Exercícios de inatualidade. As Considerações extemporâneas como ontologia crítica (original) (raw)

Ensaio acerca do extemporâneo

Texto de juventude sobre o conceito de conceito de história da filosofia, não por uma leitura do progresso da história, mas mais de uma leitura próxima aos Pagan Studies.

Da crítica às ontologias práticas

Analógos, 2023

Este artigo aborda as complexidades e desafios presentes nos discursos sobre as ciências, tanto nas visões relativistas (críticas) quanto nas iluministas (modernistas). Um problema central é o diagnóstico inflacionário da Ciência Moderna como "desencantamento do mundo", fundamentado na ideia weberiana de que a modernidade se destaca pela sua racionalidade instrumental e pela masterização progressiva de tudo. Movimentos contra-hegemônicos críticos muitas vezes adotam uma postura oposta aos "valores científicos", defendendo a subjetificação, corporeidade e emoção como valores não-modernos. No entanto, essa reação está inadvertidamente reforçando os próprios pressupostos modernos ao se contrapor aos métodos racionais ocidentais. A abordagem crítica é problemática por outros dois problemas: ela é denuncista, negando a realidade das ciências modernas em favor de condições ideológicas ou culturais; e é derrotista, ao retratar a modernidade como uma força dominante inescapável. Além disso, a postura relativista tende a simplificar as práticas científicas e a ser corrosiva também com práticas não-modernas, reduzindo a agência de entidades não-humanas a aspectos culturais e simbólicos. O objetivo do artigo é negar a tese do desencantamento do mundo e propor um relato das ciências modernas que vá além da dominação, considerando os efeitos do colonialismo. Exploro o diagnóstico de Bruno Latour sobre a modernidade para reavaliar o papel das ciências, reposicionando o debate em termos de ontologias práticas – desde que se compreenda de outra forma também o papel da metafísica. Assim, é possível evitar uma série de problemas da crítica relativista, ao mesmo tempo que mantemos a realidade do apagamento de saberes promovidos pela modernidade, possibilitando condições de verdade tanto às práticas científicas quanto às práticas não-modernas.

Temporalidade das Presentificações Totêmicas. Na Sequência de Posições e Repercussões da Carta de Husserl a Lévy-Bruhl. In: Phainomenon (Lisboa), 2023.

Alice Mara Serra , 2023

This article focuses on possible convergences between phenomenology and anthropology and underlines their contributions to the analysis of a specific topic. In its reconstructive dimension it departs from Edmund Husserl's positions in the letter he addressed to Lucien Lévy-Bruhl in 1935, in particular on the relationship between humanity and the surrounding word (Umwelt) and on the opposition between historical societies and primitive ahistorical societies. After having noted some critical points emerging from Husserl's considerations, this text retraces some of its repercussions on the thought of Maurice Merleau-Ponty and Jacques Derrida, whose diverging interpretations open up different ways of examining the relationship between the respective phenomenological and anthropological perspectives. Finally, with the aim of rethinking the contributions of these two fields to address the problem of the co-participation and the differentiations between the archaic and the current in descripted social structures by Lévy-Bruhl, this text turns to the specific temporality of totemic presentifications, which should become phenomenologically more detailed.

Transfigurações do passado: aspectos do problema do tempo na segunda Consideração extemporânea

CADERNOS NIETZSCHE, v. 38, 2017

Recepção da segunda Consideração Extemporânea: uma nova visão sobre o tempo A segunda Consideração extemporânea, "Da utilidade e desvantagem da história para a vida", foi publicada em fevereiro de 1874, marcando o término de um curto, prolífico e atribulado período de composição 1. Inicialmente, a segunda Extemporânea seria destinada ao problema da verdade, baseada em anotações contidas no caderno P I 20 que terminaram por anteceder a obra inacabada, e nunca publicada, Sobre verdade e mentira no sentido extramoral. Porém, em setembro de 1873 ocorre uma súbita mudança de rumo, fazendo com que Nietzsche passasse a se ocupar com o problema da história 2. Essa mudança deve ter provocado prejuízos nos planos editorais dessa obra, deixando ansiosos Nietzsche-que já começava a sofrer com seu estado de saúde declinante-e seu editor na época, Ernst Wilhelm Fritzsch 3. Esse ambiente inquieto fica manifesto na escolha um tanto fortuita do título do livro-cuja inspiração deve ter vindo da obra Letters on the Study and Use of History (1735), de 1 A primeira menção de Nietzsche à segunda Extemporânea é feita numa carta dirigida a Wagner no final de setembro de 1873. Temendo pelo seu estado de saúde, que lhe impõe privações, Nietzsche diz que lhe resta somente a "reflexão", aptidão que será mobilizada para a sua segunda Extemporânea.

