Mathias José Velho e seus escravos: o inventário como fonte de pesquisa (original) (raw)
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2020
Demógrafos historiadores e historiadores da população têm se servido há muito das listas de população e dos registros paroquiais para analisarem a constituição das famílias, a ilegitimidade, bem como as taxas de nascimentos, de mortes, a frequência de casamentos, a mortalidade infantil, as relações de parentesco, a idade no casamento, o número de filhos, a frequência de recasamentos entre outros temas relativos à população livre e escrava. Outros pesquisadores associam estes documentos aos inventários post mortem para obter mais informações e comparar dados. Da História Social à Demografia Histórica, os estudiosos têm demonstrado as diversas possibilidades e também os limites dessa fonte manuscrita (VALENTIM; MOTTA; COSTA; 2013). Este trabalho é o resultado de uma reflexão sobre os inventários post mortem utilizados durante a realização do meu doutorado 3 . O que proponho aqui são algumas ponderações a respeito do que foi analisado durante esse período e do que ainda está por ser ex...
Nas últimas três décadas, pesquisadores têm se utilizado da realização de uma estrutura de posse escrava para, entre outros objetivos, verificar a distribuição da posse cativa e a concentração de escravos em determinadas faixas de plantel. Neste artigo, refletimos acerca das potencialidades e das debilidades de duas fontes que têm sido usadas para esse fim: os inventários post mortem e os registros de batismo. O lócus da pesquisa é a fronteira sul da província de São Pedro, a partir das duas principais localidades daquele espaço fronteiriço: as capelas de Alegrete e Bagé. O recorte temporal estende-se entre 1820 e 1850, para a primeira, e entre 1830 e 1850 para a segunda. Como resultados parciais, podemos afirmar que os registros de batismos, apesar de sobre-representar as menores escravarias, capturam um contingente senhorial muito maior que os inventários. Da mesma forma, os batismos ilustram aquele senhor que, em algum momento de sua vida, teve um ou mais escravos, mas que, quando da sua morte, não era mais um proprietário de cativos – ou mesmo o seu inventário não foi produzido. Por outro lado, os inventários post-mortem capturam melhor os grandes plantéis existentes em dada região e em determinado momento
O pesquisador como o outro: uma leitura pós-colonial do
2010
Neste artigo, discutimos a aplicação do método etnográfico na pesquisa científica em Administração. Especificamente, ele tem por objetivo analisar como diferenças de cunho colonial preservam hierarquias sociais que acabam se manifestando na prática desse gênero de pesquisa. Resultado de uma etnografia realizada em uma organização britânica, a análise aborda como o pesquisador brasileiro é percebido pelo pesquisado europeu. Para compreender essa relação, utilizamos a abordagem póscolonial e sua crítica ao eurocentrismo e à sua pretensão de alcançar um conhecimento "uni-versal". Os resultados permitem concluir que mesmo na função de pesquisador, o sujeito não europeu, ao tomar o sujeito europeu como o Outro da pesquisa, torna-se alvo de uma inversão que o desloca de volta para a posição do Outro, visto pela epistemologia tradicional como objeto de pesquisa do sujeito europeu. palavras-chave Pós-colonialismo, pesquisa qualitativa, etnografia, eurocentrismo, América Latina ABSTRACT This paper discusses the application of the ethnographic method in management research. Specifically, it aims to examine how colonial differences preserve social hierarchies that end up being expressed in the practice of scientific research. Using data gathered during an ethnography conducted in a British organization, the analysis addresses how the Brazilian researcher is perceived by Europeans. To analyze this process, we drawn on the postcolonial perspective, especially in its critique of the Eurocentrism and its critique of the desire to develop a "universal" knowledge. The results demonstrate that even in the role of researcher, when the non-European subject takes the European subject as the Other in the research process, he ends up being the target of an inversion that moves him back to the position of the Other, perceived by the traditional epistemology as research object of European subject.
O resgate dos inventários como documentos príncipes para a história da saúde dos escravos
No capitulo IX de seu livro Clima e Saúde -Clima e Salubridade: epidemias e endemias, Afrânio Peixoto enumera as principais epidemias que grassaram no século XIX e princípios do XX, no Brasil (Peixoto, 1975). Nas escravarias do vale do Paraíba na primeira metade do século XIX, os africanos eram a maioria entre os escravos, mas, segundo Afrânio Peixoto, nessa época, as doenças dos escravos não diferiam do conjunto da população. A única exceção eram as filariases (mais conhecidas como elefantíases), que por serem originárias da África, eram próprias aos cativos. Em seu livro História do café no Brasil, Taunay dedica o capitulo LXII do volume 4º à análise do livro do Dr. Imbert, um francês, ex-cirurgião da marinha francesa que escreveu um Manual do Fazendeiro ou Tratado Doméstico sobre as enfermidades do Negros (Taunay, 1939). Diz este médico que muitas peças eram compradas defeituosas devido ao rápido exame que os fazendeiros faziam, olhando somente a boca. Frisa Taunay que: ninguém no Brasil confundiria um negro da Alta Guiné ou Costa do Ouro, com os da baixa Guiné ou Reino do Congo. Os da Costa do Ouro reputavam -se os melhores escravos, a exceção dos Minas, contudo indivíduos de estatura regular, mostravam-se fortes, bons trabalhadores, sóbrios e orgulhosos. Os Minas estes eram altos, bem conformados e de aspecto altivo (Idem: 266).
2019
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização)—Universidade de Brasília, Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas, Departamento de Administração, Curso de Especialização em Gestão Pública Municipal, 2019.No presente trabalho acadêmico buscamos analisar documentos históricos e à historiografia da população quilombola. Tais documentos ainda podem ser fisicamente encontrados junto aos órgãos de registro do município de Cavalcante/GO; referentes ao processo de abolição da escravatura na região. A escolha deu-se, principalmente, pela questão cultural do povo Kalunga na visão de muitos brasileiros, uma sociedade pluralista de economia multifacetada. O laboratório para tal análise foram os documentos que tratam da população quilombola de Cavalcante, da virada do século XVIII até o fim da primeira metade do século XIX. A dissertação utiliza o método dedutivo, apoiando-se numa pesquisa qualitativa, realizada a partir de uma análise documental e revi...
The autos-de-fé which took place in Ancona, between April and June 1556, during the pontificate of Pope Paul VI, stand out as one of the most tragic episodes of the Sephardic Diaspora in the Italic Peninsula in which about three dozens of Portuguese Jews were slaughtered. The papal commissioners began by confiscating and drawing up an inventory and estimating the possessions of numerous members of the Jewish-Portuguese community, between August and November 1555, shortly after cardinal Carafa ascended to the pontifical solium. Among those whose possessions have been listed (there are 48 extant inventories) one finds the names of two prominent physicians, Amato Lusitano and Francisco Barbosa, and that of an apothecary, Joseph Molcho, one of the martyrs of the autos-de-fé. This study seeks to contextualize these events by focusing on the particular situation experienced by these three personalities of the Portuguese Nation, as well as to provide a thorough analysis of the inventories of their possessions. These inventories, which represent exceptional testimonies of the home and professional environments of these figures of the Jewish-Portuguese community, allow an intimate knowledge and a privileged access, even if by approximation, to their activities and personalities, through the type of objects they have chosen or were able to be surrounded by.
José da Silva Carvalho (1782-1856): "descendente de humildes lavradores"?
Esta minha palestra “José da Silva Carvalho (1782-1856): "descendente de humildes lavradores"?" é uma rápida biografia de José da Silva Carvalho, apresentada no colóquio "José da Silva Carvalho e o Bicentenário da Revolução Liberal de 1820" (realizado nos dias 1 e 2 de Junho de 2019, em Santa Comba Dão e em Vila Dianteira), em que enquadro (como coordenador do colóquio) as restantes palestras e dou ênfase à presença de Silva Carvalho em Vila Dianteira e na região… Pontuámos esta biografia com três momentos (assentes em três citações): o primeiro momento, abordando a sua origem familiar (este aspecto é que é novidade), o segundo, identificando a sua rede de amizades liberais da região (que também será uma novidade para a maioria dos leitores) e, por fim, referimo-nos a algumas bóias contra o esquecimento que têm mantido vivo o nome de José da Silva Carvalho.