Narrativas de passabilidade e a segurança para transitar: transmasculinidades e saúde (original) (raw)
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Cisnormatividade e passabilidade: deslocamentos e diferenças nas narrativas de pessoas trans
Revista Periódicus, 2017
O presente artigo busca lançar olhares mais atentos aos processos de agenciamento de corporalidades dissidentes em relação às normas de gênero nas trajetórias e percursos de pessoas trans, tomando tal categoria como espaço de articulação de experiências e narrativas múltiplas. Trata-se, portanto, de desmontar a imagem de um corpo natural frente às práticas culturais que encerram o dualismo natureza-cultura, abrindo caminhos para compreender como se articulam as (des)continuidades entre sexo-gênero e desejo, junto a outros marcadores sociais de diferenciação. Tomamos como pontos centrais as noções de cisnormatividade e passabilidade, empregadas pelas(os) interlocutoras(es) como categorias para reflexão e enunciação sobre os processos de transição de gênero, buscando apreender a força normativa de regulação de gênero sobre as corporalidades/subjetividades junto aos diferentes usos e significados de tecnologias hormonais e prostéticas que atuam na produção de posições de sujeito. Abstract: This article seeks to throw more attention to the processes of agency of dissident corporalities in relation to the gender roles in the trajectories and paths of trans people, taking this category as an articulation space of experiences and multiple narratives. It is therefore a question of dismantling the image of a natural body in face of the cultural practices that enclose the dualism nature-culture, opening ways to understand how the (dis)continuities are articulated with sex-gender and desire, together with other social markers of differentiation. We take as central points the notions of cisnormativity and passability, used by the interlocutors as categories for reflection and enunciation on the processes of gender transition, seeking to apprehend the normative force of the gender regulation on the corporalities/subjectivities with the different uses and meanings of hormonal and prosthetic technologies that act in the production of subject positions.
Revista Estudos Feministas, 2012
O objetivo deste artigo é discutir a categoria "monstro" e sua íntima relação com a patologização e/ou criminalização de determinadas pessoas vistas como 'desviantes sexuais', em especial travestis, transexuais e intersexuais. No início do século XXI, com o questionamento da autoridade médica, a politização dos movimentos sociais de travestis e transexuais e a batalha por sua despatologização, para onde se encaminham os "transtornos" de sexo ou gênero, as "parafilias" e as "perversões" com toda a persistente estigmatização a elas referidas? Voltarão a ser redimensionadas como algo potencialmente perigoso através da cada vez mais abrangente cultura da segurança?
dObra[s] - Revista da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda, 2024
O papel da arte na produção de conhecimento vem sendo crescentemente reconhecido, e as fronteiras entre arte e pesquisa, ou entre arte e ciência, vêm experimentando certo borramento. O mesmo se dá com as fronteiras entre arte e moda, dois campos que por vezes têm passado a compartilhar o mesmo estatuto ou papel social. O artigo explora conhecimentos produzidos por pessoas trans por meio da arte, destacando questões acerca do papel da moda na construção de corporalidades, em busca de passabilidade cis e proteção em face da violência cisnormativa. São examinadas produções ao mesmo tempo artísticas e de pesquisa de duas artistas travestis brasileiras: Maria Lucas, autora do ensaio de autoficção Próteses de Proteção, e Renata Carvalho, de quem discutimos o monólogo teatral intitulado Manifesto Transpofágico. Acreditamos que este trabalho pode trazer contribuições para uma leitura crítica sobre o papel moda na busca por passabilidade como imposição cisnormativa, em face da violência social a que pessoas trans e travestis estão sujeitas.
Práxis Educacional
A produção literária tem sido, hegemonicamente, território de reiteração de normas e legitimação de determinadas formas de ser e existir, reservado ao “outro” o papel de coadjuvante com desfechos demarcados pela tragédia. Em contrapartida, este campo também tem sido disputado por produções que buscam construir narrativas outras, reposicionando corpos considerados subalternos nas (e para além das) páginas literárias. Compreendido não só como arte, mas também como linguagem permeada de cunho ideológico, a literatura cria ficção e produz memória. Partindo deste princípio, o trabalho tem por objetivo analisar a construção de narrativas transmasculinas negras a partir do poema “Trans-parto”. Escrito por Bruno Santana, a obra lança olhares sobre processos de transição do autor enquanto corpo transmasculino negro. Com referência nos estudos produzidos por Santana (2021), Peçanha (2021), Evaristo (2017), discutiremos o potencial discursivo presente neste (des)fazer literário ao apresentar o...