Prova de consideração: dramaturgia e temporalidade não-normativa

Via Atlântica

O artigo se debruça sobre o texto Prova de consideração, de Gomes Cardim, publicado em 1913 e pretende revelar como o autor pode ser considerado um dos fios invisíveis que contribuiu, à margem dos nomes retidos pela história, para tecer a paisagem teatral daquela época lançando luz sobre muitos temas da história política do século XX que, d’algum modo, refletem ansiedades sociais contemporâneas em torno das mulheres, da sexualidade e do poder nos séculos XIX e início do século XX.

A ontologia do Tractatus e o problema dos Sachverhalte não-subsistentes

1991

If we suppose that the sense of a proposition is the situation that it represents, a perfectly sound argument can be framed to the effect that Tractarian semantics is committed to the admission of nonexistent situations or states of affairs that will function as the senses of false propositions. I will argue that this supposition is mistaken and that a right understanding of the notion of sense leads us to no such conclusion. In fact, one of the main lessons of Wittgenstein's book is to have shown us how to eliminate all reference to (Meinongian) non-existing entities from an account of how propositions get their senses. O propósito deste artigo é desfazer a idéia de que o projeto semântico do Tractatus Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein esteja comprometido com a admissão de entidades complexas não-contingentes, cuja natureza seria independente de sua existência ou inexistência fatual, e de que os Sachverhalte constituam entidades desse tipo. Tomando de empréstimo o modo de expressão deliberadamente paradoxal forjado por Alexius Meinong, a questão de que trato poderia ser formulada como: "Existem Sachverhalte dos quais é verdadeiro dizer que não existem?", e a resposta-pouco emocionante-que pretendo oferecer é a de que não existem, em nenhum sentido da palavra "existir"; em particular, que não existem como meras possibilidades não atualizadas. Meu ponto de partida será o estimulante artigo de Edgard Marques, recentemente publicado nestes Cadernos 1 , que toma partido pela tese oposta. Embora sua motivação seja originariamente crítica, a discussão que se segue pretende trazer uma contribuição positiva para o entendimento de certos conceitos semânticos centrais do Tractatus e para a leitura de algumas passagens que, segundo creio, não são em geral muito bem compreendidas. Desse modo, as freqüentes referências ao trabalho de E. Marques não têm intuito polêmico, mas buscam antes enfocar sob um novo ângulo as questões ali levantadas, que são, 1 MARQUES, E. R. Sobre a distinção entre Tatsache e Sachverhalt no Tractatus Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein.

TEMPORALIDADE E VELHICE: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL

Agradecimentos Aos meus avós, Sebastião (in memoriam) e Olga, pelo exemplo de amor, criatividade, inteligência e honestidade que me ajudaram a ser quem sou. Aos meus pais, por nunca me impedirem de seguir meus sonhos. Ao meu irmão, Lincoln, por sempre me fazer refletir sobre as coisas mais absurdas. Ao André, meu querido amor, por sempre rir da minha cara independente de quão mal eu esteja. (Isso sempre faz eu me sentir melhor.) Ao orientador deste trabalho, Prof. Dr, Marcelo Sodelli, por ter sido mais que um professor, um amigo. E por todas as vezes que disse: "Vai Ju, eu SEI que você consegue!" Ao parecerista deste trabalho, Prof. Hélio Roberto Deliberador, pelo carinho, atenção e por ter aceitado este trabalho de bom grado. Agradeço todas as pessoas com mais de 60 anos que passaram por minha vida, seja em seus lares, em uma instituição ou em uma conversa no metrô. Obrigada por dividirem comigo algumas de suas histórias. Agradeço principalmente à incrível e memorável senhora que aceitou fazer parte deste trabalho. Eu não vou esquecê-la.

Experimentos ontológicos. Variações Queer

O presente texto interroga a noção de experimentos. Deslocando a atenção do debate sobre sexo e heteronormatividade para relacionalidades entre humanos e não/humanos, insere-se numa imaginação fabulativa queer voltada às ontologias variáveis do contemporâneo que não podem ser homogeneizadas por um decretado fim das dicotomias. São apresentadas notas sobre experimentos em dança e psicologia social que se configuram como apontamentos iniciais de um programa de pesquisa em andamento. Abstract This essay interrogates the notion of experiment. Displacing the debate from sex and heteronormativity to the relationship between humans and non-humans, it proposes a fable like queer imagination turned to contemporary variable ontologies that cannot become homogeneous by an end of dichotomies enactment. Notes on dance and social psychology experiments are presented as initial propositions of an ongoing research program. Resumen Este ensayo interroga la noción de experimento. Desplazando la atención de lo debate sobre el sexo y la hetenormatividad para las relaciones entre humanos e no humanos, se inscribe en una imaginación fabularía queer direccionada a las ontologías variables contemporáneas que no pueden ser homogeneizadas por un decretado fin de la dicotomías. Son presentadas notas sobre experimentos con danza y psicología social que se configuran como proposiciones iniciales de un programa de investigación en corso.