagnóstico de MacIntyre sobre o éthos emotivista moderno como fator da insolubilidade de controvérsias morais e a crítica de Lilla à despolitização que o atomismo identitário ocasionou, o artigo estuda as condições da reabilitação teórica dos conceitos de cidadania e bem comum, a partir de uma ética comunitarista da razão prática, de matriz aristotélica, em que a amizade cívica é relevante para equacionar as diferenças numa unidade política maior. A conclusão é a de que as políticas identitárias podem ser salvaguardadas se redimensionadas pelo conceito de bem comum, superando as contradições emotivistas do debate público.
Comuns e patrimônio: contra a privatização do futuro
Antonio Lafuente (2022), "Comuns e patrimônio: contra a privatização do futuro", Outras Palavras, 16.03.2022; https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/comuns-e-patrimonio-contra-a-privatizacao-do-futuro/, 2022
O avanço tecnológico deflagra novas zonas de confronto entre a mercantilização e o bem comum. Os diretamente atingidos soam o primeiro alarme, a indicar onde está a fronteira da luta pelo que é valioso para o conjunto da humanidade
O conceito do comum: notas introdutórias
Com a publicação de Bem-estar comum, escrito por Michael Hardt e Antonio Negri (2016), de O comum: ensaio sobre a revolução no século XXI, de Christian Laval e Pierre Dardot (2017), e de Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, o tema do comum (procomún em espanhol, commons em inglês) voltou a ganhar a atenção de pesquisadores das ciências humanas e sociais no Brasil. Neste artigo, retomamos um esforço realizado por Sergio Amadeu da Silveira em 2007, quando publicou o artigo “O conceito de commons na cibercultura”, e realizamos um percurso por autores que trabalham com o conceito de comum, contribuindo para descrever e localizar parte da bibliografia disponível sobre o tema, sendo grande parcela ainda indisponível em português. No artigo, tratamos da obra de autores como Garrett Hardin, Elinor Ostrom, David Bollier, Laval e Dardot, Hardt e Negri, Silvia Federici, Michel Bauwens, Silke Helfrich, Imre Simon, Miguel Said Vieira, Joan Subirats e César Rendueles, Yochai Benkler, Rafael Zanatta e Ugo Mattei, entre outros.
Bem comum, sociedade e pessoa humana na filosofia e na Doutrina Social da Igreja
Cadernos de Fé e Cultura, 2018
Este trabalho discute o bem comum em suas relações com a pessoa humana e a sociedade, na perspectiva do filósofo Jacques Maritain e da Doutrina Social da Igreja Católica, visando caracterizar as determinações conceituais e sua evolução. A análise dos principais documentos que explicitam a Doutrina Social da Igreja, abrangendo o período 1891–2015, mostra que esses conceitos foram continuamente utilizados, aprofundados e valorizados, permitindo concluir que, diversamente do esvaziamento e negação sofridos na filosofia política contemporânea, os principais textos da Doutrina Social da Igreja têm conferido relevante desenvolvimento ao conceito de Bem Comum.
Repensar a Educação: rumo a um bem comum mundial?
Territorium
Rethinking education: towards a global common good?" é o título original da publicação realizada, em 2015, pela organização das Nações Unidas para a Educação, a ciência e a cultura, em Paris, França. Um documento também apresentado em português, sob o título "Repensar a educação: rumo a um bem comum mundial?" (Brasília, UNESco, Brasil, 2016) com 91 páginas, que pretende identificar orientações, futuras, para a educação mundial, onde a UNESco exerce um importante papel de liderança intelectual na educação internacional. Num prefácio denso, forte e inquietante, Irina Bokova, Diretora-geral da UNESCO, levanta inúmeras questões sobre o futuro da educação, destacando-se: "que educação precisamos para o século XXI? Qual o propósito da educação no atual contexto de grandes transformações da sociedade? Como organizar a aprendizagem?". Assim, no intuito de repensar a educação, num mundo
O comum, a comunidade (e seus opostos)
PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, 2023
Resumo: O artigo a seguir é produto de uma palestra apresentada no Colóquio Encruzilhadas, Fricções e Dissensos na Arte Colaborativa, realizado na UFMG em novembro de 2022. O objetivo do texto é pensar a articulação entre os conceitos de “comum” e “comunidade” por meio de uma reflexão sobre o “comum” enquanto elemento fundante de sociabilidade e enquanto objeto de luta política a partir da perspectiva desenvolvida por alguns pensadores contemporâneos. Para isso o texto: 1) apresenta uma caracterização geral do conceito de comunidade nos termos em que foi pensado especialmente pela tradição sociológica; 2) aponta a crítica de Roberto Esposito a esta abordagem e sua reinterpretação dos conceitos de comunidade e de comum e, por fim; 3) conecta sua reflexão sobre a necessidade de expansão dos espaços do comum com outras perspectivas contemporâneas em torno de uma política do comum, tal como desenvolvidas por Hardt e Negri, Silvia Federici e Dardot e Laval