Narrativas orais e (trans)masculinidade: (re)construções da travestilidade
A partir de um estudo etnográfico realizado entre 2003 e 2004 em uma comunidade de travestis que se prostituem em uma região urbana do Rio Grande do Sul, o presente artigo traz à baila uma discussão sobre a identidade travesti. Mais precisamente, analisa-se a construção discursiva da transmasculinidade, ou seja, a “masculinidade” travesti. Essa “masculinidade” específica é o efeito de posicionamentos interacionais adotados em narrativas orais contadas pelas informantes nas quais características ideologicamente tidas como femininas e masculinas são sobrepostas e, assim, as travestis posicionam-se nas fronteiras dos gêneros. Para essa discussão, duas narrativas sobre violência e sobre sexualidade são analisadas sob o prisma da teoria da performatividade para demonstrar o caráter fragmentado, fluido e sempre em devir da travestilidade.
[Resenha] Transcidadania: os direitos humanos como um modo de vida
2021
A coletânea “Transcidadania: Práticas e Trajetórias de um Programa Transformador”, organizada por Isabela Leite Concílio, Marcos Amaral e Paula Morena Silveira, tem como objetivo central perscrutar os meandros dos processos de implementação de um programa municipal de promoção de direitos humanos e cidadania, o Transcidadania (lançado em janeiro de 2015), para mulheres travestis e transexuais e homens trans, no município de São Paulo. Os dezesseis capítulos presentes na coletânea foram elaborados, em sua maioria, pela equipe multiprofissional do programa (coordenadora, assistente de coordenação, auxiliar administrativa, pedagogas/os, assistentes sociais e psicólogas/os). São capítulos que atestam o ineditismo do programa e o seu caráter acusatório referente à exclusão de travestis e transexuais de espaços de direitos, por conta da exploração sexual, do não acesso à educação escolar e da quase inexistente absorção dessa população nas vagas de emprego disponíveis em instituições e empresas públicas e privadas.
Transamazônica trans: cinco leituras possíveis
Revista CEOM, 2021
A rodovia Transamazônica perfaz 50 anos de existência. O texto, ao delimitar esse período, expõe aos interessados cinco leituras possíveis de sua história. Certos de que um retrato dedigno de sua trajetória é infactível em estudos de História, assumimos a seleção deliberada de episódios encontrados em fontes e documentos consultados, para, de algum modo, representar as inúmeras faces do objeto. Partimos do pre xo "trans" como dispositivo de interpretação da palavra "transamazônica". Ao determinar tal pre xo como um potencializador de signi cados, pudemos identi car outras qualidades e entendimentos para a rodovia que não somente a de uma infraestrutura de transporte. A rodovia Transamazônica é, sobretudo, uma ação envolta por inúmeros atributos: é trans gurar por simbologias, é transpassar por escalas, é transformar pela tecni cação, é transparecer por paisagens utópicas, é transtornar pelos invisibilizados. São retratos de uma rodovia que a oresta, a seu modo, conseguiu domar. Mas, até quando?
Narrativas sobre conjugalidade de mulheres que se relacionam com crossdressers
Artigo, 2017
Este texto discute dados coletados em pesquisa com mulheres que se identificam como “esposas” ou “S/O’s” de homens que “praticam crossdressing”. É, também, um desdobramento de minha tese de Doutorado, sobre como homens que se identificam como crossdressers negociam esta prática em suas vidas cotidianas. A pesquisa parte de uma etnografia e é complementada por entrevistas semiestruturadas com estas mulheres. Busca-se compreender como elas lidam com as tensões relativas às convenções sobre gênero e sexualidade e com o manejo de segredo ao conviverem com esta prática. Também se discute como o crossdressing impacta a vida privada e a afetivo-sexual/conjugal de pessoas que se montam, em especial, naqueles casos em que os desejos e práticas relativas ao crossdressing do cônjuge foram revelados após vários anos de casamento.