Luiz Nazario - O outro cinema (2007) (original) (raw)

Luiz Nazario - A experiência de Munique (2007)

Caminhando pela Unter den Linden, Carlo Rondi era feliz naquele verão de 1928. Estudava em Berlim graças a uma bolsa que a Universidade de Bolonha concedera à melhor monografia sobre a literatura alemã. Com um ensaio sobre o herói no teatro de Schiller, Carlo conquistara o cobiçado prêmio. E, agora, podia viver um ano inteiro no estrangeiro, como nunca pudera viver em seu próprio país: livre da família e com dinheiro suficiente para acompanhar a agitação cultural daquela grande metrópole.

Luiz Nazario - O cinema engajado de Alfred Hitchcock (2013)

MINISTÉRIO DA CULTURA, ITAÚ E FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO APRESENTAM CINEMA FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO H675 Hitchcock é o cinema / Rafael Ciccarini (organizador). Ed. única. -Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2013. 400 p. : il. ; 21 cm. a dama OCULTa, 1938 A dama oculta: o jogo dos espelhos mágicos Heitor Capuzzo a eSTaLagem maLdiTa, 1939

Luiz Nazario - Os filmes-testemunhos de Julien Bryan (2020)

Luiz Nazario, 2020

Resumo: Em 1937, o documentarista americano Julien Bryan obteve uma surpreendente permissão das autoridades alemãs para registrar o dia a dia da Alemanha de Hitler. Depois de filmar paradas nazistas e a população bem nutrida entre bandeiras com suásticas, de passagem pela Polônia testemunhou e filmou a invasão do país pelos nazistas. Seus registros Inside Nazi Germany (1938) e Siege (1940) testemunharam eventos históricos sem precedentes, do antissemitismo explícito nas ruas de Berlim à invasão da Polônia pelas tropas alemãs que deram início à Segunda Guerra Mundial. Palavras-chave: Julien Bryan. Antissemitismo. Nazismo. Abstract: In 1937, American documentary filmmaker Julien Bryan obtained a surprising permission from the German authorities to record the day-today life of Hitler's Germany. After filming Nazi stops and the well-nourished population between flags with swastikas, passing through Poland witnessed and filmed the invasion of the country by the Nazis. His records Inside Nazi Germany (1938) and Siege (1940) witnessed unprecedented historical events, from explicit antisemitism on the streets of Berlin to the invasion of Poland by German troops who started World War II. Keywords: Julien Bryan. Antisemitism. Nazism. Julien Hequembourg Bryan (1899-1974) nasceu em Titusville, na Pensilvânia, filho de um pastor da Igreja Presbiteriana com longa tradição missionária. Durante a Primeira Guerra, com apenas dezessete anos, alistou-se como voluntário para servir ao Exército da França pelo American Field Service, dirigindo uma ambulância em Verdun e em Argonne. Escreveu o livro Ambulance 464 sobre a experiência, ilustrado com fotografias que tirou em campo. Bryan graduou-se na Princeton University em 1921 e bacharelou-se em Teologia em 1926. Acreditando na importância do filme para a educação, tornou-se documentarista, fazendo reportagens fílmicas em todo o mundo. Ele financiava suas * Professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, escritor e crítico.

Luiz Nazario - O universo de Clara Crocodilo (2014)

Um adolescente sensível quer provar ao mundo feminino, através de uma obra, que tem valor social. Nostálgico das tradições, leitor de Jorge Amado, estava destinado a ser um novo Chico Buarque de Holandaum compositor querido das famílias. Mas algo nele fracassa. É sincero, mas triste, o amor que dedica aos criadores populares. Quando faz treze anos, a televisão chega à sua cidade, Londrina, no Paraná. Para crescer, muda-se para São Paulo: sua infância é tragada pela história. É quando começa a perder o equilíbrio. Inventa happenings onde combina música e teatro em espetáculos "sem significado". Os populistas observam-no desde Londrina. Eles se reúnem em fossas e fabricam diagnósticos: é um indivíduo; um cabeça-dura atrasado; uma criança doente do comunismo. E, contudo, há casos de crianças saudáveis que param de comer porque não suportam a atrocidade do que existe e não quer perecer. Num romance de Günther Grass, a única reação que uma criança pode oferecer à loucura dos adultos é parar de crescer. Arrigo Barnabé para de cantar. Ele diz por que numa impressionante canção: "Está acontecendo tanta coisa… Eu não consigo mais cantar". Ali onde canta, não é com sua voz. A revolta do corpo, que rejeita ser apropriado pelo conglomerado, desativando uma função natural "necessária", é a primeira manifestação de uma humanidade decidida a resistir ao horror. Nasceu para devastar aquele amor que não tem correspondência. Perdendo o seu muito cedo, Arrigo não encontrou outro. É esse no man's land que sua obra vai ocupar.

