“Tihik quando bebe Kaxmuk não tem pai, nem mãe, nem irmão”: Percepções sociais das consequências do uso da cachaça no povo indígena Maxakali/MG/Brasil (original) (raw)

Culturas do escrito nas associações e projetos sociais indígenas: um estudo sobre os Xakriabá, Minas Gerais

Revista Brasileira de Educação, 2017

RESUMO O artigo analisa o lugar que o escrito tem ocupado no cotidiano de comunidades Xakriabá, principalmente em situações relacionadas à elaboração e ao desenvolvimento de projetos sociais em suas associações. O trabalho baseia-se em pesquisa etnográfica realizada em três aldeias. Os resultados indicam que, entre os Xakriabá, a habilidade de ler e escrever é performada não como um atributo restrito ao indivíduo, mas como uma habilidade disponibilizada para o coletivo. Nesse contexto, a oralidade é fundamental no processo de negociação entre os diversos sujeitos e o escrito. Os usos e funções do escrito produzidos cotidianamente pelos Xakriabá estabelecem, e por vezes pressupõem, diferenças entre os sujeitos envolvidos, embora não gerem necessariamente desigualdade entre eles. Constatamos ainda que os Xakriabá, ao se virem na situação de interagir com uma modalidade de escrita característica da sociedade nacional, o fazem atribuindo usos e funções de acordo com os costumes e tradiç...

Proximidades: uma leitura comparativa da crônica de Rubem Braga e António Lobo Antunes.

Neste trabalho desejamos estabelecer um diálogo entre as crônicas do português António Lobo Antunes e as do brasileiro Rubem Braga, buscando, sobretudo, os ecos da infância. Para isso, faremos, inicialmente, uma exploração do gênero. Nesta tentamos encontrar os movimentos que demonstram a flexibilidade deste tipo de texto, haja vista que a crônica tem, em sua raiz, a ideia de provisório e efêmero; mas, ao mesmo tempo, em alguns autores, pode servir de arena para trazer o universal. Acreditamos, aliás, que é esta a característica que coloca Lobo Antunes e Rubem Braga na mesma equação: a capacidade de ambos, como cronistas, de trazer temáticas que tornam as suas crônicas possíveis de serem lidas em qualquer época. Em outras palavras, os dois autores por nós analisados elevam a crônica ao patamar proposto por Wilson Martins, conforme citado por Sérgio Augusto de que a crônica“[s]ó quando não se esgota com o fato que a motivou e surpreende o universal e o eterno no transitório e no local . . . pode transcender a índole efêmera que a insignificância e a transitoriedade quase obrigatória dos assuntos tratados parecem impor-lhe por definição e, desse modo, ter seu status elevado, conquistar por si mesma a categoria literária” (125). Assim, o olhar jornalístico por excelência, tão apropriado para a necessidade do flagrante diário, em Antunes e Braga parece relacionado a elementos específicos que despertam a memória e, através desta, ambos estabelecem viagens temporais e trazem, ao presente da escrita, elementos do passado com vivacidade de primeira vez. Na tentativa de estabelecermos este diálogo, vamos analisar quatro crônicas de cada autor: “As pessoas crescidas” e “Recordação da Casa Amarela” do Livro de crónicas; “Província” e “Sobre Deus” do Segundo livro de crónicas de António Lobo Antunes. Com relação a Rubem Braga, vamos trabalhar com “Os trovões de antigamente,” do livro Ai de ti, Copacabana, “Tuim criado no dedo” e “O cajueiro” de Os melhores contos de Rubem Braga e “Chamava-se amarelo” de A casa dos Braga. Interessa-nos, com esta seleção, apresentar as relações de recorrência temática, mas, também, verificar as diferentes abordagens dada aos temas.

