Circulação de ideias e apropriações culturais na diáspora negra (original) (raw)
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A circulação de ideias: Diáspora e seus significados
2015
A razão assegurava a vitória em todas as frentes. Eu era readmitido nas assembléias. Mas tive de perder as ilusões. A vitória brincava de gato e rato; ela zombava de mim. Como diz o outro, quando estou lá, ela não está, quando ela está, não estou mais 2. (Frantz Fanon,
O CONCEITO DE DIÁSPORA AFRICANA COMO ARGUMENTO PARA DESCENTRAR A IDENTIDADE NEGRA
Revista Ambivalências , 2017
RESUMO Nos últimos vinte anos, observamos transformações substanciais tanto no lugar que é atribuído aos povos, às culturas e tradições de origem africana na formação da sociedade brasileira, quanto na maneira como a identidade nacional é abordada nos debates e discussões que se dedicam à investigação das relações raciais na contemporaneidade. Essas transformações trilham um caminho que reflete um novo olhar sobre a presença desses povos e culturas, muitas vezes, informado e influenciado por um conceito que tem ganhado destaque nas discussões tanto no mundo acadêmico quanto no da militância: a diáspora africana. A noção de diáspora africana representa tanto uma nova categoria analítica, como também a expressão de novas formas de etnicidade negras que têm tensionado pelo seu caráter descentrado, intencionalmente ou não, o modelo de identidade negra pré-requisito de políticas públicas atuais. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo produzir algumas aproximações, ainda iniciais e certamente insatisfatórias, sobre o impacto dos potenciais deslocamentos teóricos, epistemológicos e discursivos que a noção de diáspora africana produz, especificamente, nas discussões acerca da identidade negra no Brasil. Para tanto, elaboramos uma possível genealogia da identidade negra no interior das ciências sociais brasileiras, que, entre outras coisas, nos proporcionou compreender quais as tradições teórico-metodológicas que foram responsáveis pela sua emergência e inscrição. Conclui-se que a noção de diáspora africana, segundo a forma como vem sendo evocada no debate sobre a questão racial no Brasil contemporâneo, desloca o modelo de identidade organizado segundo o sujeito sociológico centrado proeminentemente na sociologia das relações raciais. Palavras-chave: Identidade Negra. Modernidade. Diáspora Africana.
Caminhos e descaminhos do pensamento cultural na historiografia da diáspora africana
Revista Tempo e Argumento
Caminhos e descaminhos do pensamento cultural na historiografia da diáspora africana Bruno Pinheiro Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 22, p. 487-493. set./dez. 2017. p.488 Resenha: Caminhos e descaminhos do pensamento cultural na historiografia da diáspora africana Bruno Pinheiro Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 9, n. 22, p. 487-493. set./dez. 2017.
Marku Ribas: encruzilhadas afrossônicas através da diáspora
Afro Ásia, 2020
This essay explores the music of singer, songwriter, and multi-instrumentalist Marku Ribas. Drawing from the theoretical framework proposed by Paul Gilroy, as well as the epistemological approaches of Négritude and Pan-Africanist thinkers, this essay situates the aesthetic and political content of Marku’s work within the rhizomorphic structure of the African Diaspora and a reaffirmation of black identity. Divided into three sections, the paper first discusses the musician’s trajectory before 1968 when he went into exile in France. The analysis then turns to an album produced by the group Batuki, to which Marku belonged during his time in Paris. Lastly, the essay closes with an examination of his first two solo albums, recorded in 1972 and 1975.
As identidades negras da diáspora e a descolonização da representação
E-Compós, 2018
Este artigo teórico apresenta uma reflexão sobre as identidades culturais da diáspora negra, investigando sua constituição por meio da multilocalidade, dos processos históricos coloniais de objetificação racial e das práticas de resistência negra nas dimensões individual e coletiva, centralizando a dimensão compartilhada por sua diversidade e pluralidade. Abordando o uso das imagens e das formas de representação como mecanismo para a naturalização das hierarquias raciais, este estudo discute a ruptura com o projeto colonial, por meio do desenvolvimento da consciência crítica junto a novos olhares e perspectivas, e apresenta os pontos de convergência nos discursos identitários da diáspora negra. Palavras-Chave: Diáspora negra. Racismo. Interseccional
Raça, cultura e pertencimento: a emergência da noção de diáspora africana.
Ciências Sociais Unisinos, 2019
Nos últimos vinte anos, observamos transformações substanciais tanto no lugar que é atribuído aos povos, às culturas e às tradições de origem africana na formação da sociedade brasileira quanto na maneira como a identidade nacional é abordada nos debates e discussões que se dedicam à investigação das relações raciais na contemporaneidade. Essas transformações trilham um caminho que reflete um novo olhar sobre a presença desses povos e culturas, muitas vezes informados e influenciados por um conceito que tem ganhado destaque nas discussões tanto no mundo acadêmico quanto no da militância: a diáspora africana. Porém, raramente é explicitado o modelo ou a perspectiva de diáspora africana que está sendo articulada nessas investigações e nesses discursos. Fora do Brasil, a noção de “diáspora”, e, mais especificamente, de “diáspora africana”, não é recente. Desde o fim do século XIX esteve presente nos Estados Unidos, tendo importante papel como locus de pertencimento, contribuindo para a construção de solidariedades e de agendas políticas dos movimentos sociais negros norte-americanos. Além disso, a noção de “diáspora africana” foi essencial para a construção, institucionalização e postulação dos paradigmas teórico-metodológicos para o que hoje (recentemente) são disciplinarmente denominados de African-American Studies. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo elaborar uma breve genealogia da noção de “diáspora africana”. Por meio do mapeamento do modo como os intelectuais afro-americanos trabalharam com categorias como “raça”, “cultura”, “filiação” e “pertencimento” no final do século XIX, apresentamos as condições de emergência do conceito.
Diáspora negra: um olhar... "para além da visão idealizada do africano na bibliografia tradicional"
Impossível dissociar a imagem pejorativa do africano, produzida no âmbito da expansão colonial europeia no Novo Mundo, dos processos de racialização iniciados na Era Vitoriana cujos efeitos nefastos ainda produzem desigualdades sociais, econômicas e políticas em expressiva parcela de povos não europeus que construíram com as próprias mãos a modernidade ocidental. Pretende-se abordar neste artigo algumas inovações nas produções acadêmicas que procuram desconstruir tal imagem resgatando, no âmbito da história, a própria cidadania dos afro-americanos na diáspora.
A memória negra na diáspora como instrumento jurídico
Revista Humanidades. Dossiê Vidas negras importam!, 2019
Não vou mais lavar os pratos. Nem vou limpar a poeira dos móveis. Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um livro e uma semana depois decidi. Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem arrumo a bagunça das folhas que caem no quintal. Sinto muito. Depois de ler percebi a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética, A estática. Olho minhas mãos quando mudam a página dos livros, mãos bem mais macias que antes e sinto que posso começar a ser a todo instante. Sinto. Qualquer coisa. Não vou mais lavar. Nem levar. Seus tapetes para lavar a seco. Tenho os olhos rasos d'água. Sinto muito. Agora que comecei a ler quero entender. O porquê, por quê? e o porquê. Existem coisas. Eu li, e li, e li. Eu até sorri. E deixei o feijão queimar... Olha que feijão sempre demora para ficar pronto. Considere que os tempos são outros... Ah, esqueci de dizer. Não vou mais. Resolvi ficar um tempo comigo. Resolvi ler sobre o que se passa conosco. Você nem me espere. Você nem me chame. Não vou. De tudo o que jamais li, de tudo o que jamais entendi, você foi o que passou Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto.