Sensacionalismos a Sangue Frio: a ruptura na narrativa do crime em Truman Capote (original) (raw)

A Sangue Frio: jornalismo diversional em Truman Capote

Latin American Journal of Development, 2021

O presente artigo apresenta uma síntese da tese de doutorado intitulada Sujeito, discurso e delinquência – uma cartografia de A Sangue Frio, em que se apresenta uma análise sobre os signos narrativos que constroem os sujeitos na obra A Sangue Frio, de Truman Capote. Procura-se evidenciar como o jornalismo diversional se utiliza do discurso acerca dos sujeitos – ambiente, comportamento, vestimentas, características destas personagens ou, a rigor, a personalidade dos envolvidos – mas também como é constituído o sujeito que emerge do discurso. Para tanto, esta obra será lida pela lente do pensamento de Michel Foucault e de seu entendimento sobre a construção dos sujeitos a partir da narrativa que se forma sobre ele. O artigo está sustentado por um questionamento central: quem é esse sujeito constituído não a partir de seu ato, mas pelos enunciados que narram suas causas e consequências?

O nonfiction novel em paralaxe: duas leituras possíveis de In Cold Blood, de Truman Capote

Revista Graphos, 2020

Este artigo busca, através de uma discussão sobre a dupla natureza discursiva da obra In cold blood (1965), de Truman Capote, apontar para duas leituras feitas do gênero ícone do jornalismo literário estadunidense: a primeira desvela os traços que fariam do gênero um legítimo “romance de não-ficção”, tal como sugeriu Capote; a outra sonega esta nomenclatura. Valemo-nos de uma análise da obra segundo as premissas da Reader-Response Criticism, avaliando as relações de texto, contexto e leitura, conforme advoga Richard Beach (1993), exame cujos traços salientam as nuances de caráter sócio-histórico e a estrutura dos elementos referenciados. Esses traços serão pensados de acordo com a atmosfera de produção da obra, relacionados, ainda, com os tipos de abordagem que alguns analistas elucidaram sobre o gênero. Nesse âmbito, buscamos problematizar, a partir da avaliação de duas leituras da obra, o desacordo em termos de gênero. Propomos um estudo metodologicamente pautado nas observações d...

Sujeito, discurso e delinquência: uma cartografia de A Sangue Frio

2012

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunição e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2010Sujeito, discurso e delinquência uma cartografia de A Sangue Frio apresenta uma descrição que se debruça sobre os signos narrativos que constroem a instituição da prisão e seu reflexo na produção dos sujeitos. Não se leva em consideração somente o universo semântico em que se dá a instituição da prisão, assim como a punição e também o controle o ambiente, o comportamento, as vestes, as características destas personagens ou, a rigor, a personalidade dos envolvidos mas também como é constituído o sujeito que emerge deste discurso em A sangue Frio, de Truman Capote. Para isso, esta obra será lida pela lente do pensamento de Michel Foucault e de seu entendimento sobre a construção dos sujeitos a partir da narrativa que se forma sobre ele. Torna-se necessário aceitar que Foucault não só pensa, mas parte da existência de uma dualidade que ...

Entre crimes, críticos e fantasmas: ficcionalidade em Jantando um Defunto

Ficcionalidade: uma prática cultural e seus contextos, 2018

Jantando um Defunto foi o primeiro livro assinado em 1929 por João de Minas, pseudônimo do então jornalista Ariosto Palombo. Reunia crônicas / reportagens lançadas no jornal O Paiz (Rio) sobre supostos crimes cometidos pela Coluna Prestes, feitas através de narrativas sertanistas também permeadas por eventos sobrenaturais ou exóticos, próximos às narrativas de aventuras. O objetivo deste trabalho é analisar os níveis de realidade representados, constantemente afirmados como verdadeiros pelo autor na imprensa e no prefácio, e como o livro foi recebido pelos resenhistas de jornal em 1929 e 1930. Uma analise das opiniões sobre Jantando um Defunto apontam que a representação dos crimes da Coluna Prestes era endossada ou não como verdadeira conforme as posições políticas, mas o sobrenatural quase não foi observado pelos leitores. O fato de a narração dos supostos crimes de Prestes fossem mais objeto de polêmica que os eventos sobrenaturais pode indicar a difusão dessas crenças entre os intelectuais e escritores.

O Sensacionalismo na História em Quadrinhos Sin City: O Assassino Amarelo

O objetivo deste artigo é apresentar uma análise acerca das estratégias enunciativas utilizadas na construção do discurso sensacionalista na história em quadrinhos Sin City: O Assassino Amarelo, de Frank Miller. A revista faz uma conexão com os anseios da sociedade, ao narrar a história de um policial que luta incansavelmente para salvar a vida de uma jovem, personificando o exemplo do ser ideal, do herói que supera qualquer adversidade para conseguir o que almeja. A estrutura deste trabalho consiste na abordagem de conceitos como história em quadrinhos e sensacionalismo, partindo para o desenvolvimento de um estudo sobre elementos de sedução, como a disposição da capa, as cores, a construção do herói, a riqueza nos detalhes, a exploração da emoção, o culto à violência e a linguagem da narrativa.

O Crime e Anormalidade em Edmundo Curvelo

IV Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental. Coimbra: Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra-CEIS20, pp. 107-116. (ISBN: 978-972-8627-51-5), 2014

""Edmundo Curvelo (1913-1954) was a Portuguese logician. His scientific goal consisted in logicising psychology, i.e., both in producing a logical structure capable of representing all mental states and in reducing to logic the psychological notions. This article aims to present the Curvelo’s philosophical thought, from his statement that the delinquent is not a criminal but an abnormal, a patient that needs treatment and cure. The argument that we will explore and criticize is the following: mental life – normal and abnormal – is totally transparent; it is possible to predict all future behaviors; crime is an abnormal mental state; therefore, the criminal doesn’t act for his own will, but for external causes to itself (disease). Hence, crime does not imply punishment, but the criminal, as crime is an abnormal mental state, needs education. Edmundo Curvelo (1913-1954) foi um lógico português da primeira metade do século XX que se dedicou à elaboração de um esquema lógico capaz de representar todos os estados mentais. Curvelo denominou o objetivo do seu trabalho de logificação da psicologia. Objetivo similar perdura hoje, por exemplo, no Human Brain Project. A presente comunicação focalizará o campo ético que, no dizer de Curvelo, se constrói a partir do campo psicológico, sendo o instrumento de construção a análise lógica. O propósito é apresentar o pensamento de Curvelo a partir da sua afirmação de que o delinquente não é um criminoso, mas um anormal, um doente que se há de tratar e curar. O argumento a explorar e criticar é o seguinte: a vida mental (“normal” e “anormal”) é totalmente transparente; é possível prever todos os comportamentos futuros; logo, o criminoso não age por si, mas por causas (doença) externas a si. Por isso o crime não implica castigo, mas porque estatisticamente anormal implica a necessidade de educação e pedagogia. ""

O Dom Do Crime: Ironia e Ficção No Trato Com O Real

Revista de Letras, 2013

Neste ensaio examinamos o romance O Dom do Crime publicado por Marco Lucchesi em 2010, considerando as relações intertextuais e o jogo irônico que estabelece com o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Com base em um referencial teórico recente relativo à ficção histórica e na obra de pensadores franceses como Paul Ricoeur e Jean Baudrillard, procuramos identificar e investigar o jogo estabelecido pelo narrador-autor entre o universo ficcional machadiano e o relato histórico do caso José Mariano, um crime de "honra ferida" comum no século XIX. A narrativa de Lucchesi entrelaça registros jornalísticos e o universo ficcional bem conhecido de Dom Casmurro para subverter a tradicional relação hierárquica entre realidade e ficção. Adotamos o referencial baudrillardiano, juntamente com a reflexão de Ricoeur sobre a discursividade e a falibilidade da memória e com a noção romântica de ironia, para sublinhar a difícil tarefa de se traçar limites entre realidade e ficção, limites esses obscurecidos-se não apagados-ironicamente no romance de Lucchesi.

Terror e crime na literatura brasileira finissecular

2016

O presente estudo analisa o surgimento de uma vertente da literatura de crime no Brasil em um período que vai da segunda metade do século XIX até o começo do século XX. É parte do projeto de estabelecer, no campo da literatura brasileira tradicional, um corpus de “literatura de medo”, ou seja, um conjunto de narrativas ficcionais que mantêm, como elemento comum, a capacidade de representar ficcionalmente os medos reais e/ou produzir, como efeito de leitura, o medo estético. Propõe-se nesta dissertação a hipótese de que houve, no Brasil, uma tradição de obras ficcionais centrada em personagens criminosos. São utilizados como fundamentação teórica o modelo de Horror artístico do filósofo da arte Noël Carroll e os estudos sobre o medo do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Desenvolve-se, ainda, uma descrição da trajetória histórica da ficção de crime tradicional, buscando encontrar nela elementos que fortaleçam sua proximidade com o medo artístico. Procurou-se, então, buscar as raízes desse gênero na literatura brasileira, investigando obras que dialogavam com essa temática tanto na ficção popular quanto na produção canônica da época. Por último, a fim de aplicar os resultados alcançados ao longo deste estudo, fez-se uma leitura analítica de obras cronísticas e ficcionais do jornalista e escritor carioca João do Rio, apontando nelas elementos que colaborem para enquadrá-lo como autor exemplar dessa vertente da literatura brasileira de medo.

Aporias criminológicas: “Coringa” e a desconstrução do binário herói/vilão

Opinión Jurídica, 2021

This article proposes a criminological and philosophical analysis of the film "Joker", by Todd Phillips. From the category of social memory, under the lens of deconstruction, we intend to (re) imagine the hero/villain binary that structures the hollywoodian film narrative. We propose a rethinking of the true/false binary to describe and challenge the stabilized images about the statements of science. Our writing starts from what we call Gotham City mythology, where we describe the archetypes and legends that populate the city immortalized in the comics and films. By situating the place where the scene takes place, we expose the work's plot and situate the characters and their trajectories. We suggest that the narratives around the mythical city, populated by heroes and villains, make up part of the social memory of this peculiar genre in the history of cinema. And they accumulate valuable material from which we use different discourses to think and describe concrete problems such as conflicts, violence and crusades against deviation. The scenario described is reworked based on the criminological semantics we articulate ("criminologies of doctors, lawyers and sociologists") in the debate with the reader. In the last part, with the assistance Jacques Derrida, we propose a post-metaphysical philosophical lens of the film narrative. From the deconstruction of the hero/villain binary, we invest in the loopholes that lead to the deconstruction of the true/false binary, stabilized in scientific discourse, and the criminological etiology/social reaction binary. In the end, we suggest that the Joker film proposal constitutes a paradigm for thinking about the criminologies of "cinema".