Estudo Da Não Adesão Ao Tratamento Da Doença Falciforme: O Caso De Uma Família

Cogitare Enfermagem

Objetivo: compreender os aspectos que influenciam a não adesão ao tratamento da doençafalciforme em uma família com vários membros adoecidos.Método: estudo de caso único realizado com quatro irmãos com doença falciforme acompanhadosem um Centro de Referência no estado da Bahia, Brasil. Os dados foram colhidos por questionário,entrevista aberta e desenho-estória com tema.Resultados: os temas emergidos foram: Preconceito e discriminação promovem o autoisolamento;Dificuldade para deslocamento impede as idas ao serviço; A unidade de saúde é um espaço queamplia dúvidas e incertezas; Desesperança leva à desistência do tratamento.Conclusão: amparo social, suporte emocional, instrumental e educacional são essenciais parareduzir a vulnerabilidade da família que vivencia a doença falciforme. Conteúdos abordados nasunidades de saúde necessitam incluir perspectivas de experiências positivas, fomentando esperançae construção de sentidos para a vida no processo de adoecimento crônico, a fim de au...

Adaptação à cultura brasileira dos questionários The O'Leary-Sant e PUF, usados para cistite intersticial

Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2013

O objetivo deste estudo foi traduzir e adaptar à cultura brasileira os instrumentos The O'Leary-Sant e PUF, utilizados no diagnóstico de cistite intersticial. Foram realizadas as etapas metodológicas recomendadas pela literatura internacional para a adaptação cultural. As etapas de tradução, síntese das traduções e retrotradução foram realizadas satisfatoriamente, e a avaliação das versões sintéticas pelo comitê de especialistas resultou em algumas alterações, assegurando as equivalências entre as versões originais e traduzidas. O PUF foi pré-testado entre 40 sujeitos e The O'Leary-Sant em uma amostra de 50 indivíduos, devido à necessidade de ajustes em decorrência da baixa escolaridade da população. O processo de tradução e adaptação foi realizado com sucesso e os instrumentos, após as modificações, demonstraram ser de fácil compreensão e rápido preenchimento. Entretanto, este é um estudo que antecede o processo de validação e será premente o emprego do instrumento em novas...

Linguagem e Justiça Social: Saberes, Práticas e Paradigmas (vol. 2)

Linguagem e Justiça Social: Saberes, Práticas e Paradigmas (vol. 2), 2022

Sete textos compõem esse segundo volume. Sete. Exu é o mensageiro desses escritos que aqui se aquilombam. E não poderia ser diferente. Exu é o responsável pela inquietude, pela necessidade de se construir algo e pelos conflitos, sobretudo os conflitos necessários para a reflexão e ação. No caso deste livro, Enugbarijó é a boca que responde por Língua(gem) e Justiça Social. Aprendemos que não há paz sem luta, sem confrontos. Alguns confrontos são imprescindíveis e incontornáveis, como é o caso deste livro, soprado por Ayrá e trazido por Exu. Ayrá é, na cosmogonia das religiões de matriz africana, aquele que luta para estabelecer a paz, assim como Oxaguian. Como bem colocou a professora Kassandra Muniz, Lingua(gem) e Justiça Social é uma afronta. Quando penso nessa afronta que tem a língua como palco, sou transportado para a minha adolescência, quando li, pela primeira vez, as palavras do poeta e criador do teatro irlandês William Butler Yeats, palavras que me acompanham e me incomodam. O poeta defendia “aprisionar em um só pensamento a realidade e a justiça” (YEATS, 1962, p. 24-25) . A defesa do poeta é, na verdade, uma denúncia. Em seus escritos podemos entender que a realidade não é justa, e a justiça pode ser algo irreal e inatingível frente à violência que vilipendia a realidade. Uma violência que deve ser combatida com violência, pois, segundo Hannah Arendt, “em certas circunstâncias a violência - atuando sem argumentos ou discussões e sem atentar para as consequências - é a única maneira de se equilibrar a balança da justiça de maneira certa” (ARENDT, 1985, p. 35) . Quando iniciei a proposta de escrever sobre Língua(gem) e Justiça Social, temia que se tornasse uma espécie de manual, pois não há manual para a vida. Hoje, ao ver os dois volumes prontos, fico feliz de constatar que em nenhum deles há falsas promessas, ou fórmulas mágicas para o uso da língua sem violência, ou de combate a violência presente na língua. Ao contrário, em ambos há o tracejo da violência como forma de vilipendiar corpos e ideologias através da língua(-gem) e a necessidade de aquilombamento como estratégia de entrincheiramento e de combate. Os sete textos que fumegam diante dos olhos das leitoras e dos leitores são ebós de palavras que nos colocam diante do carrego colonial para ser queimado, como queimamos e bombardeamos o Judas no Sábado de Aleluia.