Dilúvio, Muita Água e Pouca Historicidade (original) (raw)

Dilthey, historicidade e pluralidade

Perspectiva Filosófica, 2024

As teses de Dilthey sobre a especificidade das ciências humanas permanecem fazendo efeitos e orientando as questões metodológicas. Se o viés epistemológico, sobretudo nos aspectos historicistas e psicológicos, já não é aceitável, nem por isso a distinção entre explanar relações causais e materiais e compreender relações semânticas e sociais foi eliminada. A historicidade e a artefatualidade do ambiente humano, na sua pluralidade e diversidade, se impôs como fundamento incontornável. Embora se tenha avançado na naturalização do humano, os conceitos e princípios básicos das ciências humanas ainda são subsumidos nas categorias de sentido, significado, intencionalidade e propósito, as quais pressupõem a aplicação do conceito de agentes interativos e não de objetos passivos.

Os Moluscos Bivalves de Água Doce do Brasil: Potencial Ainda Não Aproveitado pela Aquicultura

O presente artigo discute o potencial do cultivo de bivalves límnicos, modalidade ainda não explorada pela aquicultura brasileira. Aqui listamos os principais táxons de bivalves nativos com potencial ao cultivo, principalmete aqueles com potencial perlífero como os do gênero Diplodon e Anodontites, além de uma espécie da família Cyrenidae.Também documentamos sua peculiar reprodução e entraves atuais para esta atividade.

Notícias do dilúvio, de Eduardo Lalo (Tradução, pp. 36-39)

Suplemento Literário de Minas Gerais, 2014

Trata-se de tradução, para a língua portuguesa, do ensaio intitulado "Noticias del diluvio", do escritor porto-riquenho Eduardo Lalo. O ensaio apresenta reflexões sobre a memória e seu registro por meio do processo de escrita, problematiza o espaço reservado às narrativas orais na contemporaneidade e desenvolve ponderações sobre a invisibilidade em que se encontra um contingente de Outros. Tal invisibilidade se consolida à medida que são feitas escolhas sobre o que deve ser rememorado e o que deve cair no esquecimento.

Um Sertáƒo De Águas e De Letras

Outros tempos, 2014

Resumo: O Sertão está consolidado no pensamento social brasileiro como região árida, de sol inclemente, refratário e oposto ao litoral. Esta dualidade permeia a historiografia concernente ao tema. Neste artigo, mostro um sertão dessemelhante, locus da nascente dos principais rios maranhenses, através dos quais os portugueses interiorizaram a colonização. Nesta "mesopotâmia" erigiram escolas de ler e escrever e no final do século dezenove, realizavam serões de leitura também chamados de "roda de amigos" para discutir política, literatura, história, prosadores e poesia realizados na Vila da Chapada. João Parsondas de Carvalho e Carlota Carvalho já no século vinte foram intelectuais e legítimos representantes desse sertão de letras.