Luiz Nazario - Jacques Tati, ou a catástrofe da modernidade (2020)

Desdobramentos das linguagens artísticas: Diálogos interartes na contemporaneidade Bene Martins & Joel Cardoso Organizadores Programa de Pós-graduação em Artes (PPGARTES-UFPA, 2020

Toda forma de arte, porém, nasce e vive de acordo com suas leis particular. Quando as pessoas falam sobre as normas específicas ao cinema, fazemno em geral em comparação com a literatura. Na minha opinião, é extremamente importante que a interação entre cinema e literatura seja explorada e exposta o máximo possível, para que as duas atividades possam, afinal, se separar e nunca mais voltem a ser confundidas. Em quais aspectos a literatura e o cinema são semelhantes e correlatos? O que os une?

Luiz Nazario - A desmaterialização da imagem no cinema digital (2001)

Resumo As novas tecnologias digitais aplicadas ao cinema transformam a imagem em movimento numa estrutura inteiramente construída. O que antes era material e concreto torna-se abstrato e fluido. Com a clonagem digital das figuras, estas também se convertem em imagens puras, destacadas de qualquer referência humana. O filme de atores confunde-se com a animação, enquanto a animação aproxima-se do filme de atores. As interferências digitais nas transmissões ao vivo das imagens dão à realidade a aparência de uma ficção. Numa palavra, o digital desmaterializa a imagem e instaura uma realidade imaginária de modo que nada mais é hoje perceptível como "verdade".

Luiz Nazario - Pasolini 'noir' (2017)

Pier Paolo Pasolini (Bologna, 1922 -Roma, 1975 cedo demonstrou sua fascinação pelo universo noir ao evocar na novela autobiográfica Amado mio, escrita entre 1946 e 1948, e publicada apenas em 1982, os números musicais glamorosos de Rita Hayworth em Gilda (Gilda, 1946), de Charles Vidor, como um ritual de iniciação à homossexualidade. 1 Nos anos de 1940-1950, o cinema noir encantava Pasolini, que não perdia um filme de Alfred Hitchcock, decepcionando-se apenas com North by Northwest (Intriga internacional), conforme escreveu num balanço que fez do cinema do ano de 1959: "Entre os filmes americanos, lembrarei somente a primeira decepção que me fez Hitchcock, com Intriga internacional. Digo bem a primeira, depois de dezenas e dezenas de êxitos maravilhosos." 2 . Ao iniciar sua carreira no cinema como roteirista profissional, Pasolini imprimiu na trama dos filmes que escreveu para outros diretores uma visão sombria não apenas da juventude burguesa, mas também dos jovens marginais, que ele já via se tornando cada vez mais violentos sob o efeito do consumismo. Nesses roteiros também encontramos a lembrança da fase mais sombria e assassina do fascismo italiano, quando, sob a ocupação alemã, depois de deposto e encarcerado, Mussolini foi resgatado pelos alemães e passou a governar no norte do país, na chamada República de Salò. A carreira de roteirista de Pasolini começa com La donna del fiume (A mulher do rio, 1954), de Mario Soldati. Com esse primeiro trabalho professional no cinema, o escritor, que vivia à míngua numa casa pobre de Ponte Mammolo, na periferia de Roma, não precisou mais lecionar em Ciampino por um salário miserável, e mudou-se para um apartamento confortável da Via Fonteiana, no elegante bairro de Monteverde.