Fontes, Antecedentes e Contemporâneos de Vitrúvio

Sábia e utilmente procuraram os nossos maiores, através de escritos, transmitir os seus conhecimentos às gerações futuras, a fim de que se não perdessem mas chegassem, no decorrer dos tempos, à máxima subtileza do entendimento, sendo publicados em livros e progressivamente enriquecidos em cada época. A eles, efectivamente, devem ser prestados não poucos mas muitíssimos agradecimentos, porque não deixaram passar egoisticamente em silêncio os seus conhecimentos, em todos os campos, mas procuraram transmiti-los por escrito 1 . Fontes e Antecedentes: Deste modo, prestando homenagem aos escritores que o antecederam, inicia-se o Prefácio ao Livro VII do De architectura. E deve-se reparar que Vitrúvio começa por nomear a Poesia Homérica, seguindo-se os que refere como físicos, depois os filósofos e os que transmitiram os feitos de Creso, Alexandre, Dario e outros reis, ou seja, os historiadores e autores de relatos histórico-geográficos. -Veja-se: Com efeito, se assim não tivessem actuado, não teríamos podido conhecer a História de Tróia (non potuissemus scire quae res in Troia fuissent gestae), nem o que Tales, Demócrito, Anaxágoras, Xenófanes e outros físicos pensaram da natureza das coisas (physici sensissent de rerum natura), nem quais as regras que Sócrates, Platão, Aristóteles, Zenão, Epicuro e outros filósofos (philosophi) estabeleceram como norma de vida (agendae uitae terminationes finissent) para os homens, nem seriam conhecidos os feitos de Creso, Alexandre, Dario 1 Vitrúvio, Tratado de Arquitectura, VII, Preâmbulo, 1, trad. do latim, introd. e notas por M. Justino Maciel, ilustr. de Th. N. Howe, Lisboa, 2006, p. 257; id., Vitruve, De l'architecture (De architectura), Livre VII, Praef., 1, texte établi et trad. par B. Liou et M. Zuinghedau, commenté par M.-Th. Cam, Paris, 1995, p. 1: Maiores cum sapienter tum etiam utiliter instituerunt per commentariorum relationes cogitata tradere posteris, ut ea non interirent, sed singulis aetatibus crescentia uoluminibus edita gradatim peruenirent uetustatibus ad summam doctrinarum subtilitatem. Itaque non mediocres sed infinitae sunt his agendae gratiae quod non inuidiose silentes praetermiserunt, sed omnium generum sensus conscriptionibus memoriae tradendos curauerunt. -Foram estas as edições usadas confrontando-as com as já anteriormente, nos outros capítulos, referidas em pormenor. 4 e outros reis, ou porque razões actuaram, se os nossos maiores o não tivessem transmitido à posteridade nos seus escritos (posteritatem commentariis extulissent) 2 . Vitrúvio começa assim por filiar a sua doutrina num sistema cultural mais amplo de que faziam parte destacada a Poesia Heróica, a Cosmogonia, a Filosofia, e a História, reclamando-se dessa herança, a que presta homenagem, e exprimindo reconhecimento do contributo das gerações anteriores 3 . Esse contributo torna-se mais expressivo e pormenorizado quando Vitrúvio começa a nomear os que o tinham antecedido, escrevendo sobre Teoria da Arquitectura ou disciplinas afins, referindo-os, porque prepararam abundantes dados, reunidos através dos tempos, em todos os campos, com sagacidade e brilhante engenho, a partir dos quais nós, como que bebendo em fontes, e levados a teses próprias mais fecundas e expeditas, encontramos a possibilidade de escrever e, confiando em tão importantes autores procuramos ponderar novas instituições 4 . E essas fontes irão começar pelas leis da perspectiva, seguindo-se os teóricos dos estilos dórico e jónico, os escultores do mausoléu de Halicarnasso 5 , e ainda muitos 2 Vitrúvio, ob. cit., VII, Preâmbulo, 2 (2006), p. 257. -Citações e transcrições em português, feitas a partir desta edição; intercalações em latim e transcrições do texto original feitas a partir da edição crítica, bilíngue, Vitruve, ob. cit., Livre VII, Praef., 2 (1995), p. 1: Namque si non ita fecissent, non potuissemus scire quae res in Troia fuissent gestae, nec quid Thales, Democritus, Anaxagoras, Xenophanes reliquique physici sensissent de rerum natura, quasque Socrates, Platon, Aristoteles, Zenon, Epicurus aliique philosophi hominibus agendae uitae terminationes finissent, seu Croesus, Alexander, Darius, ceterique reges quas res aut quibus rationibus gessissent, fuissent notae, nisi maiores praeceptorum comparationibus omnium memoriae ad posteritatem commentariis extulissent. 3 Vitrúvio, ob. cit., VII, Preâmb., 10 (2006), p. 259: título ou epígrafe do parágrafo respectivo, da autoria do tradutor, que sintetiza não só o parágrafo mas o tema essencial deste Preâmbulo. 4 Vitrúvio, ob. cit., VII, Preâmb., 10 (2006), p. 259-260; id., Vitruve, ob. cit., Livre VII, Praef. 10 (1995), p. 5: quod egregiis ingeniorum sollertiis ex aeuo collatis abundantes alius alio genere copias praeparauerunt, unde nos uti fontibus haurientes aquam et ad propria proposita traducentes facundiores et expeditiores habemus ad scribendum facultates talibusque confidentes auctoribus audemus institutiones nouas comparare.

Olímpica 9: louvação a Efarmosto e o mito do dilúvio

Calíope: presença clássica, 2016

Píndaro (518-438 a.C.), poeta que se notabilizou como cultor de epinícios – cantos triunfais compostos, em geral, em honra dos vencedores das principais competições pan-helênicas –, celebrou na ode Olímpica 9, composta em 466 a.C., a vitória de Efarmosto de Opunte, na luta, por ocasião da 78a Olimpíada realizada em 468 a.C. Nessa ode, privilegia-se o mito do dilúvio, cujos protagonistas são Deucalião e Pirra, ancestrais míticos dos Lócrios de Opunte, cidade do laureado. Esse epinício foi cantado durante o cortejo processional que se dirigiu ao santuário de Ájax, herói cultuado em Opunte.